A
deficiência crônica de nutrientes por uma dieta inadequada pode afetar a função
cerebral e provocar sintomas de demência. Ômega 3, vitaminas D3, C, E, complexo
B com ênfase em B12 e folato, colina, magnésio, selênio, probióticos,
polifenóis e muitos outros estão diretamente implicados nos processos mentais.
Uma dieta equilibrada, como a mediterrânea, está associada com a redução do
declínio cognitivo. O excesso de açúcar e de produtos industrializados atua
negativamente na saúde do cérebro. Dezenas
de pesquisas recentes confirmam a ação positiva da alimentação na prevenção da
degeneração cerebral.
Dieta e volume cerebral: Um estudo recém-publicado pela Academia
Americana de Neurologia concluiu que a melhor qualidade da dieta está
relacionada com maior volume cerebral, incluindo matéria cinzenta, substância
branca e volume hipocampal. O hipocampo é a área do cérebro responsável por
todos os tipos de memória, e quanto maior, mais eficiente será. Uma alta
ingestão de legumes, frutas, grãos, nozes, laticínios, ovos e peixes, e baixa
ingestão de açúcar e bebidas açucaradas (sucos e refrigerantes), foi associado
com um cérebro mais volumoso e saudável.
Associação de alimentos
e nutrientes: Uma
pesquisa publicada no Journal of Alzheimers Disease comprovou que as vitaminas
do complexo B eram bastante eficazes em frear o declínio cognitivo nos
participantes que tinham níveis elevados de ômega-3. No entanto, o complexo B
apresentou pouco efeito naqueles com níveis baixos de ômega-3, e isto demonstra
que a associação de nutrientes potencializa o seu efeito. Estudos mostram que
DHA (um tipo de ômega-3) é capaz de evitar o encolhimento cerebral que ocorre
no envelhecimento: nós perdemos até 0,4% de massa cinzenta por ano. Para
prevenir a ocorrência de demência é importante o conjunto: uma boa alimentação
é o fator número 1, porém a suplementação de nutrientes específicos ajuda a
manter a máquina cerebral ativa.
Cérebro doente: A ocorrência de doenças cerebrais está
aumentando. Atualmente cerca de 20% dos adultos sofrem de algum transtorno
mental, e este número está crescendo. A depressão é a principal causa de
incapacidade em todo o mundo. A ansiedade afeta milhares de pessoas. Segundo a
Alz.Org/Alzheimer’s Association, o mal de Alzheimer mata um em cada três
idosos, mais do que câncer de mama e de próstata juntos. A estatística revela
que em 30 anos as mortes causadas por doença cerebral aumentaram 66% nos homens
e 92% nas mulheres!
Alimentação balanceada: A vitalidade dos neurônios, o bom humor e a
memória afiada vêm da associação de uma variedade de alimentos com ação
antioxidante e anti-inflamatória, o que ajuda a frear a degeneração dos
neurônios e protege o cérebro. Diversos problemas da esfera cerebral, como
demência, ansiedade, depressão, síndrome do pânico e autismo, podem ser
reduzidos ou controlados com uma alimentação adequada. Estudos sugerem que compostos encontrados no
chá verde, café, cúrcuma, peixes, azeite, abacate, sementes, óleo de coco,
mirtilo e outras berries (frutinhos vermelhos), ajudam a retardar o declínio da
função cerebral, ajudando na prevenção de demência senil, Parkinson e
Alzheimer. Muitos nutrientes estão envolvidos na saúde dos neurônios e abaixo
segue a lista dos principais.
Ômega-3 : Os ácidos graxos do tipo ômega-3 agem na comunicação entre as células
do sistema nervoso e na fluidez das membranas celulares dos neurônios, e assim,
afetam a nossa capacidade de pensar, aprender e memorizar. Ômega-3 protege
contra a formação da placa beta amiloide (neurônios embolados e disfuncionais)
associada com a doença de Alzheimer. Pesquisas mostram que quanto maior o
consumo de peixe por uma população, menor é a incidência de depressão. Fontes:
peixes ricos em gordura (salmão, atum, sardinha, cavala), frutos do mar (ovas e
ostras), chia, linhaça e nozes.
