O
termo vitamina D refere-se a um esteroide catalisado por ação de enzimas e não
pode ser considerada apenas uma vitamina, pois não é obtida de forma exclusiva
da alimentação, sendo assim, sua maior parte produzida pelo organismo com a
exposição à radiação solar ultravioleta B (290 a 315nm) em contato com seu
precursor cutâneo, 7-Dehidrocolesterol, sendo convertida em pré-vitamina D.
A
vitamina D é consolidada pela sua importância no metabolismo do cálcio e
formação óssea. Novas descobertas evidenciam que sua ação vai além da função
clássica, e são essas funções que vêm chamando a atenção da comunidade
científica, pois estudos demonstram o impacto de níveis circulantes
insuficientes de vitamina D no desenvolvimento de problemas crônicos de saúde,
como doenças cardiovasculares e hipertensão.
A
deficiência de vitamina D, além de causar a redução da absorção de cálcio
intestinal e diminuição de cálcio sérico, aumenta o risco de morte por câncer, é
associada a doenças crônicas não transmissíveis, entre elas as de caráter
imunológico, como, por exemplo, lúpus eritematosos sistêmicos, esclerose
múltipla, doença inflamatória do intestino, artrite reumatoide, tireoidite de
Hashimoto, psoríase, vitiligo e diabetes tipo 1. Pessoas que vivem em latitudes
distantes dos trópicos têm aumentado o risco de deficiência desta vitamina,
devido à diminuição da exposição solar e longos invernos.
O
papel da vitamina D no sistema imunitário tem sido bem definido nos últimos
anos, especialmente em autoimunidade e nas respostas imunitárias inatas e
adaptativas, pois a vitamina D apresenta o seu receptor de ligação o VDR-RXR
nas células deste sistema, entre elas, linfócitos T e B, monócitos, macrófagos
e células apresentadoras de dentritos. Foi visto que calcitriol exerce ação em
cerca de 10% dos genes ou 2776 expressões gênicas através da ligação do
receptor nuclear de vitamina D, sendo modulado de forma direta e indireta.
A
autoimunidade possui uma associação com polimorfismo do gene CYP27B1,
resultando em um quadro de hipovitaminose D. Altas doses de vitamina D3 levando
a doses suprafisiológicas podem compensar o estado genético relacionado com a
deficiência de vitamina D, reestabelecendo a autotolerância imunológica.
Os
níveis de calcitriol são determinados pela ação da CYP27B1, no entanto, as
células do sistema imunológico, em especial os macrófagos e células
dendríticas, também expressam a 1 ɑ-hidroxilase e são capazes de converter a
forma circulante de 25-(OH)D3 para o hormônio ativo.
Nos
linfócitos B, o calcitriol exerce a homeostase, com redução da produção de
imunoglobulinas, diminui a proliferação desses linfócitos e ainda atua na
diferenciação das células plasmáticas e nos linfócitos B de memória. Esse
efeito que o calcitriol exerce nas células B tem um fator clinicamente
importante em doenças autoimunes, já que as células B produzem anticorpos
reativos que estão ligados na fisiopatologia da autoimunidade.
As
células apresentadoras de antígenos, em particular as células dendríticas (DC),
também são alvo do calcitriol e os seus análogos que atuam alterando a
morfologia e a função das DC, o que tem como resultado a diminuição de
moléculas do complexo maior de histocompatibilidade de classe II (MHC II) e
moléculas coestimuladoras (CD40, CD80 e CD86), reduzindo também a secreção de
interleucina 12 (IL-12), porém com aumento na interleucina 10 (IL-10). A
interleucina 10 é um polipeptídeo que inibe as citocinas pró-inflamatórias e
(IFN)-ɣ e possui efeitos supressivos nas células Th1, podendo ser clinicamente
úteis no tratamento de doenças autoimunes mediadas por células T, como
esclerose múltipla, diabetes melito tipo 1, e condições inflamatórias, como
psoríase e artrite reumatoide.
Um
estudo demonstrou que a presença de 1,25 (OH)2D3 tem associação com as células
Th2 e com as células T CD4+ presentes na imunidade mediada humoral, observando
que a vitamina D promove uma mudança das células Th1 para Th2, o que reduz o
dano tecidual associado a resposta imunológica das células Th1. As células Th1
têm ação pró-inflamatória e que uma resposta desordenada pode contribuir para
lesões em órgão alvo. Já as citocinas Th2 são produzidas pelas células T CD4 e
atuam diminuindo alguns desses efeitos. Sua utilização em rejeição de órgão transplantados
tem sido estudada.
Doenças
autoimunes afetam cerca de 7% da população mundial, e existem mais de 80 tipos
classificados. Estudos demonstram alguns fatores de risco para as mesmas, são
eles: a latitude do país, os fatores
genéticos, etnia, idade, agentes infecciosos, cigarros, poluentes ambientais,
consumo de álcool e a exposição à radiação UV.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referência Bibliográfica:
Virgolino,
SFC.; Pacheco, TGS.; Almeida, AMR. Prevalência de hipovitaminose D em um grupo
de pacientes com doenças autoimunes. BRASPEN J 2017; v.32, n.2, p: 160-164.
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