quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Alergias, Intolerâncias Alimentares e Doença Celíaca

 


As reações aos alimentos podem ser por alergia alimentar, doença celíaca ou intolerância alimentar, tendo características específicas de cada alteração fisiológica.

A maior parte dos casos, alergia alimentar é detectada na infância, podendo apresentar sintomas na pele, principalmente em face, urticária, angiodema, vômitos, erupções ao redor da boca, alterações respiratórias (dificuldade em respirar) e até anafilaxia. Essas reações podem aparecer imediatamente após o consumo do alimento “agressor” até um período de 2 horas após. Este tipo de alergia é mediada por mecanismos imunológicos envolvendo respostas IgE mediadas por alimentos, como por exemplo (mais comuns): ovo, leite, amendoim, nozes, gergelim, trigo, soja, peixes e frutos do mar; ou por mecanismos não imunológicos, advindos de reações farmacológicas, substâncias tóxicas e alterações psicológicas.

O diagnóstico de alergia implica em: história clínica detalhada dos sintomas e reações ao alimento (s); testes cutâneos; RAST (teste para detectar alérgenos) IgE específica. As alergias alimentares imunológicas são mais comuns do que imaginamos, uma vez que seu diagnóstico pode ser de difícil detecção, advindo de sintomas que nem sempre a relação com a comida é clara e óbvia.

A Doença Celíaca também se caracteriza por reação de intolerância alimentar permanente ao glúten, que é uma proteína presente nos alimentos como o trigo, aveia, centeio, cevada e malte. Ocorre em pessoas com tendência genética à doença e normalmente detectada na infância, entre 1 a 3 anos, mas pode surgir em adultos também, devido ao seu grau de severidade e dificuldade de diagnóstico. Seus sintomas mais comuns são: fadiga, anemia, osteoporose, mas os principais são alterações gastrointestinais como diarréia ou constipação, inchaço, cólicas. Os sintomas podem aparecer no período de horas à dias. Essa doença é imunológica, envolvendo a inflamação das células de defesa T reguladoras (inflamação). O diagnóstico de doença celíaca se dá por biópsia do intestino delgado ou por exame de sangue (alteração no anticorpo anti-gliadina).

O mais intrigante é que nem todos os indivíduos apresentam alteração imunológica mediada por IgE, apesar de apresentar sintomatologia de alergia. Neste caso, a pessoa pode apresentar Hipersensibilidade Alimentar à determinado(s) alimento(s). Exemplos de sintomas são a colite, doenças respiratórias, dores de cabeça, que se manifestam horas, ou dias, após a ingestão do alimento agressor. A prevalência de alergias alimentares é maior em bebês e crianças (6%), comparado com adultos (1-2%), sendo o principal sintoma eczema atópico. Isso se deve ao fato da criança estar em introdução alimentar, experimentando alimentos novos, os quais podem ocorrer alergias e hipersensibilidades. Porém, suspeita-se que a prevalência fica em torno de 20%.

Exceto para doença celíaca e alergia alimentar, ainda não há testes confiáveis para diagnóstico de hipersensibilidade alimentar, uma vez que esta é relacionada sintoma versus alimento, não tendo alteração de IgE, exigindo a resolução dos sintomas após a eliminação dos alimentos suspeitos. Desta forma, todo diagnóstico é realizado individualmente.

As hipersensibilidades alimentares podem se apresentar como urticária, inchaço, irritação de estômago e intestinal, refluxo, assaduras, doenças respiratórias (congestão nasal, rinite, sinusite) dores de cabeça e/ou enxaqueca, comportamento de irritação (choro de bebê sem causa aparente), hiperatividade, fadiga, dores musculares, feridas na boca, dores de garganta, pólipos, entre outros. Esses sintomas são dependentes da dose e frequência de consumo do alimento, tendendo a ser retardado (horas a dias), o que torna difícil identificar a causa. É mediado por mecanismos não imunes (inflamação das terminações nervosas). Os alimentos mais comuns: leite e derivados, alguns cereais (como milho), glúten, ovo, soja, frutos do mar, cítricos, aditivos alimentares (conservantes, corantes), glutamato monossódico, salicilatos, aminas.

