segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Gordura Marrom, Branca e Bege


Quanto mais a ciência avança, mais percebemos a complexidade da máquina humana. Antigamente conhecíamos só um tipo de gordura corporal, porém atualmente sabemos que há três tipos distintos, com diferentes ações no metabolismo, na saúde e na doença. Muito além da gordura branca, os cientistas pesquisam como manter e ativar a gordura marrom e a gordura bege, fundamentais no equilíbrio da temperatura do corpo, balanço energético e controle de peso. Estas gorduras têm funções metabólicas específicas, como regulação neuronal, imunológica e hormonal, e exercem um papel na obesidade e no desenvolvimento de doenças como o diabetes. A compreensão das características das diversas gorduras humanas está evoluindo, porém ainda há muitos mecanismos a serem elucidados.

Gordura branca

Quando pensamos em gordura corporal visualizamos a gordura branca que se acumula na barriga e em outras partes do corpo. Ela exerce funções fisiológicas como manutenção da temperatura corporal, estoque de energia para uso futuro e produção de hormônios, como estrogênio, leptina e adiponectina. O excesso de gordura branca causa alterações metabólicas associadas com a obesidade, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e inflamação.

Gordura marrom

Uma gordura menos conhecida, a gordura marrom, é muito diferente da versão branca, e sua característica mais marcante é a termogênese, ou produção de calor com queima de calorias da reserva de gordura branca. Estruturalmente o tecido adiposo marrom é ricamente vascularizado e possui um número extraordinário de mitocôndrias (o que torna a gordura escura com um tom marrom-avermelhado), enquanto o tecido adiposo branco possui somente um vaso para cada célula e um numero escasso de mitocôndrias. Ao contrário da gordura branca, que armazena calorias, a gordura marrom, repleta de mitocôndrias, queima energia para produzir calor. No adulto, a gordura marrom pode se distribuir em diminutas quantidades na região da nuca, nas costas entre as escápulas, seguindo a coluna vertebral, e internamente nas vísceras abdominais e rins.

Gordura bege

Recentemente foi identificado um terceiro tipo de gordura, que vem merecendo intensa investigação por sua capacidade de queimar glicose e gordura para produzir calor. A gordura bege está presente no tecido adiposo branco com um fenótipo (ou característica) de gordura branca, e quando estimulada adquire um fenótipo de gordura marrom, levando a uma termogênese aumentada. Este fenômeno é conhecido como “dourar” ou “escurecer” (browning) e ocorre nos depósitos de gordura subcutânea. Resumindo, ela é originária da gordura branca, porém com maior número de mitocôndrias, capacidade de adaptação para produzir termogênese e apresenta genes que estimulam a lipólise (quebra de gordura acumulada).

Mitocôndrias e energia

Mitocôndrias são as usinas de energia das células. Quanto mais mitocôndrias, mais energia é produzida. Ela está presente em todas as células do corpo, com exceção dos glóbulos vermelhos. A gordura marrom/bege é rica em mitocôndrias, que aumentam a capacidade de produzir calor (termogênese) queimando calorias que vêm da gordura branca armazenada no corpo.

Termogênese

A termogênese é uma atividade que inclui uma série de reações bioquímicas e metabólicas. O produto final é a geração de calor no corpo. Isto pode ser bem observado em animais em hibernação - porque os ursos não congelam enquanto dormem nos meses de inverno? A produção de calor a partir dos amplos depósitos de gordura branca mantém seus corpos aquecidos. Pessoas idosas têm uma tendência maior a sentir frio, pela deficiência de gordura marrom e de termogênese, enquanto crianças e jovens, com maior percentual de gordura marrom, são mais resistentes a baixas temperaturas. Pessoas que moram em países frios desenvolvem adaptação às baixas temperaturas pelo mesmo mecanismo, a ativação da termogênese no tecido adiposo marrom pelo frio.

Comida e termogênese

O processo de termogênese também ocorre após cada refeição, porém neste caso as calorias usadas para a produção de calor vêm dos alimentos e não da gordura branca. Se você comer um prato caprichado em pimenta vermelha vai sentir calor e até suar, e isto se deve ao potente efeito termogênico da capsaicina. Além das pimentas, há outros alimentos com efeito termogênico, como gengibre, guaraná, café, mate, chá verde e preto.

Proteína desacopladora

Diversos estudos recentes têm demonstrado que a ativação de gordura marrom/bege no adulto leva à redução da gordura branca acumulada. Durante muito tempo acreditou-se que o adulto não teria uma quantidade suficiente de gordura marrom para queimar calorias e produzir uma redução significativa no percentual de gordura corporal, porém este conceito mudou quando se descobriu a proteína desacopladora (UCP1), presente nas mitocôndrias da gordura marrom. Também conhecida como termogenina, esta proteína torna a gordura marrom diferente de todos os outros tecidos corporais. Ela é responsável pela série de eventos bioquímicos que transformam calorias em energia, que pode ser usada pelas células em seu trabalho metabólico ou simplesmente dissipada como calor.

Ativando a gordura marrom/bege

Diversas intervenções de comportamento podem ajudar no aumento do percentual de gorduras termogênicas. Exposição crônica ao frio ativa a gordura marrom/bege, promove a perda de peso e melhora a sensibilidade à insulina em seres humanos, A prática de exercício físico aumenta a formação de gordura bege a partir dos depósitos de gordura branca. Estudos mostram que o jejum intermitente promove a produção de gordura bege, assim como evitar excesso de calorias e comer de forma regrada. A gordura marrom/bege pode ser modulada por alguns alimentos e suplementos, os chamados termogênicos.

Regulando o peso corporal

Quanto mais ativa a gordura marrom/bege, mais fácil é manter o peso ideal. Em outras palavras, a produção de calor pela gordura marrom/bege é o fator que regula o peso corporal.  Muitas pessoas ingerem poucas calorias, praticam atividade física e continuam acumulando gordura corporal, com grande dificuldade para perder peso - variações genéticas podem influenciar os resultados destas intervenções. Na verdade, dietas muito restritivas baixam mais ainda a eficiência da termogênese. Pessoas magras apresentam um aumento de 40% na produção de calor após uma refeição. Em pessoas obesas este aumento alcança somente 10%. As calorias que não são gastas no processo de termogênese acabam sendo armazenadas em forma de gordura.

Nutrientes termogênicos

Diversos compostos atuam como indutores nutricionais de gordura marrom/bege, com múltiplos mecanismos de ação. Dentre os mais estudados estão a capsaicina, canela, curcumina, quercetina, resveratrol, cafeína, chá verde, berberina, gengibre. Além disso, extratos vegetais, como a menta, também contribuem para “dourar” a gordura branca e transformá-la em gordura bege. Estudos mostram que alguns tipos de lipídios, como o ômega-3, azeite e óleo de coco podem impulsionar a gordura bege e marrom. 

Texto elaborado por: Dra. Tamara Mazaracki.

Título de Especialista em Nutrologia –  Associação Brasileira de Nutrologia;

Membro Titular da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia;

Pós-graduação em Medicina Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE – Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia;

Pós-graduação em Medicina Estética – Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:

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