O corpo armazena gordura
em diversos locais para uso posterior como fonte de energia. O fígado contém
alguma gordura naturalmente, porém se este teor é muito alto pode causar a
doença hepática gordurosa ou esteatose. Neste processo, o tecido normal e saudável
do fígado vai sendo infiltrado por moléculas de gordura. O fígado aumenta de tamanho, fica inchado e
perde a sua funcionalidade plena, podendo progredir para sérios problemas de
saúde. O tratamento para a gordura no fígado inclui mudanças na dieta, perda de
peso, prática de atividade física e suplementos como silimarina, curcumina e
probióticos, dentre outros. Tão importante quanto escolher os alimentos que
ajudam a combater o acúmulo de gordura no fígado, é evitar alimentos vilões e
outros fatores que causam a esteatose, como o excesso de álcool e medicamentos.
Super laboratório
O fígado é um laboratório de primeira linha, vital para o sistema
digestivo humano, com mais de 500 funções identificadas, incluindo o
metabolismo de alimentos, armazenamento de energia, remoção de detritos
orgânicos, desintoxicação, suporte ao sistema imunológico, produção de bile e
de centenas de compostos químicos. A filtração do sangue é uma função essencial do fígado. Todo o
sangue do nosso corpo (5 litros em média) passa através do fígado quase 400
vezes por dia - ele filtra 1,4 litros
de sangue por minuto! A filtração é vital porque o sangue vem carregado
de bactérias, endotoxinas, complexos antígeno-anticorpo e outras substâncias
tóxicas provenientes do intestino através da veia porta. Um fígado saudável
limpa quase 100% das toxinas do sangue, antes que ele seja devolvido para a
circulação geral. Qualquer alteração em sua plena função vai impactar na saúde.
Esteatose hepática
Existem dois tipos de
esteatose hepática: de origem alcoólica e não alcoólica. Gordura no fígado está fortemente associada
com fatores de risco metabólico, como resistência à insulina, triglicerídeos
altos, baixo colesterol HDL (bom), doenças cardiovasculares, hipotireoidismo,
obesidade e mudanças na microbiota (flora) intestinal. A esteatose avançada
danifica o fígado, dificultando a remoção de toxinas e a produção de bile.
Quando o fígado é incapaz de cumprir estas tarefas de forma eficaz, há risco de
se desenvolver outros problemas de saúde. A
esteatose é um problema grave que pode evoluir para hepatite, cirrose e
câncer.
Doença celíaca, glúten e esteatose
Muitas vezes há alterações no hepatograma, uma
elevação sutil de enzimas hepáticas, sem nenhuma causa aparente. Enzimas são
produzidas quando há dano no tecido hepático, ou seja, quando as enzimas se
elevam isto indica que há um problema no fígado. O resultado em médio prazo
pode ser a esteatose hepática não alcoólica, com acúmulo de gordura no fígado,
que em longo prazo e sem tratamento pode evoluir para doenças graves, como
hepatite, cirrose e câncer. Os celíacos têm até 6 vezes mais risco de
apresentar doença hepática e são 20 vezes mais propensos a desenvolver cirrose,
e os pacientes com esteatose não alcoólica têm 8,6 vezes mais risco de ser
celíacos. Em resumo, as anormalidades intestinais na doença celíaca podem
contribuir para o depósito de gordura no fígado. Muitos
pesquisadores acreditam que em indivíduos sensíveis ao glúten, com testes
laboratoriais negativos para doença celíaca, há um estado inflamatório crônico
no trato digestivo. Isto pode causar a síndrome do intestino permeável (leaky
gut), com níveis alterados de enzimas hepáticas e, eventualmente, doença
hepática crônica.
O que
sobrecarrega o fígado?
Alimentos processados, açúcar em excesso (principalmente a frutose
derivada do milho), aditivos alimentares (adoçantes, corantes, conservantes),
frituras ricas em gorduras trans e ômega-6 (óleos vegetais como canola, soja,
algodão, milho), álcool, tabaco, drogas recreativas e diversos medicamentos. Há
também fatores ambientais: poluição, pesticidas, herbicidas, fertilizantes
sintéticos. Esta overdose de toxinas alimentares e ambientais dos tempos
modernos faz com que o fígado cumpra horas extras para desintoxicar o organismo.
Frutose, frituras e álcool
As pesquisas evidenciam
que o consumo exagerado de açúcar (mais de 25 gramas por dia), frutose
adicionada em alimentos processados e carboidratos refinados são os principais
culpados pela formação da esteatose hepática não alcoólica. Quando se consome
grande quantidade de frutose, o fígado transforma este excesso em gordura
(triglicerídeos). Frituras, ricas em calorias e gorduras trans, também devem
ser eliminadas da dieta, pois contribuem para o ganho de peso e a inflamação.
