O
transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um
transtorno do desenvolvimento, de forte influência neurobiológica, mais
comum na infância, afetando 3 a 7% das crianças, e sendo caracterizado
por distração, déficit de atenção, ansiedade, comportamentos impulsivos e
excesso de atividade motora, possui um padrão persistente de desatenção
e/ou hiperatividade e impulsividade, que se manifestam em, no mínimo,
dois ambientes como a casa e a escola. Várias crianças acometidas deste
transtorno desenvolvem problemas emocionais, sociais e familiares como
consequência das suas dificuldades primárias. Estas são ainda associadas
ao insucesso escolar, dificuldades de inserção social, bem como a baixa
autoestima e ainda problemas intrafamiliares.
De
acordo com o Diagnostic and Statistical Maual of Mental Disorders
(DSM-V), os sintomas são subdivididos em duas categorias ou critérios:
(1) desatenção e (2) impulsividade e hiperatividade; eles incluem
sintomas relacionados ao comportamento como: incapacidade de prestar
muita atenção a detalhes, dificuldade em organizar tarefas e atividades,
fala excessiva, inquietação, ou incapacidade de permanecer sentado em
situações apropriadas e dificuldade em concluir pensamentos. Ainda pelo
DSM-V, as crianças devem exibir pelo menos seis sintomas de cada grupo
de critérios (ou de ambos), enquanto os adolescentes mais velhos e
adultos (com idade acima de 17 anos) devem apresentar ao menos cinco
sintomas para permitir o diagnóstico de TDAH. O manual ainda classifica o
TDAH em três formas de apresentação, que foram descritos como subtipos
no DSM-IV, e são elas: desatenta, hiperativa/impulsiva e combinados
(envolvendo domínios desatento e hiperativo e hiperativo/impulsivo).
Existem
diversas pesquisas que abordam o TDAH como um todo, analisando
possíveis deficiências de alguns nutrientes como ferro, em razão da sua
função como cofator da tirosina hidroxilase, enzima limitante envolvida
na síntese da dopamina. Portanto, deficiências nutricionais (Ferro,
magnésio, zinco, ácidos graxos essenciais) podem interferir no
crescimento e desenvolvimento inicial e função do cérebro, muitas vezes
por restringir a mielinização, arborização dendrítica e a conectividade
sináptica que ocorrem no início da vida. Os níveis dos
neurotransmissores (por exemplo: serotonina, dopamina, norepinefrina,
acetilcolina) podem ser alterados, resultando em alterações
neuroanatômicas, neuroquímicas ou neurometabólicas. As consequências
funcionais dessas alterações variam, dependendo da deficiência
nutricional específica e o momento da deficiência relativa para os
processos de desenvolvimento neurológicos.
Devido
a isso, cresce a cada dia os estudos na área da nutrição,
relacionando-se às deficiências nutricionais com doenças neurológicas,
como o TDAH. As carências e desequilíbrios nutricionais são comuns no
TDAH, porém, ainda há controvérsias sobre suas causas, como a hipótese,
onde a própria doença aumenta as necessidades nutricionais ou de que
este papel é exercido pela medicação empregada no tratamento desses
indivíduos. Particular atenção tem sido dada no papel das
hipersensibilidades alimentares e metabolismo de ácidos graxos na
sintomatologia de TDAH.
Além
disso, foi observado também que os fármacos aplicados na terapia
desencadeiam vários resultados indesejados, por conta disso, a
dietoterapia se apresenta como meio alternativo. A nutrição tem um papel
de grande importância nesse processo de tratamento da patologia, logo,
deve existir um equilíbrio nutricional com o propósito de utilizar
alimentos benéficos e evitar aqueles que são prejudiciais como
industrializados, mostrando a necessidade do acompanhamento profissional
na área de nutrição, quanto a qualidade e benefícios dos alimentos
devem ser priorizados do DTAH, em especial os alimentos funcionais. Este
artigo tem como principal objetivo realizar uma revisão de literatura
para reunir informações referentes aos benefícios dos alimentos
funcionais em portadores com TDAH.
No
Brasil, a prática alimentar de adolescentes tem sido caracterizada pelo
elevado consumo de refeições prontas, de fácil preparo e de alimentos
ultraprocessados (ricos em gorduras, açúcares e sódio), paralelamente à
ingestão insuficiente de alimentos in natura, tradicionais na dieta, a
exemplo de feijão e hortaliças. Tal padrão de alimentação é
influenciado, entre outros, pela adoção crescente de comportamentos
alimentares não saudáveis, tais como o hábito de se alimentar em frente à
TV ou de não realizar refeições em família. A alimentação inadequada é
um grande fator de risco para o agravamento dos sintomas de TDAH, pois o
organismo não receberá os nutrientes que precisa para a estimulação de
neurotransmissores como a dopamina e noradrenalina.
