quinta-feira, 30 de abril de 2020

Ameixa


Quando se fala em incluir a ameixa na alimentação das crianças, logo surge uma dúvida: melhor dar ameixa in natura ou pode ser a ameixa seca? A resposta é simples: pode oferecer as duas. Isso porque, nas duas formas, a ameixa contém propriedades nutricionais importantes para os pequenos.

A ameixa in natura, por exemplo, é rica em antocianinas – flavonoides responsáveis por dar aquela cor roxa à fruta e que agem como antioxidantes naturais. Outro antioxidante presente na ameixa fresca é o betacaroteno, que, quando consumido, pode se transformar em vitamina A.

Estudos indicam que a ameixa in natura possui, além das propriedades antioxidantes, propriedades antialérgicas, antimicrobianas e anti-inflamatórias. O consumo da fruta é associado também à melhoria na função cognitiva e na memória, à redução dos fatores de risco cardiovasculares e até à melhoria na saúde óssea.

Já as ameixas secas são famosas por suas propriedades laxativas que auxiliam no trânsito intestinal, resultado da combinação de fenólicos e de sorbitol com o alto teor de fibras. Por estar seca, essa versão da fruta concentra mais suas propriedades, possui o triplo de betacaroteno, cálcio, magnésio e potássio se comparada com a fruta in natura.

Por outro lado, ao passar pelo processo de secagem, a ameixa perde antioxidantes importantes – principalmente as antocianinas e as catequinas – além de uma quantidade significativa de vitamina C.

Como Oferecê-la à Criança

A ameixa – consumida in natura ou seca – é um alimento saboroso e saudável, por isso, introduzí-la na alimentação das crianças não é uma missão tão difícil. Assim, opte por oferecer a fruta fresca ou seca sempre que possível. Quando quiser variar, pode incluí-la no preparo de compotas, geleias, purês e bolos.

Já a água de ameixa, é uma alternativa para crianças com intestino preguiçoso.

Constipação

Você sabia que o bebê que mama exclusivamente no peito até os seis meses pode ficar dias sem fazer cocô? Isso porque o leite materno tem uma alta absorção pelo organismo da criança, fazendo com que não sobre muito resíduo para sair. Se o seu bebê está sendo amamentado exclusivamente (ou seja, sem nenhum outro alimento) e não fizer cocô por alguns dias, mas não aparentar incômodo ou irritação, não precisa se preocupar.

Se o bebê já estiver recebendo outros alimentos e apresentar incômodo para fazer cocô, aí vão algumas dicas: invista na hidratação, observe com o seu nutricionista se existe excesso de carboidrato com poucas fibras na alimentação da criança, ofereça alimentos ricos em fibras (como a ameixa seca) e inclua probióticos na alimentação.
 
Água de Ameixa (Indicado a partir de 6 meses)

Ingredientes:

● 3 ameixas secas;
● 1 xícara de chá de água

Modo de Preparo:

Coloque as ameixas secas e a água em uma panela e deixe ferver por cerca de 5 a 7 minutos. Deixe amornar e, depois, ofereça à criança.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

De Vuono, T. 101 alimentos para seu filho comer antes de crescer. 1 ed. Bauru, São Paulo: Astral Cultural, 2019.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Chá Verde e Câncer


O chá é uma das bebidas mais consumidas em todo mundo, com tradição oriental há mais cinco séculos, e o seu uso está associado de forma terapêutica, na prevenção e tratamento de doenças. Estudos epidemiológicos demonstram menor incidência de câncer nos países asiáticos, onde o hábito da ingestão de chás é tradição.

O chá verde é obtido a partir da infusão das folhas da Camellia sinensis, nome científico da planta. Das folhas de Camellia sinensis também são produzidos o chá preto (folhas maceradas, fermentadas- ricas em teoflavinas), e o chá oolong (fermentação rápida da parte tenra das folhas, ricos em catequinas). O chá verde tem suas folhas aquecidas e secas, com preservação dos polifenóis, inativação de alguns compostos oxidativos e enzimas; já o chá branco é elaborado a partir do broto da Camellia sinensis e não passa por processos de aquecimento.