Proteínas e Aminoácidos: O cérebro depende de quantidades adequadas de
aminoácidos para que todas as intrincadas funções de crescimento neuronal,
reparação e manutenção sejam efetuadas. Estes aminoácidos são obtidos através
das proteínas ingeridas. O cérebro precisa destes elementos para produzir
neurotransmissores, substâncias que fazem a comunicação entre os neurônios,
melhorando a memória e ajudando a prevenir a degeneração cerebral. Fontes:
carne, peixe, aves, ovos, laticínios, feijões, quinoa.
Colina e ovos: A colina, um componente do complexo B, é
importante para a memória na idade adulta, pois protege as membranas celulares
do sistema nervoso. É importante consumir alimentos ricos em colina para
preservar os neurônios, e para aumentar a produção de acetilcolina, um
neurotransmissor que melhora o poder cerebral, incluindo memória, capacidade de
aprendizagem e humor. Coma ovos inteiros: a clara contém 0.4 mg de colina,
enquanto a gema, que muitos jogam fora, contém preciosos 116 mg de colina. Ovo
NÃO aumenta o colesterol – centenas de estudos comprovam este fato. Outras
fontes: fígado, iogurte, leguminosas (feijões, lentilha, grão de bico),
sementes oleaginosas.
Vitamina E: Incluir alimentos ricos em antioxidantes pode evitar a perda de memória
e a demência. A ação da vitamina E na proteção dos neurônios tem um papel
importante no envelhecimento neurológico saudável. Os indivíduos com alta
ingestão de vitamina E apresentam um declínio cognitivo menor. Ela pode ajudar
na prevenção ou na desaceleração de alterações neurodegenerativas como
Alzheimer e Parkinson. Em vez de suplementar com cápsulas, prefira ingerir
amêndoas e sementes de girassol, as melhores fontes desta vitamina. Outras
fontes: óleo de palma (dendê), espinafre, couve, amendoim, abacate, azeite,
frutos do mar.
Vitamina C:
Alimente seu cérebro com um dos mais potentes
antioxidantes da natureza, a vitamina C. De acordo com as pesquisas, quem tem
uma elevada ingestão de frutas ricas em antioxidantes está menos propenso a
perder as faculdades mentais à medida que envelhece, preservando a memória por
mais tempo. Fontes: laranja, limão, acerola, tangerina, melão, morango,
maracujá, goji berry, framboesa, mirtilo, goiaba, kiwi, abacaxi, tomate,
brócolis, pimentão, batata-doce, broto de alfafa, pepino.
Polifenóis: Um estudo publicado pela University
of Cincinnati encontrou resultados positivos na capacidade cognitiva de
idosos que consumiram suco de uva diariamente, devido aos polifenóis presentes
nas uvas. Muitas pesquisas publicadas recentemente demonstram os efeitos
protetores dos polifenóis sobre o tecido nervoso, ajudando a prevenir a
neurodegeneração e a inflamação no tecido cerebral. Os polifenóis,
principalmente o resveratrol, agem reduzindo a substancia amiloide, associada
às alterações degenerativas do cérebro. Fontes: uva, açaí, mirtilo, amora,
jabuticaba, framboesa, morango, cereja.
Zinco: O
zinco é um mineral que deixa o cérebro alerta, melhora a capacidade cognitiva,
reduz a fadiga cerebral e ajuda a organizar os pensamentos. Ele tem potente
ação antioxidante no cérebro, ajudando a prevenir o envelhecimento neuronal
causado pela ação dos radicais livres. Fontes:
frutos do mar, ostras, sementes oleaginosas (de abóbora e girassol), carne,
miúdos, peru, cogumelos, ovos, levedo de cerveja, grãos integrais, amendoim.
Selênio: Os estudos mostram que a deficiência de selênio no cérebro leva à
rápida redução da capacidade cognitiva nos idosos, e os portadores de mal de
Alzheimer têm somente 60% do selênio presente nos indivíduos saudáveis. Fontes:
castanha-do-pará (campeã), carnes, peixes em geral incluindo sardinhas e frutos
do mar, aves, ovos, cereais integrais, semente de girassol e castanha de caju.
