segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Vitamina C

            A vitamina C foi durante muito tempo conhecida como nutriente essencial que prevenia a doença causada pela sua deficiência, o escorbuto. Sua importância cresceu ao longo do tempo, grande parte por causa das descobertas de seu potencial antioxidante. A vitamina C é também conhecida como ácido ascórbico, L-ácido ascórbico, ácido deidroascórbico, ascorbato e vitamina antiescorbútica.

A vitamina C ingerida na alimentação é absorvida rapidamente no trato gastrointestinal mediante transporte ativo dependente de íons de sódio, processo saturável e dependente da dose presente no lúmen intestinal. Cerca de 80% do consumo dietético de ácido ascórbico é absorvido, mas essa taxa pode diminuir quando se aumenta a ingestão. Um segundo mecanismo de regulação do ascorbato é a excreção renal de ácido ascórbico ou seus metabólitos. Investigações recentes têm demonstrado que as quantidades excretadas de ascorbato são muito pequenas, mas aumentam proporcionalmente à oferta oral.

No plasma, o ácido ascórbico é transportado em forma de ascorbato, sendo que não necessita de transportador para circular em meio extracelular por ser uma vitamina hidrossolúvel. No interior das células sanguíneas, o ascorbato é transportado na forma de deidroascorbato, composto mais permeável à membrana. Uma vez no interior da célula, o deidroascorbato transforma-se novamente em ascorbato. O transporte celular do ácido ascórbico e deidroascórbico é mediado por transportadores que variam de acordo com o tipo de células. Os neutrófilos e linfócitos possuem alta afinidade ao ascorbato. A concentração de vitamina C nos tecidos é maior que no plasma e na saliva. Níveis elevados se encontram nas glândulas hipófise e suprarrenal, em leucócitos, no pâncreas, nos rins, no baço e no cérebro.

         A maioria das plantas e animais tem habilidade de sintetizar a vitamina C a partir da D-glicose ou D-galactose, via ácido glucurônico. O ascorbato é a forma biologicamente ativa da vitamina C e pode sofrer oxidação reversível para formar semideidroascorbato e radical ascorbato. Por ser um agente redutor, o escorbato perde um elétron e forma o radical estável semi-hidroascórbico. Esse composto sofre uma segunda oxidação reversível, transformando-se em ácido deidroascórbico, o qual também será oxidado a ácido 2-3 dicetogulônico, esse composto não possui atividade antiescorbútica.

Funções

        O ácido ascórbico tem a capacidade de ceder e receber elétrons, o que lhe confere um papel essencial como antioxidante. Dessa forma, a vitamina C participa do sistema de proteção antioxidante, assumindo a função de reciclar a vitamina E.

         A vitamina C está envolvida na hidroxilação da prolina para formar hidroxiprolina, necessária para a síntese de colágeno. É importante ainda na cicatrização de feridas, fraturas e no controle de sangramentos gengivais.

        O ácido ascórbico é essencial para a oxidação da fenilalanina e tirosina; para conversão de folacina em ácido tetra-hidrofólico e na formação de noradrenalina a partir de dopamina. Ele também é necessário para a redução do ferro férrico a ferroso no trato intestinal.

Fontes

          O ascorbato é encontrado quase exclusivamente em alimentos de origem vegetal. A concentração estimada de vitamina C nos alimentos é afetada por diversos fatores: estação do ano, transporte, estágio de maturação, tempo de armazenamento e modo de cocção. Produtos animais contêm pouca vitamina C e os grãos não a possuem. Essa vitamina pode ser sintetizada pela maioria dos mamíferos, embora não seja por humanos, primatas, porcos-da-guiné e morcegos.

A vitamina C pode ser encontrada nas frutas cítricas, como o limão, a laranja e a mexerica, no caju, na goiaba, na manga, no mamão, no morango, no kiwi, na acerola, na carambola. Pode ser encontrada também nas hortaliças como o tomate, o pimentão, a couve, o brócolis, o espinafre e o repolho.

A perda com o cozimento pode ser reduzida se as verduras forem preparadas e escaldadas em água fervente por um mínimo de tempo. O uso de pequena quantidade de água fervente reduz também a perda de vitamina C, pelo fato de ela ser solúvel em água.

Recomendação

Quadro 1. Ingestão recomendada de vitamina C (mg/dia).

Estágio de vida

NAS/USDA
Masculino    Feminino
FAO/OMS
ANVISA
1° ano
0-6 meses
40                      40
20
25

7-12 meses
50                      50
20
30
Crianças
1-3
15                      15
20
30

4-8
25                      25
20
35
Adolescentes
Adultos
Idosos
9-13
14-18
19-30
31-50
50-70
˃ 70
45                      45
75                      65
90                      75
90                      75
90                      75
90                      75
30
45
Gravidez
14-18
19-30
31-50
                          80
                          85
                          85


55
Lactação
14-18
19-30
31-50
                         115
                         120
                         120


70
Legenda: Estágio de vida representa a população dividida por faixa etária em meses (m) e anos; NAS/USDA: National Academy of Science, United States Department of Agriculture; FAO/OMS: Food and Agriculture Organization of the United Nations, Organização Mundial da Saúde; ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Fonte: Adaptado ILSI, 2012.