Origem do chá verde e hábitos de consumo – nome científico – funções terapêuticas Apresenta características nutricionais ricas em polifenóis, flavonoides e catequinas, sendo que esta última corresponde a 26%, sendo seu principal composto a galato-3-epigalocatequina (EGCG). Estudos in vitro, em animais e humanos, relata que o consumo do chá verde desempenha um papel importante contra o estresse oxidativo (combatem os radicais livres), atividade antioxidante, redução do risco de doenças cardiovasculares, anti-hipertensivo, termogênico, proteção contra a radiação solar, quimioprotetora, anticarcinogênico e anti-inflamatório. 

 O que é o câncer – a doença e a importância do acompanhamento nutricional
 
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) define o câncer como uma enfermidade que se caracteriza pelo crescimento descontrolado, rápido e invasivo de células com alteração em seu material genético (DNA), podendo ser originado por diversos fatores, externos (meio ambiente, hábitos ou costumes sociais e culturais), como internas (hereditariedade). A agressividade e a localização do tumor, os órgãos envolvidos, as condições clínicas, imunológicas e nutricionais impostas pela doença são fatores determinantes para a condução do tratamento e cura. Cerca de 60% dos pacientes com câncer são desnutridos, aproximadamente 70% apresenta alguma dificuldade para se alimentar, necessitando de aconselhamento e acompanhamento nutricional e controle dos sintomas que interferem na ingestão e absorção dos alimentos. As estatísticas mostram que, durante o tratamento, mais de 90% dos pacientes perdem peso, 70% apresentam anorexia, 33% transtornos gastrointestinais, 40% disgeusia e disfagia (dificuldade de engolir os alimentos). Estes dados mostram a importância do acompanhamento nutricional em todos os aspectos do tratamento do câncer. 

Relação Chá Verde X Câncer: a prevenção

As pesquisas científicas vêm explorando amplamente a ação dos compostos ativos do chá verde (ECGC) na prevenção do câncer, obtendo resultados positivos e promissores, como a redução da inflamação sistêmica, programação da morte de células pré-tumorais, redução das espécies reativas de oxigênio (os radicais livres, que em excesso, lesionam os tecidos e órgãos, prejudicando seu funcionamento). No trabalho de Nakachi K et al, os autores observaram que o consumo habitual de chá verde pode melhorar a qualidade de vida do ser humano, protegendo contra morte prematura e contra o câncer. 

Zhang et al relataram que o risco de câncer de ovário diminui com a crescente e frequente ingestão do chá verde, atuando também com agente quimiopreventivo eficaz no câncer de próstata. Estudo feito no Canadá, com mais de 69 mil mulheres, demonstrou que as que consumiam chá verde mais de três vezes na semana e mantinham hábitos saudáveis de vida, tiveram proteção contra o câncer de cólon, de estômago e garganta, do que as que não consumiam o chá. 

  Tratamento: Seus principais efeitos relatados na literatura são:    
  • Redução do crescimento celular por inibição do IGF-1 (agente de estímulo para crescimento celular) e programação de morte das células tumorais;
 
  • Ação antioxidante (supressão do fator de transcrição NFkB, diminuindo a ação inflamatória);
 
