A dieta paleolítica
existe há mais de 15 mil anos quando nossos ancestrais viviam em cavernas, não
tinham cozinhas nem supermercados e obtinham sua comida principalmente da caça
e coleta, ou seja, a alimentação era muito diferente da que temos hoje, com massas,
produtos industrializados e uma infinidade de opções.
Pesquisas nos campos da
biologia, bioquímica, oftalmologia, dermatologia e muitas outras disciplinas
indicam que é a dieta moderna, cheia de comidas refinadas, gorduras trans e
açúcar, como raízes de doenças degenerativas tais como obesidade, câncer,
diabetes, doenças do coração, Parkinson, Alzheimer, depressão e infertilidade.
Quem ressuscitou esses
princípios foi o biólogo e ex-atleta norte-americano Mark Sisson. Ele prega um
estilo de vida da Idade da Pedra, que inclui não só mudanças na alimentação,
como também no dia a dia, insistindo para as pessoas trabalharem em pé, se
movimentarem mais e até mesmo andarem descalças por aí.
Porém, esses
comportamentos devem ser vistos com muito cuidado, afinal, nosso ambiente e
nossa rotina do século atual em nada se parece com época paleolítica.
CARNES
A carne proveniente de
todos os tipos de animais era a base da alimentação no período Paleolítico.
Realmente, o consumo adequado delas é importante. Elas são fontes de nutrientes
de extrema importância na nossa alimentação uma vez que fazem parte da
composição muscular e recuperação dos tecidos, além de ser substrato para
produção de hormônios, enzimas, anticorpos e outros agentes metabólico. E são
nas carnes que estão concentradas as maiores quantidade de aminoácidos
essenciais, aqueles que não produzimos naturalmente em nosso organismo. Cuidado: é preciso tomar cuidado com
esse "à vontade". Proteínas em excesso podem causar
efeitos colaterais, como a retirada do cálcio dos ossos, a acidificação do
sangue e uma sobrecarga nos rins. O limite indicado pela OMS é o consumo de no
máximo 30% das nossas calorias diárias corresponder à proteína. Uma conta mais
fácil de adotar é consumir ao dia dois gramas de proteínas a cada quilo que
você pese no máximo. E vale lembrar que a quantidade de proteína não equivale
ao peso total do alimento. Um bife de contrafilé de 100 gramas possui 30 gramas
do nutriente, por exemplo. Além disso, é preciso tomar cuidado com a qualidade
da proteína escolhida. As carnes vermelhas têm um índice alto de gordura
saturada, dependendo do corte, e estudos relacionam seu consumo com o aumento
da incidência de câncer.
GRÃOS E MASSAS
Como não havia cozinha
na época e os homens ainda não plantavam trigo, milho, arroz, por exemplo, eles
moíam e misturavam grãos no período paleolítico, as massas não existiam e,
portanto, são naturalmente excluídas da dieta. Por isso, as fontes de
carboidratos se tornam as naturais como os legumes, verduras e frutas, que nos
trazem a quantidade que precisamos desse macronutriente e uma boa quantidade de
fibras, tendo um menor índice glicêmico do que as massas.
Cuidado: os carboidratos em alta podem atrapalhar o emagrecimento de
diversas maneiras. Eles se convertem em glicose na digestão, que dá energia ao
nosso corpo e é levada às células pela insulina. Quando a glicose está
sobrando, ela é convertida em triglicérides, uma energia armazenada para mais
tarde, mas que se não usada, se acumula na forma de gordura localizada, os
famigerados "pneuzinhos". Pesquisas mostram que a insulina também
inibe a quebra da gordura dos adipócitos (lipólise), causando aumento de peso.
Portanto essa é uma boa idéia para ser aplicada, desde que de forma correta,
aumentando bastante o consumo de frutas e verduras para compensar, afinal a
falta de carboidrato pode causar náuseas, dores de cabeça, tonturas e fraqueza.
VEGETAIS E FRUTAS À VONTADE
E já que eles são a
principal fonte de carboidratos nessa dieta, vale sim seguir essa recomendação
e encher o prato com frutas e verduras, inclusive para equilibrar o
seu consumo com as carnes. Mas fique de olho para não cometer abusos, seguindo
esse pilar à risca demais: a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o
consumo de no mínimo cinco porções (400g) de ambos os itens ao dia. As frutas
são mais perigosas, pois acabam sendo mais calóricas do que os vegetais. Vale
lembrar que esses alimentos devem ser consumidos crus, pois assim eles
conservam suas propriedades e suas fibras, ajudando na saciedade e
consequentemente causando a perda de peso pela menor ingestão de alimentos.
SEM MEDO DAS GORDURAS
Na Idade da Pedra,
ninguém estava muito preocupado com o tipo de gordura que estava sendo
ingerido. E esses itens realmente são importantes para o organismo, por isso
elas não devem ser cortadas totalmente da dieta. Mas trazer esse tipo de
comportamento para os dias de hoje, como prega Mark Sisson, liga a luz vermelha
de alerta de nossos especialistas. A OMS preconiza que o consumo total não
ultrapasse 30% das calorias diárias, sendo no máximo 10% de saturada.
