quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Benefícios de Alimentos Funcionais em Portadores de TDHA

 


O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um transtorno do desenvolvimento, de forte influência neurobiológica, mais comum na infância, afetando 3 a 7% das crianças, e sendo caracterizado por distração, déficit de atenção, ansiedade, comportamentos impulsivos e excesso de atividade motora, possui um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade e impulsividade, que se manifestam em, no mínimo, dois ambientes como a casa e a escola. Várias crianças acometidas deste transtorno desenvolvem problemas emocionais, sociais e familiares como consequência das suas dificuldades primárias. Estas são ainda associadas ao insucesso escolar, dificuldades de inserção social, bem como a baixa autoestima e ainda problemas intrafamiliares.

De acordo com o Diagnostic and Statistical Maual of Mental Disorders (DSM-V), os sintomas são subdivididos em duas categorias ou critérios: (1) desatenção e (2) impulsividade e hiperatividade; eles incluem sintomas relacionados ao comportamento como: incapacidade de prestar muita atenção a detalhes, dificuldade em organizar tarefas e atividades, fala excessiva, inquietação, ou incapacidade de permanecer sentado em situações apropriadas e dificuldade em concluir pensamentos. Ainda pelo DSM-V, as crianças devem exibir pelo menos seis sintomas de cada grupo de critérios (ou de ambos), enquanto os adolescentes mais velhos e adultos (com idade acima de 17 anos) devem apresentar ao menos cinco sintomas para permitir o diagnóstico de TDAH. O manual ainda classifica o TDAH em três formas de apresentação, que foram descritos como subtipos no DSM-IV, e são elas: desatenta, hiperativa/impulsiva e combinados (envolvendo domínios desatento e hiperativo e hiperativo/impulsivo).

Existem diversas pesquisas que abordam o TDAH como um todo, analisando possíveis deficiências de alguns nutrientes como ferro, em razão da sua função como cofator da tirosina hidroxilase, enzima limitante envolvida na síntese da dopamina. Portanto, deficiências nutricionais (Ferro, magnésio, zinco, ácidos graxos essenciais) podem interferir no crescimento e desenvolvimento inicial e função do cérebro, muitas vezes por restringir a mielinização, arborização dendrítica e a conectividade sináptica que ocorrem no início da vida. Os níveis dos neurotransmissores (por exemplo: serotonina, dopamina, norepinefrina, acetilcolina) podem ser alterados, resultando em alterações neuroanatômicas, neuroquímicas ou neurometabólicas. As consequências funcionais dessas alterações variam, dependendo da deficiência nutricional específica e o momento da deficiência relativa para os processos de desenvolvimento neurológicos.

Devido a isso, cresce a cada dia os estudos na área da nutrição, relacionando-se às deficiências nutricionais com doenças neurológicas, como o TDAH. As carências e desequilíbrios nutricionais são comuns no TDAH, porém, ainda há controvérsias sobre suas causas, como a hipótese, onde a própria doença aumenta as necessidades nutricionais ou de que este papel é exercido pela medicação empregada no tratamento desses indivíduos. Particular atenção tem sido dada no papel das hipersensibilidades alimentares e metabolismo de ácidos graxos na sintomatologia de TDAH.

Além disso, foi observado também que os fármacos aplicados na terapia desencadeiam vários resultados indesejados, por conta disso, a dietoterapia se apresenta como meio alternativo. A nutrição tem um papel de grande importância nesse processo de tratamento da patologia, logo, deve existir um equilíbrio nutricional com o propósito de utilizar alimentos benéficos e evitar aqueles que são prejudiciais como industrializados, mostrando a necessidade do acompanhamento profissional na área de nutrição, quanto a qualidade e benefícios dos alimentos devem ser priorizados do DTAH, em especial os alimentos funcionais. Este artigo tem como principal objetivo realizar uma revisão de literatura para reunir informações referentes aos benefícios dos alimentos funcionais em portadores com TDAH.

No Brasil, a prática alimentar de adolescentes tem sido caracterizada pelo elevado consumo de refeições prontas, de fácil preparo e de alimentos ultraprocessados (ricos em gorduras, açúcares e sódio), paralelamente à ingestão insuficiente de alimentos in natura, tradicionais na dieta, a exemplo de feijão e hortaliças. Tal padrão de alimentação é influenciado, entre outros, pela adoção crescente de comportamentos alimentares não saudáveis, tais como o hábito de se alimentar em frente à TV ou de não realizar refeições em família. A alimentação inadequada é um grande fator de risco para o agravamento dos sintomas de TDAH, pois o organismo não receberá os nutrientes que precisa para a estimulação de neurotransmissores como a dopamina e noradrenalina.

