O câncer
de próstata (CaP) permanece como uma das neoplasias mais prevalentes no mundo, sendo,
em muitos países, a principal causa de morte por câncer entre homens. Fatores
de risco para o desenvolvimento desta doença são idade, herança genética e raça negra. Fatores nutricionais também podem contribuir para o desenvolvimento de
câncer de próstata. O objetivo deste estudo é revisar os principais artigos que
descrevem a importância dos hábitos nutricionais, seu impacto na obesidade, e
da suplementação alimentar relacionados à gênese ou à prevenção do câncer de
próstata.
OBESIDADE
O tratamento da
obesidade, através da diminuição da ingestão de gorduras associada à prática de
exercícios físicos, demonstrou reduzir o estresse oxidativo, sugerindo ser um
importante fator na redução dos riscos de desenvolvimento de CaP. (9)
Apesar de
não haver comprovação, a obesidade parece ser um fator de confusão no
diagnóstico do CaP. Como há uma relação inversa entre os níveis de andrógenos
circulantes e obesidade, homens obesos tendem a desenvolver menos tumores, mas
com formas mais agressivas (10).
CONSUMO DE ÁLCOOL
Em 1998, Breslow e Weed, em estudo prospectivo,
demonstraram não haver aumento no risco de CaP entre bebedores leves-moderados (11).
Em 2001, Sesso et al. através de um estudo de coorte relataram um aumento
(risco relativo de 1,85) na incidência de CaP em homens com ingesta superior a
três doses diárias de destilados por onze anos ou mais. Não houve associação
com a ingesta de vinho ou cerveja (12). Por outro lado, em 2005,
Schoonen et al. descreveram uma diminuição de 18% no risco de CaP nos homens
que ingeriam de uma a três taças de vinho por semana (13).
LEPTINA
A leptina mostrou-se capaz de
estimular uma linhagem celular independente de andrógenos e ligada ao câncer de
próstata (DU45 e PC-3) (14,15).
Apesar da
associação entre os níveis circulatórios de leptina e o risco de câncer de
próstata não ser consistente, um desequilíbrio calórico-energético, talvez
mediado pela leptina, surge como possível fator contribuinte para a progressão
do câncer de próstata (metástases e morte).
VITAMINA D
Observações epidemiológicas que ligam à deficiência de
vitamina D ao câncer de próstata são (16):
- Homens
com menor exposição solar apresentam maiores taxas de mortalidade pelo CaP;
- O CaP
ocorre mais frequentemente em homens idosos, nos quais a deficiência de
vitamina D é mais prevalente;
- Afrodescendentes, nos quais a melanina da pele bloqueia
a radiação ultravioleta e inibe a conversão da vitamina D para sua forma ativa,
apresentam as maiores taxas de incidência e mortalidade por câncer de próstata;
- Dietas ricas em cálcio – que diminuem os níveis de
vitamina D – estão associadas a maior risco de câncer de próstata;
- Japoneses nativos, com dieta rica em vitamina D
derivada dos peixes, têm menor incidência de CaP.
Mesmo com os dados apresentados acima, estudos científicos
demonstraram pouca ou nenhuma associação entre CaP e níveis de vitamina D.
SELÊNIO
A maior evidência do fator de proteção trazido pelo
selênio vem do Estudo Nutricional de Prevenção do Câncer. Neste trabalho,
controlado por placebo, em 1312 homens, a ingestão diária de 200 µg de selênio,
com um seguimento médio de 4,5 anos, reduziu em dois terços a incidência de CaP
(18). Em 2003,
Duffield-Lillico et al. apresentaram dados atualizados e com maior seguimento,
confirmando a diminuição na incidência da doença (19).
A vitamina E é uma família de componentes vitamínicos
essenciais, lipossolúveis que atuam como maior anti-oxidante lipossolúvel na
membrana celular. A forma mais ativa e abundante da vitamina E é o α-tocoferol.
O estudo de prevenção do câncer com alfa-tocoferol e
betacaroteno demonstrou redução de 32% na incidência de câncer de próstata e
41% na mortalidade nos homens que receberam α-tocoferol (50mg/dia)(20).
Em 2008, após um seguimento médio de 5,5 anos, Lippmann
et al. apresentaram os resultados finais do estudo SELECT (Selenium and Vitamin E Cancer Prevention Trial). Após dados
preliminares de outros estudos sugerirem um fator protetor, este estudo
randomizado, controlado por placebo, multicêntrico comprovou em 35.533 homens
não haver nenhum impacto da suplementação de selênio, vitamina E ou ambos na
prevenção do câncer de próstata (21). Dados atualizados do estudo SELECT, publicados
em 2011, demonstraram que no grupo que recebera somente vitamina E por 5,5
anos, foi encontrado um aumento de 17% no risco de desenvolvimento de CaP,
comparado ao grupo que recebeu placebo pelo mesmo período (22).
LICOPENO
O licopeno é um membro da família
carotenoide, encontrado principalmente no tomate e seus derivados. Melancia, mamão
e damasco também contêm quantidades variáveis de licopeno. É esta substância
que fornece a esses frutos sua cor vermelha característica (23).
O
papel do licopeno no CaP permanece controverso. Em meta-análise publicada em 2004,
a ingestão frequente de tomate diminuiu o risco de desenvolvimento de CaP de 3%
até 22% (24). Estudo recente de Zu et al avaliou, através de
questionários aplicados a 49.898 homens entre 1986 e 2010, a redução do risco
de CaP. Mesmo com problemas em sua metodologia, o estudo demonstrou uma redução
de risco no desenvolvimento de câncer de próstata letal em homens que
apresentavam ingestão diária de licopeno desde a idade jovem (25). A grande dificuldade destes estudos foi
quantificar de maneira confiável a quantidade de licopeno ingerido e por qual
período.
CONCLUSÃO
O câncer de próstata,
por sua crescente prevalência e incidência, com importante impacto na morbidade
e mortalidade masculina, justifica o investimento em novos estudos que possam
trazer respostas mais consistentes. Atualmente há pouco ou nenhum embasamento
científico capaz de introduzir medidas nutricionais preventivas. Até o momento,
a obesidade permanece como fator nutricional mais importante na história
natural do câncer de próstata.
As
informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento
presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas,
psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente,
para seu conhecimento.
Texto elaborado por: Milene
Preto Kern
Nutricionista formada
pela UNISINOS (Universidade do Vale dos Sinos, RS)
Pós-Graduada em
Nutrição Clínica Personalizada pelo IPGS (Instituto de Pesquisas, Ensino e
Gestão em Saúde).
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