A
produção de orgânicos surgiu a partir de movimentos do final do século XIX que
se contrapuseram aos sistemas tradicionais de produção de alimentos, em
virtude, dos danos ambientais, que deram início a uma corrente para uma
alimentação saudável e consequentemente uma melhora na qualidade de vida.
Esses alimentos são definidos como aqueles alimentos in natura ou processados, que são oriundos de um sistema orgânico de produção. Eles são baseados em técnicas de cultivo que dispensam o uso de insumos agrícolas como: pesticidas sintéticos, fertilizantes químicos, medicamentos veterinários, organismos geneticamente modificados, conservantes, aditivos e irradiação.
As restrições quanto aos diferentes contaminantes se devem aos diversos (e controversos) estudos que apresentam efeitos de algumas dessas substâncias na saúde humana. Outra questão é o empobrecimento do solo e da quantidade de nutrientes, especialmente micronutrientes, em muitos alimentos provenientes dos métodos convencionais de plantio, irrigação, uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes.
Quanto ao valor nutricional e ao preço de venda dos alimentos orgânicos em comparação aos alimentos produzidos convencionalmente há controvérsias. A agricultura orgânica tem se expandido de forma rápida no mundo e diversos países demonstram uma tendência de continuidade nesse crescimento. Atualmente, a área de orgânicos no Brasil é de 1,5 milhão de hectares. As vendas de produtos orgânicos no país alcançaram R$ 350 milhões em 2010. O valor é 40% superior ao registrado em 2009.
Em relação ao preço dos alimentos orgânicos, devem-se levar em conta os fatores envolvidos no processo produtivo dos alimentos. O valor agregado, que pode variar de 20 até 100% a mais para os produtos orgânicos em relação aos de origem convencional, tem como uma das causas a lei da oferta e da procura. Devido à baixa demanda, quando comparado ao alimento convencional, o produto orgânico não é competitivo no grande mercado. Porém, outros aspectos relativos à comercialização devem ser analisados no sentido de estimulá-la, já que o preço dificulta o acesso.
A venda direta e as feiras são propostas eficazes para o fortalecimento de associações de agricultores orgânicos. Porém, há dificuldades, como a distância dos centros consumidores, as condições das estradas, a exigência de habilidade para o comércio e tempo disponível do agricultor para a venda. Esse tipo de comercialização faz com que se crie uma fidelização dos consumidores à proposta da agricultura orgânica e sustentável, e a ausência de intermediação permite uma maior apropriação, pelos agricultores, dos resultados de seu trabalho, em termos de renda.
Quanto às comparações sobre valor nutricional, muitos fatores e variáveis devem ser considerados, tais como o tempo de produção orgânica, o restabelecimento da vida do solo, o tipo de sistema orgânico utilizado, a variabilidade dos fatores externos (luz solar, temperatura, chuva), o armazenamento e o transporte, que influenciam diretamente o conteúdo de nutrientes.
Em estudo realizado por Arbos et al., que analisou a composição físico-química de hortaliças produzidas no sistema orgânico, os resultados demostraram que as amostras de alface e tomate originárias de cultivo orgânico analisadas apresentaram um maior valor energético, menor teor de umidade e maior teor de vitamina C em relação aos dados disponibilizados pela Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO).
Em outro estudo também realizado por Arbos et al., avaliando atividade antioxidante e teor de fenólicos totais em hortaliças orgânicas e convencionais, ficou evidente a superioridade do efeito antioxidante das hortaliças provenientes do cultivo orgânico, quando comparadas às obtidas no sistema convencional. Concluindo que o sistema empregado no cultivo de hortaliças contribui concomitante com o maior teor de compostos fenólicos, para uma maior efetividade antioxidante das hortaliças orgânicas.
Durante os últimos tempos, o Brasil se tornou o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, dado esse preocupante. O processo agrícola atual do país está cada vez mais empregando agrotóxicos como meio de controle de pragas. Vários alimentos são contaminados e vão parar na mesa do consumidor como: soja, milho, cana, cítricos, algodão, arroz e hortaliças.
Sabe-se que essas substâncias são, muitas vezes, ofertadas em doses acima das recomendadas e sem controle adequado por parte dos sistemas de vigilância. Na Conferência Panamericana da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2002, relata que a avaliação da exposição deveria ser ampliada de forma a considerar as diferenças nos hábitos alimentares entre os países. Essas organizações recomendam ainda que os países realizem análises baseadas no estudo da dieta total (EDT), estudo que estima a ingestão dietética de elementos químicos e de nutrientes através de análises diretas em amostras de alimentos preparados, para avaliar a exposição da população em geral e de grupos vulneráveis, como as crianças, a contaminantes químicos.
Entretanto, seguindo-se boas práticas agrícolas que minimizem os riscos de contaminação biológica, não há evidências de que os orgânicos sejam mais suscetíveis à contaminação microbiológica quando comparados aos sistemas convencionais. Com relação às micotoxinas (toxinas produzidas por fungos), a FAO (2003) ressalta não haver comprovação de que os alimentos orgânicos sejam mais contaminados.
Portanto, devemos sempre preferir os orgânicos e lembrar que por não usarem agrotóxicos em sua produção, ajudam a conservar o planeta, evitando a contaminação dos solos e rios com os pesticidas, além do adoecimento das pessoas que aplicam estes produtos nas hortas e pomares.
Sua produção também respeita a natureza por não estimular a produção de alimentos fora da época do ano que lhes é própria, o que pode danificar o solo e só é possível com doses maciças de adubos, além de poder prejudicar o sabor, o aspecto e a quantidade de nutrientes que eles deveriam fornecer.
As informações
contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
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