A recorrência da doença e sua gravidade também podem indicar a presença
da síndrome da quilomicronemia familiar (SQF), uma doença rara e
subdiagnosticada.
Quando se fala em altas de taxas de
triglicérides (TGs), a primeira preocupação que surge, geralmente, é com
a saúde do coração. Porém, o excesso de gordura no sangue pode
danificar outros órgãos importantes para o funcionamento do corpo, como o
pâncreas. Hoje, a hipertrigliceridemia já é a terceira causa de
pancreatite, representando de 1 a 4% dos casos, precedida por etiologia
biliar e alcoólica. Em estágios iniciais, a inflamação no pâncreas pode
ser tratada de forma clínica, mas em situações graves, necessita de
monitoramento contínuo e, muitas vezes, apresenta prognósticos com altos
índices de letalidade.
Geralmente principal motivo para o
acúmulo de gordura no sangue é a alimentação inadequada e excesso de
peso. Entretanto, quando os resultados dos exames são muito maiores do
que os valores de referência, é preciso investigar a possibilidade de
uma doença rara, que afeta de uma a duas em cada um milhão de pessoas no
mundo, chamada síndrome da quilomicronemia familiar (SQF).
Normalmente
depois de ser absorvida pelo intestino e transportada no sangue, a
gordura dos alimentos é decomposta com a ajuda de uma enzima chamada
lipase lipoproteica. Em pessoas com SQF, essa enzima está disponível
apenas em quantidades muito pequenas ou não funciona adequadamente,
fazendo com que as gorduras dos alimentos não sejam metabolizadas e os
TGs se acumulem no sangue.
Com isso, nesses pacientes, as taxas
de triglicerídeos podem chegar a concentrações de até 10.000 mg/dL ou
mais, quando os níveis normais não deveriam passar de 150 mg/dL. Outros
sinais da doença são o aparecimento de xantomas (depósitos de gordura na
pele), a lipemia retinalis (aparência leitosa dos capilares da retina),
o aumento do fígado e baço.
Além de prejudicar os órgãos e
causar manifestações físicas, como dor abdominal generalizada, fadiga,
alterações gastrointestinais, entre outras, a SQF pode atingir também o
sistema cognitivo, gerando dificuldade de concentração, perda de memória
ou dificuldade para lembrar dos acontecimentos e julgamento
prejudicado.
Afeta, ainda, o emocional do paciente, que tem que
lidar com a incerteza constante sobre ter dores, cólicas ou pancreatite
aguda, entre outros, podendo causar depressão, ansiedade e isolamento
social.
Como na maioria das doenças raras, a jornada para o
diagnóstico pode ser longa. Por ter os mesmos sintomas aos de outras
doenças mais conhecidas, a tendência é de investigar patologias mais
comuns, antes de seguir para uma investigação genética mais aprofundada.
O diagnóstico pode ser feito por meio do exame clínico ou laboratorial.
No primeiro caso, o médico consegue identificar sinais como
hepatomegalia, que é o aumento anormal do tamanho do fígado; depósito de
gorduras na pele e, em alguns casos, na retina.
Os pacientes
com SQF, geralmente, precisam consultar vários profissionais de saúde e
fazer exames médicos laboratoriais frequentes, ao mesmo tempo em que
realizam mudanças drásticas no estilo de vida, principalmente na
alimentação, para conseguirem controlar os níveis de triglicerídeos.
SQF: saiba mais sobre essa doença rara
A
SQF é uma doença genética de herança recessiva, ou seja, é necessário
que tanto o pai quanto a mãe de um indivíduo afetado, tenham um gene
alterado; portanto, o risco de recorrência para a prole (os filhos) de
pais portadores (do gene alterado) é de 25% para cada gestação do casal.
Além disso, estima-se que a prevalência seja entre uma e duas em cada
um milhão de pessoas.
O diagnóstico da síndrome pode ser feito
por meio do exame clínico ou laboratorial. Em um exame de sangue é
possível avaliar a ausência ou deficiência da enzima LPL, assim como os
níveis de triglicérides. Além disso, pode ser solicitado também um exame
genético. Em geral, o diagnóstico é feito tardiamente por conta dos
sintomas bastante comuns e pela doença poder se manifestar em qualquer
idade. Logo, é importante que a população tenha conhecimento sobre ela e
fique atenta aos sinais.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
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