domingo, 12 de fevereiro de 2017

Gordura Trans x Gordura Interesterificada



Corre-corre, agitação, falta de tempo, muito trabalho e muito estudo! E no meio de todo esse tumulto nossa alimentação acaba se tornando uma das nossas ultimas preocupações... Isso porque muitas vezes ao invés de pararmos para fazer uma refeição adequada, escolhemos ir “beslicando” uma coisa aqui, outra coisa ali para “tapiar a fome” ou então optamos pelas famosas “comidas rápidas”.

A comprovação de que a população moderna passou por uma desagradável transição nutricional, e digo desagradável, pois acarretou resultados péssimos, é evidente! As principais transformações estão relacionadas ao fato de que as pessoas passaram a consumir uma dieta pobre em fibras e rica em gorduras e açucares, alterando consequentemente o perfil epidemiológico. Isso significa que houve um aumento exorbitante de doenças crônicas, como as doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e dislipidemias e diabetes tipo 2.

Aposto que diversas vezes você foi ao supermercado e observou no rótulo dos alimentos as expressões em letras garrafais dizendo: “zero% de gordura trans” ou “não contém gordura trans”. E com certeza, na hora de escolher, você opta por estes produtos! Muito bem, você fez a escolha certa!

Mas você sabe o que são as gorduras trans, para que são utilizadas e quais são os riscos que elas podem acarretar? Então agora vou explicar um pouco melhor sobre essa gordura extremamente danosa.

As gorduras trans são obtidas por um processo de hidrogenação, ou seja, moléculas de hidrogênio são adicionadas na cadeia de carbonos fazendo com que esta adquira um novo arranjo. O objetivo desse processo é transformar óleos vegetais instáveis e líquidos em gorduras sólidas e com estabilidade maior em temperatura ambiente.

Um fato, que muita gente não sabe, é que os ácidos graxos denominados trans podem ter duas origens. O primeiro grupo compreende aquelas gorduras que estão naturalmente presentes em animais ruminantes, encontradas, por exemplo, na carne, leite e derivados. Elas são formadas por meio do metabolismo de algumas bactérias que estão localizadas no sistema digestórios destes animais. Por meio de processos químicos esses microrganismos promovem a transformação dos ácidos graxos poli-insaturados em gorduras trans. Mas não se assuste! A quantidade desta gordura encontrada nesses alimentos não ultrapassa valores de 6%. 



A segunda origem da gordura trans é aquela obtida a partir de produtos industrializados, principalmente encontradas nas margarinas, fastfood, óleos e produtos de padarias. Ao contrário das gorduras encontradas naturalmente nos produtos, os produtos industrializados podem conter até 60% de ácidos graxos trans.

Existe um gama de produtos industrializados que levam a gordura trans em sua composição, muitos deles com certeza você deve consumir com considerável frequência e talvez nem saiba de sua existência. Os principais produtos são: caldos de carnes, sorvetes, tortinhas doces, batatas-fritas, pizzas, salgadinhos industrializados, nuggets, donuts, produtos de confeitaria e padaria, cremes vegetais, cookies, produtos de pastelarias, sanduíches de fastfood, massas de bolos e tortas, pipoca de micro-ondas, biscoitos recheados e/ou amanteigados e margarinas sólidas ou cremosas.

Quanto à aplicabilidade desta gordura ela é diversa! Devido à estabilidade obtida elas acabam promovendo a extensão do prazo de validade dos produtos, e consequentemente maior tempo de vida de prateleira dos mesmos. Podem também ser utilizadas para melhorar as características físicas e sensoriais dos alimentos, isso por que melhoram a consistência dos alimentos permitindo que estes fiquem mais crocantes e com uma textura mais agradável. Além disso, também incorporam mais sabor aos alimentos, tornando-os muito mais atraentes!

Podemos ver que a utilização da gordura trans nos alimentos trás inúmeras vantagens industriais. No entanto, para a saúde o seu papel não é tão benéfico, sendo considerada por inúmeros pesquisadores como a gordura mais nociva e sem nenhum papel nutricional conhecido!

