quinta-feira, 29 de maio de 2014

Aditivos Alimentares

    Tão antigos quanto os humanos, os aditivos alimentares sempre estiveram presentes em nossa dieta. As antigas civilizações descobriram que é possível conservar carnes e peixes com sal (cloreto de sódio) e usar diversas ervas e temperos para melhorar o seu sabor. Já na época dos romanos, o enxofre era utilizado no preparo dos vinhos para sua melhor conservação. Os aditivos são utilizados há séculos, com diferentes finalidades, tais como aumentar o tempo de conservação, atribuir ou realçar algumas características próprias de alguns alimentos. Entretanto, com o advento da vida moderna, cada vez mais aditivos têm sido empregados. Atualmente é quase impossível encontrar um alimento sem aditivos. As indústrias dispõem de um grande número de técnicas para conservação e aprimoramento de alimentos, que garantem a disponibilidade destes, além da inovação de produtos e adequação ao paladar das pessoas.


A portaria nº 540 - SVS/MS de 27 de outubro de 1997 publicada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) define o termo aditivo alimentar como "qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos, sem propósito de nutrir, com o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais, durante a fabricação, processamento, preparo, tratamento, embalagem, acondicionamento, armazenagem, transporte ou manipulação de um alimento".

Os aditivos alimentares são sustâncias químicas que formam um grupo bastante heterogêneo de substâncias que se classificam, de acordo com sua função em: agentes conservantes (antioxidantes ou antimicrobianos), acidulantes, emulsificantes, estabilizantes, espessantes, umectantes, antiumectantes, corantes, flavorizantes (realçadores de sabor) e adoçantes.

Quadro 1. Principais classes de aditivos alimentares.

Classe de aditivo
Exemplo
O que faz?
Onde é usado?
Antiumectante
Carbonato de cálcio e de magnésio, dióxido de silício.
Controla a umidade dos produtos.
Sal de mesa, pó para refrescos, temperos em pó, queijos fundidos.
Antioxidante
Ácidos ascórbicos, cítricos, fosfóricos.
Retarda aparecimento de ranço (oxidação) nos alimentos.
Cervejas, margarinas, óleos e gorduras, pó para refresco, sobremesas, farinhas, leite de coco.
Corante
Açafrão, caramelo, tartazina, amarelo crepúsculo, bordeaux, azul brilhante.
Dá cor ou intensifica a coloração.
Pó para refresco e gelatina, refrigerantes, manteiga, geleias e licores artificiais, sorvetes, crosta de queijos.
Conservador
Benzoato de sódio, dióxido de enxofre, nitrato de sódio, propionato de cálcio.
Impede que os alimentos estraguem por ação de microrganismo e enzimas.
Bebidas alcoólicas, carnes, queijos, conservas, refrigerantes, chocolate, preparados de polpa.
Edulcorante
Ciclamato de sódio, aspartame, acessulfame K, sacarina.
Substância diferente do açúcar capaz de conferir sabor doce aos alimentos.
Adoçantes de mesa, doces dietéticos em geral.
Aromatizante
Extrato natural de fumaça, vanilina, essências naturais e artificiais.
Confere ou realça aroma e/ou sabor dos alimentos.
Balas, pós em geral, carnes e derivados, gelatina, licores, sorvetes, margarina, refrigerantes, biscoitos.
Acidulante
Ácidos cítrico, málico, fumárico, láctico, tartárico, ascórbico.
Confere ou intensifica sabor ácido dos alimentos.
Balas, pós em geral, sorvetes, refrigerantes, licores e geleias artificiais.
Estabilizante
Alginatos, agar-ágar, citrato de sódio, gomas em geral, lecitina, polifosfatos, mono e diglicerídeos.
Ajuda a conservas as emulsões e suspensões.
Queijos fundidos, conservas, balas moles, margarina, doce de leite, creme de leite, sorvetes.
Fonte: Nutrociência.

            Existe uma tendência por parte dos consumidores em associar os aditivos como responsáveis por certos malefícios à saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) só permite que um aditivo seja usado industrialmente depois que ele passa por pesquisas que medem o seu grau de toxicidade. Assim o uso de aditivos em alimentos é limitado na menor quantidade possível para se alcançar o efeito desejado evitando qualquer problema de saúde.

            Apesar do rigor dos estudos e da legislação sabe-se que nem todo organismo reage de maneira semelhante quando substâncias químicas estão presentes em seu corpo. Dessa maneira não há como impedir que pessoas mais sensíveis possam ter alergias ou intolerância aos aditivos da mesma maneira que aquelas que têm este tipo de reação a alimentos sem aditivos como leite, pescados e ovos.

            Ler o rótulo sempre, é o que se indica para o consumidor diante de tantos nomes e informações. Além disso, deve-se ficar atento a qualquer reação gastrointestinal (como náusea, vômito, diarreia) ou na pele (coceira, vermelhidão, inchaço) que possa surgir após a ingestão de algum aditivo presente nos alimentos. Caso isto ocorra, o melhor é suspender o consumo do alimento e procurar um médico para avaliação do caso.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Aditivos Alimentares. Disponível em: www.anvisa.gov.br Acessado em: 20/05/2014.
Aun, MV; Mafra, C; Philippi, JC; Kalil, J; Agondi, RC; Motta, AA. Aditivos em alimentos. Rev Bras Alerg Imunopatol 2011; v. 34, n.5: p. 177-186.

