A
função mais conhecida da vitamina K é no processo de coagulação sanguínea,
sendo necessária para a síntese no fígado de várias proteínas envolvidas nesta
atividade. As formas naturais de vitamina K são a filoquinona e as
menaquinonas. A vitamina K1, hoje chamada de filoquinona,
é o único análogo da vitamina presente em plantas. É encontrada em hortaliças e
óleos vegetais, os quais representam a fonte predominante da vitamina. As menaquinonas
(vitamina K2) são endogenamente sintetizadas e foram
subsequentemente caracterizadas. As famílias das menaquinonas constitui-se numa
série de vitaminas designadas MK-n, em que o n representa o número de resíduos
isoprenoides na cadeia lateral. As principais menaquinonas, menaquinona-4
(MK-4) à menaquinona-10 (MK-10), contêm 4-10 unidades isoprenoides na cadeia
lateral respectivamente. Menadiona (vitamina K3),
representada pelo anel 2-metil-1, 4-naftoquinona, comum a todas as formas de
vitamina K, pode funcionar como um cofator enzimático na prevenção de
deficiência subclínica da vitamina e tem sido identificado como um metabólito
da vitamina K formado durante a absorção. A MK-4 é produto da conversão
tecidual obtida diretamente da filoquinona da dieta. As menaquinonas de 4-9
encontram-se em baixas concentrações em alimentos tais como carne de frango e
certos tipos de queijos. A menaquinona-7 é encontrada em grandes quantidades em
leguminosas, especificamente na soja fermentada (conhecida como natto), que é
um alimento tradicional no Japão.
Absorção, Transporte e
Metabolismo
A
filoquinona, principal forma de vitamina K na dieta, é absorvida no jejuno e
íleo em um processo que depende do fluxo normal de bile e suco pancreático e é
potencializada pela gordura da dieta. Na célula da mucosa intestinal, a vitamina
é incorporada aos quilomícrons, entrando a seguir na circulação pelo sistema
linfático. Chega ao fígado como um componente dos quilomícrons. Em indivíduos
adultos saudáveis, cerca de 80% da filoquinona livre são absorvidos. As
menaquinonas não competem com a filoquinona para absorção; também são
absorvidas pelo sistema linfático. A menadiona é principalmente absorvida pelo
sistema porta, embora também possa ser absorvida pelo sistema linfático, e no
fígado é alquilada para menaquinona-4 (MK-4). Essa forma de menaquinona também
pode ser formada a partir de filoquinona em tecidos animais. A vitamina K será
distribuída para os demais tecidos por meio de VLDL e quilomícrons, uma vez que
não existe proteína ligadora de vitamina K específica no plasma. A filoquinona
é a maior fração da vitamina no plasma. No fígado, a proporção de menaquinona
para filoquinona é de 90 e 10%, respectivamente. As reservas da vitamina são
depletadas rapidamente – cerca de 3 dias são suficientes para uma redução de
75%; entretanto, parece que outros tecidos também podem conservar a vitamina,
como o adiposo e o ósseo. O músculo esquelético contém pouca filoquinona, mas o
coração e outros tecidos possuem a vitamina em maior quantidade. O total de
vitamina K no organismo é de cerca de 100-200nmol (50-100µg). A vitamina é
rapidamente catabolizada e excretada pelo fígado, principalmente pela bile. Uma
pequena quantidade aparece na urina. Os metabólitos principais de filoquinona e
menaquinonas são conjugados de ácidos glucurônicos que resultam da oxidação da
cadeia lateral.
Biodisponibilidade, Fontes
Alimentares e Deficiência
Muito
pouco é conhecido sobre a biodisponibilidade de vitamina K de diferentes
alimentos. A biodisponibilidade de vitamina K da dieta está mais relacionada à filoquinona
das plantas e às menaquinonas dos alimentos de origem animal, pois a fonte de
vitamina K originada pela flora bacteriana no organismo é muito mais difícil de
ser avaliada. Evidências sugerem, entretanto, que as filoquinonas são mais
biodisponíveis que as menaquinonas, e ainda que a filoquinona presente nos
alimentos é menos disponível que aquela na forma pura.
A
vitamina A e E podem atuar como antagonistas da vitamina K em casos de
hiperdosagem ou no uso de suplementos. Além disso, o uso prolongado de
antibióticos pode reduzir a produção de menaquinonas no intestino. A
deficiência de vitamina K também pode ocorrer em casos de má absorção
intestinal em diversas situações clínicas.