Diversos estudos já comprovam que o consumo exagerado desta gordura acarreta diversos riscos à saúde. Dentre eles podemos destacar:

● promoção de placas fibrogordurosas (ateromas) que contribuem para a agregação das plaquetas e aumentam o risco do desenvolvimento da aterosclerose;

● elevação dos riscos do desenvolvimento de doenças como câncer e diabetes;

● aumento dos riscos do desenvolvimento das doenças cardiovasculares devido ao aumento nos níveis de colesterol ruim (LDL) e colesterol total, e da diminuição dos níveis do colesterol bom (HDL);

● redução das barreiras contra substancias tóxicas e micro-organismos patogênicos devido ao enfraquecimento do sistema imunológico;

● comprometimento da saúde materno-infantil, pois esta gordura pode ser transferida para o feto através da placenta;

● elevação nos riscos da pré-eclâmpsia;

Diante de todos os riscos que as gorduras trans proporcionavam aos seus consumidores, a indústria de alimentos passou a buscar novas alternativas para a substituição desta gordura. A saída encontrada foi à adoção de um processo extremamente industrial denominado interesterificação.

A partir de então a gordura interesterificada foi introduzida no mercado como uma alternativa “segura” para a substituição da gordura trans. Mas, será que esta modificação é realmente segura? Infelizmente não! Estudos científicos já afirmam claramente que a gordura interesterificada não fica muito longe da gordura trans quando o assunto é danos à saúde.

Um estudo divulgado na Nutrition & Metabolism avaliou o perfil lipídico, glicose e insulina em jejum de três grupos diferentes. O primeiro grupo era controle e recebia apenas óleo de palma (rico em gordura saturada), o segundo era o grupo que recebia óleo de soja parcialmente hidrogenado (rico em gorduras trans) e o ultimo recebia gordura interesterificada. Ao fim das quatro semanas de experimento, os pesquisadores detectaram que a gordura interesterificada aumentou a resistência ao hormônio insulina (aumentando a taxa de glicose e/ou diminuindo a produção de insulina), fato que aumenta a predisposição a diabetes e obesidade. Os participantes da pesquisa ainda apresentaram a um aumento significativo da taxa de glicose no sangue (quase 20%), aumento este que foi maior que o encontrado para gordura trans.

Outro fato relatado foi que a produção de insulina caiu 10% na dieta rica em gordura trans e quase o dobro disto na dieta rica em gordura interesterificada. Além disso, a gordura interesterificada também reduziu os níveis de HDL (“bom colesterol”).

Diante destes resultados fica claro que de a substituição da gordura trans pela interesterificada ainda não é uma das melhores alternativas! Dessa forma, ainda persiste o desafio da indústria de alimentos pela busca incansável de novas alternativas para a substituição da gordura trans.

Mas agora fique atento: os rótulos dos produtos nos supermercados não contêm informações sobre a presença ou não das gorduras interesterificadas! Por esse motivo, vale sempre deixar de lado os velhos maus hábitos alimentares e optar por uma refeição mais colorida, caseira e rica em frutas ao decorrer do dia! Sua saúde agradece!



As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Bachiega, P. Gordura Trans X Gordura Interesterificada: Trocando seis por meia dúzia?. Grupo de Estudos em Alimentos Funcionais – GEAF, ESALQ/USP. Disponível em: www.grupoalimentosfuncionais.blogspot.com.br

Balbinot EL., et al. Interesterification as alternative to nutritional negative implications of trans fats.. Disciplinarum Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, 2009;  v. 10, n. 1, p. 31-44. 

"New Fat, Same Old Problem With An Added Twist? Replacement For Trans Fat Raises Blood Sugar In Humans", Science Daily, January 18, 2007. 

Sundram K, Karupaiah T, Hayes K.. (2007). "Stearic acid-rich interesterified fat and trans-rich fat raise the LDL/HDL ratio and plasma glucose relative to palm olein in humans.". Nutr Metab. DOI:10.1186/1743- 7075-4-3. 

Leão, LSSC; Gomes, MCR. Manual de nutrição clínica: para atendimento nutricional do adulto. 7. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

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