A linhaça, cujo nome científico é Linum
usitatissimum, é uma semente oleaginosa usada há milhares de anos, e cada vez
mais vem despertando a atenção como um alimento saudável. Ela traz diversos
benefícios à saúde comprovados por pesquisas clínicas recentes, como a melhora
da função digestiva e intestinal, redução do risco de doença cardíaca,
aterosclerose, obesidade, diabetes, câncer, artrite, osteoporose, doenças
autoimunes e neurológicas. Suas propriedades são creditadas ao alto teor de ômega-3,
fibras e fitoquímicos. De cor marrom ou dourada, ela é mais bem aproveitada
quando moída e é muito fácil incorporar seu uso no dia a dia, acrescentando em
sucos, vitaminas, sopas, mingaus, e ainda no preparo de massas, pães, biscoitos
e bolos.
Dourada
ou marrom?
Alguns dizem que a dourada é mais nutritiva,
outros defendem a marrom. Na verdade, ambas são muito similares no conteúdo
nutricional e não apresentam diferença notável. A marrom tem atividade
antioxidante ligeiramente mais elevada e contém um pouco mais de ômega-3, e a
dourada fornece um pouco mais de proteína, então a escolha entre uma ou outra
vai depender do seu gosto pessoal. O mais importante é que a linhaça esteja
fresca e sem cheiro rançoso.
Macronutrientes
A linhaça contém 530 calorias por 100 gramas,
e cada colher de sopa perfaz aproximadamente 55 calorias. Linhaça é composta
por 42% de gordura, 18% de proteína e 29% de carboidratos, sendo que desses 27%
são fibras e 2% açúcares.
Fibras
Duas colheres de sopa de linhaça fornecem
cerca de 6 gramas de fibra, o que equivale a 20% da ingestão diária
recomendada, sendo 20 a 40% de fibra solúvel (goma e mucilagem) e 60 a 80% de
fibra insolúvel (celulose e lignina). Fibras solúveis ajudam a regular o açúcar
no sangue e os níveis de colesterol, e também promovem a saúde digestiva
alimentando as boas bactérias no intestino. Fibras insolúveis agem como um
laxante natural. O consumo de linhaça pode ajudar a promover a regularidade
intestinal, prevenir a constipação e reduzir o risco de diabetes.
Ácidos
graxos
A gordura presente na
linhaça é composta por ácidos graxos poli-insaturados, como ômega-3 e ômega-6,
perfazendo 73% do total de lipídios. Os outros 27% são uma mistura de
monoinsaturados, como ômega-9, e ácidos graxos saturados. Linhaça é a segunda
fonte dietética mais rica de ômega-3 do tipo alfa-linolênico (ALA), sendo
ultrapassada somente pela chia. O ALA é um ácido graxo essencial, o que
significa que o corpo não pode produzi-lo e, portanto, precisa ser obtido dos
alimentos.
Micronutrientes:
vitaminas, minerais e fitoquímicos
A linhaça é muito rica em complexo B, com
maior concentração de B1, B6 e folato. Em relação aos minerais ela é um
verdadeiro arsenal, contendo doses consideráveis de cálcio, magnésio, ferro,
potássio, zinco, cobre, selênio, manganês e fósforo. Diversos fitoquímicos
benéficos recheiam a linhaça: lignanas, ácido p-cumarínico, ácido ferúlico,
glicosídeos e fitoesteróis. As lignanas estão presentes em quase todas as
plantas, agindo como fitoestrógenos e antioxidantes, porém a linhaça é a mais
rica fonte alimentar conhecida, contendo até 800 vezes mais lignana do que as
outras plantas.
Perda
de peso
A linhaça pode ser útil na composição da
dieta em um programa de emagrecimento. Por ser rica em fibra solúvel, ela forma
um gel pegajoso no estômago quando misturada com água, reduzindo o apetite por
mais tempo. Um estudo clínico sobre dietas para perda de peso mostrou que a
linhaça diminui marcadores inflamatórios em até 46%, em comparação às dietas
sem a semente – a inflamação silenciosa ou subclínica influencia negativamente
na saúde e no emagrecimento.
Coração,
colesterol e hipertensão
Diversas pesquisas têm associado linhaça com
benefícios para a saúde do coração, devido principalmente ao seu importante
conteúdo de ácidos graxos ômega-3, lignanas e fibras. Colesterol alto é um
fator de risco para doença cardíaca, principalmente o colesterol LDL oxidado.
Estudos em humanos demonstraram que o consumo diário de linhaça pode diminuir o
nível de colesterol e o número de partículas LDL. As fibras solúveis e as
lignanas se ligam aos ácidos biliares ricos em colesterol e carregam trato
digestivo abaixo para serem eliminados. Dezenas de pesquisas clínicas
publicadas em revistas científicas voltadas para a cardiologia mostram que a
linhaça é um dos alimentos mais eficazes na redução da pressão arterial.
Diabetes
Estudos feitos com portadores de diabetes
tipo 2 mostram que a suplementação de 1 a 2 colheres de sopa de farinha de
semente de linhaça por dois meses pode reduzir a glicemia de jejum em até 20%.
