Litíase renal ou cálculo
renal é formação de cristais, “pedras” nos rins devido a presença não usual de
substâncias na urina. A litíase renal apresenta índices progressivos de
incidência e prevalência, alcançando valores de 10 e 15% em mulheres e homens,
respectivamente.
A faixa etária mais
suscetível encontra-se entre os 20 e 40 anos, quando ocorre maior incidência da
primeira crise e do diagnóstico da litíase urinária.
Existem vários tipos de cálculos renais que diferem em composição e
patogênese. O tipo mais comum é composto de oxalato de cálcio e é causado por
distúrbios metabólicos frequentemente tratáveis. Em geral, a cristalização
ocorre devido a anormalidades na composição urinária, por maior cristalização
dos promotores (cálcio, oxalato, ácido úrico), por menor cristalização dos
inibidores (citrato, glicosaminoglicanos, nefrocalcina) ou por ambos.
A dieta exerce papel
relevante sobre a excreção urinária de vários componentes da formação de
cálculos renais. Dentre os vários nutrientes implicados na formação de
cálculos, destacam-se o cálcio, o oxalato, o sódio, o potássio, a vitamina C, a
proteína, as purinas, além de ingestão de líquidos.
Componentes
Alimentares
Cálcio
No passado, a hipótese de que uma elevada ingestão de
cálcio aumentava o risco de formação de cálculos era baseada na alta
porcentagem de pacientes com recorrência de cálculos devido à hipercalciúria.
Consequentemente, a restrição da ingestão de cálcio era utilizada para diminuir
o cálcio urinário e prevenir a recorrência de nefrotlitíase. Entretanto, não
existem estudos que comprovem que a restrição de cálcio reduza a ocorrência de
cálculos. Alguns autores demonstraram que tal restrição pode resultar em
balanço negativo de cálcio e perda de massa óssea. A restrição de cálcio pode
também induzir a hiperoxalúria secundária, em virtude da menor disponibilidade
de cálcio no lúmen intestinal para ligação com o oxalato dentro do trato
gastrointestinal, aumentando o risco de formação de cálculos. A recomendação
atual de ingestão de cálcio para pacientes litiásicos é em torno de 800mg/dia.
Quadro
1.
Quantidade de cálcio em alguns alimentos.
Alimentos
|
mg de cálcio em
100g de alimento
|
Porção
|
mg de
cálcio/porção.
|
Queijo parmesão
|
1.253
|
1 colher de sopa (8g)
|
100
|
Leite em pó
|
912
|
1 copo médio (150ml)
|
201
|
Queijo provolone
|
755
|
1 fatia média (30g)
|
227
|
Queijo prato
|
721
|
1 fatia fina (10g)
|
72
|
Queijo minas fresco
|
685
|
1 fatia média (30g)
|
205
|
Queijo mussarela
|
517
|
1 fatia fina (10g)
|
52
|
Sardinha em lata
|
437
|
1 unidade média (34g)
|
149
|
Ricota
|
207
|
1 fatia média (40g)
|
83
|
Iogurte desnatado
|
183
|
1 pote (250g)
|
457
|
Iogurte de frutas
|
169
|
1 pote (120g)
|
203
|
Espinafre cozido
|
136
|
1 colher de sopa (30g)
|
41
|
Leite desnatado
|
123
|
1 copo médio (150ml)
|
185
|
Iogurte integral
|
121
|
1 pote (250g)
|
302
|
Leite integral
|
119
|
1 copo médio (150ml)
|
179
|
Fonte:
Ajzen & Schor, 2005.
Oxalato
O oxalato da dieta contribui com apenas 10 a 20% na
oxalúria. A razão para a sua restrição é o fato de o oxalato de cálcio ser o
principal componente da maioria dos cálculos renais e de existir uma menor
concentração urinária de oxalato do que de cálcio. Isto significa que pequenas
alterações na concentração de oxalato têm maior efeito sobre a cristalização de
oxalato de cálcio do que grandes alterações na concentração de cálcio.