Recentemente,
associações entre padrões alimentares e TDAH foram examinadas em vários
estudos transversais. Um estudo, que incluiu uma coorte populacional de
adolescentes, relatou que um padrão alimentar de estilo ocidental,
caracterizado por alta ingestão de gordura, açúcares refinados e sódio e
baixa ingestão de fibras, folato e ácidos graxos ômega-3, foi associado
a maiores chances de um diagnóstico de TDAH, enquanto um padrão
alimentar saudável, com alta ingestão de fibras, folato e ácidos graxos
ômega-3, não houve correlação com o diagnóstico de TDAH.
O
consumo excessivo de carboidratos e de açúcar refinado pode afetar
negativamente a capacidade de aprendizado e comportamento agressivo e
agitado em crianças em geral e de forma mais intensa em crianças com
TDAH. Os pais de crianças com TDAH frequentemente relatam um agravamento
da hiperatividade após uma ingestão excessiva de doces e refrigerantes,
mas a maioria dos estudos controlados não demonstraram um efeito
adverso significativo de sacarose e aspartame. Um estudo realizado com
pré-escolares hiperativos, com idade entre 2 e 6 anos, submetidos ao
consumo de aspartame e refeições ricas em carboidratos, revelou que a
carga aumentada de açúcar e aspartame não aumentaram o nível de
atividade ou agressão, mas o déficit de atenção foi correlacionado com a
ingestão de açúcar.
Na
nutrição, existem alimentos funcionais que possuem benefícios
decorrentes de vários efeitos metabólicos e fisiológicos que contribuem
para um melhor desempenho do organismo do indivíduo que os ingere. Isso
ocorre quando uma substância especifica entra em contato com componentes
celulares e/ou teciduais gerando um efeito biológico por vias
bioquímicas, fisiológicas ou farmacológicas. No caso de pacientes
portadores de TDAH, alimentos funcionais (berinjela, mirtilo, kiwi,
cereja, tomate, pêra, maçã) que possuem ácidos clorogênicos e
melanoidinas possuiriam efeito antidepressivo e de inibição do desejo de
consumir álcool e drogas ilícitas, que são alguns fatores preocupantes
para o portador na sua fase adulta.
Portanto,
alimentos como o abacate, banana, espinafre e amêndoas devem ser
incluídos também na dieta de um paciente portador de TDAH, pois são
ricos em magnésio, mineral fundamental para a formação de serotonina,
neurotransmissor representado quimicamente como 5-hidroxitriptamina
(5-HTP), sintetizado no organismo pela conversão do triptofano por meio
da enzima hidroxilase que é dependente, principalmente, deste mineral.
Sendo assim, alimentos como aveia, peixes, arroz integral e cacau
estimulam a produção de serotonina, neurotransmissor conhecido como
hormônio do “bem-estar”, sendo suas concentrações baixas implicadas em
alterações de humor, ansiedade, irritabilidade, nervosismo e
hiperatividade. Além disso o magnésio, o ferro e o cobre servem como
cofatores na síntese dos neurotransmissores do cérebro, como dopamina,
norepinefrina e serotonina, além de proteger as membranas celulares
neuronais por suas capacidades antioxidantes. Ainda assim, a deficiência
desses minerais nos primeiros anos de vida pode afetar negativamente o
desenvolvimento neural e comportamental de crianças.
De
maneira análoga, alimentos como beterraba, feijão, fígado bovino são
uma boa escolha quando o portador de TDAH possui deficiência de ferro,
um cofator para a tirosina hidroxilase, a enzima limitante da taxa de
síntese de monoamina e, portanto, é crítica para a produção de dopamina e
norepinefrina. Em uma metanálise recente de estudos do caso-controle,
os pacientes com TDAH demonstraram ter níveis mais baixos de ferritina
do soro comparados com controles saudáveis. Um pequeno ensaio, piloto,
randomizado, controlado por placebo em 23 crianças com TDAH e níveis
anormalmente baixos de ferritina sérica demonstrou uma melhoria
significativa nos sintomas de TDAH em crianças randomizadas para sulfato
ferroso (80 mg/d) em comparação com placebo. Contudo, ensaios
adicionais são necessários para estabelecer se a suplementação de ferro
tem eficácia clínica não somente aos pacientes com TDAH com evidência da
deficiência de ferro.
Uma
disfunção nos transportadores dopaminérgicos podem estar envolvidos com
a deficiência de zinco. Este neurotransmissor, importante para o
funcionamento cerebral, tem sua ação reduzida em pacientes com TDAH que
apresentam níveis reduzidos de zinco. Sendo assim, alimentos com vasta
quantidade de zinco como oleaginosas e proteína animal são bem-vindos na
dietoterapia de um portador de TDAH, já que é um importante componente
para o organismo, sendo essencial para o crescimento, função imunológica
e desenvolvimento neurológico. É também um cofator essencial para o
metabolismo de neurotransmissores, na conversão de vitamina B6 para a
sua forma ativa, sendo necessário para a conversão também do triptofano
em serotonina, participa do metabolismo de prostaglandinas e melatonina,
e ainda afeta indiretamente o metabolismo da dopamina.
