segunda-feira, 30 de julho de 2018

Alimentos Termogênicos


Os alimentos termogênicos são aqueles que aceleram o metabolismo por meio de estímulos para o aumento da atividade do sistema nervoso simpático. Os  alimentos que são difundidos como termogênicos são algumas frutas, verduras, café, chás, especiarias e ervas, incluindo alecrim, pimentão, aipo, hortelã, soja,  pimenta, brócolis, chá verde, canela e gengibre.

Alguns fitoquímicos presentes nesses alimentos causam este efeito termogênico e, em alguns casos, o aumento da oxidação de lipídeos. Apesar de já demonstrados cientificamente os efeitos de alguns fitoquímicos sobre o metabolismo e oxidação lipídica, fazem-se necessários novos estudos visando esclarecer a quantidade necessária para exercer essas funções. Outro ponto fundamental refere-se às diferenças entre o consumo do alimento e a administração isolada do fitoquímico, uma vez que os resultados com a ingestão  dos alimentos são fracos e as quantidades de consumo não estão determinadas.

Um estudo realizado com 19 indivíduos adultos saudáveis, com idades entre 18 a 50 anos e com índice de massa corporal (IMC) entre 20 a 30 kg/m², pesquisou a suplementação de 2,6 mg de capsaicina (presente principalmente nas pimentas) nas três principais refeições. Os resultados concluíram que a capsaicina tem efeito termogênico, levando a um balanço energético negativo  de 20,5%, devido ao aumento da oxidação de lipídeos, além de não promover alteração na pressão arterial.

O gengibre apresenta alguns componentes que poderiam ocasionar aumento da termogênese, entretanto, esse efeito não foi comprovado em seres humanos.  Estudo com 25 homens saudáveis avaliou o efeito de especiarias na termogênese e na saciedade: ingestão na dieta de 20 g de gengibre, 8,3 g de rábano, 21 g de mostarda e 1,3 g de pimenta preta. Nenhum efeito sobre a termogênese e a saciedade foi observado. São necessários mais estudos para avaliar os efeitos do gengibre sobre a termogênese.

Há relato do efeito termogênico da canela, porém poucos estudos comprovam  esta informação. Pesquisas com animais demonstraram o benefício da canela  na melhora da sensibilidade à insulina, redução da glicemia de jejum, do  colesterol LDL. Um estudo em humanos pré-diabéticos em uso de canela  mostrou diminuição da glicemia de jejum e gordura corporal. Este resultado  também pode ser explicado pela melhora da tolerância à glicose e precisa ser  melhor investigado.

Pesquisas mostram que a cafeína tem efeito termogênico na dose de 600 mg, correspondente a aproximadamente cinco xícaras de chá de café, podendo  aumentar o metabolismo de 5% a 8% durante as primeiras 24 horas de ingestão.  Entretanto, quando comparados indivíduos que consomem dieta hipocalórica  acrescida de cafeína com indivíduos que consomem dieta hipocalórica sem  cafeína, a redução de peso é semelhante entre os grupos, sugerindo que a sua utilização não gera benefícios adicionais. Contudo, a suplementação ou  consumo excessivo de cafeína pode produzir efeitos prejudiciais no sono, dor  de cabeça e hiperatividade. Indivíduos com gastrite ou úlcera gastrointestinal  devem evitar a ingestão de café, uma vez que a bebida leva ao aumento da  produção de ácido gástrico, resultando em irritação da mucosa. Em relação às  doenças cardiovasculares, o efeito da cafeína no aumento da pressão arterial e  da dislipidemia ainda apresenta resultados conflitantes. 



Estudo de revisão envolvendo investigações sobre o chá verde aponta que ele possui efeito termogênico. Contudo, a dose necessária para obter este efeito é variável, não sendo estabelecida quantidade exata. Em relação ao peso, os  resultados ainda são controversos; geralmente a diminuição do peso obtida não  é muito significativa.

Apesar da escassez de resultados concretos a respeito da possível ação  termogênica destes alimentos, ervas e especiarias, alecrim, hortelã, pimenta,  gengibre, canela, alho, cebola, salsinha, cebolinha e outros temperos naturais  são muito úteis na elaboração de preparações culinárias, já que incrementam  seu sabor, diminuindo ou mesmo eliminando a necessidade de adição de sal.  O café e os chás, por sua vez, são opções de ingestão de líquidos que fazem  parte do hábito alimentar da população brasileira e podem fazer parte de uma alimentação saudável desde que a adição de açúcar seja nula ou mínima e  sejam consumidos considerando os aspectos citados.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:

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DE LIMA, F. A.; SANT’ANA, A. E. G.; ATAÍDE, T. R. Café e saúde humana: um  enfoque nas substâncias presentes na bebida relacionadas às doenças  cardiovasculares. Revista de Nutrição, v. 23, n. 6, p. 1063-1073, 2010.