Por outro lado, a esteatose hepática alcoólica é causada principalmente pelo
excesso de bebidas alcoólicas.
Drogas e medicamentos
Lesão no fígado induzida
por drogas é uma causa comum e subestimada de doença hepática. Nas últimas décadas
medicamentos regularmente usados, como amiodarona, tamoxifeno, irinotecano,
5-fluoracil, metotrexato, corticoides, tetraciclina, aspirina, ibuprofeno e
ácido valproico, foram associados com esteatose. Derivados petroquímicos
clorados (utilizados pela indústria) e cocaína também contribuem para a
esteatose. O problema não é o uso ocasional de drogas, e sim a sua cronicidade.
O que comer?
Diversos alimentos atuam
contra o acúmulo de gordura no fígado. Folhas, legumes (destaque para
brócolis), frutas (principalmente berries e cítricos), fibras, sementes
oleaginosas, feijões e pescados estão entre as boas escolhas. São muitas as
gorduras boas que ajudam o fígado a se livrar da gordura ruim. Ômega-3 (presente na sardinha, cavala, atum, linhaça, chia e nozes)
melhora os níveis de gordura hepática e os níveis de HDL colesterol em pessoas
com esteatose. Abacate
e azeite são ricos em ômega-9,
que reduz o estresse oxidativo e a inflamação, contribuindo para um fígado mais
saudável. Estudos recentes indicam que o óleo de coco extravirgem atua como um
nutracêutico contra a esteatose hepática.
Alho, cúrcuma e gengibre
Alho é um tempero com
ampla ação medicinal, e estudos mostram que seu consumo contribui para melhorar
a resistência insulínica e o perfil lipídico, reduzindo a chance de acumular
gordura no fígado. A curcumina, um
polifenol presente na cúrcuma, é eficaz contra o desenvolvimento da esteatose
hepática e evita a sua progressão para hepatite. O consumo diário de cúrcuma
reduz a resistência insulínica, a inflamação e a oxidação de gorduras.
Gengibre, composto por centenas de fitoquímicos, também age na resistência insulínica
e inflamação, sendo muito útil na prevenção e na correção da esteatose.
Café e chá
Café é uma bebida com diversas propriedades na saúde humana. O ácido
clorogênico, um dos princípios ativos do café, tem ação antioxidante,
anti-inflamatória, ajuda a reduzir o colesterol e a prevenir a doença hepática
gordurosa. As pesquisas comprovam que o
chá verde e o chá preto, devido ao seu alto teor de polifenóis, ajudam a
reduzir o percentual de gordura corporal e gordura no fígado.
Suplementos
Além de uma alimentação com ênfase em folhas, legumes, frutas coloridas,
sementes oleaginosas, boas gorduras e proteínas de qualidade, há também
vitaminas, fitoterápicos e suplementos que ajudam a prevenir problemas e a
reparar um fígado doente, como silimarina, curcumina, gengibre, probióticos,
ácido lipoico, colina, inositol, complexo B, magnésio, vitaminas C, D, E,
polifenóis, ômega-3, whey protein e outros.
Cuide do fígado
com carinho!
É preciso reconhecer que o fígado é um órgão essencial à sobrevivência.
Não se pode viver sem ele – não há nenhuma máquina criada pelo homem que
consiga fazer o que o fígado faz, tamanha é a sua complexidade! As doenças mais
comuns do fígado são infiltração gordurosa (esteatose), hepatite (inflamação
aguda, subaguda ou crônica do fígado), cirrose (endurecimento do tecido
hepático com perda da função) e câncer. Se o fígado falhar e não houver um
transplante, nós simplesmente morremos. Esta usina fantástica trabalha
incansavelmente e, de modo geral, não nos lembramos disso e nem cuidamos do
fígado. Procure se alimentar de forma correta e tenha bons hábitos de vida. O
fígado agradece e a sua saúde também!
Texto elaborado por: Dra. Tamara Mazaracki.
Título de Especialista em Nutrologia –
Associação Brasileira de Nutrologia;
Membro Titular da ABRAN – Associação Brasileira de
Nutrologia;
Pós-graduação em Medicina Ortomolecular, Nutrição
Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE – Faculdade de Ciências da Saúde de São
Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia;
Pós-graduação em Medicina Estética – Instituto
Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências Bibliográficas:
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Biosciences 2017. Physiology of the liver.
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Benefits of Herbs & Supplements in Patients with NAFLD.
*Nutrients 2018. Nutraceutical Approach
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