Corre-corre, agitação, falta de tempo, muito
trabalho e muito estudo! E no meio de todo esse tumulto nossa alimentação acaba
se tornando uma das nossas ultimas preocupações... Isso porque muitas vezes ao invés
de pararmos para fazer uma refeição adequada, escolhemos ir “beslicando” uma
coisa aqui, outra coisa ali para “tapiar a fome” ou então optamos pelas famosas
“comidas rápidas”.
A comprovação de que a população moderna passou por
uma desagradável transição nutricional, e digo desagradável, pois acarretou
resultados péssimos, é evidente! As principais transformações estão
relacionadas ao fato de que as pessoas passaram a consumir uma dieta pobre em
fibras e rica em gorduras e açucares, alterando consequentemente o perfil
epidemiológico. Isso significa que houve um aumento exorbitante de doenças
crônicas, como as doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e dislipidemias
e diabetes tipo 2.
Aposto que diversas vezes você foi ao supermercado
e observou no rótulo dos alimentos as expressões em letras garrafais dizendo:
“zero% de gordura trans” ou “não contém gordura trans”. E com certeza, na hora
de escolher, você opta por estes produtos! Muito bem, você fez a escolha certa!
Mas você sabe o que são as gorduras trans, para que
são utilizadas e quais são os riscos que elas podem acarretar? Então agora vou
explicar um pouco melhor sobre essa gordura extremamente danosa.
As gorduras trans são obtidas por um processo
de hidrogenação, ou seja, moléculas de hidrogênio são adicionadas na cadeia de
carbonos fazendo com que esta adquira um novo arranjo. O objetivo desse
processo é transformar óleos vegetais instáveis e líquidos em gorduras sólidas
e com estabilidade maior em temperatura ambiente.
Um fato, que muita gente não sabe, é que os
ácidos graxos denominados trans podem ter duas origens. O primeiro grupo
compreende aquelas gorduras que estão naturalmente presentes em animais
ruminantes, encontradas, por exemplo, na carne, leite e derivados. Elas são
formadas por meio do metabolismo de algumas bactérias que estão localizadas no
sistema digestórios destes animais. Por meio de processos químicos esses
microrganismos promovem a transformação dos ácidos graxos poli-insaturados em
gorduras trans. Mas não se assuste! A quantidade desta gordura encontrada
nesses alimentos não ultrapassa valores de 6%.
A segunda origem da gordura trans é aquela
obtida a partir de produtos industrializados, principalmente encontradas nas
margarinas, fastfood, óleos e produtos de padarias. Ao contrário das
gorduras encontradas naturalmente nos produtos, os produtos industrializados
podem conter até 60% de ácidos graxos trans.
Existe um gama de produtos industrializados
que levam a gordura trans em sua composição, muitos deles com certeza você deve
consumir com considerável frequência e talvez nem saiba de sua existência. Os
principais produtos são: caldos de carnes, sorvetes, tortinhas doces,
batatas-fritas, pizzas, salgadinhos industrializados, nuggets, donuts, produtos
de confeitaria e padaria, cremes vegetais, cookies, produtos de pastelarias,
sanduíches de fastfood, massas de bolos e tortas, pipoca de micro-ondas,
biscoitos recheados e/ou amanteigados e margarinas sólidas ou cremosas.
Quanto à aplicabilidade desta gordura ela é
diversa! Devido à estabilidade obtida elas acabam promovendo a extensão do
prazo de validade dos produtos, e consequentemente maior tempo de vida de
prateleira dos mesmos. Podem também ser utilizadas para melhorar as
características físicas e sensoriais dos alimentos, isso por que melhoram a
consistência dos alimentos permitindo que estes fiquem mais crocantes e com uma
textura mais agradável. Além disso, também incorporam mais sabor aos alimentos,
tornando-os muito mais atraentes!
Podemos ver que a utilização da gordura trans nos
alimentos trás inúmeras vantagens industriais. No entanto, para a saúde o seu
papel não é tão benéfico, sendo considerada por inúmeros pesquisadores como a
gordura mais nociva e sem nenhum papel nutricional conhecido!
