A disfagia é definida como desordem
na habilidade de deglutir, com prejuízos na segurança, eficiência e qualidade
da deglutição.
A deglutição consiste em conduzir de
forma programada uma sequência dinâmica de contrações e relaxamentos de
músculos que podem ser divididos em três fases com base na localização: oral,
orofaríngea e esofágica. A disfagia ocorre quando há um problema com qualquer
parte do processo, levando à dificuldade na deglutição. É um problema que pode
atingir todos os grupos etários, porém sabe-se que a incidência é maior em
idosos e pacientes que sofreram acidente vascular cerebral (AVC).
As causas neurológicas são as mais
frequentes e, usualmente, as que causam mais grave repercussão na dinâmica da
deglutição. Entretanto, há ainda uma diversidade de causas que podem estar
associadas à disfagia, tais como tumorações, que podem provocar uma obstrução
intrínseca ou extrínseca da luz digestiva, traumas, cirurgias, alterações
odontológicas e até mesmo envelhecimento.
Nas pessoas idosas, a prevalência
exata de disfagia é desconhecida, frequentemente aparece em cerca de 50% dos
idosos internados. Isso decorre do processo de envelhecimento, por conta da
diminuição ou dificuldade no processo de mastigação, por xerostomia (boca
seca), por desordens neurológicas (AVC, doença de Parkinson, doença de
Alzheimer e câncer de cabeça e pescoço) e por desordens musculares e da
anatomia orofaríngea.
O diagnóstico da síndrome disfágica
deve inicialmente ser clínico e efetuado preferencialmente por profissional
habilitado. Exames diagnósticos complementares como nasofaringoscopia,
videodeglutograma oral, pHmetria, manometria esofágica e endoscopia digestória
alta podem ser realizados. Os sintomas da disfagia são:
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Dificuldade em deglutir a saliva;
●
Dificuldade no controle da língua na alimentação em geral;
●
Aparecimento repentino ou a persistência de reflexo patológico, como de
mordida, procura, sucção, mastigação (em idades incompatíveis);
●
Diminuição da movimentação das estruturas envolvidas na alimentação;
●
Tosse frequente durante a ingestão de qualquer tipo de alimento ou líquido, e
até de saliva;
●
Apneia (falta de ar) e a presença de resíduos que foram ingeridos na cavidade
nasal são aspectos dificultadores do processo de deglutição;
●
Perda de peso ou nutrição inadequada por tempo prolongado.
Terapia Nutricional
A terapia nutricional enteral (envio
de nutrientes diretamente dentro do estômago, duodeno ou jejuno) é indicada
para pacientes com risco de aspiração. A transição da terapia nutricional
enteral para a via oral é o momento mais importante para os pacientes
portadores de disfagia orofaríngea. Essa transição deve ser acompanhada por um
profissional fonoaudiólogo, que, juntamente com o nutricionista, faz a seleção dos
alimentos introduzidos em cada fase da evolução do paciente.
A textura, a consistência, a
viscosidade, a adesividade, o grau de coesão, a firmeza e a densidade dos
alimentos devem ser considerados na seleção da dieta oral antes de serem
oferecidos aos pacientes. Deve-se iniciar a alimentação via oral com líquidos
espessados, a fim de evitar ocorrência de refluxos. Preparações líquidas são
contra-indicadas no início da reintrodução da alimentação via oral, pois os
líquidos, por serem de baixa viscosidade, podem favorecer o risco de aspiração.
A substituição da terapia nutricional enteral ou a reintrodução da alimentação
oral deve obedecer a um esquema de evolução de consistência dos alimentos que a
compõem, determinada por uma avaliação fonoaudiológica.
No distúrbio da deglutição, é
necessário ajustar a textura de alimentos pastosos e líquidos de acordo com as
condições do paciente. A consistência mais adequada dependerá de avaliação
clínica do paciente e uma análise detalhada do grau de disfagia.
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Disfagia
Leve: Os alimentos devem variar em sabor e em odor. Alimentos tipo “fast food” devem ser evitados, assim
como alimentos muito secos e refeições volumosas. O ideal é que os pacientes
troquem três grandes refeições por seis menores. Uma grande refeição poderia
levar à fadiga da musculatura relacionada e ao desconforto abdominal.
Exercícios específicos, posicionamento da cabeça e do tronco são importantes. A
posição ideal para alimentação do paciente é sentada e com a cabeça fletida
entre 30 e 40 graus.