O oxalato dietético está presente em grande quantidade em
alimentos de origem vegetal. Alimentos que contêm elevados teores de oxalato
(> 600mg de oxalato) são o espinafre, a beterraba e o ruibarbo. É
interessante observar que o tomate, ao contrário do que se imagina, é um
alimento que contém baixo teor de oxalato e, por essa razão, não oferece risco
à formação de cálculos renais. Outros alimentos, como as oleaginosas, contêm
oxalato numa forma muito biodisponível (solúvel) e, portanto, mesmo com teores
menores de oxalato, podem levar a um aumento na oxalúria. A ingestão média
habitual na dieta é de aproximadamente 150mg/dia.
Já foi comprovado que a ingestão de cálcio exerce um
efeito tão importante quanto oxalato dietético sobre a oxalúria. Em condições
normais, o cálcio absorvido se liga ao oxalato, formando um complexo insolúvel.
Portanto, em condições de restrição de cálcio, a redução na quantidade de
cálcio na luz intestinal eleva a concentração de oxalato livre disponível para
absorção. É aconselhável manter o equilíbrio entre as ingestões de cálcio e
oxalato durante as refeições.
Quadro
2.
Quantidade de oxalato de alguns alimentos.
Alimentos
|
mg de oxalato em
100g de alimento
|
Porção
|
mg de
oxalato/porção.
|
Ruibarbo cozido
|
860
|
1 xícara de chá
|
2.081
|
Espinafre cozido
|
750
|
1 xícara de chá
|
420
|
Beterraba cozida
|
675
|
1 xícara de chá
|
1.147
|
Nozes Pecan
|
202
|
1 xícara de chá
|
222
|
Amendoim torrado
|
187
|
1 xícara de chá
|
273
|
Quiabo cozido
|
146
|
1 xícara de chá
|
234
|
Cenoura cozida
|
62
|
1 xícara de chá
|
90
|
Batata-doce cozida
|
56
|
1 xícara de chá
|
184
|
Café solúvel
|
33
|
1 colher se sopa
|
11
|
Escarola crua
|
31
|
1 xícara de chá
|
9
|
Couve cozida
|
13
|
1 xícara de chá
|
17
|
Tomate cru
|
2
|
1 xícara de chá
|
5
|
Fonte: Ajzen
& Schor, 2005.
Sódio
O papel do sódio na litogênese baseia-se no
seu potencial efeito em elevar o cálcio urinário. Um aumento de 100mEq na
ingestão diária de sódio produz um aumento de 25mg na excreção urinária de
cálcio. Consequentemente, à maior excreção de cálcio pode-se também observar
osteopenia. Portanto, a recomendação para pacientes litiásicos, especialmente
os hipercalciúricos, é adequar a ingestão de sódio dietético, bem como evitar a
ingestão excessiva de caldo de carne ou frango, não utilizar sopas de pacotes,
alimentos enlatados e/ou conservados em salmoura, temperos prontos, etc.
Deve-se dar preferência aos temperos e molhos naturais.
Potássio
Em um grande estudo epidemiológico, foi observada uma
associação entre reduzida ingestão de potássio (abaixo de 74 mEq/dia) e um
maior risco de formação de cálculos. Tal efeito pode ser atribuído a uma
elevação na calciúria e uma redução na citratúria induzida pela menor ingestão
de potássio. Portanto, a ingestão de alimentos ricos em potássio, como frutas e
vegetais, pode exercer efeito protetor contra a formação de cálculos.
Vitamina C
A vitamina C (ácido ascórbico) também tem sido considerada
como um fator de risco para a formação de cálculos. Estudos in vivo e in vitro demonstraram que a metabolização do ácido ascórbico
resulta em produção de oxalato. Apesar disso, um recente estudo epidemiológico
mostrou que a ingestão de vitamina C não se associou com o risco de cálculos
renais em mulheres saudáveis. De qualquer modo, a contribuição dessa vitamina
sobre a oxalúria ainda permanece controversa. Como a distribuição da dieta é
extremamente pequena (em torno de 60 a 100mg/dia), não há restrição a ser
feita. Entretanto, o consumo de grandes doses de suplemento, superiores a 1g/dia,
não deve ser recomendado para pacientes litiásicos.
