sexta-feira, 28 de junho de 2019

Dieta e Risco de Endometriose


A endometriose é uma doença hormônio-dependente, caracterizada por uma inflamação crônica que causa muita dor pélvica e impacta bem estar físico, mental, social e afeta muitas mulheres em idade fértil. Muitos gases abdominais, náuseas e vômitos, retenção ou urgência urinária, alergias e outras doenças relacionadas à imunidade também são relacionadas. Sim, é uma doença de caráter inflamatório, e a dieta é super importante para prevenir e controlar a evolução da doença.

O diagnóstico é feito pelo médico, através de exames como a laparoscopia, e o tratamento geralmente envolve terapias como acupuntura, massagens, exercícios, tratamento hormonal, medicação para dor e claro, mudança na dieta e estilo de vida! Há ainda muitos dados conflitantes na literatura, mas sabemos que o papel de alguns nutrientes no aparecimento e controle do processo inflamatório, e no bem estar geral do ser humano, e por isso, não podemos esquecer do papel da dieta nisso tudo!

A dependência estrogênica da doença é particularmente relevante aqui, e pesquisas mostram que a dieta e o excesso de gordura tem peso muito grande na incidência na endometriose, influenciando nos parâmetro inflamatórios, como o consumo de PCBs, inseticidas e pesticidas através da dieta.

PCBs: Bifenilos Policlorados, em geral conhecidos por PCB (do inglês polychlorinated biphenyl), podem interferir com hormônios da tireoide e ter grande impacto no desenvolvimento do sistema nervoso. Os organoestânicos – encontrados, por exemplo, em plásticos e revestimentos para piso – podem interferir no metabolismo do hormônio sexual masculino testosterona, impactando também à fertilidade masculina. Em macacas, os PCBs e as dioxinas causam endometriose, além de piorarem o quadro clínico em animais que já apresentam a doença. Outros estudos sugerem que os PCBs e as dioxinas poderiam aumentar o risco de endometriose em mulheres. As mulheres estão regularmente expostas a níveis de dioxinas significativamente superiores àqueles que provocam endometriose em macacas. Há diversas maneiras de se evitar o contato, converse com seu Nutricionista e Médico para saber mais.

Pesticidas: também chamados de praguicidas são todas as substâncias ou misturas que têm como objetivo impedir, destruir, repelir ou mitigar qualquer praga. Um pesticida pode ser uma substância química ou um agente biológico (tal como um vírus ou bactéria) que é lançada de encontro com as pragas que estiverem destruindo uma plantação, disseminando doenças, incomodando pessoas, etc. E vários trabalhos já mostraram perigo de seu uso nos consumidores. Como evitar o contato: Dê sempre preferência aos alimentos orgânicos e biodinâmicos.

Por isso, há alguns riscos pré citados que podem ser modificados, e que você pode começar o quanto antes!

Quanto ao peso, bem, alguns trabalhos já mostraram uma relação inversa entre o IMC (índice de massa corporal) e o risco da endometriose. Por isso, se você está acima do peso e/ou carrega uma gordurinha abdominal, a correção da dieta deve ser feita o quanto antes.

O que não pode faltar numa dieta protetora:

Folhas verdes e frutas: Trabalhos mostram relação inversa entre o consumo folhas verdes com o desenvolvimento da endometriose. As folhas verde escuras, em particular, são ricas em folato, metionina, vitamina B6, nutrientes envolvidos com o genoma nutricional – ajudam na expressão de genes e pode influenciar na metilação do DNA.

Peixes e outros alimentos fontes de ômega-3

Há dados conflitantes na literatura: alguns mostram efeitos protetores para endometriose, outros não viram associação. Interessantemente, a gordura do tipo ômega-3 atua na regulação de marcadores fisiológicos como as prostaglandinas e citocinas, mostrando relação no controle da liberação de marcadores do tipo inflamatórios (o que piorariam o quadro da endometriose). E por isso, deve-se levar em conta dentro de uma dieta pra esse fim.

