Flatulência, borborigmo, eructação,
enfim, os gases, apesar de parte do processo digestivo, são quase sempre
incômodos e embaraçosos, porém nem sempre significam um
problema de saúde. Os estudos mostram que a pessoa média gera de 0,6 a 1,8
litros de gás por dia. Este gás vem de duas fontes: a maior parte é de ar
engolido (exógeno) e o restante é o produto de bactérias do intestino grosso
(endógeno). Gases intestinais são compostos por diferentes quantidades de
oxigênio, nitrogênio, dióxido de carbono, hidrogênio e metano. Somente 1% dos
gases tem odor - as bactérias intestinais produzem diversos compostos contendo
enxofre, o culpado pelo cheiro.
Movimento de
gases no sistema digestivo
O gás pode ser liberado através da boca (eructação) ou do
ânus (flatos). Segundo a Sociedade
Canadense de Pesquisa Intestinal, um indivíduo saudável emite flatos de
12 a 25 vezes por dia! Numa situação normal, o ar engolido permanece no
estômago por um tempo e então passa através do trato digestivo em pequenas
quantidades e a intervalos regulares. Ele se move rapidamente pelo intestino
delgado, impulsionado por suas contrações rítmicas (peristalse). Este processo
não causa qualquer sintoma desconfortável. Quando o gás chega ao cólon, o ânus
o libera gradualmente, e este gás costuma ser inodoro.
O que causa a
produção de gases?
Muitos fatores influenciam a passagem de gás, incluindo a
quantidade de ar engolido, tipo de alimento, frequência de ingestão, motilidade
do intestino (que pode ser afetada por alimentos), hidratação, medicamentos e
estresse. Pessoas que se queixam de flatulência podem estar produzindo gases
intestinais associados às alterações da microbiota (flora intestinal).
Sintomas de
gases intestinais podem ser intensos
Para muitos, a passagem de gás através do trato digestivo
não provoca nenhum sintoma, porém outros reclamam de arrotos frequentes,
distensão abdominal, desconforto, dor e grande produção de flatos. As pesquisas
mostram que alguns indivíduos, ao beber durante uma refeição, podem engolir
duas vezes mais ar do que líquido, especialmente ao usar um canudo. O gás se
acumula no estômago, o abdômen estufa dolorosamente e a roupa fica
apertada. Como a distensão do trato digestivo afeta as contrações intestinais,
o gás passa rapidamente do estômago para o intestino, com aumento do
peristaltismo (movimento intestinal) normal, e pode causar cólicas dolorosas.
Gás exógeno
Gás que vem de fora (exógeno): para reduzir esta
importante fonte de gases intestinais é necessário engolir menos ar. O que
aumenta a ingestão de ar é mastigar chicletes, fumar, engolir alimentos
velozmente sem mastigar de forma apropriada, comer tomando líquidos, ingerir
bebidas muito quentes, usar canudo. Limitar essas atividades ajuda a reduzir a quantidade
de ar engolido. Outros fatores que contribuem são um encaixe dental
desalinhado, rinite crônica, dor crônica, ansiedade e tensão.
Gás endógeno
Gás que vem de dentro (endógeno): o cólon abriga muitas
bactérias produtoras de gás que fazem a festa com carboidratos ricos em amidos
(mal digeridos) e açúcares. O gás malcheiroso se forma quando as bactérias
fermentam estes alimentos na sua passagem através do cólon. A fermentação
produz bolhas de gás. Alguns alimentos são conhecidos como produtores de gás,
dependendo da tolerância individual: feijão, leite, pão, repolho, brócolis,
alho, cebola, frutose, alimentos processados, refrigerantes.
Feijão produz gases?
Nem todos têm gases e distensão
abdominal com os mesmos alimentos, isto varia para cada indivíduo, porém alguns
alimentos são mais problemáticos. Um deles é o feijão, que contêm os
carboidratos complexos rafinose e estaquiose. O intestino humano não consegue
metabolizar estes carboidratos por conta própria porque não produz as enzimas
necessárias para a sua digestão. As bactérias e leveduras que vivem no cólon
fazem este trabalho, só que o subproduto do processo é a formação de gases.
Para quem tem problema com a digestão do feijão e de outros alimentos como
repolho, brócolis e cereais integrais, há suplementos com alfa galactosidase,
uma enzima que digere a rafinose e a estaquiose.
Intolerância à lactose
Outro colaborador para a produção de gás
é a intolerância à lactose, que afeta cerca de 70% dos adultos em todo o mundo,
em diferentes graus. Neste caso, há uma deficiência da enzima lactase,
necessária para digerir lactose, o açúcar presente no leite. Um bom teste é
tirar o leite e lácteos durante 10 dias, e verificar se os sintomas
relacionados com o gás persistem ou cessam. Para os intolerantes à lactose, há
suplementos contendo lactase, e também leite e iogurte lacfree, que já vêm
adicionados de lactase.
Sensibilidade ao glúten
O glúten é uma proteína de difícil
digestão e pode deixar a barriga inchada logo após a sua ingestão. Isto pode
ser um sinal de sensibilidade ou intolerância ao glúten. Um estudo italiano
mostrou que 87% das pessoas com suspeita de sensibilidade não-celíaca ao glúten
têm distensão abdominal ao consumir alimentos com glúten, como o pão. Além de
feijão, lactose e glúten, há frutas, legumes e cereais que podem produzir gás,
dependendo da reação individual.
