O lipedema é uma condição crônica
e progressiva que afeta predominantemente as mulheres. Ao estudar a literatura
atual, pode-se ter a impressão de que o lipedema é uma doença moderna, com
incidência crescente durante a última década. No entanto, livros didáticos mais
antigos mostram que o acúmulo desproporcional de gordura no corpo feminino é
conhecido há muito tempo, apesar de não reconhecido como uma doença
independente. Em 1940 dois médicos descreveram uma "síndrome caracterizada
por pernas gordas e inchaço". A consciência de que as pessoas com lipedema
não estão apenas acima do peso, mas sofrem de uma condição patológica ainda mal
definida, foi um salto decisivo na compreensão da doença.
Causa desconhecida
Este problema de saúde frequentemente
se manifesta durante alterações hormonais, como puberdade, gravidez ou
menopausa, e acredita-se ser influenciada pelo estrogênio. A causa do lipedema
permanece desconhecida, mas várias hipóteses sobre sua fisiopatologia têm sido
propostas: predisposição genética, influência hormonal, alterações nas células
adiposas, disfunção microvascular, danos nos capilares, distúrbios linfáticos e
inflamação. Muitas vezes o lipedema é observado em grupos familiares, sugerindo
um componente genético.
Doença grave com fundo genético
Pesquisadores buscam os
potenciais mecanismos do início e progressão da doença. Apesar de todos os
esforços para desvendar a patologia do lipedema, muitas perguntas permanecem
sem resposta. O que se pode deduzir com certeza de todas as evidências
experimentais e médicas disponíveis até agora é que o lipedema não é um
problema cosmético nem de estilo de vida, e sim uma doença
grave com fundo genético ainda indeterminado, o que torna a vida das
mulheres insuportável, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico.
Excesso de peso
Os exames clínicos têm levado à
categorização dos vários tipos e estágios do lipedema, descrevendo como diferentes
partes do corpo são afetadas e avaliando sua progressão, demonstrada por
alterações cutâneas, aumento do volume de tecido adiposo, e limitações físicas
e comportamentais cotidianas. Há evidências mostrando que estágios avançados
de lipedema são geralmente acompanhados por excesso de peso ou obesidade.
Apesar de também ocorrer em mulheres magras, muitas vezes a progressão do
lipedema é impulsionada pelo ganho de peso e por alterações patológicas a ele
associadas. Um linfedema secundário (inchaço) é frequentemente encontrado em
pacientes com lipedema avançado.
Classificação - tipos
Os tipos de lipedema são classificados com base
na localização anatômica. A gordura do lipedema tipo I é distribuída do umbigo
para os quadris, incluindo pelve e glúteos. O tipo II inclui a distribuição de
gordura ao redor da pelve até os joelhos. O tipo III vai da pelve e avança até
os tornozelos, poupando os pés. O tipo IV vai dos ombros ou dos cotovelos até os
punhos. O tipo V (mais raro) começa nos joelhos e vai até os tornozelos,
poupando o dorso dos pés. Tipo II e IV ou III e IV são combinações comuns.
Classificação
- estágios
Estágio 1 - representa a superfície normal da pele sobre um tecido
subcutâneo (hipoderme) espesso e nodular, devido aos nódulos de gordura
fibrosados, do tamanho de ervilhas. Nesta fase, a aparência da pele é lisa, mas
os nódulos podem ser palpados, pode haver dor e manchas roxas frequentes
(hematomas). Estágio 2 - a
superfície da pele fica irregular e ondulada sobre as massas hipodérmicas
aumentadas de tamanho. Estágio 3 - a
inflamação e a fibrose local resultam em perda de elasticidade, com redução do
fluxo sanguíneo e linfático. Os membros inferiores parecem colunas, com grandes
dobras visíveis de pele e gordura, e conexão frouxa com a hipoderme subjacente.
Isso pode comprometer a integridade das articulações, a mobilidade e o
equilíbrio. Estágio 4 - é atingido
quando o lipedema está associado ao linfedema, também chamado de lipolinfedema.
Sintomas
Além do aspecto da pele no membro
afetado, há grande tendência a hematomas e dor espontânea ou na palpação,
descrita como queimação, pressão, sensação de peso e aperto, com piora ao longo
do dia. Alterações inflamatórias no tecido adiposo podem contribuir para a dor,
mas os mecanismos exatos ainda não são totalmente compreendidos. Estas mulheres
experimentam insatisfação relacionada ao peso e aspecto da pele, levando a
sentimentos de impotência, depressão, ansiedade, estresse, vergonha e culpa.
Tratamento conservador
A terapia conservadora enfatiza a
promoção de uma alimentação saudável, controle de peso e programas de atividade
física. Como muitas portadoras de lipedema têm sobrepeso ou obesidade, as
intervenções dietéticas desempenham um papel essencial. Uma dieta pobre em
carboidratos e rica em gordura boa (low carb high fat), priorizando alimentos
anti-inflamatórios, traz benefícios no tratamento do lipedema. A dieta cetogênica também pode ajudar, mas é
mais difícil de fazer e nem sempre dá resultado.
Suplementos
Suplementos alimentares, associados à dieta e exercício físico, podem ajudar na
queima de gordura e perda de peso. Eles podem ser potencialmente importantes no
tratamento do lipedema, ajudando a converter gorduras armazenadas em energia,
mobilizar e quebrar triglicerídeos nos adipócitos, aumentar o metabolismo e
inibir a lipogênese (produção de gordura nova). Os mais usados são extrato de
chá verde, cafeína, cromo, carnitina, ácido linoleico conjugado. Na
anti-inflamação e melhora da circulação é interessante usar ômega-3, curcumina,
picnogenol, rutina, melilotus, ginkgo biloba e outros.
Tratamento invasivo
Geralmente, a gordura do lipedema
é resistente à perda de peso com dieta, e apesar da prática de exercícios, as
partes do corpo afetadas com lipedema podem continuar a crescer. Quando as
terapias conservadoras falham, a lipoaspiração parece ser um tratamento eficaz
para o lipedema. Neste procedimento, a gordura do lipedema é removida, poupando
os vasos linfáticos.
Texto elaborado por: Dra. Tamara
Mazaracki.
Título de Especialista em Nutrologia –
Associação Brasileira de Nutrologia;
Membro Titular da ABRAN – Associação Brasileira de
Nutrologia;
Pós-graduação em Medicina Ortomolecular, Nutrição
Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE – Faculdade de Ciências da Saúde de São
Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia;
Pós-graduação em Medicina Estética – Instituto
Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.
As informações contidas neste blog,
não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área
de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e
sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
*StatPearls
2023. Lipedema.
*Journal of
Personal Medicine 2022. Lipedema
Research - Quo Vadis?
*Journal of
Obesity 2023. The Benefits of Low-Carbohydrate,
High-Fat (LCHF) Diet on Body Composition, Leg Volume, and Pain in Women with
Lipedema.
*Medical
Hypotheses 2021. Ketogenic diet as a
potential intervention for lipedema.
*Journal of
Preventive Medicine and Hygiene 2022. Dietary
supplements for lipedema.