Frutas cítricas: pela presença da vitamina C e outros bioflavonoides importantes

Cenoura, beterraba, batata doce, abóbora, tomate, etc: por serem fontes de betacaroteno (pró vitamina A), também tem seu papel no menor risco de endometriose. Claro, dê sempre preferência aos orgânicos.

Abacate, azeite de oliva e oleaginosas: ricas em diversos nutrientes protetores, em especial a vitamina E, um potente antioxidante, que combate á peroxidação lipídica (a agressão da camada de gordura que temos em todas as paredes de nossas células). Essa peroxidação contribui para o aparecimento e desenvolvimento de qualquer doença de caráter inflamatório, como a endometriose.

Derivados de leite: excelentes fontes de cálcio e vitamina D, trabalhos associaram inversão de risco para o desenvolvimento da endometriose com o consumo de derivados de leite, como queijo e iogurte.

A vitamina D e o cálcio possuem efeitos protetores dos mecanismos que promovem a doença. E sim, a deficiência de vitamina D (tão presente na prática clínica de consultório!) aumenta o risco para qualquer doença inflamatória, como a endometriose.

E quanto ás gorduras saturadas?

Poucos trabalhos foram feitos sobre esse consumo, mas um deles mostrou maior risco para desenvolvimento da endometriose quanto maior fosse o consumo de carne vermelha de carne vermelha (pela presença da gordura saturada), mas esses dados não foram confirmados por outros autores. Porém, sabe-se que uma dieta rica em carne vermelha tem associação com modesto aumento de estradiol e sulfato de estrona, o que tem impacto direto na manutenção da doença propriamente dita. Trabalhos não afirmaram nada sobre o consumo de manteiga. E em se tratando da gordura trans (gordura vegetal hidrogenada), geralmente encontrada em alimentos processados, tem impacto negativo na saúde de um modo geral. Em 2010, trabalho mostrou que mulheres que ingeriam gordura saturada tinham 48% maior risco para desenvolver endometriose. E claro, gordura trans são associadas com mais marcadores inflamatórios na circulação (como fator de necrose tumoral, IL-6 e proteína C reativa).

E quanto ás gorduras insaturadas?

Azeite de oliva, oleaginosas, óleo de canola, etc. são fontes de gorduras insaturadas, e possuem efeitos protetores diversos. Porém, ainda não se tem trabalhos conclusivos a respeito dessas gorduras na endometriose. Como nutricionista, acredito que o balanço entre as gorduras saturadas X insaturadas seja de grande importância para o balanço do organismo, e aqui em consultório, reforço o consumo disso em uma dieta, especialmente a do azeite de oliva, que fornece uma variedade de antioxidantes e micronutrientes que não encontramos em outros óleos, como o ácido oleico, potente antioxidante.

Pode tomar café?

Ufa! Trabalhos não confirmaram associação entre o consumo de café com aumento de risco pra endometriose. Mas vale ressaltar que o consumo de muito café, e outros alimentos fontes de cafeína, junto às refeições (como almoço e jantar), pode interferir na absorção de ferro e zinco, que são nutrientes protetores, e desenvolvem papel importante na saúde da mulher como um todo.

E a soja?

Muito consumida no Japão e outros países da Ásia, a soja possui um efeito estrogênio-simile que tem impacto no aparecimento e poderia piorar o quadro de quem apresenta endometriose. Porém, não há dados ainda confirmados em testes em humanos. Minha opinião? Evite ao máximo, exceto algumas vezes o consumo dos fermentados, como tempeh, natô e missô. 



Não há regra, há individualidade bioquímica! Por isso, consulte sempre seu Nutricionista, ok?

Texto elaborado por: Priscila Di Ciero

Nutricionista formada em 2001, sou pós-graduada em Nutrição Esportiva Funcional e estou em formação para obtenção da certificação do Functional Medicine Institute (USA). Sou self e professional Coach formada pelo IBC e certificada pelo Internacional Society of Sports Nutrition (USA). Atualmente curso pós-graduação em Fitoterapia e atendo em consultório particular na zona sul de São Paulo (SP).

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências bibliográficas:

Parazzini, Fabio, et al. Diet and endometriosis risk: A literature review. Reproductive BioMedicine Online (2013) 26, 323-336.

