O primeiro ano de vida é um período
caracterizado por rápido crescimento e desenvolvimento. Até dois anos, o
crescimento reflete as condições da vida intrauterina e de fatores ambientais,
dentre os quais se destaca o estado nutricional. Dessa forma, alterações de
crescimento nesse período têm como causa mais provável o déficit nutricional
pregresso ou atual.
A Desnutrição Energético-Proteica (DEP) não
tem mais relevância epidemiológica no Brasil, mas em virtude das suas formas
clássicas e da importância da adequada intervenção na vigência de uma criança
com baixo peso, ela deve ser abordada.
A definição clássica da OMS para a DEP é: um
conjunto das condições patológicas decorrentes da deficiência simultânea, em
proporções variadas de proteínas e calorias que ocorre mais frequentemente em
lactentes e crianças pequenas e que geralmente se associa a infecções. Suas
manifestações clínicas podem ser classificadas em Kwashiorkor (deficiência
predominante de proteína), Marasmo (deficiência energético-proteica
equilibrada), Kwashiorkor-marasmático (forma mista, em que existe a deficiência
energética e proteica, porém desequilibrada).
A alimentação está profundamente associada à
saúde, nutrição, crescimento e desenvolvimento infantil, sendo os primeiros
anos de vida um período essencial para o estabelecimento de práticas
alimentares adequadas.
Nos últimos anos vários estudos vêm
demonstrando os agravos significativos quando a amamentação não acontece. Na
fase inicial da vida, o leite humano é indiscutivelmente o alimento que reúne
as características nutricionais ideais, com balanceamento adequado de
nutrientes, além de favorecer inúmeras vantagens imunológicas e psicológicas
importantes na diminuição da morbidade e mortalidade infantil.
A amamentação é, então, fundamental para a
criança, para a mãe, para a família e a sociedade em geral. O principal
argumento contra a introdução precoce dos alimentos complementares é o aumento
dos riscos de morbimortalidade, especialmente em regiões com condições
precárias de higiene.
Oferecer à criança outros alimentos além do
leite materno antes do sexto mês de vida pode tornar a criança mais vulnerável
a diarreias, a infecções respiratórias e gastrintestinais e a desnutrição,
levando ao comprometimento do crescimento e desenvolvimento adequados.
Tem-se demonstrado, ainda, que a introdução
precoce de alimentos aumenta a morbimortalidade infantil como consequência de
uma menor ingestão dos fatores de proteção do leite materno.
A introdução precoce de alimentos altamente
energéticos e de baixo valor nutricional, bem como o abandono do aleitamento
materno, contribui para o comprometimento do crescimento e desenvolvimento da
criança, além de propiciar a diminuição da proteção imunológica e o
desencadeamento de processos alérgicos e distúrbios nutricionais.
Dessa forma, atingir a alimentação adequada
das crianças na primeira infância deve ser um componente essencial da
estratégia global para a segurança alimentar.
Atualmente, o que percebemos é uma transição
nutricional, onde a desnutrição infantil sai de cena e dá lugar à obesidade
infantil, considerada atualmente uma patologia, a qual há algum tempo atrás
estava estigmatizada, a questão da obesidade não era considerada como realidade
que implicasse de tratamento porque era considerada por uma grande parcela da
sociedade como consequência de maus hábitos alimentares, inatividade física e
descuido.
Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF 2008-2009) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve um aumento no número de pessoas obesas e com excesso de peso em todo o Brasil. O sobrepeso atinge mais de 30% das crianças na faixa etária de 5 a 9 anos, cerca de 20% dos adolescentes entre 10 a 19 anos e nada menos que 48% das mulheres e 50,1% dos homens acima de 20 anos.
A obesidade em idades pediátricas potencia
inúmeras complicações na saúde da população infanto-juvenil. As consequências
impostas por esta doença são diversificadas e extensas, afetando inúmeros
sistemas orgânicos, causando distúrbios cardiovasculares, respiratórios,
dermatológicos, metabólicos, de crescimento, dermatológicos, ortopédicos e
psicossociais, como diabetes melittus tipo 2, hipercolesterolemia, hipertensão
arterial, doenças cardiovasculares, síndrome de apneia obstrutiva do sono,
comprometimentos osteomioarticulares e diversos tipos de cânceres.
Estas complicações inerentes à doença residem
na persistência do comportamento em idade adulta. A doença e as suas
complicações provocam um impacto econômico já que conduz a custos diretos e
indiretos que podiam ser diminuídos pela sua prevenção baseada numa alimentação
saudável e na prática de atividade física.
Um estudo publicado na revista Preventive
Medicine relatou que o exercício físico é capaz de reduzir as lipoproteínas de
baixa densidade (LDL) em até 35% e os triacilglicerois em 40%, além de aumentar
as lipoproteínas de alta densidade (HDL) em até 25%. Dessa maneira, o exercício
físico é considerado por diversos autores como a principal ferramenta para
atenuar os danos associados à obesidade infantil.
As crianças estão cada vez mais envolvidas
pela mídia, nos shoppings, e pelas marcas e noutras atividades de consumo,
fazendo aumentar o marketing para esta faixa etária principalmente direcionada
para a alimentação, (categoria de produtos com maiores gastos e publicidade) o
que tem coincidido com a diminuição significativa de hábitos saudáveis e o
aumento de obesidade infantil pela influência negativa que afeta o consumo de
alimentos de elevada densidade energética e pobre em nutrientes.
A crescente prevalência da obesidade infantil
requer a tomada de medidas de controle ao marketing associado aos alimentos
direcionados para as crianças, como já existe em muitos países da Europa, onde
existe legislação que regulamenta a publicidade alimentar infantil, sendo
necessário agir de uma forma multidisciplinar, para contribuir para um ambiente
mais saudável.
Entende-se que as Políticas Públicas de
intervenção na obesidade infantil, por exemplo, não devem ser pautadas apenas
na perspectiva da saúde. Defende-se a importância de seu caráter intersetorial
de forma a abranger o máximo de setores do serviço público. Desta forma, a
discussão relacionada ao caráter intersetorial das políticas públicas torna-se
uma questão urgente na atualidade como forma de alcance de maiores e melhores
resultados. Assim, reforça-se a busca por uma política de promoção da saúde,
prevenção e controle das doenças de forma ampliada, integrada e conectada aos
mais diversos setores da sociedade.
Podemos afirmar que o acompanhamento
multiprofissional através de grupos é extremamente importante para que as
crianças e os adolescentes possam ser assistidos integralmente, considerando
não somente sua saúde física, mas também seu bem-estar mental, psicoemocional e
social.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referência
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BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. POF 2008-2009: mais de 90% da população
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Acessado em: 24/08/2017.
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