  • Inibição da angiogênese, que é a inibição de formação de novos vasos sanguíneos utilizados pelo tumor em crescimento para a obtenção de nutrientes, e inibição da matriz metaloproteinase (ou seja, faz com que enfraqueça as estruturas protéicas das células cancerígenas). 
Rosengren relata que as catequinas do chá verde podem reduzir a proliferação de células de câncer de mama in vitro, demonstrando que a combinação de EGCG potencializa a ação da medicação tamofixeno, promovendo efeito citotóxico (morte) para as células cancerígenas. Esses resultados sugerem que as catequinas do chá verde têm potencial significativo no tratamento do câncer de mama em estudos experimentais. Outros estudos demonstraram que o tratamento com EGCG diminuía a viabilidade de células mamárias cancerígenas, modulando os receptores de estrogênio, sem efeito no crescimento das células mamárias saudáveis. O consumo do chá verde foi associado inversamente com a taxa de recorrência (retorno) do câncer de mama em mulheres japoneses diagnosticadas com o câncer. Surh verificou que a inativação de NFkB promovida pela EGCG suprimiu a proliferação em células malignas em câncer de pele de ratos, e de mama nos ratos e em humanos. A utilização do chá verde em ratos com câncer oral submetido à radioterapia inibiu significativamente a morte por radiação de queratinócitos e diminuição da produção de muco, sendo eficaz na prevenção da mucosite induzida pela radiação. 





Fotoproteção oral

O chá verde tem comprovados efeitos de combate aos radicais livres na pele devido à exposição aos raios UV. E associado aos fotoprotetores físicos e outros cuidados, pode ajudar a prevenir o envelhecimento cutâneo, a imunossupressão e o melanoma. Consulte sempre seu dermatologista, ok?

Melhor forma de preparo e consumo

A concentração de catequinas no chá verde varia de acordo com a preparação do chá e origem da planta, mas de forma geral, o chá verde preparado em proporção de 1g de folhas secas para 100 ml de água (pré-fervente), por 3 minutos, contém cerca de 35-45mg / 100 ml de catequinas e 6mg / 100ml de cafeína, dentre outros componentes. O ideal é nunca deixar ferver a água, como também não reaquecer o chá, para que seus componentes bioativos sejam mantidos. A utilização mais efetiva é preparar o chá com a própria erva, uma vez que o chá do saquinho leva à perda das substâncias ativas da planta, contendo uma mistura da folha com o caule, o que diminui a concentração do nutriente. E vale de caixinha e os enlatados? Saiba a resposta aqui: Por ter cafeína, deve-se ter um cuidado no horário da ingestão, pois pode alterar a qualidade do sono, podendo causar agitação, bem como, não ser tomado logo após às refeições, pois podem prejudicar a absorção de nutrientes, como ferro e vitamina C pelo organismo. O sabor e o aroma do chá verde estão diretamente associados às catequinas, as quais apresentam sabor adstringente e amargo (polifenóis). Por apresentar um sabor amargo bem acentuado, pode ser utilizadas estratégias como a associação de outros ingredientes para amenizar o sabor, como frutas, mel, gelatina. Já experimentou ferver a água com pedaços da raiz de gengibre e pau de canela? Além de aromatizá-lo, você ainda dá um maior poder termogênico pela sinergia dos componentes. Mesmo com a falta de estudos envolvendo humanos, o chá verde vem demonstrando um potente fitoterápico para a prevenção e no tratamento do câncer. Sob forma de infusão, alguns autores sugerem o consumo crônico do chá verde, já outros, a ingestão de 1200ml diários, correspondendo em média 250mg de catequinas, a fim de minimizar o risco de câncer. Mesmo assim, é necessário mais pesquisas, envolvendo principalmente humanos e o uso desta sob forma de infusão, e a quantidade sugerida como protetora. 

Chá infusão ou suplementação?
 
A maioria dos estudos epidemiológicos utiliza a forma de infusão do chá verde no controle do estudo, porém, no estudo de Yamamoto, foi observado que os polifenóis do chá verde podem ser suplementados para aumentar a eficácia da terapia de radiação/quimioterapia para promover a morte de células de câncer, enquanto protege células normais. Deve-se sempre ter atenção na suplementação de compostos bioativos, sendo que estes devem ter a orientação e acompanhamento de um médico e de um nutricionista!!! 