Proteína
O nutriente que tem efeito sobre a maioria dos parâmetros
urinários envolvidos na formação de cálculos é a proteína. A elevada ingestão
de proteína de origem animal contribui para a hiperuricosúria devido à
sobrecarga de purinas, hiperoxalúria devido ao aumento da síntese de oxalato e
hipocitratúria em função da maior reabsorção tubular de citrato.
Adicionalmente, a hipercalciúria induzida pelo consumo de proteína animal pode
ser causada pela maior reabsorção óssea e menor reabsorção tubular renal de
cálcio. Uma adequada ingestão proteica reduz o oxalato, fosfato, cálcio e ácido
úrico urinários e aumenta a excreção urinária de citratos. Assim, a
recomendação de ingestão de proteínas para pacientes litiásicos é de 0,8 a
1,2g/kg/dia, sendo 50% de proteína de alto valor biológico. Deve-se salientar
que o leite e seus derivados, apesar de serem de origem animal não devem ser
restritos devido ao seu conteúdo de cálcio.
Purinas
O produto final do metabolismo das purinas é o ácido
úrico. Portanto, pacientes litásicos com hiperuricosúria devem evitar
especialmente alimentos de origem animal ricos em purinas, como vitela, bacon,
cabrito, carneiro, fígado, língua, rim, miolo, anchova, sardinha, arenque,
bacalhau, truta, ovas de peixe, mexilhão, galeto, peru, porco, coelho, pato e
ganso. Entretanto, ainda não está bem estabelecido o quanto uma dieta é elevada
ou reduzida em purinas. Alguns autores sugerem que ingestões de purinas
superiores a 175mg/dia podem elevar a excreção urinária de ácido úrico.
Carboidratos
A ingestão de carboidratos simples está relacionada à
litíase por aumentar a excreção urinária de cálcio. Alguns investigadores
demonstraram que o consumo de glicose reduz a reabsorção renal de fosfato em
pacientes litiásicos, contribuindo assim, para hipercalciúria por meio da
depleção de fosfato. O fator responsável pela depleção de fosfato em litiásicos
não está bem estabelecido.
Líquidos
Uma elevada ingestão de líquidos é frequentemente
recomendada para pacientes litiásicos por aumentar o volume urinário e diminuir
a concentração dos promotores de cristalização. Pacientes com litíase renal
devem ser orientados a ingerir aproximadamente 30ml de líquidos/kg/dia, o que
corresponderia, em média, a 2.100 a 2.500ml de líquidos/dia. Estes devem ser
preferencialmente água, chás de frutas, flores ou ervas e sucos de frutas como
limão e laranja, por conterem elevado teor de citrato. Os chás, preto e mate,
devem ser usados com moderação devido ao elevado teor de oxalato. As bebidas
alcoólicas devem ser consumidas com moderação entre os pacientes com
hiperexcreção de ácido úrico por conterem purinas. Com relação às bebidas
isotônicas, o conteúdo de sal dessa bebida (0,5g/garrafa) somado ao de outros
alimentos pode potencialmente elevar a quantidade total de sal a ser consumida
diariamente. Por essa razão, o uso excessivo não é aconselhável para
litiásicos.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Cuppari L et al. Doenças
renais. In: Cuppari L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/
Escola Paulista de Medicina - nutrição clínica no adulto. 1a ed. São Paulo:
Manole. 2002. p. 167-199.
Mendonça, COG; Baxmann, AC;
Martini, LA; Heiberg; IP. Nutrição na Litíase Renal. In: Ajzen, H; Schor, N.
Guia de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina
– Nefrologia. 2. ed. São Paulo: Manole, 2005, p. 119-128.
Schor, N; Heiberg, IP.
Litíase Renal. In: Ajzen, H; Schor, N.
Guia de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina
– Nefrologia. 2. ed. São Paulo: Manole, 2005, p. 101-118.
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