Recentemente, associações entre padrões alimentares e TDAH foram examinadas em vários estudos transversais. Um estudo, que incluiu uma coorte populacional de adolescentes, relatou que um padrão alimentar de estilo ocidental, caracterizado por alta ingestão de gordura, açúcares refinados e sódio e baixa ingestão de fibras, folato e ácidos graxos ômega-3, foi associado a maiores chances de um diagnóstico de TDAH, enquanto um padrão alimentar saudável, com alta ingestão de fibras, folato e ácidos graxos ômega-3, não houve correlação com o diagnóstico de TDAH.

O consumo excessivo de carboidratos e de açúcar refinado pode afetar negativamente a capacidade de aprendizado e comportamento agressivo e agitado em crianças em geral e de forma mais intensa em crianças com TDAH. Os pais de crianças com TDAH frequentemente relatam um agravamento da hiperatividade após uma ingestão excessiva de doces e refrigerantes, mas a maioria dos estudos controlados não demonstraram um efeito adverso significativo de sacarose e aspartame. Um estudo realizado com pré-escolares hiperativos, com idade entre 2 e 6 anos, submetidos ao consumo de aspartame e refeições ricas em carboidratos, revelou que a carga aumentada de açúcar e aspartame não aumentaram o nível de atividade ou agressão, mas o déficit de atenção foi correlacionado com a ingestão de açúcar.




Na nutrição, existem alimentos funcionais que possuem benefícios decorrentes de vários efeitos metabólicos e fisiológicos que contribuem para um melhor desempenho do organismo do indivíduo que os ingere. Isso ocorre quando uma substância especifica entra em contato com componentes celulares e/ou teciduais gerando um efeito biológico por vias bioquímicas, fisiológicas ou farmacológicas. No caso de pacientes portadores de TDAH, alimentos funcionais (berinjela, mirtilo, kiwi, cereja, tomate, pêra, maçã) que possuem ácidos clorogênicos e melanoidinas possuiriam efeito antidepressivo e de inibição do desejo de consumir álcool e drogas ilícitas, que são alguns fatores preocupantes para o portador na sua fase adulta.

Portanto, alimentos como o abacate, banana, espinafre e amêndoas devem ser incluídos também na dieta de um paciente portador de TDAH, pois são ricos em magnésio, mineral fundamental para a formação de serotonina, neurotransmissor representado quimicamente como 5-hidroxitriptamina (5-HTP), sintetizado no organismo pela conversão do triptofano por meio da enzima hidroxilase que é dependente, principalmente, deste mineral. Sendo assim, alimentos como aveia, peixes, arroz integral e cacau estimulam a produção de serotonina, neurotransmissor conhecido como hormônio do “bem-estar”, sendo suas concentrações baixas implicadas em alterações de humor, ansiedade, irritabilidade, nervosismo e hiperatividade. Além disso o magnésio, o ferro e o cobre servem como cofatores na síntese dos neurotransmissores do cérebro, como dopamina, norepinefrina e serotonina, além de proteger as membranas celulares neuronais por suas capacidades antioxidantes. Ainda assim, a deficiência desses minerais nos primeiros anos de vida pode afetar negativamente o desenvolvimento neural e comportamental de crianças.

De maneira análoga, alimentos como beterraba, feijão, fígado bovino são uma boa escolha quando o portador de TDAH possui deficiência de ferro, um cofator para a tirosina hidroxilase, a enzima limitante da taxa de síntese de monoamina e, portanto, é crítica para a produção de dopamina e norepinefrina. Em uma metanálise recente de estudos do caso-controle, os pacientes com TDAH demonstraram ter níveis mais baixos de ferritina do soro comparados com controles saudáveis. Um pequeno ensaio, piloto, randomizado, controlado por placebo em 23 crianças com TDAH e níveis anormalmente baixos de ferritina sérica demonstrou uma melhoria significativa nos sintomas de TDAH em crianças randomizadas para sulfato ferroso (80 mg/d) em comparação com placebo. Contudo, ensaios adicionais são necessários para estabelecer se a suplementação de ferro tem eficácia clínica não somente aos pacientes com TDAH com evidência da deficiência de ferro.