Avaliação do Estado Nutricional do Ácido Ascórbico

Para avaliar o estado nutricional dos indivíduos em relação à vitamina C, pode-se utilizar a excreção urinária e a concentração de escorbato no sangue. A vitamina C é eliminada do organismo pela via urinária na forma de deidroascorbato, cetogulonato, 2-sulfato ascorbato e ácido oxálico. Quando consumida em altas doses (2 g/dia), é excretada principalmente como ácido ascórbico. A excreção urinária de ascorbato cai para níveis indetectáveis na deficiência dessa vitamina, entretanto, não há referências para a interpretação dos níveis de ascorbato urinário e, como pode ocorrer oxidação não enzimática do escorbato durante a análise, a utilização da excreção urinária da vitamina C raramente é utilizada para avaliação do estado nutricional.

A concentração plasmática é uma das medidas mais comuns para se avaliarem as reservas corpóreas de vitamina C. Esse nível é reflexo de ingestão pregressa ou depleção à baixa ingestão da vitamina, entretanto, as reservas nos tecidos podem estar adequadas. Os níveis plasmáticos da vitamina C têm sido correlacionados com a ingestão dietética, pois respondem mais rapidamente à ingestão atual, ao passo que os níveis nos leucócitos são de mobilização mais lenta, refletindo o conteúdo nos tecidos.

Os leucócitos contêm altas concentrações de vitamina C, e sua concentração não é afetada pela ingestão pregressa e alcança seus menores níveis quase simultaneamente com o aparecimento de sinais clínicos do escorbuto. Assim, a dosagem de ascorbato em leucócitos pode ser considerada um bom indicador para se avaliarem estoques teciduais.

Deficiência

      A deficiência do ácido ascórbico causa o escorbuto, distúrbios neurológicos como hipocondria, histeria e depressão. Os sintomas da deficiência de vitamina C desaparecem rapidamente com a administração de doses terapêuticas.

      Os sintomas clássicos da deficiência de vitamina C incluem hiperceratose folicular, amolecimento e perda de dentes, gengivas edemaciadas e inflamadas, perda de cabelo, secura de boca e olhos, pele seca e com prurido, e dores musculares.

        A deficiência de vitamina C pode ocorrer em indivíduos subnutridos, alcoólatras, pessoas idosas que recebem dietas restritas e lactentes alimentados, exclusivamente com leite de vaca.

Toxicidade

Doses de 1 g têm sido consumidas sem efeito adverso conhecido, porém doses de 2 g ou mais podem causar gastroenterite ou diarreia osmótica em alguns indivíduos. Megadoses também podem afetar adversamente a disponibilidade da vitamina B12 dos alimentos. Efeitos adversos relacionados ao consumo excessivo: distúrbios gastrointestinais, cálculos renais e absorção excessiva de ferro.

Quadro 2. Limite superior tolerável de ingestão de vitamina C (mg/dia).

Estágio de vida

NAS/USDA
1° ano
0-6 meses
NDA

7-12 meses
NDA
Crianças
1-3
400

4-8
650
Masculino e Feminino
9-13
1200

14-18
1800

19-70
2000

˃ 70
2000
Gravidez
14-18
1800

19-50
2000
Lactação
14-18
1800

19-50
2000
Legenda: Estágio de vida representa a população dividida por faixa etária em meses (m) e anos; NAS/USDA: National Academy of Science, United States Department of Agriculture. ND: não determinado.

Fonte: IlSI, 2012.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Aranha, FQ. et al. O papel da vitamina C sobre as alterações orgânicas no idoso. Rev Nutr 2000; v.13, n.2, p.89-97.

Cozzolino, SMF; Silva, VL. Vitamina C (Ácido Ascórbico). Biodisponibilidade de Nutrientes. 1 ed. São Paulo: Manole, 2005, p. 301-320.

Martins, BT; Basílio, MC; Silva, MA. Nutrição Aplicada e Alimentação Saudável. 1. ed. São Paulo: Editora Senac, 2014.

Oliveira, JED; Marchini, JS. Ciências Nutricionais. 3 ed. São Paulo: Sarvier, 2003, p. 191-207.
Penteado, MVC. Vitaminas: aspectos nutricionais, bioquímicos, clínicos e analíticos. 1. ed. São Paulo: Manole, 2003, p. 201-225.
Tirapegui,J. Nutrição: Fundamentos e AspectosAtuais. 1ed. São Paulo: Atheneu, 2002, p.63-76.

Vannucchi, H; Rocha, MM. Ácido Ascórbico (Vitamina C). São Paulo: ILSI Brasil-Internacional Life Sciences Institute do Brasil, 2012.

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