O potássio, o principal
cátion do fluido intracelular, está presente em pequenas quantidades no fluido
extracelular (2%). A grande diferença de concentração entre o intra e
o extracelular é mantida pela bomba sódio-potássio ATPase, que transporta ativamente
potássio para dentro da célula. O potássio exerce duas funções fisiológicas
principais: a primeira diz respeito ao seu papel de destaque no metabolismo
celular, ao participar na regulação de processos (como na síntese de proteína e
glicogênio) e do balanço ácido-básico. Além disso, o potássio também é
responsável pela manutenção do potencial elétrico através da membrana celular;
pequenas alterações na concentração do potássio extracelular podem afetar de
maneira importante a relação da concentração de potássio extra:intracelular,
alterando, assim, a transmissão nervosa, a contração muscular e o tônus
vascular.
Pessoas saudáveis que consomem uma dieta ocidental
ingerem aproximadamente 2,7 g de potássio por dia. Quase todo o potássio
ingerido é absorvido no trato gastrintestinal e transportado para o fígado
através da circulação portal. Quantidades mínimas de potássio são excretadas
pelas fezes e suor, sendo os rins os principais responsáveis pela excreção e
regulação do balanço de potássio. A excreção de potássio pelos rins é regulada
por um processo de secreção, independente da filtração glomerular e da
quantidade de potássio filtrado. Cerca de 85% a 90% do potássio filtrado no
glomérulo é reabsorvido na porção proximal do néfron. A quantidade de potássio
urinário, no entanto, pode ser tão pequena quanto 1% do potássio filtrado – no
caso de a sua ingestão ser baixa – ou exceder em até duas vezes o filtrado
quando a ingestão é elevada. Assim, o néfron distal, particularmente o ducto coletor,
tem a capacidade de secretar e reabsorver potássio, ocorrendo neste mesmo local
o controle da homeostase desse eletrólito.
Equilíbrio
Hidroeletrolítico
O
potássio, juntamente com o sódio, é importante na manutenção do equilíbrio
hidroeletrolítico celular. Os íons de sódio e potássio ocorrem em concentrações
específicas dentro e fora das células. Assim, o sódio, em maior concentração no
meio extracelular, pelo processo da difusão, se move para dentro da célula,
enquanto o potássio, mais concentrado no meio intracelular, se move para fora
da célula pelo mesmo processo. Com isso, a tendência é o equilíbrio entre as
concentrações interna e externa desses dois íons, porém, para a manutenção do
potencial elétrico da célula, é necessário que haja baixa concentração de íons
de sódio e elevada de íons de potássio dentro da célula. A manutenção das
concentrações ideais dos dois íons é dada pela sódio-potássio ATPase, que
bombeia sódio para fora da célula e potássio para dentro dela. Como esse
transporte é realizado contra os gradientes de concentração desses dois íons,
há necessidade de energia, obtida com a clivagem de ATP (adenosina trifosfato).
Isso permite a manutenção da pressão osmótica intracelular e do volume celular.
Pressão
Arterial
Estudos epidemiológicos demonstram associação
inversa entre a ingestão de potássio e a pressão arterial. Os resultados do
estudo internacional INTERSALT,
que tinha como objetivo analisar a relação entre a ingestão de eletrólitos e a
pressão arterial, confirmaram que a ingestão de potássio, avaliada pela
excreção urinária de potássio em 24 h, era um importante determinante
independente da pressão arterial da população. Um aumento de 1,2 a 1,8 g na
ingestão de potássio estava associado com uma redução média de 2-3 mmHg na
pressão sistólica.
Vale ressaltar que, na análise da relação entre a
ingestão de potássio e a pressão arterial, é importante considerar a interação
com o sódio. Apesar das evidências apontarem para efeitos independentes desses
2 eletrólitos, a interação existe e é particularmente importante quando a dieta
com elevada quantidade de potássio está associada com restrição de sódio, ou
seja, existe um efeito aditivo sobre a pressão arterial. Isso foi claramente
demonstrado no estudo DASH, no qual a combinação de reduzida ingestão de sódio
com maior ingestão de frutas e hortaliças produziu o maior efeito sobre a
pressão arterial. Além dos efeitos benéficos sobre a pressão arterial, a
elevada ingestão de potássio parece ter também propriedades vasculares
protetoras independentes. Há evidências de uma relação inversa entre a ingestão
de potássio e o risco de acidente vascular cerebral (AVC). Um efeito protetor
direto sobre a ocorrência de AVC tem sido sugerido em estudos em modelos animais
Recomendações
Quadro 1. Ingestão adequada de potássio em
g/dia, segundo as DRIS.