Uma disfunção nos transportadores dopaminérgicos podem estar envolvidos com a deficiência de zinco. Este neurotransmissor, importante para o funcionamento cerebral, tem sua ação reduzida em pacientes com TDAH que apresentam níveis reduzidos de zinco. Sendo assim, alimentos com vasta quantidade de zinco como oleaginosas e proteína animal são bem-vindos na dietoterapia de um portador de TDAH, já que é um importante componente para o organismo, sendo essencial para o crescimento, função imunológica e desenvolvimento neurológico. É também um cofator essencial para o metabolismo de neurotransmissores, na conversão de vitamina B6 para a sua forma ativa, sendo necessário para a conversão também do triptofano em serotonina, participa do metabolismo de prostaglandinas e melatonina, e ainda afeta indiretamente o metabolismo da dopamina.
Voltando a atenção para os ácidos graxos essenciais (AGE), o ômega-3 é possivelmente o suplemento mais estudado para crianças com TDAH e o que reúne maior nível de evidência favorável à suplementação, porém a dieta ocidental é sabidamente pobre em fontes alimentares de ômega-3, de atividade anti-inflamatória, em relação às fontes de ômega-6, de ação pró-inflamatória. Os ácidos graxos ômega-3 considerados importantes para o ser humano são o ácido alfa-linolênico, o ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosahexaenoico (DHA). O ácido alfa-linolênico está presente em fontes vegetais como o óleo de linhaça, óleo de canola, nozes e vegetais de folhas verdes. As fontes alimentares de EPA e DHA incluem algas e peixes de águas frias, como o salmão, a cavala e a sardinha. O EPA e o DHA podem ser convertidos a partir do ácido alfa-linolênico, através do alongamento e dessaturação da molécula, e por isso são chamados de ácidos graxos polinsaturados de cadeia longa (Long Chain Polyunsaturated Fatty Acids – LCPUFAs); sabe-se, no entanto, que esta taxa de conversão é muito baixa, da ordem de 5% para o EPA e 0,5% para o DHA.




Foi reportado baixos níveis de DHA antes da pesquisa, em crianças portadores de TDAH e dificuldade de aprendizagem, após a administração do DHA as crianças portadoras de TDAH apresentaram melhora significativa na aprendizagem, em especial quanto a compreensão na leitura, como também referem a necessidade de mais estudos associando a administração de DHA e EPA.

Outros aminoácidos são estudados na diminuição dos sintomas de hiperatividade e déficit de atenção como GABA (Ácido gama – aminobutírico) e glicina que possuem efeito tranquilizante reduzindo hiperatividade e ansiedade; L- teanina que acalma e melhora atenção por aumentar ondas alfa no cérebro; L- tirosina que é precursor de dopamina e norepinefrina; taurina por seus efeitos tranquilizantes e redutores de ansiedade; 5- hidroxitriptofano (5-HTP) que aumenta a síntese de serotonina; e S-adenosil-L-metionina (SAMe) que possui ação anti depressiva por ser essencial para a síntese de neurotransmissores.

As vitaminas piridoxina (B6), cobalamina (B12) e ácido fólico (B9) são indispensáveis para a conversão do triptofano em serotonina. Outros nutrientes também possuem notada função neuronal, como a tiamina (B1), que atua na manutenção e transmissão de impulsos nervosos; riboflavina (B2) que é necessária à conversão de piridoxina em suas formas ativas piridoxal 5-fosfato (PLP) e piridoxamina 5-fosfato (PMP); niacina (B3) que em baixos níveis no organismo modifica a transformação do triptofano em serotonina, sendo este utilizado por outra via metabólica para formação de niacina; e ácido ascórbico (vitamina C) que participa do metabolismo da serotonina ativando e protegendo o ácido fólico por sua ação antioxidante.

A TDAH é um transtorno neurobiológico, que torna o indivíduo mais ativo, impulsivo, com déficit de atenção, e a nutrição deve ser uma aliada para suporte aos portadores, pois os portadores de TDHA que utilizam uma alimentação inadequada e rica em carboidratos simples (açúcar, por exemplo) compreendendo alimentos que geram energia, esses portadores que já são hiperativos, podem agravar a situação comportamental deles, além de prejudicar a saúde, já que a maioria dos produtos utilizados muitas vezes são industrializados.

Em suma, de acordo com todos os estudos realizados, é possível identificar o quanto a alimentação é imprescindível para portadores de TDAH, pois está relacionada com todo o funcionamento do organismo, principalmente que muitos deles, podem ter com as deficiências nutricionais, também afetam o comportamento humano, e podem interferir no desenvolvimento do indivíduo.

Portanto, devido aos fatores problemáticos apresentados por portadores de TDAH, é necessário tomar medidas para auxiliar esses pacientes, em sua alimentação e consequentemente no tratamento da patologia, com a implementação de uma alimentação saudável, se indicado for, a suplementação, visando sempre à implementação de alimentos funcionais ricos em ácidos graxos essenciais, vitaminas (B6, B1, B2, B3, B12, B9) e minerais (ferro, zinco, magnésio, cobre), como já citados antes, com o objetivo de auxiliar no tratamento e melhorar a qualidade de vida dos portadores. Ressalta-se, porém, que haja um acompanhamento com profissional habilitado, no caso nutricionista, para prover adequadamente uma alimentação que favoreça a redução da sintomatologia nos portadores de TDAH.
 
 
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:
 
Landim, LASP; Souza, SLV et al. Benefícios dos alimentos funcionais em portadores de TDHA. Nutrição em Pauta. Disponível em: www.nutricaoempauta.com.br Acessado em: 17/02/2022.

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