A vitamina C foi durante muito tempo
conhecida como nutriente essencial que prevenia a doença causada pela sua
deficiência, o escorbuto. Sua importância cresceu ao longo do tempo, grande
parte por causa das descobertas de seu potencial antioxidante. A vitamina C é
também conhecida como ácido ascórbico, L-ácido ascórbico, ácido
deidroascórbico, ascorbato e vitamina antiescorbútica.
A vitamina C ingerida na alimentação é absorvida
rapidamente no trato gastrointestinal mediante transporte ativo dependente de
íons de sódio, processo saturável e dependente da dose presente no lúmen
intestinal. Cerca de 80% do consumo dietético de ácido ascórbico é absorvido,
mas essa taxa pode diminuir quando se aumenta a ingestão. Um segundo mecanismo
de regulação do ascorbato é a excreção renal de ácido ascórbico ou seus
metabólitos. Investigações recentes têm demonstrado que as quantidades
excretadas de ascorbato são muito pequenas, mas aumentam proporcionalmente à
oferta oral.
No plasma, o ácido ascórbico é transportado em
forma de ascorbato, sendo que não necessita de transportador para circular em
meio extracelular por ser uma vitamina hidrossolúvel. No interior das células
sanguíneas, o ascorbato é transportado na forma de deidroascorbato, composto mais
permeável à membrana. Uma vez no interior da célula, o deidroascorbato
transforma-se novamente em ascorbato. O transporte celular do ácido ascórbico e
deidroascórbico é mediado por transportadores que variam de acordo com o tipo de
células. Os neutrófilos e linfócitos possuem alta afinidade ao ascorbato. A concentração
de vitamina C nos tecidos é maior que no plasma e na saliva. Níveis elevados se
encontram nas glândulas hipófise e suprarrenal, em leucócitos, no pâncreas, nos
rins, no baço e no cérebro.
A maioria das plantas e animais
tem habilidade de sintetizar a vitamina C a partir da D-glicose ou D-galactose,
via ácido glucurônico. O ascorbato é a forma biologicamente ativa da vitamina C
e pode sofrer oxidação reversível para formar semideidroascorbato e radical
ascorbato. Por ser um agente redutor, o escorbato perde um elétron e forma o
radical estável semi-hidroascórbico. Esse composto sofre uma segunda oxidação
reversível, transformando-se em ácido deidroascórbico, o qual também será
oxidado a ácido 2-3 dicetogulônico, esse composto não possui atividade antiescorbútica.
Funções
O ácido ascórbico tem a capacidade
de ceder e receber elétrons, o que lhe confere um papel essencial como
antioxidante. Dessa forma, a vitamina C participa do sistema de proteção
antioxidante, assumindo a função de reciclar a vitamina E.
A vitamina C está envolvida na
hidroxilação da prolina para formar hidroxiprolina, necessária para a síntese
de colágeno. É importante ainda na cicatrização de feridas, fraturas e no controle
de sangramentos gengivais.
O ácido ascórbico é essencial para a
oxidação da fenilalanina e tirosina; para conversão de folacina em ácido
tetra-hidrofólico e na formação de noradrenalina a partir de dopamina. Ele
também é necessário para a redução do ferro férrico a ferroso no trato
intestinal.
Fontes
O ascorbato é encontrado quase
exclusivamente em alimentos de origem vegetal. A concentração estimada de
vitamina C nos alimentos é afetada por diversos fatores: estação do ano,
transporte, estágio de maturação, tempo de armazenamento e modo de cocção.
Produtos animais contêm pouca vitamina C e os grãos não a possuem. Essa
vitamina pode ser sintetizada pela maioria dos mamíferos, embora não seja por
humanos, primatas, porcos-da-guiné e morcegos.
A vitamina C pode ser encontrada nas
frutas cítricas, como o limão, a laranja e a mexerica, no caju, na goiaba, na
manga, no mamão, no morango, no kiwi, na acerola, na carambola. Pode ser
encontrada também nas hortaliças como o tomate, o pimentão, a couve, o
brócolis, o espinafre e o repolho.
A perda com o cozimento pode ser
reduzida se as verduras forem preparadas e escaldadas em água fervente por um
mínimo de tempo. O uso de pequena quantidade de água fervente reduz também a
perda de vitamina C, pelo fato de ela ser solúvel em água.
Recomendação
Quadro 1. Ingestão recomendada de vitamina C
(mg/dia).
Estágio de vida
|
NAS/USDA
Masculino Feminino
|
FAO/OMS
|
ANVISA
|
|
1° ano
|
0-6 meses
|
40 40
|
20
|
25
|
7-12 meses
|
50 50
|
20
|
30
|
|
Crianças
|
1-3
|
15 15
|
20
|
30
|
4-8
|
25 25
|
20
|
35
|
|
Adolescentes
Adultos
Idosos
|
9-13
14-18
19-30
31-50
50-70
˃ 70
|
45 45
75 65
90 75
90 75
90 75
90 75
|
30
|
45
|
Gravidez
|
14-18
19-30
31-50
|
80
85
85
|
55
|
|
Lactação
|
14-18
19-30
31-50
|
115
120
120
|
70
|
Legenda: Estágio de vida representa a população dividida por
faixa etária em meses (m) e anos; NAS/USDA: National Academy of Science,
United States Department of Agriculture; FAO/OMS: Food and
Agriculture Organization of the United Nations, Organização Mundial da
Saúde; ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Fonte: Adaptado ILSI, 2012.