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Disfagia
moderada: Líquidos com consistência pastosa podem beneficiar aqueles
que aspiram líquidos mais ralos e, assim, o paciente pode manter ingestão
calórica adequada. Antes da alimentação é recomendada higiene oral. Durante a
alimentação o tronco e a cabeça necessitam ser seguros para limitar a extensão
cervical. Repetidas flexões e extensões do pescoço podem ajudar no reflexo da
deglutição. Atenção especial deve ser dada a pacientes em assistência
ventilatória. Em indivíduos traqueostomizados há prejuízo na rotação do pescoço
e na deglutição, o que aumenta a chance de aspiração. O tubo de traqueostomia
também pode comprimir o esôfago, contribuindo para a piora do quadro de
disfagia.
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Disfagia
grave e aspiração: Nos casos graves de disfagia, com alterações da
musculatura da face, a boca torna-se seca durante a noite, pois permanece
aberta neste período ou pela medicação em uso. Pode-se borrifá-la ou lavá-la
com água morna ou usar swabs umedecidos.
As secreções da porção posterior da cavidade oral devem ser removidas com os
dedos. Aspirações frequentes, quedas de saturação durante a deglutição, perda
de peso, levam à indicação de alimentação por meio de sonda nasoenteral ou, nos
casos mais graves e de pior prognóstico quanto à recuperação da deglutição,
indica-se o uso de gastrostomia. O uso de sonda nasoenteral ou gastrostomia não
elimina a alimentação oral, caso os pacientes mantenham alguma capacidade de
deglutição, complementando suas necessidades nutricionais.
Os espessantes são substâncias
químicas que aumentam a consistência dos alimentos. São hidrossolúveis e
hidrofílicos, usados para dispersar, estabilizar ou evitar sedimentação de
substâncias em suspensão.
Existem espessantes específicos para
a finalidade da alimentação do paciente com disfagia, pois as indústrias
alimentícias utilizam esses agentes formados, principalmente, por
polissacarídeos (carboidrato), que se dividem em gomas e amidos para a produção
de pães, doces em geral, na produção de gelatinas, pudins, flans, entre outros.
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Espessante
para líquidos frios: Para espessamento de líquidos frios, como chás,
sucos, refrigerantes, leite, iogurte e água, utilizar espessantes a base de
amido modificado ou amido modificado pré-cozido, pois eles necessitam pouca
manipulação. Os amidos modificados alteram pouco o valor nutricional, sabor e
características visuais. O amido modificado pré-cozido, quando adicionado a
líquidos frios, altera sua consistência e torna-se mais pastoso (ex: mingau).
O amido natural, também utilizado
para espessamento de líquidos frios, necessita um maior tempo para manipulação,
pois existe dificuldade em obter-se a textura desejada. Recomenda-se aquecer o
líquido até a geleificação do amido e a seguir o processo de resfriamento. Com
esse processo obteremos alterações visuais, organolépticas e alterações
nutricionais.
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Espessante
para líquidos quentes: Para espessamento de líquidos quentes deve-se
utilizar espessantes a base de amido modificado. Outras possibilidades são a
utilização de amido de milho, farinha de trigo, fécula de batata, farinha de
aveia, farinha de arroz ou cereais infantis. Esses amidos têm como
característica aumentar o valor calórico das preparações.
A desidratação pode ser um grande
problema para indivíduos com disfagia, sendo, por vezes, necessário
acompanhamento por meio de registros diários de ingestão e excreção de
líquidos. Avaliação clínica e laboratorial são indicadores importantes para o
estado de hidratação do paciente e devem ser analisados em conjunto. A
necessidade hídrica diária gira em torno de 20 a 30ml/kg de peso corporal.
O uso de alimentos com alto teor de
conteúdo de líquidos, como purês de frutas, mingaus de cereais, manjares e
pudins, assim como o uso de líquidos espessados para aqueles que são incapazes
de ingerir líquidos ralos, ajuda a prevenir a desidratação. Os líquidos
espessados com amido natural ou modificado são considerados água livre para a
hidratação do paciente, pois o processo digestivo normal libera a água ligada
ao amido. Dessa forma é possível atingir as necessidades hídricas do paciente
disfágico, apesar da modificação da consistência dos alimentos orientados.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Cukier,
C; Magnoni, D; Alvarez, T. Nutrição baseada na Fisiologia dos Órgãos e
Sistemas. 1. ed. São Paulo: Sarvier, 2005; p.100-114.
Isosaki,
M; Cardoso, E. Manual de Dietoterapia e Avaliação Nutricional do serviço de
nutrição e dietética do Instituto do Coração – HCFMUSP. 1 ed. São Paulo:
Editora Atheneu, 2004: p.71-74.
Silva,
LBC; Ikeda, CM. Cuidado nutricional na disfagia: uma alternativa para a
maximização do estado nutricional. Rev Bras Nutr Clin 2009; v.24, n.3, p:
203-210.
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