Desmistificando dúvidas sobre alimentação e nutrição - material de apoio para profissionais de saúde. Ministério da Saúde. Disponível em: www.saude.gov.br Acessado em: 29/07/2018.

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MANSOUR, M. S. et al. Ginger consumption enhances the thermic effect of food and promotes feelings of satiety without affecting metabolic and hormonal parameters in overweight men: a pilot study. Metabolism Clinical Experimental, v. 61, n. 10, p. 1347-1352, 2012.

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PLANTENGA, M. W. et al. Metabolic effects of spices, teas, and caffeine. Physiology & Behavior, v. 89, n.1, p. 85-91, 2006.



sexta-feira, 27 de julho de 2018

Trombose


Coágulos de sangue se formam quando há uma lesão ou ferimento, para reduzir ou impedir a perda de sangue e a entrada de germes, e para permitir a cicatrização da ferida. No entanto, às vezes estes coágulos se formam na corrente sanguínea, sem uma lesão. Coágulos na corrente sanguínea podem literalmente entupir um vaso e levar a complicações perigosas, como embolia pulmonar, enfarte ou derrame. Nestes casos, o coágulo tem a denominação de trombo, e o processo patológico ocasionado por ele se chama trombose. A boa notícia é que, em muitos casos, coágulos ou trombos podem ser prevenidos com mudanças no estilo de vida.

Como se forma o coágulo

Quando há um ferimento, os vasos sanguíneos tornam-se mais estreitos (vasoconstrição), reduzindo o fluxo de sangue para o tecido lesado. Em seguida, proteínas do plasma e plaquetas se ligam (agregação plaquetária) para fechar a área danificada do vaso sanguíneo, com a ajuda de diversos fatores de coagulação. Após a cicatrização do ferimento, gradualmente o corpo irá dissolver o coágulo.

Trombose

Às vezes coágulos podem se formar no interior dos vasos, quando não há nenhum ferimento externo. Se o sangue flui de forma lenta um grande número de plaquetas (também chamadas de trombócitos) pode se agrupar, grudar umas nas outras e formar um trombo (coágulo de sangue). Quando um trombo se forma dentro de um vaso sem uma lesão e não se dissolve naturalmente, isto exige atenção médica e pode haver complicações sérias.

Sintomas

Os sintomas variam, dependendo de onde o coágulo está localizado. No coração: peso ou dor no peito, respiração difícil, transpiração, náusea, tontura. No cérebro: sensação de fraqueza na face, braços ou pernas, problemas de visão, dificuldade para falar, dor de cabeça súbita e muito forte, tontura. No pulmão: dor no peito, falta de ar, taquicardia, febre, sudorese e tosse, às vezes com sangue. No braço ou na perna: dor súbita, inchaço, sensibilidade dolorosa e calor no local. No abdômen: dor abdominal intensa, vômitos e diarreia.

Trombose venosa

Quando o trombo se forma em uma veia, ele pode restringir o retorno do sangue ao coração causando dor, pressão e inchaço no local, porque o sangue fica retido por trás do coágulo. A trombose venosa profunda (TVP) é causada por um coágulo que se forma em uma veia principal e profunda do corpo, geralmente na coxa ou na panturrilha. No entanto, embora menos comum, a TVP também pode ocorrer em braços ou pelve. Quando um trombo em uma veia profunda se rompe e viaja através da corrente sanguínea, forma o chamado êmbolo, o qual pode se alojar em diferentes áreas do corpo e bloquear o fluxo de sangue, como na embolia pulmonar. 



Trombose arterial

Artérias são vasos revestidos de músculos e carregam o sangue rico em oxigênio do coração para outras partes do corpo. A trombose arterial é associada com o endurecimento das artérias (aterosclerose), que ocorre quando há formação de placas de gordura, cálcio, fibrina e resíduos celulares, estreitando o calibre dos vasos. Esta placa pode se romper e formar um coágulo, interrompendo o fluxo de sangue para o órgão (isquemia). A trombose arterial geralmente se desenvolve nas artérias coronárias ou dentro do coração, podendo causar um ataque cardíaco ou derrame. 

Fatores de risco

Os principais fatores que contribuem para a formação de trombos arteriais são pressão alta, fibrilação atrial, diabetes, alterações no colesterol e triglicerídeos, falta de atividade física, obesidade, tabagismo. Os trombos venosos podem se formar quando a pessoa fica imóvel por longos períodos, como após uma cirurgia, por doenças em que se fica acamado, em viagens de avião ou carro. Outros fatores que aumentam o risco de desenvolver coágulos venosos incluem histórico familiar de trombose, idade avançada (60 ou mais), obesidade, câncer, gravidez, tabagismo, uso de anticoncepcionais orais e alguns medicamentos (quimioterapia, imunoglobulinas).