Entre elas, as gorduras
mais importantes são as insaturadas, que trazem o efeito de reduzir o
colesterol LDL, considerado ruim quando em grande quantidade, além de aumentar
o HDL, conhecido como colesterol bom. Temos basicamente as gorduras animais e
vegetais, e precisamos equilibrar o consumo das gorduras monoinsaturadas (encontrada
no azeite de oliva, castanhas e nos peixes), as poli-insaturadas (cuja
principal fonte nessa dieta são os peixes) e a saturada (presente nas carnes).
As últimas estão relacionadas ao aumento do colesterol, o que pode causar
problemas cardiovasculares. Por isso, se a idéia é comer como nossos
ancestrais, é mais garantido sim ficar de olho nas gorduras e priorizar o
consumo de peixes, principalmente os de águas profundas como sardinha, atum e
bacalhau, e de oleaginosas, como castanhas, nozes, pistache, amêndoas e
amendoim.
ÁGUA
O Período Paleolítico
foi a época em que os primeiros utensílios foram criados, e nenhum deles
ajudava na cozinha. Portanto, a bebida principal era a forma realmente mais
natural de hidratação. Consumir apenas esse líquido não tem desvantagens
segundo os especialistas, à maior dificuldade talvez seja gustativa, já que a água não tem sabor. Mas
apenas ela já é o suficiente para a hidratação do nosso organismo, que precisa
da água para diversas funções. E, do ponto de vista nutricional, acaba sendo
uma vantagem consumi-la com mais frequência do que outros itens. De uma maneira
indireta, você reduz a quantidade de calorias que poderia ingerir numa bebida,
por exemplo, algo que nem sempre é computado ao pensar no valor energético das
refeições.
INDUSTRIALIZADOS PROIBIDOS
A maioria dos alimentos industrializados possui carboidratos refinados como farinha
e açúcar branco na composição, considerados alimentos de alto índice glicêmico,
e com baixo teor de fibras, ou seja, quando são ingeridos estes alimentos são
rapidamente absorvidos pelo organismo através da ativação de grande quantidade
de insulina. A desvantagem desse processo, além de evitar a quebra das
gorduras, é que o organismo comece a ficar resistente a esse hormônio, e isso
ocasiona uma resistência à insulina, condição associada à
pré-diabetes. Além disso, há a grande quantidade de compostos químicos
presentes nesses produtos, como corantes, conservantes e estabilizantes, que em
grandes quantidades intoxicam nosso corpo e podem causar alergias. Um detalhe
importante: tudo isso vale não só para alimentos como para as bebidas também.
Cuidado: Sabemos que na sociedade em que vivemos é praticamente
impossível abolir os industrializados do dia a dia e que também há produtos de
ótima qualidade no mercado, mas também vale ponderar que o consumo em excesso
pode ser nocivo ao organismo.
JEJUM
Mark Sisson prega o
jejum, provavelmente inspirado na dificuldade que os homens do Paleolítico
tinham de encontrar comida todos os dias. O indicado na dieta é ficar de 16 até
24 horas sem ingerir nenhum alimento.
Cuidado: O ideal é mantermos índices estáveis de glicose para o corpo
ficar bem. O jejum prolongado pode causar hipoglicemia, dificuldade de
concentração, perda de massa muscular, entre outros males. Normalmente nosso
corpo tende a consumir os músculos para conseguir energia, o que causa ainda
mais problemas para o organismo. Temos como metabólitos finais da degradação
muscular a formação de ácido úrico, uréia e amônia, compostos tóxicos ao
organismo que podem levar a sobrecarga renal e hepática.
Ela é a salvação? Nem
tanto!
Diante de um mal que
mata cerca de três milhões de pessoas por ano, alguns especialistas se mostram
reticentes sobre qualquer coisa apontada como milagrosa. A obesidade é uma
doença e deve ser tratada com seriedade, não pode ser encarada como um estilo
de vida.
A Dieta Paleolítica tem
uma proposta interessante, mas não é a salvação. Como todas as dietas, não é
solução definitiva se não houver bons hábitos e qualidade de vida. Não tem
milagre: além da alimentação, devíamos imitar nossos ancestrais nos exercícios
físicos e também no quesito gula: comer apenas para saciar a fome! A Dieta
paleolítica , tem alguns conceitos interessantes , mas sempre é importante
adequar às necessidades considerando a
individualidade.
Texto elaborado por: Dra. Roseli Lomele Rossi - CRN 2084
Nutricionista
formada pelas Faculdades Integradas São Camilo (CRN 2084 /1983), com título de
Especialista em Nutrição Clínica concedido pela ASBRAN - Associação Brasileira
de Nutrição. Pós Graduada nos cursos de especialização de Planejamento,
Organização e Administração de Serviços de Alimentação; Fitoterapia Aplicada à
Nutrição Funcional e Nutrição Ortomolecular com Extensão em
Nutrigenômica.
É
Diretora da Clínica Equilíbrio Nutricional e autora dos Livros: "Saúde
& Sabor com Equilíbrio" - Receitas Infantis, “Saúde & Sabor com
Equilíbrio” – Receitas Diet e Light Volumes I e II, Colaboradora do livro
Nutrição Esportiva – Aspectos relacionados à suplementação nutricional e autora
do Livro “As Melhores Receitas Light da Clínica Personal Diet”.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
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