O
termo metabolic programming ou programação metabólica foi introduzido na
literatura por Dörner em 1974. A programação metabólica é definida como a
indução, a deleção ou o prejuízo do desenvolvimento de uma estrutura somática
permanente ou o ajuste de um sistema fisiológico por um estímulo ou agressão
precoce, ocorrendo num período suscetível, resultando em consequências de longo
prazo para a função.
Alguns fatores que afetam a programação metabólica de forma negativa já são bem conhecidos, tais como a desnutrição maternal, o uso de glicocorticoides e diabetes gestacional. Tanto durante a gestação quanto 2 anos após o nascimento, a criança pode ser afetada e como consequência podem surgir, na vida adulta ou até na infância e adolescência, diversas doenças não transmissíveis, tais como obesidade, diabetes tipo 2, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares, entre outras.
Em contrapartida, estudos recentes têm demonstrado efeitos positivos de compostos bioativos e funcionais na programação epigenética, como é o caso dos fitoesterois presentes em legumes, cereais, sementes, brócolis, cenoura, abacate, laranjas e óleos vegetais.
Rideout et al. (2015) estudaram ratas geneticamente modificados para apresentar hipercolesterolemia, e, alimentadas com dieta rica em colesterol com ou sem suplementação de fitoesterois e os efeitos nas respectivas proles. Os autores verificaram que as proles das ratas suplementadas com fitoesterois apresentaram -25% no total de colesterol, -47% no LDL-c e -41% nos triglicerídios comparado aos filhotes cujas mães não receberam a suplementação.
Além disso, estudo recente, realizado por Tarry-Adkins e colaboradores, em 2014, demonstrou que ratos com baixo peso ao nascer e crescimento rápido de recuperação está relacionado com menor concentração de Coenzima Q10 (CoQ10) no tecido aórtico e nos leucócitos, e que esta deficiência leva a problemas cardiovasculares devido ao mecanismo de estresse oxidativo aumentado e encurtamento dos telômeros acelerado. Os autores mostraram que a suplementação precoce de CoQ10 (1mg/kg de peso corporal) reverteu estes efeitos.
Já é
bem estudado o efeito da suplementação de ômega 3 e consumo de peixes ricos
neste ácido graxo entre mães sobre o desenvolvimento cognitivo dos bebês e a
melhora nos parâmetros de desenvolvimento motor e intelectual. Porém, alguns
estudos alertam para a contaminação de mercúrio e o malefício que o ômega 3
contaminado ou apenas em excesso, consumido pelas gestantes e lactantes, pode
trazer nestes parâmetros em seus filhos.
Deve-se haver atenção ao que se consome e quanto se consome durante a gestação e lactação, pois alguns alimentos e compostos bioativos considerados benéficos, em excesso podem ser maléficos aos filhos de gestantes e lactantes.
Neste sentido, há a hipótese de que a ingestão excessiva de linhaça durante a lactação materna poderia induzir várias disfunções metabólicas em prole adulta. Estudo brasileiro, publicado em setembro (2015) na revista British Journal of Nutrition, testou o uso de linhaça (25% da dieta) em ratas lactantes e sua influência na função adrenal dos filhos adultos.
Foram avaliados o peso corporal e a ingestão de alimentos durante o desenvolvimento, corticosteronemia, conteúdo de catecolaminas adrenal, colesterol hepático, conteúdo de triglicerídios e de glicogênio, e a expressão da proteína de hormônio liberador de corticotropina (CRH), hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), 11-β-hidroxiesteroide desidrogenase tipo 1 (11β-HSD1) e receptor β2 de adrenalina em 180 dias pós-natal.
Após o desmame, os filhotes do grupo Linhaça tiveram um peso corporal superior (10%) e maior ingestão de alimentos (10%). Após 180 dias de vida, a prole do grupo experimental exibiu maior concentração de corticosterona sérica (48%) e menor conteúdo de catecolaminas adrenal (-23%), menor conteúdo de glicogênio (-30%), maior de colesterol (aumento de 4 vezes) e triglicerídios (3 vezes de aumento ) e maior expressão de 11β-HSD1 (62%) hepáticos.
Embora, a expressão da proteína de CRH hipotalâmico não tenha sido afetada, o grupo Linhaça teve menor expressão pituitária de ACTH (-34%). Por conseguinte, a indução de hipercorticosteronemia por linhaça alimentar durante a lactação pode ser devido a uma ativação hepática aumentada de 11β-HSD1 e supressão de ACTH. As alterações no conteúdo de gordura no fígado do grupo da linhaça são sugestivas de esteatose, na qual a hipercorticosteronemia pode desempenhar um papel importante. Assim, os autores recomendam que as mulheres que amamentam restrinjam a ingestão de linhaça durante a lactação.
Você pode entender melhor sobre os marcadores adrenais relacionados à síndrome metabólica acessando o link deste artigo: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3427643/
As informações
contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Meuer, MC, Rocha, GDW. Alimentos do Verão.
Instituto Ana Paula Pujol. Disponível em: www.institutoanapaulapujol.com.br Acessado
em: 13/12/2016.
Rideout, T.C. et
al. Maternal Phytosterol Supplementation during Pregnancy and Lactation
Modulates Lipid and Lipoprotein Response in Offspring of apoE-Deficient Mice.
J. Nutr. vol. 145 no. 8 1728-1734 August 1, 2015. http://jn.nutrition.org/content/145/8/1728.long
Tarry-Adkins JL, Fernandez-Twinn DS, Chen J-H, et al. Nutritional programming of coenzyme Q: potential for prevention and intervention? The FASEB Journal. 2014;28(12):5398-5405. doi:10.1096/fj.14-259473.
Mariana Sarto Figueiredo, Ellen Paula Santos da Conceição, Elaine de Oliveira, Patricia Cristina Lisboa and Egberto Gaspar de Moura (2015). Maternal flaxseed diet during lactation changes adrenal function in adult male rat offspring. British Journal of Nutrition, 114, pp 1046-1053. doi:10.1017/S0007114515002184.
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