A ocorrência de doenças cerebrais está
aumentando. Atualmente cerca de 20% dos adultos sofrem de algum transtorno
mental, e este número está crescendo. A depressão é a principal causa de
incapacidade em todo o mundo. A ansiedade afeta milhares de pessoas. Segundo a
Alz.Org / Alzheimers Association, o mal de Alzheimer mata um em cada três
idosos, e mata mais do que câncer de mama e próstata juntos. Um estudo de 2013 mostrou que em 30 anos as
mortes causadas por doença cerebral aumentaram 66% nos homens e 92% nas
mulheres!
Inflamação
E o que adoece a nossa máquina de pensar? Inflamação
é o fator comum nas doenças cerebrais. Há um novo campo de estudo, conhecido
como “modelo de citocina na função cognitiva”, que procura entender como a inflamação
crônica de baixa intensidade impacta a saúde e o funcionamento do cérebro. Onde há inflamação existem citocinas
pró-inflamatórias. Elas atuam negativamente na resposta imunológica do corpo e nos
mecanismos moleculares ligados à aprendizagem, memória e capacidade mental.
Segundo
cérebro
Há muitas maneiras diferentes do cérebro ficar
inflamado, e um dos principais mecanismos nem começa diretamente na massa
cerebral, e sim no que chamamos de "segundo cérebro": o intestino. A
comida tem um papel importante nos níveis de inflamação. Existem diversos
alimentos que contribuem para produzir um estado inflamatório no intestino (e no
cérebro), como açúcar e gordura trans, porém o maior culpado pode ser o glúten.
Doenças
cerebrais
O neurologista David Perlmutter, em seu
fantástico livro Grain Brain (aqui traduzido para Cérebro de Farinha), lista
diversas doenças do cérebro ligadas ao glúten, cereais refinados e açúcar: dor
de cabeça crônica, enxaqueca, insônia, ansiedade, stress, depressão, fog
mental, falta de foco e concentração, epilepsia, desordens do movimento
(ataxia), esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH), demência, Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla, esclerose lateral
amiotrófica (ELA), autismo, fadiga crônica e muitas outras.
Doença
celíaca
Embora apenas 1% da população tenha
diagnóstico de doença celíaca, é muito provável que este problema esteja vastamente
subdiagnosticado, passando despercebido nos consultórios. Na verdade, apenas
10% das pessoas com doença celíaca apresentam sintomas intestinais evidentes
(dor, distensão abdominal, gases, diarreia, constipação, etc.). Pesquisas
sugerem que a doença celíaca pode apresentar-se estritamente como um problema
neurológico e/ou psiquiátrico. A estimativa é de que 1 em cada 20 pessoas vivam
com a sensibilidade não-celíaca ao glúten e nem desconfiam disso.
Glúten
e açúcar
Glúten, açúcar e carboidratos refinados causam
inflamação persistente, sistêmica, de baixa intensidade. Esta inflamação está
diretamente implicada em quase todas as doenças crônicas, e as condições que
afetam o cérebro não são exceção. Ao contrário de outros órgãos o cérebro não
tem fibras nervosas para a dor, ele sofre em silêncio. Quando temos dor de
cabeça quem reclama são os vasos sanguíneos. As outras doenças mentais evoluem de
forma quieta, despercebidas, ao longo de décadas.
Intestino
e cérebro permeáveis
O glúten aumenta os níveis de zonulina, uma
proteína que altera e inflama o cólon, levando à síndrome do intestino
permeável. Esta permeabilidade aumentada do intestino permite que as proteínas
do alimento não digerido e toxinas bacterianas passem para a corrente
sanguínea, ativando uma resposta inflamatória e imunológica no corpo. Níveis
elevados de zonulina no intestino têm sido associados a níveis elevados de
zonulina no cérebro. Tradução: um intestino permeável pode levar a um cérebro permeável.
