A
alergia alimentar pode ser definida como uma reação adversa a um antígeno
alimentar mediada por mecanismos fundamentalmente imunológicos. É considerado
também um problema nutricional e vem se tornando um problema de saúde em todo o
mundo, causando impacto negativo e significativo na qualidade de vida. O
crescimento dos casos de alergias nas ultimas décadas está associado a grande
exposição da população a um número maior de alérgenos alimentares disponíveis.
Qualquer alimento pode causar alergia alimentar, entretanto os alimentos mais
citados como causadores de alergias alimentares são: leite, ovos, amendoim,
castanhas, camarão, peixe e soja.
Alérgenos
são substâncias de origem natural (ambientais ou alimentares), que podem
induzir uma reação de hipersensibilidade (reação alérgica) em pessoas
suscetíveis, que entraram previamente em contato com o alérgeno. Esta reação de
hipersensibilidade envolve o reconhecimento do alérgeno como uma substância
“estranha” e alheia ao organismo no primeiro contato. Na exposição posterior, o
sistema imunológico reage a uma exposição excessiva, com a libertação de
substâncias que alteram a homeostase do organismo, resultando em sintomas de
alergia.
Os
principais alérgenos alimentares identificados são de natureza proteica. Muitas
destas proteínas podem conter múltiplos alérgenos. Entretanto, na maioria dos
casos, um ou dois destes funcionam como alérgeno principal. Este é definido
como aquele alérgeno que afeta 50% ou mais dos indivíduos com alergia. O leite
de vaca é o alérgeno mais comum para a população infantil. A habilidade do
sistema imune em responder aos antígenos, como as proteínas do leite de vaca
dependem, entre outros fatores, do genótipo e idade do indivíduo, da natureza,
dose e frequência de administração do antígeno. No caso do leite a
α-lactoalbumina é considerada o principal alérgeno, enquanto a ß-lactoglobulina
e a caseína tem sido implicadas em menor escala. O leite de outros animais
também pode ser alergênico para os indivíduos com alergia ao leite de vaca.
Entre
as leguminosas, a soja constitui uma fonte alimentar. Estudos encontraram
vários alérgenos da soja com subunidades de peso molecular de 20 e 50 a 60 KDa.
Observou-se, ainda, que as maiores frações das proteínas de soja apresentavam
atividade alergênica. A alergia à soja é mais comum em crianças e jovens,
podendo levar a cólicas e presença de sangue nas fezes. Mais da metade de todas
as alergias provocadas pela soja é causado por uma proteína, chamada P34,
amplamente disseminada entre grãos de soja selvagens e cultivados.
O
peixe quando contaminado por bactérias é altamente alergênico. Sua contaminação
por bactérias resulta em histamina, obtida a partir do aminoácido histidina, e
presente nos mastócitos e basófilos. A histamina está presente em receptores H1
e H2 centrais e periféricos. Esta droga é um importante mediador das respostas
alérgicas na pele, nariz e olhos, e causa vasodilatação, aumento da
permeabilidade vascular (edema) e contração da musculatura lisa (brônquica e
gastrointestinal), através da ativação dos receptores H1. A histamina tem
importantes papeis fisiológicos. Como a histamina é um dos mediadores
pré-formados e armazenados nos mastócitos, a sua liberação como resultado da
interação do antígeno com os anticorpos IgE na superfície dos mastócitos,
exerce um papel central nas reações de hipersensibilidade imediata e nas
respostas alérgicas.
As
ações da histamina na musculatura lisa brônquica e nos vasos sanguíneos são
responsáveis, em parte, pelos sinais e sintomas da resposta alérgica. A característica
da histamina é provocar dilatação dos vasos sanguíneos menos calibrosos,
resultando em ruborização, resistência periférica total diminuída e queda da
pressão arterial sistêmica. Além disso, a histamina tende a aumentar a
permeabilidade capilar.
Alguns
indivíduos apresentam reações alérgicas muito graves a alérgenos potentes e
específicos existentes em alimentos, especialmente no amendoim. As nozes,
castanhas, legumes, sementes, mariscos, também, possuem potencial alergênico.