Prevenção

Meta-análises de estudos randomizados controlados mostram que existem três alterações nos hábitos de vida que podem ajudar a evitar a trombose: parar de fumar, fazer uma dieta adequada e praticar atividade física. Com isso haverá um controle sobre diversos fatores que contribuem para a formação de coágulos sanguíneos.

Dieta

A alimentação tem papel fundamental na prevenção da trombose. Comer certo ajuda a manter um peso saudável, diminuir os níveis de colesterol oxidado, triglicerídeos, glicose e pressão arterial, melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir a inflamação geral. Inclua folhas verdes, legumes coloridos, frutas diversas, feijões, sementes oleaginosas e peixes ricos em ômega-3. Estes alimentos ajudam a manter o sistema vascular ativo, melhoram a saúde cardíaca e contribuem para a perda de peso. Por outro lado, evite os alimentos processados, cheios de conservantes, corantes e outros aditivos que alteram a saúde e inflamam os vasos sanguíneos. Bebida alcoólica em excesso também deve ser evitada.

Atividade física

É essencial permanecer ativo, fazer exercícios regularmente e evitar períodos de inatividade prolongada ou imobilização. Se estiver viajando de carro faça paradas periódicas para esticar as pernas. No avião levante-se com frequência e dê uma pequena caminhada. Apoie-se na parede ou poltrona e fique na ponta dos pés diversas vezes, trabalhando as panturrilhas, isto ajuda a bombear o sangue.

Cúrcuma, gengibre e alho

Cúrcuma ou açafrão da terra é uma especiaria que reduz a inflamação e age como um anticoagulante natural. Estudos mostram que a curcumina, um tipo de polifenol encontrado no açafrão, inibe o desenvolvimento de trombos, sem efeitos colaterais. Assim como a cúrcuma, o gengibre é uma raiz com ação antitrombótica comprovada. O alho é amplamente reconhecido como um agente preventivo de muitas doenças cardiovasculares e metabólicas, incluindo a formação de coágulos sanguíneos. Pesquisas têm demonstrado que o alho cru ajuda a reverter o acúmulo de placa bacteriana e evita a formação de novas placas nas artérias, sendo útil na prevenção da trombose. 

Vitamina E e ômega-3

A vitamina E tem ação anticoagulante, e pode ser usada para tratar e prevenir doenças do coração e vasos sanguíneos. Alguns alimentos ricos em vitamina E são azeite de dendê, amêndoa, sementes de girassol, azeite, avelã, abacate, abóbora, manga, brócolis, espinafre, kiwi, pimentão. O ômega-3 é um potente antiagregante plaquetário, ou seja, ele não permite que as plaquetas no sangue se grudem e formem trombos. Peixes de água fria são as melhores fontes (sardinha, cavala, atum, salmão, etc.).

Suplementos

Curcumina, gengibre, alho, vitamina E e ômega-3 podem ser tomados em forma de suplementos, quando há um risco maior de formar trombos e há necessidade de concentrações mais altas. Outros ativos, com ação anti-inflamatória, que reforçam os vasos sanguíneos e melhoram a circulação sanguínea, também atuam de forma positiva, como picnogenol, resveratrol, ginkgo biloba, extrato de romã, vitamina C, vitamina K2, etc.

Texto elaborado por: Dra. Tamara Mazaracki.

Título de Especialista em Nutrologia –  Associação Brasileira de Nutrologia;

Membro Titular da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia;

Pós-graduação em Medicina Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE – Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia;

Pós-graduação em Medicina Estética – Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

*Thrombosis & Haemostasis 2015. Epidemiology and pathophysiology of venous thromboembolism: similarities with atherothrombosis and the role of inflammation.

*International Angiology 2017. Interrelationship between venous and arterial thrombosis.

*Blood Transfusion 2011. Risk factors for venous and arterial thrombosis.

*Journal of Thrombosis & Thrombolysis 2014. Novel mediators and biomarkers of thrombosis.

*Drug Safety 2013. Drug-induced thrombosis: an update.

*Seminars Thrombosis & Hemostasis 2011. Diet & thrombosis risk: nutrients for prevention of thrombotic disease.

*BMB Reports 2012. Anticoagulant activities of curcumin and its derivative.

*Current Pharmaceutical Design 2017. Garlic for Cardiovascular Disease: Prevention or Treatment?

* Future Science OA 2017. Omega-3 fatty acids in atherosclerosis and coronary artery disease.