Gatilho
Uma vez rompida a barreira hematoencefálica (sangue-cérebro),
o sistema imunológico do cérebro (células gliais) pode ser ativado. Células
gliais (cerca de 50% da massa cerebral) vão causar uma reação inflamatória em
todo o órgão. Ou seja, o glúten é um tipo de gatilho que permite que partículas
de alimentos e toxinas passem através do intestino para a corrente sanguínea e penetrem
o cérebro. Se você sofre de depressão, ansiedade, fog mental ou alguma doença
cerebral autoimune, a possibilidade de ter um cérebro permeável deve ser
considerada.
Trigo
com muito glúten
O glúten, no papel de vilão, chegou às
manchetes recentemente. Antes quase todos comiam trigo sem problemas, e ele era
considerado um cereal saudável. O trigo mudou muito nos últimos 50 anos por
hibridização e modificação genética, além de sofrer um excesso de refino.
Nossos genes estão vivendo em um mundo novo e tóxico, onde uma interação
genética errada com a proteína do glúten determina se, quando e como um
problema no cérebro será acionado.
Sistema
nervoso entérico
O eixo cérebro-intestino é uma rede neural de
comunicação complexa ligando os dois órgãos. O sistema nervoso central (no
cérebro) e o sistema nervoso entérico (no intestino) são ligados por diversos
caminhos metabólicos, tal a sua importância. Estas
linhas de comunicação são bidirecionais e envolvem uma grande quantidade de mediadores
neuro-imuno-endócrinos. A razão para o desenvolvimento de uma rede tão complexa
é manter a fisiologia intestinal (nosso “segundo cérebro”) e sua ligação com
funções cognitivas e afetivas. 95% da serotonina (neurotransmissor do
bem-estar) é produzida no intestino! Além da serotonina, pelo menos outros 30 neurotransmissores
são produzidos no intestino, como dopamina e GABA.
Flora
intestinal
Tudo que beneficia o intestino é bom para o
cérebro! Recentemente, o papel da flora intestinal (microbiota) foi reconhecido
como parte do eixo cérebro-intestino. A alimentação, visando corrigir a
permeabilidade intestinal e melhorar a microbiota, tem sido estudada como uma
importante aliada da saúde cerebral. Ainda estamos engatinhando neste campo
fascinante do microbioma, com sua imensa complexidade e tamanho – são mais de cem
trilhões (100.000.000.000.000) de bactérias, vírus, fungos e outros
micro-organismos, que determinam a nossa saúde, peso, humor e muito mais.
Texto elaborado por: Dra. Tamara Mazaracki.
Título
de Especialista em Nutrologia – Associação Brasileira de Nutrologia;
Membro
Titular da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia;
Pós-graduação
em Medicina Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE –
Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de
Homeopatia;
Pós-graduação
em Medicina Estética – Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
*Public
Health 2013. Changing patterns of
neurological mortality in 10 major developed countries - 1979-2010.
*Neuroscience and Biobehavioral Reviews 2009. Evidence for a
cytokine model of cognitive function.
*Psychiatric
Quarterly 2012. Neurologic and
Psychiatric Manifestations of Celiac Disease and Gluten Sensitivity.
*American Journal of Gastroenterology 2016. Neurological
Dysfunction in Coeliac Disease and Non-Coeliac Gluten Sensitivity.
*Clinical
Nutrition 2015. Non coeliac gluten
sensitivity - A new disease with gluten intolerance.
*Human Nutrition
from the Gastroenterologist’s Perspective 2016. Gut–Brain Axis: A New Revolution to Understand the
Pathogenesis of Autism and Other Severe Neurological Diseases.
*Current Opinion
in Biotechnology 2015. Gut brain axis:
diet microbiota interactions and implications for modulation of anxiety and
depression.
*Annals of
Gastroenterology 2015. The gut-brain axis: interactions between enteric
microbiota, central and enteric nervous systems.
*Clinical
Nutrition Experimental 2016. Food for thought: The role of nutrition in the
microbiota-gut–brain axis.
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