Gases podem
sinalizar distúrbios gastrointestinais
A produção de gases é uma parte natural
do processo digestivo. O excesso de gás e alteração no cheiro podem indicar
potenciais problemas de saúde. Uma pessoa saudável libera gás entre 12 a 25
vezes por dia e, quando há algum problema digestivo, pode chegar a 50 vezes.
Inchaço abdominal por gases é um dos problemas mais comuns em pessoas com
distúrbios gastrointestinais. Vários fatores, incluindo modificações da
microbiota (flora intestinal), motilidade intestinal alterada, respostas
viscerais anormais, dieta inadequada e fatores psicológicos, têm sido sugeridos
como possíveis mecanismos de flatulência.
Alterações na
flora intestinal e doenças
A formação de gases resulta da atividade
metabólica da microbiota intestinal, especialmente no processamento de
carboidratos. Alterações na quantidade e na composição dos gases podem
sinalizar um desequilíbrio na fisiologia intestinal (disbiose),
doenças do aparelho digestivo, processos
inflamatórios, redução na produção de enzimas digestivas, má absorção
intestinal. Os problemas de saúde que mais causam aumento da flatulência com
mau cheiro são má digestão (dispepsia), gastroenterite, intolerância à lactose,
má absorção de carboidratos, doença de Crohn e síndrome do intestino
irritável.
Dieta adequada
Além da intervenção medicamentosa quando necessário, há
recursos terapêuticos que incluem modificação da dieta e modulação da
microbiota (administração de bactérias probióticas). Comece eliminando os
alimentos produtores de gás (FODMAPs - veja adiante) de acordo com a
sensibilidade individual, e dê ênfase a alimentos ricos em pré e probióticos. O
uso de enzimas digestivas pode ser de grande
ajuda, assim como suplementar lactobacilos e bifidobactérias.
Alimentos
FODMAP aumentam a produção de gases
FODMAP, sigla para Oligossacarídeos, Dissacarídeos, Monossacarídeos e Polióis Fermentáveis, são tipos de açúcares encontrados em uma grande
variedade de alimentos, e podem ser de difícil absorção pelo
intestino delgado para algumas pessoas. Mal digeridos, eles vão parar no
intestino grosso onde são fermentados por bactérias, produzindo muitos gases e
dor. Diversos estudos mostram que os FODMAPs contribuem para os sintomas
associados à síndrome do intestino irritável.
Alimentos com
alto FODMAP
A lista de alimentos com alto FODMAP é grande, sendo os
principais leite (de vaca, cabra ou ovelha), sorvete, iogurte, queijo fresco e
cremoso (ricota, cottage, cream cheese); soja e leite de soja; pães, massa,
bolos e biscoitos contendo trigo e centeio; cebola, alho, beterraba, brócolis,
repolho, couve, alho-poró, quiabo, couve-flor, alcachofra, aspargo; ervilha,
grão de bico, feijão, lentilha; maçã, pera, pêssego, manga, melancia,
nectarina, cereja, abacate, frutas secas; mel, frutose, xarope de milho,
adoçantes manitol, sorbitol, xilitol.
Sensibilidade
individual
É importante lembrar que cada pessoa tem a sua
sensibilidade particular a algum tipo de carboidrato, seja ele oligo, di ou
monossacarídeo. O procedimento consiste em retirar os alimentos ricos em FODMAP
por 6 a 8 semanas, e é possível observar uma melhora dos sintomas já na primeira
semana. Após a dieta de exclusão, faz-se a reintrodução dos alimentos de forma
gradual, para avaliar a tolerância individual. Esta informação pode ser usada para criar uma dieta personalizada, menos
restritiva.
Alimentos com baixo FODMAP
A lista de alimentos com baixo FODMAP é bem generosa: leite e iogurte sem lactose, leite vegetal (de
coco, de amêndoas, de arroz), manteiga, queijos curados (cheddar, parmesão,
brie, camembert); farinhas, pães, macarrão e biscoitos sem glúten, farinha de
milho, farinha de mandioca, farelo de aveia, quinoa, arroz, tapioca; cenoura,
aipo, milho, berinjela, pepino, abóbora, abobrinha, alface, tomate, espinafre,
batata, batata-doce; banana, abacaxi, melão, kiwi, limão, laranja, tangerina,
morango, maracujá, uva, amora, carambola; melado, stévia.
Síndrome do intestino irritável
A síndrome do intestino
irritável (SII) é uma condição comum que afeta negativamente a qualidade de
vida, com intensa produção de gases causando dor e distensão abdominal. A
grande maioria dos pacientes com SII associa seus sintomas com o ato de comer.
Numerosos ensaios randomizados e controlados sugerem que a restrição de
alimentos com alto FODMAP melhora os sintomas em mais da metade dos portadores
de SII. Os dados sugerem que dietas com eliminação de glúten também podem ser
benéficas para estes pacientes.
Texto elaborado por: Dra. Tamara Mazaracki.
Título de Especialista em Nutrologia –
Associação Brasileira de Nutrologia;
Membro Titular da ABRAN – Associação Brasileira de
Nutrologia;
Pós-graduação em Medicina Ortomolecular, Nutrição
Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE – Faculdade de Ciências da Saúde de São
Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia;
Pós-graduação em Medicina Estética – Instituto
Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
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Society of Intestinal Research – GI Society
*Gut 2014. Anal gas evacuation & colonic microbiota
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*Korean J
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*Eur Rev Med Pharmacol
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*Gastroenterology 2018. Effects of Prebiotics vs a Diet Low in
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*Nutrition In Clinical
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*J
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*Expert
Rev Gastroenterology & Hepatology 2018. The role of diet in the
management of irritable bowel syndrome: a focus on FODMAPs.
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