No
Brasil, o câncer em geral configura-se como problema de saúde pública de
dimensões nacionais. Com o aumento da expectativa de vida do povo brasileiro e
com a progressiva industrialização e globalização, as neoplasias ganharam importância
crescente no perfil de mortalidade do país, ocupando o segundo lugar de causa
de óbito. O câncer color-retal encontra-se entre os cinco primeiros cânceres
mais frequentes e sua incidência não é homogênea em todo o país, prevalente nas
regiões Sul e Sudeste, particularmente nos Estados de São Paulo, Rio Grande do
Sul e Rio de Janeiro.
O
câncer de cólon e reto (CCR) envolve os tumores malignos localizados no
intestino grosso formado pelo cólon, reto e ânus, é uma doença tratável e
curável quando não apresenta metástases para outros órgãos. Os fatores de risco
tendentes ao desenvolvimento de CCR incluem: história familiar de CCR, dieta
baseada em gorduras animais, baixa ingestão de frutas, vegetais e cereais
integrais; assim como, etilismo, tabagismo, obesidade e sedentarismo.
Um
aspecto desfavorável ao CCR trata-se do seu desenvolvimento silencioso e o seu
diagnóstico tardio, devido ao longo período em que as lesões e o tumor
permanecem assintomáticos. Geralmente, quando a localização da neoplasia situa-se
no cólon direito, mais tardio será o surgimento dos primeiros sintomas.
Estudos
experimentais e epidemiológicos têm demonstrado uma associação entre a nutrição
e os alimentos no risco de câncer colorretal. Evidências científicas têm sido
avaliadas e sumarizadas em recomendações por diferentes grupos de
especialistas, nas quais concluíram que o consumo de carne vermelha está
relacionado ao aumento do risco de câncer color-retal.
A
constatação de que o consumo elevado de carne vermelha, mas não de frango ou
peixe, pode estar associado com um risco aumentado de câncer de cólon foi
primeiramente relatada em estudos prospectivos em 1990.
Há
evidências da associação entre consumo excessivo de carne vermelha e processada
e DCV, diabetes, câncer de cólon e reto, ganho de peso, infarto e maior risco
de mortalidade, possivelmente devido a seus altos teores de ferro, gorduras
saturadas, colesterol e substâncias potencialmente carcinogênicas formadas no
preparo culinário, como as aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos policíclicos
aromáticos, além de sódio e nitritos, adicionados nas carnes processadas.
Estudos
recentes demonstraram associações entre a ingestão de carne vermelha e o
aumento do risco para CCR em 28% a 35%. As evidências indicam a carne vermelha
e a carne processada como fatores de risco para o desenvolvimento de pólipos e
CCR.
Na
Irlanda, o alto consumo de carne vermelha e processada foi associado com menor
ingestão de frutas e hortaliças, cereais integrais e peixes, e maior consumo de
refrigerantes. Em mulheres japonesas, o maior consumo de carne vermelha em
relação à carne branca foi negativamente relacionado com consumo de frutas,
hortaliças e leite, e positivamente associado com refrigerante, óleos e
gorduras. O World Cancer
Research Fund recomenda um consumo máximo de 500g/semana de carne
vermelha e processada.
A
carne é uma fonte primária de proteína, rica em vários minerais e vitaminas, e
um fornecedor de gordura. Há vários mecanismos possíveis para explicar os
efeitos cancerígenos de carne.
Primeiro,
o ferro heme na carne vermelha tem mostrado relação com o aumento dos compostos
endógenos N-nitrosos (NOCs) conhecidas como multisite cancerígenos. O ferro
heme também pode induzir danos no DNA, o qual está envolvido na carcinogênese,
e catalisam a formação de aldeídos citotóxicos e genotóxicos.
Além
disso, NOCs são produzidas quando a carne é processada, levando ao aumento do
risco de câncer. Em segundo lugar, os compostos cancerígenos como aminas
heterocíclicas (HCAs) e os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP) se
formam durante o cozimento da carne a uma temperatura elevada ou em chama
aberta. Em terceiro lugar, o consumo elevado de gorduras totais e saturadas em
carne tem sido sugerida para aumentar o risco de CCR, aumentando a excreção de
ácidos biliares, os produtos das quais têm sido mostrados para promover a
carcinogênese.
Um
estudo publicado em 2013 possui resultados que apontam que há uma baixa
ingestão de alimentos considerados protetores contra o CCR, como cereais
integrais, hortaliças, frutas, legumes e peixe. Dessa forma, é necessário
desenvolver políticas públicas para conscientizar a população sobre os fatores
de risco associados ao desenvolvimento do CCR, tornando-se imprescindível a
atuação do nutricionista.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
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