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comportamento alimentar é complexo, envolvendo aspectos metabólicos,
fisiológicos e ambientais, que apresentam ritmicidade circadiana, herdada e
espécie específica, sendo a humana essencialmente diurna. Está sincronizado ao
claro/escuro e aos níveis de cortisol, serotonina, leptina, citocinas, entre
outros. Além disso, o ritmo social imprime marcado efeito na regulação da
alimentação, pois a sociedade contemporânea funciona 24h e seu impacto na
quantidade, qualidade e horários da alimentação tem sido inflexível. A
observação do comportamento alimentar induziu a definição de uma síndrome
denominada Síndrome do Comer Noturno (SNC), caracterizada por um atraso
circardiano do padrão alimentar, mediado por alterações neuroendrócrinas.
A primeira descrição da SCN revelava
uma população de obesos que apresentava redução do apetite pela manhã,
hiperfagia (fome excessiva) noturna e insônia inicial ou dificuldade de
reiniciar o sono após despertares noturnos. Também se observou que os sintomas
pioravam em situações de estresse e provavelmente melhoravam com a retirada do
indivíduo do ambiente estressor.
Um estudo realizado em 1999 por
Birkedvedt contribuiu para que o quadro psicopatológico presente na SCN fosse
mais bem sistematizado. Observou ele que o início do comer noturno acontece
após a última refeição do dia, o jantar, e sugeriu os seguintes critérios
diagnósticos para a SCN:
1)
Anorexia pela manhã, ainda que a pessoa se alimente no café da manhã.
2)
Hiperfagia à noite; pelo menos 50% do consumo calórico diário ocorre após a
última refeição do dia.
3)
Pelo menos um despertar à noite.
4)
Esses critérios são preenchidos por pelo menos 3 meses.
5)
A pessoa não apresenta bulimia nervosa nem transtorno do comer compulsivo.
Aspectos
Comportamentais e Padrão Alimentar
O padrão alimentar é caracterizado
por ingestão alimentar que acontece antes do paciente deitar-se ou nos períodos
em que desperta de seu sono. Birkedvedt observou que indivíduos com síndrome do
comer noturno acordam em média 3 a 4 vezes durante a noite e que 52% dos
despertares se associam com consumo alimentar.
Os alimentos são ingeridos em grande
quantidade de 2 formas distintas: em um episódio de compulsão alimentar, e
nesse caso a ingestão alimentar pode ocorrer antes do início do sono e se
associa à dificuldade para que se comece a dormir; ou, mais frequentemente, em
“beliscadas”, em que o indivíduo acorda muitas vezes durante a noite para
comer.
O indivíduo com a SCN experimenta a
sensação de falta de controle em relação à comida: a primeira “beliscada” é
capaz de desencadear um processo de “comilança” durante toda a madrugada. Por
um lado, o comportamento poderia aliviar a ansiedade ou a depressão, mas, por
outro, após beliscadas sucessivas ou em seguida aos episódios de compulsão
alimentar, o paciente se sente culpado e inferiorizado. O hábito de comer
sozinho, escondido de familiares ou amigos, é comum em comedores noturnos. Além
da anorexia pela manhã, a alimentação durante o dia é, em geral, restritiva e
se associa com irritabilidade, ansiedade, fadiga e fraqueza que pioram no final
do dia.
Estima-se que a prevalência da SCN é
de 1,5% da população geral, podendo atingir taxas mais elevadas em população de
obesos, sendo que estas taxas podem atingir até 27% em obesos grau III.
Aspectos
Neuroendócrinos
A característica neuroendócrina da
SCN é referida como alteração no ritmo circadiano em razão da atenuação no
nível plasmático de melatonina e leptina, junto a secreção aumentada de
cortisol, durante a noite.
Baixos níveis de melatonina estão
relacionados com insônia e depressão, e podem contribuir para humor deprimido,
irritabilidade e baixa auto-estima, presentes em comedores noturnos. Níveis
atenuados de leptina durante a noite podem justificar a não-supressão do
apetite noturno.
Em relação aos níveis altos de
cortisol, pode-se considerar a hipótese clínica de que essas pessoas manifestam
uma resposta específica às situações de estresse. Birkedvedt também demonstrou,
em estudo posterior, que comedores noturnos, quando estimulados com hormônio
liberador de corticotropina (substância que se eleva em situações de estresse),
apresentam distúrbio na resposta do eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal.
Tratamento
O tratamento da SCN pode envolver intervenções
farmacológicas e comportamentais. Na seleção da técnica, devem-se comparar os
parâmetros de eficácia e efetividade.
No tratamento da SCN é comum o uso de
fitoterápicos, como exemplo a Kavain.
Entra nesse espectro a melatonina, especialmente porque, em muitos países,
incluindo os EUA, está classificada como suplemento alimentar e não como
fármaco. Por conseguinte, essas intervenções ainda não foram estudadas de forma
sistematizada, sendo então classificadas como intervenções cuja eficácia é
desconhecida.
As intervenções cognitivo-comportamentais
têm sido frequentemente mencionadas como parte do tratamento da SCN. No
entanto, ainda faltam estudos comparativos com metodologia apropriada para
avaliar o nível de eficácia das intervenções, para definir nível de evidência e
grau de recomendação.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Claudino, DA. Síndrome do Comer Noturno. In Claudino, AM; Zanella, MT. Guias de medicina
ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina - Transtornos
Alimentares e Obesidade. 1 ed. Baureri: Manole. 2005. p.105-109.
Harb, ABC. Síndrome do Comer Noturno – Formas
de Aferição. [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal do Rio Grande do
Sul – UFRGS, 2008.
Harb, ABC; Caumo, W; Raupp, P; Hidalgo, MPL.
Síndrome do Comer Noturno: aspectos conceituais, epidemiológicos, diagnósticos
e terapêuticos. Rev Nutr 2010; vol.23, n.1, p. 127-136.
Pisciolaro, F; Azevedo, AP. Transtornos
Alimentares e Obesidade. In: Alvarenga, MS;
Scagliusi, FB; Philippi, ST. Nutrição e transtornos alimentares: Avaliação e
tratamento. 1 ed. São Paulo: Manole, 2011. p.85-98.
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