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Segundo dados da Pesquisa de Orçamento
Familiar (POF), a população brasileira vem reduzindo o consumo de gêneros
tradicionais, como arroz e feijão, aumentando o consumo de alimentos de alto
valor energético e proteico, industrializados, alimentos ricos em gorduras,
sódio e em açúcar refinado; e diminuindo o consumo de carboidratos complexos,
importantes fontes de fibras alimentares e gorduras insaturadas. Associada a essas
mudanças, vem ocorrendo, também, diminuição dos níveis de atividade física. 2
Fatores como esses, trazem prejuízos
para a saúde da população e contribuem para o desenvolvimento de diversas
doenças, como a dislipidemia, caracterizada
por modificações no metabolismo dos lipídeos que podem favorecer o
desenvolvimento da aterosclerose e das doenças crônicas como a Doença Cardiovascular
(DCV), principal causa de morte no Brasil e no mundo. 3,4,5
A cada ano, no mundo, morrem cerca de 17 milhões de pessoas
acometidas pela doença,
sendo que, cerca de 80% das mortes, poderiam ser evitadas por mudanças no
estilo de vida e hábitos alimentares.5,6
Dislipidemia
A dislipidemia
caracteriza-se por alterações na concentração de triglicérides, colesterol,
lipoproteínas de alta (HDL - high density lipoprotein) e baixa densidade
(LDL - low density lipoprotein) que
estão presentes no sangue. 7
O colesterol é um composto vital para o
organismo, ele pode estar na forma livre ou ligado a diferentes ácidos graxos,
atua como precursor para síntese de hormônios sexuais, vitamina D e ácidos
biliares; é constituinte das membranas celulares além de desempenhar importante
papel nos tecidos nervosos. É encontrado nos alimentos de origem animal como:
pele de aves e peixes, carnes vermelhas, leite e derivados, ovos e vísceras.8
A lipoproteína de baixa densidade (LDL)
concentra 60% a 70% do colesterol total, levando-o para as células, isso faz
com que seja o principal foco do tratamento de dislipidemia; a lipoproteína de
alta densidade (HDL) tem função reversa transportando o colesterol dos tecidos
para o fígado, reduzindo assim o risco de doenças cardiovasculares. Já os
triglicérides são transportados pela lipoproteína de muito baixa densidade
(VLDL - very low density lipoprotein)
e pelos quilomícrons. 9
Vários estudos epidemiológicos e de
intervenção, demonstram que a diminuição dos níveis plasmáticos de LDL-c reduz
a chance de eventos cardiovasculares, seja em indivíduos que já apresentaram
algum evento ou não. A diminuição dos níveis de triglicérides e a elevação dos
níveis de HDL-c também são fatores considerados benéficos para diminuição de
processo aterotrombótico, mesmo não havendo o mesmo grau de evidência quando
comparado à redução aos níveis de LDL-c. Portanto o controle desses fatores de
risco se tornam essenciais para prevenção de eventos cardiovasculares. 8
Em relação à Hipertrigliceridemia
as causas podem ser genética, maus
hábitos alimentares (excesso de carboidratos na alimentação), sedentarismo,
tabagismo, diabetes e o uso de bebidas alcoólicas.
De acordo com a V Diretriz brasileira de dislipidemias e prevenção da
aterosclerose os valores de referencia do perfil lipídico são
apresentados na seguinte tabela.
Conforme a
classificação da V Diretriz brasileira de dislipidemias e
prevenção da aterosclerose as dislipidemias podem ser classificadas em:
- Hipercolesterolemia isolada: elevação isolada do LDL-c (≥ 160 mg/dl);
- Hipertrigliceridemia isolada: elevação
isolada dos triglicérides (TG) (≥ 150 mg/dl);
- Hiperlipidemia mista: valores
aumentados de LDL-c (≥ 160 mg/dl) e TG (≥ 150 mg/dl);
- HDL-c baixo: redução do HDL-c (homens
< 40 mg/ dl e mulheres < 50 mg/dl) isolada ou em associação a aumento de
LDL-c ou de TG.
Influência da alimentação e do exercício
físico na dislipidemia
O reconhecimento da influência da alimentação nas doenças crônicas tem
crescido significativamente a demanda por orientação alimentar e nutricional. 10
A qualidade da dieta influência os níveis de
triglicerídeos, colesterol, LDL-c e HDL-c. Os produtos de origem animal, por
exemplo, são as principais fontes de gordura saturada que é composta de ácidos
graxos de cadeia longa, como ácido palmítico, mirístico e esteárico, capazes de
elevar os níveis de LDL-c. Modificações na dieta podem reverter exames
bioquímicos como o perfil lipídico alterado. 11
Em relação à gordura trans, esse tipo de gordura além de elevar os níveis de LDL-c
reduzem os níveis de HDL-c, aumentando ainda mais o risco cardiovascular. 9
As principais fontes de ácidos graxos trans na
dieta são: as gorduras vegetais hidrogenadas, margarinas, cremes vegetais,
biscoitos e bolachas recheados, sorvetes, pães, fast food, pasteis,
bolos, tortas ou qualquer outro alimento que contenha gordura vegetal
hidrogenada em seus ingredientes.12
Já as gorduras poli-insaturadas, ácido
linoleico e linolênico (ômega 3 e 6), associam-se com baixo risco
cardiovascular. As fontes alimentares de ômega 3 são os peixes, sementes de
linhaça, óleos de peixe e soja. As fontes alimentares de ômega 6 são os óleos
vegetais como milho e girassol.
Os hábitos alimentares saudáveis e a prática
de exercício físico desenvolvem um importante papel na redução da dislipidemia.
A prática regular de exercícios
físicos desempenha papel essencial na prevenção e tratamento da doença
aterosclerótica, seu impacto ocorre principalmente na redução dos
triglicerídeos e no aumento do HDL-c, além de contribuir para a redução da pressão arterial e colaborar no controle do peso.12
Tratamento não
farmacológico
Tratamento não farmacológico segundo
recomendações da V Diretriz brasileira
de dislipidemias e prevenção da aterosclerose, de acordo com o Grau de
recomendação e nível de evidência.
Nível
de evidência: ( A - Muito recomendado, pois existem múltiplos estudos
controlados; B - Um único estudo clínico
controlado e aleatorizado, estudos clínicos não aleatorizados ou estudos
observacionais bem desenhados).
O plano alimentar para pacientes com
hipercolesterolemia deve promover o controle do colesterol, gorduras saturadas
e trans.
É esperado que após 6 semanas de tratamento
dietético haja redução nos níveis de LDL-c. Podem ser utilizados alguns
alimentos funcionais, como os fitosterois e as fibras solúveis.13
As fibras solúveis como beta
glucanos, psillium, gomas (aveia, cevada e leguminosas), pectinas (presentes em
frutas) e mucilagens; uma vez que são transformadas pela ação das bactérias no
intestino grosso em ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), atuam na redução do
LDL-C, inibindo a síntese de colesterol, e absorvendo os ácidos biliares,
fazendo com que haja desvio do colesterol endógeno para uma nova síntese de
ácidos biliares.13
A utilização das fibras solúveis no
tratamento das dislipidemias é preconizado tanto pela Sociedade Americana
quanto pela Sociedade Brasileira de Cardiologia em seus respectivos consensos.
Já os fitoesterois (FE) são
compostos bioativos vegetais que não podem ser sintetizados pelo organismo
humano; sua principal ação é reduzir a absorção intestinal do colesterol. Esses
compostos possuem estruturas químicas semelhantes ao colesterol, por esse
motivo seus mecanismos de ação compartilham de vias semelhantes de absorção
intestinal.13,14
Os FE são encontrados nos óleos vegetais
(canola, soja e girassol), grãos, oleaginosas, legumes
e frutas.
Estudos e consensos mostram a
eficácia e a segurança da utilização de fitoesterois na redução dos níveis de
colesterol total e LDL-c, principal fator de risco para as doenças
cardiovasculares. 14
A Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) preconiza o uso desses compostos como auxiliares na redução
da absorção de colesterol, porém orienta que o consumo deve ser associado a uma
alimentação equilibrada e hábitos saudáveis. A
recomendação segura é de 1 a 3 porções por dia as quais garantem a ingestão de
1 a 3g de fitoesterois dia.15
O plano alimentar para pacientes com
hipertrigliceridemia deve ser focado na
reeducação alimentar a fim de promover melhores hábitos alimentares e adoção de
um estilo de vida mais ativo (prática de atividade física).
Deve ser dada também atenção
especial ao controle do diabetes, dos carboidratos na dieta e do peso corporal.
Em um estudo realizado com pacientes ambulatoriais foi constatado que 78% dos pacientes estudados, apresentaram
melhora ou redução nos níveis bioquímicos após procurarem acompanhamento
nutricional, o que mostra a importância da intervenção nutricional para
melhora no estado de saúde do paciente, contribuindo para melhores desfechos. 16
Fato
semelhante foi encontrado em um estudo realizado com pacientes com dislipidemia
atendidos no ambulatório de nutrição antes e após orientação nutricional; houve
melhora no perfil nutricional e consumo alimentar,
consequentemente melhor controle dos níveis lipídicos, já que a alimentação, o
excesso de peso e a obesidade andrógena ou central exercem forte influência na
doença aterosclerótica.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Texto elaborado por: Regina Célia da Silva
Especialização em Nutrição em Saúde Pública pela Universidade Federal de
São Paulo – UNIFESP, 2015.
Graduação em Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo, 2012.
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