Avaliação do Estado Nutricional do Ácido Ascórbico
Para avaliar o estado nutricional dos indivíduos em
relação à vitamina C, pode-se utilizar a excreção urinária e a concentração de escorbato
no sangue. A vitamina C é eliminada do organismo pela via urinária na forma de
deidroascorbato, cetogulonato, 2-sulfato ascorbato e ácido oxálico. Quando
consumida em altas doses (2 g/dia), é excretada principalmente como ácido
ascórbico. A excreção urinária de ascorbato cai para níveis indetectáveis na
deficiência dessa vitamina, entretanto, não há referências para a interpretação
dos níveis de ascorbato urinário e, como pode ocorrer oxidação não enzimática
do escorbato durante a análise, a utilização da excreção urinária da vitamina C
raramente é utilizada para avaliação do estado nutricional.
A concentração plasmática é uma das medidas mais
comuns para se avaliarem as reservas corpóreas de vitamina C. Esse nível é reflexo
de ingestão pregressa ou depleção à baixa ingestão da vitamina, entretanto, as
reservas nos tecidos podem estar adequadas. Os níveis plasmáticos da vitamina C
têm sido correlacionados com a ingestão dietética, pois respondem mais
rapidamente à ingestão atual, ao passo que os níveis nos leucócitos são de
mobilização mais lenta, refletindo o conteúdo nos tecidos.
Os leucócitos contêm altas concentrações de vitamina
C, e sua concentração não é afetada pela ingestão pregressa e alcança seus
menores níveis quase simultaneamente com o aparecimento de sinais clínicos do
escorbuto. Assim, a dosagem de ascorbato em leucócitos pode ser considerada um
bom indicador para se avaliarem estoques teciduais.
Deficiência
A deficiência do ácido ascórbico
causa o escorbuto, distúrbios neurológicos como hipocondria, histeria e
depressão. Os sintomas da deficiência de vitamina C desaparecem rapidamente com
a administração de doses terapêuticas.
Os sintomas clássicos da deficiência
de vitamina C incluem hiperceratose folicular, amolecimento e perda de dentes,
gengivas edemaciadas e inflamadas, perda de cabelo, secura de boca e olhos,
pele seca e com prurido, e dores musculares.
A deficiência de vitamina C pode
ocorrer em indivíduos subnutridos, alcoólatras, pessoas idosas que recebem
dietas restritas e lactentes alimentados, exclusivamente com leite de vaca.
Toxicidade
Doses de 1 g têm sido consumidas sem efeito adverso
conhecido, porém doses de 2 g ou mais podem causar gastroenterite ou diarreia
osmótica em alguns indivíduos. Megadoses também podem afetar adversamente a
disponibilidade da vitamina B12 dos alimentos. Efeitos adversos relacionados ao consumo excessivo: distúrbios
gastrointestinais, cálculos renais e absorção excessiva de ferro.
Quadro 2. Limite
superior tolerável de ingestão de vitamina C (mg/dia).
Estágio de
vida
|
NAS/USDA
|
|
1° ano
|
0-6 meses
|
NDA
|
7-12 meses
|
NDA
|
|
Crianças
|
1-3
|
400
|
4-8
|
650
|
|
Masculino e
Feminino
|
9-13
|
1200
|
14-18
|
1800
|
|
19-70
|
2000
|
|
˃ 70
|
2000
|
|
Gravidez
|
14-18
|
1800
|
19-50
|
2000
|
|
Lactação
|
14-18
|
1800
|
19-50
|
2000
|
Legenda: Estágio de vida representa a população dividida por
faixa etária em meses (m) e anos; NAS/USDA: National Academy of Science,
United States Department of Agriculture. ND: não determinado.
Fonte: IlSI, 2012.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Aranha, FQ. et al. O papel da vitamina C sobre
as alterações orgânicas no idoso. Rev Nutr 2000; v.13, n.2, p.89-97.
Cozzolino, SMF; Silva, VL. Vitamina C (Ácido
Ascórbico). Biodisponibilidade de Nutrientes. 1 ed. São Paulo: Manole, 2005, p.
301-320.
Martins, BT; Basílio, MC; Silva, MA. Nutrição
Aplicada e Alimentação Saudável. 1. ed. São Paulo: Editora Senac, 2014.
Oliveira, JED; Marchini, JS. Ciências
Nutricionais. 3 ed. São Paulo: Sarvier, 2003, p. 191-207.
Penteado, MVC. Vitaminas: aspectos nutricionais,
bioquímicos, clínicos e analíticos. 1. ed. São Paulo: Manole, 2003, p. 201-225.
Tirapegui,J.
Nutrição: Fundamentos e AspectosAtuais. 1ed. São Paulo: Atheneu, 2002, p.63-76.
Vannucchi,
H; Rocha, MM. Ácido Ascórbico (Vitamina C). São Paulo: ILSI
Brasil-Internacional Life Sciences Institute do Brasil, 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário