A cicatrização é um processo em que envolve de forma coordenada uma
cascata de eventos fisiológicos e bioquímicos, sendo uma resposta a um
dano tecidual, com o objetivo de restaurar a sua continuidade anatômica,
estrutural e funcional.
Devemos considerar que a cicatrização pode ocorrer por:
- Primeira intenção: Acontece quando as extremidades da ferida estão
próximas, onde existe perda mínima de tecido e não há infecção;
- Segunda intenção: Aqui já apresenta perdas significativas de tecido e infecção;
- Terceira intenção: Quando há necessidade de fechamento secundário da ferida, com utilização de sutura.
Além disso o processo de cicatrização depende de diversos fatores
fisiológicos e pode ser dividida em fases: homeostasia, inflamatória,
proliferativa e de remodelamento.
A fase de homeostasia é uma resposta imediata a lesão, em que ocorre a liberação dos fatores de coagulação.
A fase inflamatória é caracterizada por homeostasia, formação de
coágulo de fibrina e migração de células imunológicas, podendo durar até
vários dias.
Já na fase proliferativa envolve secreção de fatores de crescimento,
proliferação de células, como fibroblastos, endotélio e queratinócitos, e
maior presença e participação de colágeno.
E na última fase, a de remodelamento, vem a ser a mais longa do
processo de cicatrização, pois envolve depósito de colágeno na ferida,
redução da inflamação e restauração da circulação sanguínea.
Lesões de difícil cicatrização
Depende do local da lesão, do tamanho, a causa e se há outros fatores
associados, como a diabetes, câncer e desnutrição, esse processo de
fechamento pode ser lento, existindo a possibilidade de não ocorrer à
cicatrização completa da ferida.
As chamadas feridas crônicas, são lesões que apresentam um grande
desafio para o seu processo de fechamento, ocorrendo dor e desconforto.
Exemplos de lesões crônicas são as encontradas na lesão por pressão
(LPP) e nas úlceras vasculares periféricas presente no pé diabético.
Lesão por pressão
Comum em pacientes com idade avançada ou que estão acamados, a LPP é caracterizada por feridas dolorosas de difícil cicatrização,
que ocorre devido à pressão ou atrito entre a pele do individuo e a
superfície em que se encontra, por falta de movimentação.
Essas lesões podem ser classificadas de acordo com o estágio e aparência, como podemos ver na tabela a seguir:
Tabela: Classificação de LPP
Pé diabético
A diabetes mellitus (DM) é uma das doenças crônicas mais presente na
população, afetando milhares de pessoas mundialmente. Em indivíduos com
DM há uma alteração significativa em diversos processos fisiológicos se
não tratada, onde podemos destacar a dificuldade de cicatrização,
ocorrendo o famoso pé diabético.
O pé diabético é uma complicação associada à própria etiologia da
diabetes , que nada mais é como uma ferida ou úlceras em membros
periféricos, como os pés, podendo ser agravadas por infecções.
Devido a esse ferimento o tecido periférico acaba recebendo menos
oxigenação e, em longo prazo, pode ocorrer à necrose do membro afetada,
onde muitas vezes a intervenção cirúrgica (amputação) é necessária.
O papel da nutrição
Como vimos, há diversos fatores que influenciam diretamente no
processo de cicatrização, podendo destacar o estado nutricional, logo
que, uma boa nutrição contribui não só com a manutenção da saúde, mas
também de células e tecidos.
A desnutrição afeta significativamente o processo de cicatrização,
pois a energia utilizada para construção de novas células origina-se das
reservas corporais. O aporte energético deve atender as necessidades do
paciente, no entanto, deve-se evitar excesso de carboidrato, visto que
ocorrência de hiperglicemia pode prejudicar o processo de cicatrização.
Embora popularmente conhecido, o uso de açúcar ou mel em feridas é
ainda contraditório na literatura, com isso alimentos como doces e
frituras em excesso, devem ser estritamente evitados.
Além disso, a deficiência de proteína prolonga a fase de inflamação,
diminui a proliferação, compromete a produção de colágeno e,
consequentemente, está relacionada à menor regeneração de tecido. Sendo
assim, a deficiência de proteína combinada com a deficiência de
vitaminas e minerais compromete também a resposta imunológica.
Abaixo podemos conferir os principais nutrientes envolvidos nesse processo:
- Ácidos graxos essenciais: ômega 3 e ômega 6, por serem constituintes das membranas celulares e serem utilizados como fonte de energia;
- Proteínas: como mencionado, por participarem do processo de reparação tecidual e síntese de células imunológica;
- Arginina: aminoácido condicionalmente essencial, está envolvido na síntese de
substâncias que promovem crescimento celular, além de participar também
da resposta imunológica;
- Glutamina: outro aminoácido condicionalmente essencial, envolvido no aumento da
síntese e redução da degradação proteica, parece ter ação também sobre a
síntese e deposição de colágeno;
- Vitamina A: associada a melhor resposta
imunológica, sobretudo na fase de inflamação. Participa também da
síntese de fibroblastos e de colágeno;
- Vitamina C: além da função antioxidante e de
melhorar a função imunológica, é cofator para síntese de colágeno e de
outros componentes necessários para formação de novos tecidos;
- Vitamina E: é antioxidante e importante agente estabilizador da membrana, também participa dos processos de reparo e regeneração tecidual;
- Cobre: utilizado na formação de eritrócitos, polimerização do colágeno e fortalecimento da cicatriz
- Zinco: cofator para mais de 300 reações enzimáticas, estando envolvido na
síntese de DNA e RNA, elasticidade tecidual, atividade do sistema
imunológico e fortalecimento das células de cicatrização,
- Selênio: é antioxidante e participa da formação de fibroblastos e de vasos sanguíneos no tecido.
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Assim, podemos concluir que a porte nutricional adequado, bem como a
suplementação de nutrientes específicos quando necessário, é de extrema
importância para o sucesso do processo de cicatrização.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por
atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas,
psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente,
para seu conhecimento.
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