Conclusão

Os estudos experimentais (animais e células) indicam uma ampla atividade de prevenção de câncer (como o de mama, de boca, colorretal e próstata) em diferentes órgãos. Resultados em humanos ainda não são consistentes, uma vez que estes estudos podem ser afetados pela falta de precisão na medição da quantidade de chá, dos diferentes fatores etiológicos do câncer, e das diferenças individuais de cada um, associado ao estilo de vida. Vale ressaltar que a dieta como um todo deve ser mudada, pois de nada adianta apenas acrescentar o chá verde na alimentação sem mudar os comportamentos inadequados no estilo de vida!

Texto elaborado por: Priscila Di Ciero

Nutricionista formada em 2001, sou pós-graduada em Nutrição Esportiva Funcional e estou em formação para obtenção da certificação do Functional Medicine Institute (USA). Sou self e professional Coach formada pelo IBC e certificada pelo Internacional Society of Sports Nutrition (USA). Atualmente curso pós-graduação em Fitoterapia e atendo em consultório particular na zona sul de São Paulo (SP).

 As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:
Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Consenso nacional de nutrição oncológica. / Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2009 Grenteski, J.
Chá verde na prevenção do câncer. Monografia do Programa de Nutrição Clínica Ganep para obtenção do título de especialista em Nutrição Clínica. Curitiba, 2010. Schmitz, WO et al. Atividade hepatoprotetora do extrato alcóolico da Camellia sinensis (chá verde) em ratos wistar tratados com dietilnitrosamina. Revista Brasileira de Farmacognosia, 19(3): 702-709, Jul/Set, 2009.
 Cabrera, C, Artacho, R, Gimenez, R. Beneficial effects of green tea – A review. Journal of the American College of Nutrition, v. 25, n.2, 79-99, 2006.
INCA – Instituto Nacional do Câncer (Brasil). Consenso Nacional de Nutrição Oncológica. Volume 2. Instituto Nacional do Câncer. Coordenação Geral de Gestão Assistencial. Hospital do Câncer. Serviço de Nutrição e Dietética – Rio de Janeiro: INCA, 2011.
Oliveira, D, Marques, N. Fitoterápicos e Câncer. In: Paschoal, V, Naves, A, Sant’anna, V. Nutrição Clínica Funcional: Câncer. Valéria Paschoal Editora Ltda, Coleção Nutrição Clínica Funcional, São Paulo, 2012.
 Senger, AEV et al. Chá verde (Camellia sinensis) e suas propriedades funcionais nas doenças crônicas não transmissíveis. Scientia Medica (Porto Alegre); volume 20, número 4, p. 292-300, 2010.
Nakachi, K, Eguchi, H, Imai, K. Can tea time increase one’s lifetime? Ageing res rev. 2:1-10, 2003.
Rosengren, RJ. Catechins and the treatment of breast cancer: possible utility and mechanistic targets. Drugs, 6: 1073-8, 2003.
 Inoue M et al. Regular consumption of green tea and the risk of breast cancer recurrence: follow-up study from the hospital-based epidemiology research. Japan Cancer Lett, 167:175-82, 2001.
 Surh, YJ. Transcription factors in 9the cellular signaling network as prime targets of chemopreventive phytochemicals. Cancer Res Treat; 36(5): 275-286, 2004.
 Yamamoto T et al. Green tea polyphenols causes differential oxidative environments in tumor versus normal epithelial cells. J Pharmacol Exp Ther, 301:230-6, 2003.
 Gu, Jian-Wei et al. EGCG, a major gree tea catechin suppresses breast tumor angiogenesis and growth via inhibiting the activation of HIF-1 and NFkB, and VEGF expression. Vascular Cell, 5:9, 2013.
 Shin YS, Shin HA, Kang SU, Kim JH, Oh Y-T, et al. (2013) Effect of Epicatechin against Radiation-Induced Oral Mucositis: In Vitro and In Vivo Study. PLoSONE 8(7): e69151.