Cúrcuma: Suplementar a dieta com cúrcuma, por sua potente ação anti-inflamatória,
pode evitar o declínio cognitivo acelerado por processos inflamatórios
crônicos. Comer um grama de cúrcuma por dia melhora a memória recente em
pessoas idosas, de acordo com estudos atuais. A cúrcuma é capaz de impedir a
formação de compostos destrutivos (proteínas alfa-sinucleína) que estão
presentes no cérebro em doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer. Cúrcuma
tem sido chamada de superespeciaria, e há centenas de pesquisas comprovando a
sua ação antienvelhecimento e promotora da saúde mental.
Vitamina D3: A vitamina D3 é na verdade um hormônio. Ela
age como um anti-inflamatório neuronal, tonifica o cérebro e trata a perda de
memória ligada ao envelhecimento. A deficiência de vitamina D3 também está
ligada ao mal de Parkinson e à depressão. Nossa principal forma de obtenção de
vitamina D é pela ação dos raios solares sobre a pele. Fontes alimentares: a
melhor fonte é o óleo de fígado de bacalhau. Ovos, carne, peixe, leite integral
e manteiga contêm pequenas quantidades.
Complexo B: A deficiência de
qualquer uma das oito vitaminas que compõem a família B pode prejudicar a saúde
mental. O folato, B6 e B12 são particularmente importantes nos processos
mentais, pois ajudam a incrementar a produção de serotonina (ligada ao bem-estar),
além de agir na redução dos hormônios do estresse (cortisol e adrenalina).
Fontes: carne, ave, peixe, ovo, folhas verdes, abacate, batata-doce, sementes
oleaginosas, levedo de cerveja, leguminosas, grãos integrais, frutas.
Magnésio: O magnésio tem ação
antiestresse e ajuda a relaxar. Excesso de estresse contribui para a
neurodegeneração porque aumenta a produção de compostos com ação inflamatória.
Fontes: folhas verdes (brócolis, espinafre, couve), água de coco, tomate,
peixes, aveia, linhaça e arroz integral. A alface, além de magnésio, é rica em
lactucina, uma substância com grande ação calmante: pode caprichar na salada!
Probióticos: Diversos estudos
recentes ligam o tipo de microbiota (bactérias intestinais) com a ocorrência de
neurodegeneração. Quando o nível de boas bactérias no corpo está baixo, é mais
comum a ocorrência de problemas de humor como depressão e ansiedade, e as
bactérias erradas podem predispor ao mal de Alzheimer e Parkinson. Isto
acontece porque existe uma forte ligação entre o intestino e o cérebro – você
sabia que o seu intestino produz mais serotonina do que o seu cérebro? Fontes:
lactobacilos presentes no iogurte natural, kefir, kombucha e vegetais
fermentados, como chucrute, picles e azeitonas.
Nitratos: Alimentos com alto teor de nitrato podem ajudar a melhorar o fluxo
sanguíneo em áreas do cérebro envolvidas na função cognitiva, de acordo com
estudos recentes. O nitrato é convertido em óxido nítrico, um potente
vasodilatador. Quanto melhor a
circulação sanguínea no cérebro, menor a chance de desenvolver uma doença
degenerativa. Fontes: a melhor fonte de nitrato é o suco de beterraba. Outros
alimentos ricos são rúcula, alface, aipo, espinafre, agrião, cenoura, couve,
mostarda, alho-poró, salsa e nabo.
Suplementos: Todos os nutrientes citados acima podem ser
obtidos através da alimentação, mas isto não significa que a suplementação deva
ser descartada. Conforme envelhecemos, o sistema digestivo se torna menos
eficiente na absorção e metabolização dos nutrientes contidos na dieta. Além
disso, nem sempre a dieta ideal, perfeitamente balanceada, é seguida na rotina
diária. Ao menor sinal de sintomas mentais e problemas cognitivos, é importante
procurar o médico para fazer um exame e detectar qualquer deficiência nutricional.
Texto elaborado por: Dra. Tamara Mazaracki.
Título de Especialista em Nutrologia –
Associação Brasileira de Nutrologia;
Membro Titular da ABRAN – Associação Brasileira de
Nutrologia;
Pós-graduação em Medicina Ortomolecular, Nutrição
Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE – Faculdade de Ciências da Saúde de São
Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia;
Pós-graduação em Medicina Estética – Instituto
Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
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*J Alzheimers Disease 2016. Omega-3
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*Nutrients 2017. Performance and Health
Benefits of Dietary Nitrate Supplementation in Older Adults: A Systematic
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