Voltando a
atenção para os ácidos graxos essenciais (AGE), o ômega-3 é
possivelmente o suplemento mais estudado para crianças com TDAH e o que
reúne maior nível de evidência favorável à suplementação, porém a dieta
ocidental é sabidamente pobre em fontes alimentares de ômega-3, de
atividade anti-inflamatória, em relação às fontes de ômega-6, de ação
pró-inflamatória. Os ácidos graxos ômega-3 considerados importantes para
o ser humano são o ácido alfa-linolênico, o ácido eicosapentaenoico
(EPA) e o ácido docosahexaenoico (DHA). O ácido alfa-linolênico está
presente em fontes vegetais como o óleo de linhaça, óleo de canola,
nozes e vegetais de folhas verdes. As fontes alimentares de EPA e DHA
incluem algas e peixes de águas frias, como o salmão, a cavala e a
sardinha. O EPA e o DHA podem ser convertidos a partir do ácido
alfa-linolênico, através do alongamento e dessaturação da molécula, e
por isso são chamados de ácidos graxos polinsaturados de cadeia longa
(Long Chain Polyunsaturated Fatty Acids – LCPUFAs); sabe-se, no entanto,
que esta taxa de conversão é muito baixa, da ordem de 5% para o EPA e
0,5% para o DHA.
Foi
reportado baixos níveis de DHA antes da pesquisa, em crianças
portadores de TDAH e dificuldade de aprendizagem, após a administração
do DHA as crianças portadoras de TDAH apresentaram melhora significativa
na aprendizagem, em especial quanto a compreensão na leitura, como
também referem a necessidade de mais estudos associando a administração
de DHA e EPA.
Outros
aminoácidos são estudados na diminuição dos sintomas de hiperatividade e
déficit de atenção como GABA (Ácido gama – aminobutírico) e glicina que
possuem efeito tranquilizante reduzindo hiperatividade e ansiedade; L-
teanina que acalma e melhora atenção por aumentar ondas alfa no cérebro;
L- tirosina que é precursor de dopamina e norepinefrina; taurina por
seus efeitos tranquilizantes e redutores de ansiedade; 5-
hidroxitriptofano (5-HTP) que aumenta a síntese de serotonina; e
S-adenosil-L-metionina (SAMe) que possui ação anti depressiva por ser
essencial para a síntese de neurotransmissores.
As
vitaminas piridoxina (B6), cobalamina (B12) e ácido fólico (B9) são
indispensáveis para a conversão do triptofano em serotonina. Outros
nutrientes também possuem notada função neuronal, como a tiamina (B1),
que atua na manutenção e transmissão de impulsos nervosos; riboflavina
(B2) que é necessária à conversão de piridoxina em suas formas ativas
piridoxal 5-fosfato (PLP) e piridoxamina 5-fosfato (PMP); niacina (B3)
que em baixos níveis no organismo modifica a transformação do triptofano
em serotonina, sendo este utilizado por outra via metabólica para
formação de niacina; e ácido ascórbico (vitamina C) que participa do
metabolismo da serotonina ativando e protegendo o ácido fólico por sua
ação antioxidante.
A
TDAH é um transtorno neurobiológico, que torna o indivíduo mais ativo,
impulsivo, com déficit de atenção, e a nutrição deve ser uma aliada para
suporte aos portadores, pois os portadores de TDHA que utilizam uma
alimentação inadequada e rica em carboidratos simples (açúcar, por
exemplo) compreendendo alimentos que geram energia, esses portadores que
já são hiperativos, podem agravar a situação comportamental deles, além
de prejudicar a saúde, já que a maioria dos produtos utilizados muitas
vezes são industrializados.
Em
suma, de acordo com todos os estudos realizados, é possível identificar
o quanto a alimentação é imprescindível para portadores de TDAH, pois
está relacionada com todo o funcionamento do organismo, principalmente
que muitos deles, podem ter com as deficiências nutricionais, também
afetam o comportamento humano, e podem interferir no desenvolvimento do
indivíduo.
Portanto,
devido aos fatores problemáticos apresentados por portadores de TDAH, é
necessário tomar medidas para auxiliar esses pacientes, em sua
alimentação e consequentemente no tratamento da patologia, com a
implementação de uma alimentação saudável, se indicado for, a
suplementação, visando sempre à implementação de alimentos funcionais
ricos em ácidos graxos essenciais, vitaminas (B6, B1, B2, B3, B12, B9) e
minerais (ferro, zinco, magnésio, cobre), como já citados antes, com o
objetivo de auxiliar no tratamento e melhorar a qualidade de vida dos
portadores. Ressalta-se, porém, que haja um acompanhamento com
profissional habilitado, no caso nutricionista, para prover
adequadamente uma alimentação que favoreça a redução da sintomatologia
nos portadores de TDAH.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Landim, LASP; Souza, SLV et al. Benefícios dos alimentos funcionais em portadores de TDHA. Nutrição em Pauta. Disponível em: www.nutricaoempauta.com.br Acessado em: 17/02/2022.