A
Doença de Crohn é uma doença inflamatória de caráter granulomatoso, que pode
afetar qualquer parte do trato alimentar, desde a boca até o ânus, mas envolve
predominantemente o íleo terminal e o cólon.
Em
geral, distribui-se de forma semelhante entre ambos os sexos, apresentando,
quanto à idade, maior frequência na faixa etária dos 15 aos 35 anos, e com
segundo pico a partir dos 55 anos. A raça branca é mais acometida que
descendentes africanos ou orientais, com maior presença naqueles de origem
judaica.
Sua etiologia é desconhecida. Várias
hipóteses procuram estabelecer relações do seu aparecimento com fatores
ambientais, alimentares, imunogenéticos, infecciosos, entre outros, sem,
entretanto, explicar integralmente todas as particularidades reveladas nesse
processo inflamatório crônico, o que dificulta, muitas vezes, seu diagnóstico
nas etapas iniciais de sua manifestação clínica.
Os principais sintomas são perda de
peso; deficiência de crescimento principalmente em crianças, devido à baixa
absorção dos nutrientes; dor ou cólicas abdominais; diarreia; febre;
sangramento retal com presença de melena (fezes pastosas de cor escura) e
intolerâncias alimentares.
Dessa forma, na avaliação
nutricional é importante verificar a ocorrência de perda de peso (que pode
estar mascarada pelo uso de corticosteróides, que levam à retenção hídrica),
hipoalbuminemia, anemia, falta de vitaminas e minerais (ferro, ácido fólico,
vitamina B12, cálcio) e deficiência no crescimento
em crianças.
Conduta Nutricional
●
Energia: Hipercalórica, para
garantir a recuperação do estado nutricional, e devido ao hipermetabolismo das
doenças inflamatórias intestinais.
●
Proteínas: Hiperproteica
(1,0-1,5g/kg de peso ideal/dia. Podemos chegar até 2,0g para desnutridos), com
70% de proteína de alto valor biológico, para garantir síntese proteica,
melhora do sistema imune e recuperação da massa magra.
●
Carboidratos:
Fase Aguda: Isenta de lactose (evitar leite e
derivados) A lactase é uma enzima de frágil inserção na mucosa intestinal e
seus níveis podem estar diminuídos na diarreia, havendo intolerância. Controle
de mono e dissacarídeos para evitar soluções hiperosmolares que possam aumentar
o quadro diarreico. Rica em fibras solúveis e pobre em fibras insolúveis.
Fase de Remissão: Evoluir progressivamente o teor de
fibras insolúveis.
●
Antifermentativa: Evitar alimentos
relacionados com a formação de gases (brócolis, couve-flor, cebola crua,
rabanete, batata-doce, feijão, lentilha, melão, abacate, melancia, doces
concentrados como goiabada, cocada e etc...).
●
Lipídios: Hipolipídica (inferior a
20% das calorias totais), uma vez que os lipídios podem piorar a diarreia
(devido à deficiência de sais biliares). Oferecer ácidos graxos ômega-3
(3-5g/dia) para diminuir a resposta inflamatória.
● Nutrientes Específicos (Imunomoduladores): Glutamina, Arginina, Ácidos Graxos Ômega-3
Nutrição enteral
elementar ou semi-elementar
Requer mínima ação enzimática para
hidrólise dos nutrientes e absorção (pode ser absorvida nos 100cm iniciais).
Vantagens:
●
Exclui fatores dietéticos com possível ação antigênica;
●
A presença de nutrientes estimula a secreção de hormônios (CCK, glucagon,
hormônios intestinais) que têm efeito trófico na mucosa; mantém a integridade
da mucosa e previne a translocação bacteriana (sepse);
●
Evita a atrofia da mucosa;
●
Remissão da Doença de Crohn, evitando uso de drogas e promovendo o crescimento
em crianças;
●
Pode ser usada em nível domiciliar (não requer internação);
●
Paciente pode desenvolver suas atividades normais.
Desvantagens:
●
Palatabilidade baixa, necessitando às vezes do uso de sondas para infusão a
qual pode resultar em lesão esfíncter esofagiano inferior (lesão de aba de
nariz);
●
Complicações como diarreia, sangramento, refluxo gastroesofágico e aspiração;
●
Recomendada não mais que poucos meses por ano (quando adotada como terapia
primaria).
Nutrição Parenteral
Total (NPT)
Vantagens:
●
Repouso intestinal com diminuição da ação motora e de transporte na mucosa
comprometida;
●
Redução do estímulo antigênico (alimentos): a mucosa está com aumento da
permeabilidade e redução da função imune (linfócitos), contribuindo para
diminuir a inflamação;
●
Oferta de aminoácidos para renovação celular da mucosa;
●
Redução do processo inflamatório local e fornece substrato para a regeneração.
Desvantagens:
●
Recidiva quando o paciente retorna à dieta normal (quando usada como terapia
primária);
●
Complicações mecânicas, metabólicas e infecciosas.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Caruso, L. Distúrbios do Trato Digestório.
In: Cuppari, L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola
Paulista de Medicina - Nutrição. 1 ed. Baureri: Manole. 2002. p.201-222.
Lopes, MSMS; Aquino, LA; Silva, TA; Vogel,
CE. Doenças Inflamatórias Intestinais. In: Pereira, AF; Bento, CT. Dietoterapia: uma abordagem prática. 1. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
Martins, BT; Basílio, MC; Silva, MA. Nutrição
Aplicada e Alimentação Saudável. 1. ed. São Paulo: Editora Senac, 2014.
Miszputen, SJ. Doenças Inflamatórias
Intestinais. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola
Paulista de Medicina - Gastroenterologia. 2 ed. Baureri: Manole. 2007.
p.333-346.
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