O diagnóstico envolve a retirada do alimento ou química da dieta suspeito, com resolução dos sintomas e uma recorrência de sintomas em reintrodução. E o nutricionista é o profissional capacitado em detectar e aconselhar os pacientes no tratamento sobre as fontes de alérgenos alimentares, possíveis fontes de contaminação, adequando o consumo alimentar e adequação nutricional individualizada, com alimentos substitutos. Além da retirada do(s) alimento(s) “agressor”, prescrição da dieta individualizada, alguns nutrientes específicos podem ajudar na redução dos sintomas causados na hipersensibilidade alimentar, melhorando o sistema de defesa do organismo.

 

  • Vitamina C: inibe a liberação de histamina (substância que está diretamente relacionada aos processos de alergias) e acelera sua degradação.

 

  • Quercetina: é um bioflavonóide de ação inibidora dos processos iniciais da inflamação, inibição da liberação de histamina e de mediadores proinflamatórios. 


  • Manganês: evita a degranulação dos mastócitos, reduzindo a liberação da histamina. - Probióticos: reduz ação inflamatória ocasionada pelas citocinas.

 

  • Vitamina D: importante papel na regulação do sistema imunológico (linfócitos T) e provavelmente, na prevenção de doenças imunes.

 

  • Ômega 3: inibem a produção de prostaglandina (redução de inflamação), protegendo o organismo de efeitos nocivos e diminuição da resposta imunológica. Sempre que for necessário, o Nutricionista poderá prescrever esses nutrientes na forma de suplementos contendo o princípio ativo e dose específica para cada caso

Cada nutriente específico pode ser encontrado nos seguintes alimentos:

 

  • Vitamina C - Frutas cítricas (caju, camu-camu, acerola, laranja, limão, mexerica, abacaxi), mamão, goiaba, kiwi, pimentão, couve, agrião, morango, brócolis

 

  • Quercetina - Vegetais (cebola, couve, vagem, brócolis), frutas (maçã, uva, morango), chá preto, vinho tinto, grãos, nozes, sementes

 

  • Manganês - Grãos integrais (aveia, gérmen de trigo), leguminosas, damasco, sementes, agrião, pêssego, carne bovina

 

  • Probióticos - Iogurtes, kefir. Os grãos de kefir são originários das Montanhas do Cáucaso Sententrional há séculos, sendo considerado um alimento probiótico que, ao ser cultivado em água com açúcar mascavo ou leite, se multiplica em grande quantidade, tendo que separá-los e até doá-los para amigos. O grão de kefir é um polissacarídeo gelatinoso que possui vários microrganismos (leveduras, lactobacilos e algumas vitaminas, entre outros nutrientes).

 

  • Vitamina D - Peixes (atum, sardinha), ovos, fígado, cogumelos e alguns alimentos fortificados como sucos e leites

 

  • Ômega 3 - Peixes (sardinha, atum, salmão, bacalhau), sementes como linhaça, chia

 


Texto elaborado pela nutricionista: Dra. Christiane Bergamasco

 

Formada em Nutrição, há mais de 10 anos, com cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica , Funcional e Fisiologia do Exercício. Autora de publicações científicas em livros e revistas, atuou em hospitais de primeira linha e também como professora universitária e consultora em programas de TV e revistas.

 

 As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

 

  Referências bibliográficas:

  1) Linda Hodge Food allergy and intolerance. Australian Family Physician Vol. 38, No. 9, September 2009

  2) Marques, CDL et al. A importância dos níveis de vitamina D nas doenças autoimunes. Rev Bras Reumatol 2010;50(1):67-80

  3) Paschoal, V, Marques, N, Sant’anna, V. In: Suplementação Nutricional. Capítulos: Vitamina C, Manganês, Volume I e II, VP editora, São Paulo, 2012.

  4) Cerqueira, F.M. et al. ANTIOXIDANTES DIETÉTICOS: CONTROVÉRSIAS E PERSPECTIVAS. Quim. Nova, Vol. 30, No. 2, 441-449, 2007.

  5) Leite, L.D, et al. Obesidade: uma doença inflamatória. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 2, n. 2, p. 85-95, jul./dez. 2009.

  6) Perini, J.A.L, et al. Ácidos graxos poli-insaturados n-3 e n-6: metabolismo em mamíferos e resposta imune. Rev. Nutr., Campinas, 23(6):1075-1086, nov./dez., 2010.

 

 

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