Para que se possa compreender o que
ocorre com os idosos, é necessário saber que, com o passar do tempo, o
organismo apresenta uma série de modificações anatômicas e funcionais,
relevantes aos aspectos nutricionais.
Uma das maiores alterações
relacionadas ao envelhecimento é a mudança na composição corporal. O tecido
adiposo aumenta, depositando-se principalmente no tronco, há uma diminuição da
massa magra, que se exacerba após os 60 anos e ocorre em todos os órgãos, sendo
mais acentuada nos rins e no fígado, porém, proporcionalmente, muito mais
intensa na massa muscular, influenciando negativamente a força e a mobilidade e
favorecendo a suscetibilidade para quedas.
As funções orgânicas decaem como um
todo, variando em intensidade segundo o órgão ou sistema em questão. A
habilidade para responder aos hormônios está reduzida, assim como a capacidade
para sintetizar ou degradar proteínas. O colágeno se torna mais fibroso e menos
elástico. O coração apresenta uma progressiva queda do débito cardíaco e da
capacidade aeróbica o que compromete sua reserva funcional. Quanto ao sistema
renal, o fluxo plasmático renal está reduzido à metade sendo que, aos 70 anos,
os rins possuem 50% da sua reserva funcional prévia. O olfato, o paladar e a
visão diminuem influenciando negativamente a ingestão de alimentos, assim como
a coordenação motora fina está comprometida e tende a piorar com as doenças
neurológicas, o que pode levar o idoso a evitar alimentos que possam causar
dificuldades de manipulação durante a refeição e assim contribuir para a
inadequação alimentar.
Estudos têm demonstrado que o declínio cognitivo em
idosos pode estar relacionado com deficiências nutricionais graves,
principalmente pela deficiência das vitaminas B1 (tiamina), B3 (niacina), B12 (cobalamina) e ácido fólico. Da mesma maneira,
pesquisas também demonstram que a desnutrição energético-proteica em idosos
está associada com o declínio cognitivo.
Os ácidos graxos ômega-3 possuem efeitos benéficos na
proteção ao declínio cognitivo, por ser um dos principais componentes das
membranas neuronais e tem um papel biologicamente ativo na manutenção da
estrutura e fluidez da membrana celular. A vitamina D também tem sido associada
com os efeitos neuroprotetores e antiinflamatórios.
Os idosos sofrem com mais frequência que os jovens efeitos adversos
dos medicamentos. Isto é consequência da queda de suas funções vitais, da
múltipla e simultânea medicação e de seu estado nutricional, muitas vezes
deficiente nesta fase da vida. Os efeitos metabólicos e digestivos adversos,
que alguns medicamentos de uso habitual em geriatria produzem, devem ser
considerados na análise da ingestão de alimentos. Os mais frequentes são:
-
Tranquilizantes e psicofármacos: favorecem o relaxamento e
diminuem a absorção intestinal;
-
Diuréticos e laxantes: ocasionam desidratação e depleção de eletrólitos como
magnésio, potássio e zinco;
-
Antibióticos: alteram a absorção
intestinal por destruição da flora. Provocam má absorção de carboidratos,
vitamina B12, cálcio, ferro, magnésio e cobre e inibem a síntese
proteica;
-
Glicocorticóides: predispõem à
gastrite, osteoporose (interferem na absorção do cálcio) e hiperglicemia,
-
Analgésicos: favorecem as gastrites e
úlceras.
A terceira idade, em geral, apresenta
multiplicidade de doenças, e portanto, consome maior número de medicamentos. O
uso de diferentes medicamentos, nesta época da vida, tem deixado de ser
esporádico para converter em habitual. A polifarmácia em idosos aumenta a
incidência de efeitos colaterais e interações medicamentosas e o seu uso
inadequado, freqüentemente, provoca complicações graves. Nesse sentido, a
utilização, a longo prazo, de drogas terapêuticas que interferem na digestão,
na absorção e no metabolismo de nutrientes pode, também, ocasionar desnutrição
nos idosos, além de desenvolver anorexia.
Quadro 1. Medicamentos e seus
efeitos no estado nutricional ou absorção de nutrientes.
Classe
|
Medicamento
|
Deficiência de
|
Agentes antibacterianos
|
Ácido bórico
Trimetoprim
Isoniazida
|
Riboflavina
Folatos
Vitamina B6, niacina, vitamina D
|
Agentes anti-hipertensivos
|
Hidralazina
|
Vitamina B6
|
Agentes antiinflamatórios
|
Sulfasalazina
Colchicina
|
Folatos
Gordura, vitamina B12
|
Agentes redutores de colesterol
|
Colestiramina
Colestipol
|
Gorduras
Vitamina K, vitamina A, folatos, vitamina B12
|
Antagonistas H2
|
Cimetidina
Ranitidina
|
Vitamina B12
|
Antiácidos
|
Bicarbonato de sódio, hidróxido de alumínio
|
Folato, fosfato, cálcio, cobre
|
Antibióticos
|
Tetraciclina
Gentamicina
Neomicina
|
Cálcio
Potássio, magnésio
Gordura, nitrogênio
|
Anticoagulantes
|
Warfarin
|
Vitamina K
|
Anticoncepcionais orais
|
Estrogênios, progestínicos
|
Vitamina B6, folatos, vitamina C
|
Anticonvulsivantes
|
Fenitoína, fenobarbital, primidona
Ácido valpróico
|
Vitaminas D e K
Carnitina
|
Antimaláricos
|
Pirimetamina
|
Folatos
|
Diuréticos
|
Tiazidas
Furosemide
Triamtereno
|
Potássio, magnésio
Potássio, cálcio, magnésio
Folatos
|
Drogas anticâncer
|
Metotrexate
Cisplatina
|
Folatos, cálcio
Magnésio
|
Laxativos
|
Óleo mineral
Fenolftaleína
Sene
|
Caroteno, retinol, vitamina D e K
Potássio, gordura, cálcio
|
Tranqüilizantes
|
Clorpromazina
|
Riboflavina
|
Fonte: Nutritotal.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Campos, MTFS; Monteiro, JBR; Ornelas,
APRC. Fatores que afetam o consumo alimentar do idoso. Rev Nutr 2000; v.13,
n.3: p. 157-165.
Castro, RCB. Deficiências
nutricionais relacionadas com o declínio cognitivo em idosos. Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em:
06/09/2014.
Logullo, P. Quais
medicamentos podem causar depleção ou deficiência nutricional em idosos?
Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em: 06/09/2014.
Oliveira, JED; Marchini, JS. Ciências
Nutricionais. 1 ed. São Paulo: Sarvier, 2003.
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