Com
relação à estabilidade, a vitamina K é decomposta por radiação UV, isto é, a
exposição à luz é considerada a principal causa de perdas dessa vitamina em
alimentos. Também é instável em ácidos e bases fortes, porém estável sob
condições de oxidação e de aquecimento, resistindo bem ao processamento e
armazenamento de alimentos industrializados.
A
vitamina K está bem distribuída na natureza, principalmente em verduras como
couve, espinafre, brócolis, repolho e folhas de nabo em quantidade acima de
300µg/100g. Está presente na maioria dos óleos de origem vegetal, principalmente
soja e canola, em quantidade acima de 100µg/100g.
Quadro 1.
Conteúdo de vitamina K em alimentos considerados fonte.
Alimento
|
Quantidade em 100g (µg)
|
Medida usual
|
Quantidade (µg)
|
Espinafre
|
380
|
3
colheres de sopa (60g)
|
228
|
Couve
|
440
|
1
colher de servir (42g)
|
185
|
Repolho
|
145
|
5
colheres de sopa (75g)
|
109
|
Brócolis
|
180
|
4
colheres de sopa (60g)
|
108
|
Alface
|
122
|
4
folhas (40g)
|
49
|
Óleo de soja
|
193
|
1
colher de sopa (8g)
|
15
|
Óleo de canola
|
127
|
1
colher de sopa (8g)
|
10
|
Fonte: Philippi, 2008.
Nenhum
efeito foi atribuído a altas doses de vitamina K, e sua deficiência pode causar
aumento no tempo de formação de protrombina e, em casos mais graves, causar
doenças hemorrágicas. Como compostos da série K2 são
produzidos no intestino por bactérias, raramente há deficiência dessa vitamina
em pessoas saudáveis.
A
avaliação laboratorial de vitamina K pode ser realizada por vários métodos,
sendo o tempo de protrombina e o tempo parcial de tromboplastina, além do teste
de coagulação, os mais frequentemente utilizados para sugerir deficiência.
Recomendações Nutricionais
Quadro 2.
Ingestão recomendada de vitamina K.
Idade
|
Mulheres (µg vit. K/dia)
|
Homens (µg vit. K/dia)
|
0-6 meses
|
2,0
|
|
7-12 meses
|
2,5
|
|
1-3 anos
|
30
|
|
4-8 anos
|
55
|
|
9-13 anos
|
60
|
60
|
14-18 anos
|
75
|
75
|
19-30 anos
|
90
|
120
|
31-50 anos
|
90
|
120
|
50-70 anos
|
90
|
120
|
˃ 70 anos
|
90
|
120
|
Gestação
|
|
|
19-30 anos
|
90
|
|
31-50 anos
|
90
|
|
Lactação: ≤ 18 anos
|
75
|
|
19-30 anos
|
90
|
|
Fonte: ILSI, 2010.
Interações de vitamina K com
outros nutrientes
Doses
elevadas de vitamina E (suplementos) poderiam antagonizar a ação da vitamina K.
A carboxilase microssomal dependente de vitamina K poderia ser inibida pelo
α-tocoferol, entretanto quantidades maiores de vitamina E não têm demonstrado
efeito antagônico no estado nutricional relativo à vitamina K em indivíduos
saudáveis. Trabalho mais recente utilizando rato como modelo experimental
verificou efeito adverso do α-tocoferol na abosrção de filoquinona.
Interações de vitamina K com
medicamentos
Indivíduos
submetidos a tratamentos com anticoagulantes (como derivados do
4-hidroxicoumarim) visando à prevenção de trombose devem ser monitorados quanto
à ingestão de vitamina K. Alterações na ingestão podem influenciar a eficácia
do medicamento.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Dôres,
SMC. Vitamina K. São Paulo: ILSI Brasil-Internacional Life Sciences Institute
do Brasil, 2010.
Michelazzo,
FB; Cozzolino, SMF. Vitamina K. Biodisponibilidade de
nutrientes. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2005.
Santos,
KMO; Aquino, RC. Grupo dos óleos e gorduras. In: Philippi, ST. Pirâmide dos
alimentos: fundamentos básicos da nutrição. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2008.
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