Embora a ação da linhaça no diabetes tipo 2 ainda não esteja clara, ela pode
ser usada de forma segura e saudável na dieta de indivíduos com níveis altos de
açúcar no sangue.
Câncer
Pesquisas em animais e humanos mostram que a
linhaça pode suprimir ou reduzir a formação de vários tipos de câncer, como
cólon, mama, próstata, pele e pulmão. As lignanas são fermentadas por bactérias
intestinais formando compostos com ação anticancerígena. Um estudo de 2013
feito no Canadá com mais de 6 mil mulheres comprovou uma redução de até 30% na
incidência de câncer de mama em quem consumiu linhaça com regularidade.
Intestino
Diarreia e constipação são
queixas frequentes. Cerca de 7% das pessoas sofrem de diarreia crônica,
enquanto a constipação crônica afeta até 20% ou mais da população, sendo que
mulheres têm uma incidência duas vezes maior que homens, e pessoas com mais de
65 anos também são mais afetadas por este problema. Vários estudos evidenciam
que a linhaça ajuda a prevenir tanto a diarreia quanto a constipação, com uma
ação dupla, dependendo da necessidade do organismo. O teor de fibras insolúveis
na linhaça adiciona volume aos resíduos digestivos, atuando como um laxante e
aliviando a constipação. A fibra solúvel absorve água no trato digestivo,
aumentando o volume das fezes e controlando a diarreia.
Atenção
O limite de consumo
de linhaça é de cerca de 50 gramas por dia (5 colheres de sopa) em indivíduos
saudáveis. Níveis mais elevados podem causar efeitos adversos como inchaço,
gases, dor abdominal e náusea. É importante se manter bem hidratado para
facilitar a ação das fibras. Mulheres grávidas e amamentando não devem consumir
altas doses por seu leve efeito estrogênico. A linhaça é geralmente bem
tolerada pelo organismo, e a ocorrência de alergia é rara.
Como usar
A dose usual é de 1
a 2 colheres de sopa por dia. Um cuidado importante é sempre manter a linhaça
moída refrigerada porque, por seu alto teor de gordura, ela oxida facilmente
podendo ficar rançosa e imprópria para consumo. As sementes inteiras estão
protegidas da oxidação pela casca.
Texto elaborado por: Dra. Tamara Mazaracki.
Título
de Especialista em Nutrologia – Associação Brasileira de Nutrologia;
Membro
Titular da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia;
Pós-graduação
em Medicina Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE –
Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de
Homeopatia;
Pós-graduação
em Medicina Estética – Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
*
Journal of Food Science &Technology 2014. Flax
& flaxseed oil: an ancient medicine & modern functional food.
*Critical Reviews in Food Science &
Nutrition 2011. Flaxseed: a
potential source of food, feed and fiber.
*Current
Pharmaceutical Design 2016. Prevention and treatment of atherosclerosis with flaxseed-derived
compound secoisolariciresinol diglucoside.
*Nutrients 2016. Effect of Flaxseed Intervention on Inflammatory Marker C-Reactive
Protein: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials.
*Nutrition & Metabolism 2012. Flaxseed dietary fibers lower cholesterol and
increase fecal fat excretion.
*Journal of Nutrition 2008. Metabolic effects of dietary fiber
consumption and prevention of diabetes.
*Food Science and Technology 2013. Antioxidant
capacity and chemical composition in seeds rich in omega-3: chia, flax, and
perilla.
*Appetite 2011. Dietary fibres in the regulation of appetite and food intake. Importance
of viscosity.
*Nutrition, Metabolism & Cardiovascular Diseases 2013. Flaxseed dietary fibers suppress postprandial
lipemia and appetite sensation in young men.
*Nutrition Journal 2015. Impact of weight loss diet associated with flaxseed on inflammatory
markers in men with cardiovascular risk factors: a clinical study.
* Nutrition Journal 2015. Flaxseed oil intake reduces serum small dense low-density lipoprotein
concentrations in Japanese men: a randomized, double blind, crossover study.
*Hypertension 2013. Potent antihypertensive action of dietary flaxseed in hypertensive
patients.
*Current
Hypertension Reports 2014. Flaxseed
for hypertension: implications for blood pressure regulation.
*Journal of Dietary Supplements 2011. An open-label study on the effect of flax
seed powder supplementation in the management of diabetes mellitus.
*Applied
Physiology, Nutrition
& Metabolism 2014. Flaxseed and its lignan and oil components:
can they play a role in reducing the risk of and improving the treatment of
breast cancer?
*Cancer Causes & Control 2013. Consumption of flaxseed, a rich source of
lignans, is associated with reduced breast cancer risk.
*Cancer
Epidemiology, Biomarkers & Prevention 2008. Flaxseed supplementation reduces prostate
cancer proliferation rates in men presurgery.
*Journal of Ethnopharmacology 2015. Dual effectiveness of Flaxseed in
constipation and diarrhea: Possible mechanism.
*Journal of Ethnopharmacology 2015. Pharmacological basis for the medicinal use
of Linum usitatissimum (Flaxseed) in infectious and non-infectious diarrhea.
*European Annals
of Allergy and Clinical Immunology 2010. Prospective study of sensitization and food
allergy to flaxseed in 1317 subjects.
Nenhum comentário:
Postar um comentário