Segundo
a Sociedade Vegetariana Brasileira “é considerado vegetariano todo aquele que
exclui de sua alimentação todos os tipos de carne, aves e peixes e seus
derivados podendo ou não utilizar laticínios ou ovos. O vegetarianismo inclui o
veganismo que é a prática de não utilizar produtos oriundos do reino animal
para nenhum fim (alimentar, higiênico ou de vestuário)”.
Há várias motivações que levam os indivíduos a se tornarem vegetarianos incluindo questões éticas, de saúde, defesa do meio ambiente, familiares, religiosas, filosofia e não aceitação de produtos de origem animal.
Quais os benefícios e riscos da adoção deste tipo de alimentação?
Estudos destas últimas décadas têm demonstrado que, em geral, vegetarianos apresentam um risco menor de desenvolver sobrepeso/obesidade, doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, neoplasias, entre outras condições que comprometem a qualidade de vida e a longevidade.
Numa pesquisa norte americana de corte realizada por Orlich e colegas (2015), homens e mulheres membros da Igreja Adventista do Sétimo dia foram acompanhados durante cinco anos. Participaram 77.659 indivíduos e foram identificados 380 casos de câncer de cólon e 110 casos de câncer retal. Em comparação com não vegetarianos, os vegetarianos apresentaram um risco 22% menor de ocorrência para todos os cânceres colorretais, 19% menor risco de câncer de cólon, e um risco 29% menor de câncer retal.
Assim, eles concluíram que aqueles que consomem uma dieta vegetariana têm um risco menor de desenvolver câncer colorretal quando comparado com os participantes não vegetarianos. O que pode ter relação com o fato de a carne vermelha estar associada a um risco mais elevado e os alimentos ricos em fibra dietética estão associados a um risco reduzido da doença.
Além
disso, a pesquisa mostrou que quando comparados com os participantes não
vegetarianos:
●
Veganos tiveram um risco 16% menor de câncer colorretal;
●
Lacto-vegetarianos (aqueles que também consomem leite e ovos) tinham um risco
18% menor;
●
Ictovegetarianos (aqueles que também comem peixes) teve 43% menos risco;
●
Semi-vegetarianos tinham um risco 8% inferior.
Os
benefícios da dieta vegetariana podem estar associados a diferenças na
microbiota intestinal, como diz o estudo de revisão publicado na Revista Nutrients
em 2014 no qual os autores concluem que o perfil microbiótico intestinal dos
veganos parece ser único em várias características, incluindo uma contagem
reduzida de patobiontes (micro-organismos da microbiota capazes de causar
alguma patogênese em humanos), incluindo Enterobacteriacea (família de
bactérias gran-negativas, por exemplo, a E. coli) e uma maior abundância de
espécies protetoras, tais como Faecalibacterium prausnitzii, uma bactéria
anti-inflamatória e produtora abundante de butirato.
Os veganos também parecem ter deficiência da microbiota intestinal que converte a L-carnitina em N-óxido-de-trimetilamina (TMAO), um pró-aterosclerótico. A redução dos níveis de inflamação pode ser o elemento-chave que liga a microbiota intestinal vegana com benefícios para a saúde, conforme a conclusão dos autores.
Os riscos da adoção desta dieta são mais relacionados a carências nutricionais, pois estudos apontam deficiência no consumo e na concentração sérica de alguns nutrientes, tais como:
VITAMINA B12
Os resultados do estudo EPIC-Oxford revelaram deficiência de vitamina B12 em 52% dos veganos, 7% dos vegetarianos e em 1% dos onívoros. Apesar de a vitamina B12, antes limitada a alimentos de origem animal, ser encontrada em alimentos vegetais como fungos, algas marinhas e vegetais fermentados, não são considerados seguros, confiáveis e suficientes para suprir as necessidades e evitar estados carenciais. Essas fontes alimentares alternativas de vitamina B12 também foram responsabilizadas, em estudos, pela disponibilização de formas inativas que interferem na absorção e no metabolismo das formas ativas.
A macrocitose associada com a deficiência de vitamina B12 está associada à doença fatal e não fatal coronária, enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral e outros problemas circulatórios.
FERRO
O ferro não heme encontrado em vegetais como legumes, grãos integrais, frutas secas e folhas verde escuras apresenta absorção menor do que o ferro heme encontrado em alimentos de origem animal.
Em geral, as dietas vegetarianas são ricas em ferro não heme e a ocorrência de deficiência do íon não diferem da encontrada em indivíduos não vegetarianos, apesar de os estoques serem menores nos vegetarianos.
Entretanto, estudo de 2013 demonstrou que a prevalência de deficiência de ferro em uma amostra de indivíduos de 2 a 18 anos de idade foi maior em vegetarianos comparado aos não vegetarianos. As concentrações de ferritina e o volume corpuscular média das hemácias também foram menores em vegetarianos.
Portanto, é necessário monitoramento dos estoques de ferro de indivíduos vegetarianos, especialmente na população infantil.
CÁLCIO
Estudos demonstram que a ingestão de cálcio em lacto-ovo vegetariana não difere da ingestão de não vegetarianos, mas a ingestão de cálcio em veganos é menor. Da mesma forma, a densidade mineral óssea não difere entre lacto-ovo vegetarianos e não vegetarianos, mas em veganos é menor. O significado clínico desses achados é contraditório, alguns estudos não encontraram diferenças. Assim, em veganos seria interessante a suplementação de cálcio com vitamina D e magnésio – visto que estes dois contribuem para absorção do cálcio, o primeiro, em nível intestinal e o segundo em nível tecidual.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referência
Bibliográfica:
Pujol, AP. Benefícios e Riscos da Dieta
Vegetariana. Instituto Ana Paula Pujol. Disponível em: www.institutoanapaulapujol.com.br Acessado
em: 30/11/2016.
Baenai, RC. Dieta vegetariana: riscos e
benefícios. Diagn Tratamento. 2015;20(2):56-64.
Orlich, MJ. et
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Glick-Bauer, M;
Yeh, MC. The Health Advantage of a Vegan Diet: Exploring the Gut Microbiota
Connection. Nutrients. 2014;6(11):4822-4838.
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vitamin B12 deficiency a risk factor for cardiovascular disease in vegetarians?
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Iron status and dietary iron intake of vegetarian children from Poland. Ann
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