Estágio da vida
|
Ingestão adequada (AI)
|
Bebês
|
|
0-6
meses
|
0,4
|
7-12
meses
|
0,7
|
Crianças
|
|
1-3
anos
|
3,0
|
4-8
anos
|
3,8
|
Homens
|
|
9-13
anos
|
4,5
|
14-18
anos
|
4,7
|
19-30
anos
|
4,7
|
31-50
anos
|
4,7
|
51-70
anos
|
4,7
|
˃ 70
anos
|
4,7
|
Mulheres
|
|
9-13
anos
|
4,5
|
14-18
anos
|
4,7
|
19-30
anos
|
4,7
|
31-50
anos
|
4,7
|
51-70
anos
|
4,7
|
˃ 70
anos
|
4,7
|
Gestantes
|
|
< 18
anos
|
4,7
|
19-30 anos
|
4,7
|
31-50
anos
|
4,7
|
Lactantes
|
|
< 18
anos
|
5,1
|
19-30
anos
|
5,1
|
31-50
anos
|
5,1
|
Fonte: ILSI,
2010.
Fontes
O
potássio é o mais importante mineral presente em frutas, legumes e verduras.
Assim como o sódio e o cloro, o potássio é também um eletrólito responsável
pela manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico e pelo impulso nervoso, pela
contração muscular e pelo funcionamento cardíaco. Um limitado número de enzimas
necessita da presença de potássio, como a piruvatoquinase, indispensável no
metabolismo de carboidratos. Devido ao fato de ser amplamente encontrado na
natureza, não só nas frutas, legumes e verduras, como também em carnes, leite e
derivados, a deficiência (hipocalemia) é rara. Um alimento considerado “rico”
em potássio contém, por porção, mais de 5,1mEq ou 195mg.
Quadro 2.
Quantidade de potássio presente em alguns alimentos, segundo porção usual.
Alimento
|
Porção
|
Peso (g)
|
Potássio (mg)
|
Frutas e hortaliças
|
|
|
|
Laranja (pera)
|
1
unidade média
|
160
|
260
|
Melão
|
1 fatia
média
|
170
|
367
|
Mamão (formosa)
|
1 fatia
grossa
|
150
|
333
|
Banana (nanica)
|
1
unidade média
|
70
|
263
|
Uva (rubi)
|
1 cacho
médio
|
130
|
206
|
Abacate
|
1
unidade média
|
150
|
309
|
Couve manteiga crua
|
2
folhas médias
|
40
|
161
|
Cenoura crua
|
1
unidade média
|
90
|
284
|
Tomate cru
|
1
unidade média
|
90
|
200
|
Batata cozida
|
1
unidade média
|
130
|
426
|
Castanha de caju torrada
|
10
unidades
|
25
|
170
|
Amendoim
|
3
colheres de sopa
|
51
|
335
|
Lácteos/Carnes
|
|
|
|
Leite vaca integral
|
1 copo
grande
|
240
|
319
|
Iogurte natural
|
1 pote
|
200
|
142
|
Queijo minas (frescal)
|
2
fatias médias
|
60
|
63
|
Carne bovina (contrafilé
grelhado)
|
1 filé
médio
|
90
|
347
|
Carne de frango (peito
grelhado)
|
1 filé
médio
|
100
|
387
|
Pescada branca frita
|
1 filé
médio
|
120
|
426
|
Fonte: ILSI,
2010.
Deficiência
de Potássio
É muito pouco provável a ocorrência de deficiência
de potássio por consumo alimentar insuficiente. Já algumas condições clínicas
(vômito ou diarreia) ou o uso de alguns tipos de medicamentos (principalmente
diuréticos), por levarem à perda excessiva de potássio, podem causar
deficiência desse eletrólito que se caracteriza por hipopotassemia
(concentração plasmática de potássio menor que 3,5 mmol/L). Os principais
efeitos adversos da deficiência grave de potássio são arritmias cardíacas,
fraqueza muscular e intolerância à glicose.
Por outro lado, a hipercalemia (aumento dos níveis
séricos de potássio) ocorre principalmente na presença de nefropatias e na
incapacidade de excreção.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Cuppari,
L; Bazanelli, AP. Potássio. ILSI Brasil-International Life Sciences Institute
do Brasil, 2010.
MAHAN,
LK; Escott-Stump, S. Krause: Alimentos, nutrição & dietoterapia, 10ª ed.Ed. Roca, São Paulo, 2002.
Philippi,
ST. Pirâmide dos Alimentos: Fundamentos básicos da nutrição. 1 ed. Barueri, SP:
Manole: 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário