O tecido adiposo é o maior e mais ativo órgão endócrino e o
maior reservatório energético do corpo, envolvido na regulação da função
imunológica, metabolismo, equilíbrio glicídico e lipídico. Ao envelhecer, ela
desempenha um papel fundamental na ocorrência e desenvolvimento de doenças
degenerativas relacionadas à idade e disfunção metabólica. Com o passar das
décadas, percebemos mudanças na composição corporal, com menos massa muscular e
mais massa gorda. O envelhecimento do tecido adiposo é uma das características
comuns nos idosos e, junto com a obesidade, atua nos mecanismos e vias da
longevidade, doenças relacionadas à idade, inflamação e alterações metabólicas.
Envelhecimento da
gordura e metabolismo
O envelhecimento da massa gorda está associado à redução e
clareamento da gordura marrom (queimadora de calorias), e ao aumento e
redistribuição da gordura branca (armazenadora de calorias), resultando na
forte liberação de fatores inflamatórios relacionados à idade (inflammaging),
que podem desencadear diversas síndromes metabólicas, obesidade, diabetes,
aumento de colesterol e triglicerídeos, problemas cardiovasculares,
comprometimento cognitivo e declínio funcional. Por sua vez, a própria síndrome
metabólica causa um alto nível de inflamação do corpo. Portanto, o tecido
adiposo é o elo entre a inflamação relacionada à idade e a disfunção
metabólica, e uma alimenta a outra.
Inflamação e disfunção
metabólica
Síndromes
metabólicas estão
associadas ao aumento de fatores inflamatórios, mortalidade por todas as causas
e comprometimento cognitivo. Atualmente, pesquisas têm confirmado que
intervenções nutricionais, como restrição calórica, eliminação de alimentos ultraprocessados
e uso de vitaminas, resveratrol e outras substâncias bioativas, são opções no
controle dos efeitos negativos do envelhecimento do tecido adiposo, como
obesidade e inflamação.
Gordura branca
A gordura branca distribui-se principalmente nos tecidos
subcutâneos e ao redor das vísceras. Ela consiste de células adiposas e também de
células inflamatórias (macrófagos), células imunes, pré-células e fibroblastos,
além de matriz de tecido conjuntivo, vasos sanguíneos, nervos e poucas
mitocôndrias. O tecido adiposo branco armazena ácidos graxos na forma de
triglicerídeos e controla a sua liberação. A gordura branca é também o maior
órgão endócrino e secreta uma variedade de adipocinas, como leptina e adiponectina,
para se comunicar com outros órgãos e participar da regulação do metabolismo.
Gordura marrom
Já o tecido adiposo marrom é muito rico em capilares e
mitocôndrias, o que confere a sua cor escura, e está espalhado em pequenas
quantidades pelo corpo. Acreditava-se que só crianças tinham este tipo de
gordura que usa calorias para gerar energia, mas ela também existe em adultos,
distribuída no pescoço, região supraclavicular e paraespinhal, mediastino,
aorta e rins. A gordura marrom desempenha um papel importante na queima
calórica (metabolismo energético), no balanço glicídico e na sensibilidade à
insulina.
Metabolismo lento
Os sinais de envelhecimento da gordura marrom incluem perda
de volume, diminuição da função mitocondrial e menor atividade metabólica, ou
seja, há menos gasto de calorias para produzir energia, o que se costuma chamar
de ‘metabolismo lento’. Com o avançar da idade, o acúmulo
excessivo de triglicerídeos e infiltração por macrófagos promove o seu
branqueamento e, gradualmente, os adipócitos marrons são substituídos por
gordura branca, que é considerada a principal fonte de fatores inflamatórios
sistêmicos.
Gordura subcutânea protege,
gordura visceral inflama
O tecido adiposo tende a aumentar na meia-idade e é
acompanhado pela redistribuição da gordura para diferentes locais, ou seja, ela
migra do depósito subcutâneo para os depósitos viscerais abdominais. Esse
acúmulo de gordura visceral é um fator de risco para doenças metabólicas
relacionadas à idade, enquanto a gordura subcutânea tem papel protetor. A
resistência à insulina e os distúrbios do metabolismo da glicose estão mais
relacionados à distribuição visceral do tecido adiposo do que à massa gorda total.
Excesso de
calorias
Quando comemos mais calorias do que as necessárias há um
excesso de lipídios circulantes (ácidos graxos livres). A gordura subcutânea os
armazena, expandindo as células adiposas, e assim engordamos. No processo de
envelhecimento e/ou obesidade, a capacidade de armazenamento dos depósitos de
gordura subcutânea tende a ser limitada pela perda de elasticidade e de
expansão dos adipócitos. Então, o excesso de lipídios passa a ser armazenado em
músculos esqueléticos e em outros depósitos dentro ou ao redor de vísceras,
como músculo cardíaco, fígado, pâncreas, intestino – assim a gordura visceral
cresce, causando alterações metabólicas e prejudicando a saúde.
Fator de risco
Normalmente, a gordura visceral responde por 10 a 20% da
massa gorda total nos homens e 5 a 8% nas mulheres. Esse percentual tende a
aumentar com a idade. Elevação de triglicerídeos, ácidos graxos livres e
fatores inflamatórios no sangue, aumento de partículas pequenas e densas de
colesterol LDL (pró-oxidantes), redução de HDL (o colesterol bom), resistência
à insulina e outras alterações metabólicas relacionadas à idade estão ligadas
ao acúmulo de gordura nas vísceras. Gordura visceral é um importante fator de
risco para diabetes tipo 2, doença cardiovascular, AVC, esteatose hepática,
síndrome metabólica e morte.
Texto elaborado por: Dra. Tamara
Mazaracki.
Título de Especialista em Nutrologia –
Associação Brasileira de Nutrologia;
Membro Titular da ABRAN – Associação Brasileira de
Nutrologia;
Pós-graduação em Medicina Ortomolecular, Nutrição
Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE – Faculdade de Ciências da Saúde de São
Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia;
Pós-graduação em Medicina Estética – Instituto
Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.
As informações contidas neste blog,
não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área
de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e
sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Biblográficas:
*Nutrients 2022. Adipose tissue aging and metabolic disorder
& the impact of nutritional interventions.
*Biochemical Pharmacology 2021. White adipose tissue
dysfunction in obesity & aging.
*Journal of Lipid Research 2018. Brown adipose tissue whitening leads to brown
adipocyte death & adipose tissue inflammation.
*Advances in Clinical Chemistry 2022. Biomarkers of dysfunctional visceral fat.
*Journal of Cachexia,
Sarcopenia & Muscle 2023. High visceral fat attenuation & long-term
mortality in a health check-up population.