Diversos estudos já comprovam que o consumo
exagerado desta gordura acarreta diversos riscos à saúde. Dentre eles podemos
destacar:
● promoção de placas fibrogordurosas (ateromas) que
contribuem para a agregação das plaquetas e aumentam o risco do desenvolvimento
da aterosclerose;
● elevação dos riscos do desenvolvimento de doenças
como câncer e diabetes;
● aumento dos riscos do desenvolvimento das doenças
cardiovasculares devido ao aumento nos níveis de colesterol ruim (LDL) e
colesterol total, e da diminuição dos níveis do colesterol bom (HDL);
● redução das barreiras contra substancias tóxicas
e micro-organismos patogênicos devido ao enfraquecimento do sistema
imunológico;
● comprometimento da saúde materno-infantil, pois
esta gordura pode ser transferida para o feto através da placenta;
● elevação nos riscos da pré-eclâmpsia;
Diante de todos os riscos que as gorduras trans
proporcionavam aos seus consumidores, a indústria de alimentos passou a buscar
novas alternativas para a substituição desta gordura. A saída encontrada foi à
adoção de um processo extremamente industrial denominado interesterificação.
A partir de então a gordura interesterificada foi
introduzida no mercado como uma alternativa “segura” para a substituição da
gordura trans. Mas, será que esta modificação é realmente segura? Infelizmente
não! Estudos científicos já afirmam claramente que a gordura interesterificada
não fica muito longe da gordura trans quando o assunto é danos à saúde.
Um estudo divulgado na Nutrition & Metabolism
avaliou o perfil lipídico, glicose e insulina em jejum de três grupos
diferentes. O primeiro grupo era controle e recebia apenas óleo de palma (rico
em gordura saturada), o segundo era o grupo que recebia óleo de soja
parcialmente hidrogenado (rico em gorduras trans) e o ultimo recebia gordura
interesterificada. Ao fim das quatro semanas de experimento, os pesquisadores
detectaram que a gordura interesterificada aumentou a resistência ao hormônio
insulina (aumentando a taxa de glicose e/ou diminuindo a produção de insulina),
fato que aumenta a predisposição a diabetes e obesidade. Os participantes da
pesquisa ainda apresentaram a um aumento significativo da taxa de glicose no
sangue (quase 20%), aumento este que foi maior que o encontrado para gordura
trans.
Outro fato relatado foi que a produção de insulina
caiu 10% na dieta rica em gordura trans e quase o dobro disto na dieta rica em
gordura interesterificada. Além disso, a gordura interesterificada também
reduziu os níveis de HDL (“bom colesterol”).
Diante destes resultados fica claro que de a
substituição da gordura trans pela interesterificada ainda não é uma das
melhores alternativas! Dessa forma, ainda persiste o desafio da indústria de
alimentos pela busca incansável de novas alternativas para a substituição da
gordura trans.
Mas agora fique atento: os rótulos dos produtos
nos supermercados não contêm informações sobre a presença ou não das gorduras
interesterificadas! Por esse motivo, vale sempre deixar de lado os velhos maus
hábitos alimentares e optar por uma refeição mais colorida, caseira e rica em
frutas ao decorrer do dia! Sua saúde agradece!
As informações
contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Bachiega, P. Gordura Trans X Gordura
Interesterificada: Trocando seis por meia dúzia?. Grupo
de Estudos em Alimentos Funcionais – GEAF, ESALQ/USP. Disponível em: www.grupoalimentosfuncionais.blogspot.com.br
Balbinot EL., et al.
Interesterification as alternative to nutritional negative implications of
trans fats.. Disciplinarum Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria,
2009; v. 10, n. 1, p. 31-44.
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Problem With An Added Twist? Replacement For Trans Fat Raises Blood Sugar In
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Sundram K,
Karupaiah T, Hayes K.. (2007). "Stearic acid-rich interesterified fat and
trans-rich fat raise the LDL/HDL ratio and plasma glucose relative to palm
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Leão,
LSSC; Gomes, MCR. Manual de
nutrição clínica: para atendimento nutricional do adulto. 7. ed.
Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
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