Rier S, Foster WG (2002). Environmental dioxins and endometriosis. Toxicol Sci;70(2):161–70.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Benefícios da Casca e Semente de Maracujá


Dono de uma flor exuberante (flor nacional do Paraguai) e de frutos aromáticos e saborosos, o maracujazeiro é típico de regiões tropicais. O fruto é usualmente consumido em sucos de frutas, in natura, sobremesas como mousses e até mesmo na típica caipirinha como substituto do limão.

O nosso país é um dos maiores produtores de maracujá do mundo com destaque para a região centro-norte. O termo Maracujá vem do tupi (mara kuya) e significa "fruto que se serve" ou "alimento na cuia". Já no inglês, “Passion Fruit” (fruto da paixão) o nome foi dado por ser uma das diversas espécies pertencentes ao gênero Passion flower (flor da paixão) termo este que advém literalmente do latim, Passiflora. O nome foi cunhado por missionários e faz referencia as características da flor, as quais lembram os sacrifícios (the Passion) de Cristo anteriormente a sua crucificação.

Seja a flor semelhante ou não, dependendo de sua fé, uma coisa é certa, o fruto do maracujazeiro pode ser considerado divino a nossa saúde.Dentre as inúmeras atividades biológicas advindas de seu consumo, a mais estudada é a sua atividade como antioxidante. A polpa deste fruto é rica em flavonoides e vitamina C, ambos potentes antioxidantes. Seu consumo já foi positivamente correlacionado com a prevenção de câncer, catarata, arteriosclerose e processos de envelhecimento em geral. Além dos antioxidantes a polpa deste fruto também contem carotenoides percursores de vitamina A e minerais. As partes externas a polpa do maracujá são ricas em fibras solúveis, vitamina B3, ferro, cálcio, fósforo e carboidratos. Lembrando que as fibras solúveis auxiliam na prevenção de doenças cardiovasculares, gastrointestinais, câncer de cólon, hiperlipidemias (colesterol alto), diabetes e obesidade.

Inclusive quando o gado teve sua ração suplementada como cascas de maracujá houve um aumento na produção de leite e redução de problemas digestivos. Em humanos, testes realizados com a farinha de casca de maracujá levaram a redução dos índices glicêmicos e colesterolêmicos no sangue. Apesar de não seriam agradáveis ao consumo às sementes do maracujá possuem em sua composição altos teores de proteína, fibras e também ácidos graxos essenciais, como o ácido linoleico (ω-6) e ácido linolênico (ω-3) nas proporções de 55-66% a 0,8-1%, respectivamente dependendo da espécie estudada. A semente do maracujá pode também ser utilizada como um potente vermífugo.

Por isso devemos lembrar que os alimentos em geral, como o maracujá, possuem um valor nutritivo como um todo, não apenas na polpa, mas também nas partes que normalmente são descartadas e desperdiçadas como cascas e sementes.

Mas e ai?! É verdade que o Maracujá pode ser utilizado como calmante?

Sim existem diversos estudos que indicam as propriedades ansiolíticas e sedativas principalmente presentes nas folhas do maracujá. Porém consuma com cuidado, não é indicado o consumo de mais de 3-4 frutos por dia.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Aranha, JB. Benefícios da casca e semente de maracujá. Grupo de Estudos em Alimentos Funcionais – GEAF, ESALQ/USP. Disponível em: www.alimentosfuncionais.blogspot.com.br Acessado em: 25/06/2019.

Medeiros, J.S; et al. Ensaios toxicológicos clínicos da casca do maracujá-amarelo (Passiflora edulis, f. flavicarpa), como alimento com propriedade de saúde. Revista Brasileira de Farmacognosia. 2009.

Veloso, PD. Plantas utilizadas em fitomedicamentos para os distúrbios do sono. Trabalho de Conclusão de Curso. 2008.

Zeraik , ML ; Pereira, CM; Zuin, VG.; Yariwake,JH. Maracujá: um alimento funcional. Rev. bras. Farmacognosia. 2010.