Os indivíduos com este tipo de alergia alimentar podem apresentar uma reação
grave, mesmo quando consomem uma quantidade mínima do alimento. Alguns sintomas
citados são queda súbita da pressão arterial que pode acarretar tontura e
desmaio. Essa emergência potencialmente letal é denominada anafilaxia, uma
reação alérgica sistêmica, severa e rápida, caracterizada pela diminuição da
pressão arterial, taquicardia e distúrbios gerais da circulação sanguínea,
acompanhada ou não de edema de glote.
A
principal substância causadora da reação alérgica são as aflatoxinas, que
consistem em um grupo de compostos tóxicos produzidos por certas cepas dos
fungos Aspergillus flavus ou Aspergillus parasiticus. Em condições favoráveis
de temperatura e umidade, estes fungos crescem em certas rações e alimentos,
resultando na produção das aflatoxinas. As contaminações ocorrem com maior
intensidade em nozes, amendoim e outras sementes oleosas, incluindo o milho e
sementes de algodão. As aflatoxinas são tóxicas, ligando-se ao DNA das células
e provocando uma inibição da replicação do DNA. O fungo Aspergillus encontra-se
bastante disseminado na natureza, afetando diversos tipos de culturas
agrícolas. Estas se tornam, então, uma fonte primária de contaminação. A
exposição a altas concentrações de aflatoxinas produz graves danos ao fígado,
tais como necrose, cirrose hepática, carcinoma ou edema. A capacidade de
absorção e processamento de nutrientes é gravemente comprometida.
A
ingestão de crustáceos ou frutos do mar, em algumas pessoas, pode desencadear reações
severas, sendo responsáveis, principalmente, pela ocorrência em adultos.
Segundo alguns autores o aparecimento de manifestações alérgicas (mediadas pela
IgE) após ingestão destes alimentos pode ser causado por uma reação alérgica ao
parasita Anisakis simplex, provocando desde urticária, angioedema e, inclusive,
choque anafilático. Esta afirmação é confirmada através de exames laboratoriais
(presença de IgE específico para Anisakis simplex no soro do paciente).
Os
camarões, caranguejos, siris e lagostas podem, eventualmente, tornarem-se
envenenados devido à ingestão de dinoflagelados tóxicos. Os crustáceos
(fêmeas), quando na época reprodutiva, podem provocar intoxicação devido a
grande quantidade de hormônios em seu organismo.
As
proteínas dos ovos, juntamente com as do leite, são as que causam maiores
problemas alérgicos. A proteína da clara, a albumina ou, mais especificamente,
a ovoalbumina, é a causadora das alergias; a gema é normalmente bem tolerada.
Além da albumina, os principais alérgenos da clara do ovo já identificados são
o ovomucoide e a conalbuminal, que constituem, respectivamente, 11% e 12% da
proteína total da clara; a ovoalbumina constitui 54% da proteína total da
clara.
A
alergia ao ovo pode ser classificada como mediata ou tardia. As reações
imediatas envolvem mecanismos IgE mediados, sendo as mais comuns: anafilaxia,
hipotensão, urticária, broncoespasmo, laringoespamo ou síndrome da alergia
oral. A ovoalbumina pode estimular uma reação de hipersensibilidade do tipo IgE
mediada a alimentos, levando a liberação de mediadores de células mastocitárias
(histamina), que atuam sobre a pele, nariz, pulmões e trato gastrointestinal.
As alterações decorrentes do efeito da histamina envolvem o aumento da
permeabilidade capilar, a vasodilatação, a contração de músculo liso e a
secreção de muco.
A
prevenção da alergia alimentar em pacientes com alto risco de desenvolvê-la é
uma das principais armas disponíveis. Sugere-se assim, uma atenção especial à
esse grupo de pessoas, bem como um cardápio bem planejado e de fácil execução
para maior adesão à dieta e melhora dos sintomas e qualidade de vida. Alergia
alimentar é coisa séria e deve ser tratada.
As informações
contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
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Alimentos Causadores de Alergia Alimentar. Instituto Ana Paula Pujol.
Disponível em: www.institutoanapaulapujol.com.br
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