Cavalieri, RB. Aditivos Alimentares: Você os conhece? Disponível em: www.nutrociencia.com.br Acessado em: 20/05/2014.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Ferro

O ferro desempenha muitas funções no organismo humano. As principais funções do ferro na hemoglobina são: atuar como vetor de oxigênio, formando com o oxigênio uma combinação facilmente dissociável, permitindo que o oxigênio transportado seja cedido aos tecidos na medida das suas necessidades; servir de catalisador da oxidação nas células e nas moléculas livres de hemina e atuar como constituinte das diástases oxidantes (catalase, peroxidase, citocromos), intervindo em numerosas reações de oxidação, por meio das quais se libera energia dos constituintes alimentares. A atividade de muitas enzimas envolvidas nestas reações bioquímicas é diminuída se houver a deficiência de ferro nos tecidos.

Em humanos, o ferro é encontrado em inúmeras proteínas como as flavoproteínas, hemeproteínas, participando como componente essencial destas ou como co-fator, principalmente em enzimas como os citocromos, que atuam na cadeia respiratória. As hemeproteínas mais importantes são: hemoglobina, mioglobina, citocromos, peroxidases e catalases. A maior parte do ferro, cerca de 65%, é integrante da hemoglobina, transportadora de oxigênio nos glóbulos vermelhos. Do restante, 4% estão na mioglobina, 1% sob a forma de diversos compostos hêmicos que promovem a oxidação celular, 0,1% combinado à proteína transferrina no plasma sanguíneo e, 15% a 30% armazenados, principalmente, no fígado, medula óssea, e baço, sob a forma de ferritina ou hemossiderina.

Outro tipo importante de proteína que contém ferro é a lactoferrina, uma glicoproteína que está presente em altas concentrações no leite materno e é a principal fonte de ferro para lactentes, auxiliando na prevenção da anemia no período de amamentação.

Ferro heme e Ferro não-heme

      O ferro proveniente da dieta de seres humanos é absorvido através das células intestinais, principalmente no duodeno, e é transportado na corrente sanguínea e fluido extracelular ligado a uma proteína plasmática chamada transferrina. Dois tipos de ferro são fornecidos pela dieta: o ferro heme e o ferro não-heme.

-  Ferro heme está presente em alimentos de origem animal, como carne bovina, frango e peixe
-   Ferro não-heme é encontrado nos cereais e outros vegetais.

De acordo com a sua forma, o ferro pode ser absorvido de diferentes maneiras na mucosa intestinal. O ferro heme é solúvel nas condições do intestino delgado, sendo facilmente absorvido pela mucosa intestinal sem a interferência de fatores químicos e/ou alimentares. Por esta razão, é altamente absorvido: cerca de 15% do ferro heme ingerido pelo indivíduo normal e 35% naquele com baixa reserva de ferro.
 
Em contraste, a absorção do ferro não-heme é bem menor, de cerca de 1 a 5%, e varia em função da presença de fatores químicos e alimentares, como é o caso das vitaminas C e A, que facilitam sua absorção. Por outro lado, os fitatos (encontrados em cereais e grãos), as fibras, os taninos (encontrado em chás e no café) e o cálcio dificultam sua absorção.

Recomendações Nutricionais

            A necessidade durante a infância é a maior, em relação à ingestão alimentar. A fase de crescimento rápido durante a adolescência, representa outro período de necessidades aumentadas, maiores no homem que na mulher; entretanto, com o início das menstruações, as necessidades da mulher excedem às do homem.

Problemas no ciclo menstrual podem indicar baixos níveis de ferro no organismo, geralmente decorrentes da deficiência no consumo ou na absorção do mineral. A ingestão adequada de ferro (DRI) para mulheres entre 19 e 50 anos é de 18 mg/dia.

As boas fontes de ferro da alimentação incluem as carnes vermelhas, frango, peru, porco, peixes, feijão, lentilha, vegetais de cor verde escura, como couve ou espinafre, e alimentos fortificados. A absorção do ferro dos alimentos de origem vegetal é aumentada quando ingeridos junto à uma fonte de vitamina C, como morango, limão, laranja, entre outros.

Na gravidez, há um aumento das necessidades deste mineral para suprir a expansão da massa eritrocitária da própria gestante, a formação do sangue da placenta e do feto e, ainda, para compensar as perdas durante o parto.

A dieta normal nem sempre é suficiente para suprir as necessidades de ferro na gestação. Por isso, tem sido proposta a suplementação de 27 mg/dia de ferro elementar ou sulfato ferroso a partir do segundo trimestre de gestação, e de 9 mg/dia para lactantes (ou 10 mg/dia para lactantes com idade inferior a 18 anos).

Deficiência de Ferro

A deficiência nutricional de ferro ocorre quando a quantidade absorvida da dieta é insuficiente para alcançar as necessidades normais. Elas abrangem as perdas obrigatórias do organismo e os requerimentos nutricionais para o crescimento. Se essa deficiência persiste, os estoques orgânicos de ferro são exauridos e a anemia ferropriva se instala, afetando os níveis de hemoglobina sanguínea. A deficiência pode ser causada por ingestão inadequada, absorção deficiente, metabolização imperfeita, perda sanguínea crônica ou aumento das necessidades como na infância, adolescência e gravidez.

Quando o estoque de ferro do organismo é depletado, o corpo sofre consequências funcionais, tais como a ineficiência do transporte de oxigênio e prejuízos no metabolismo oxidativo, no metabolismo nuclear e na transcrição gênica. As sequelas clínicas incluem a anemia em si, a redução da atividade física, do rendimento do aprendizado e da diminuição da performance no trabalho e a diminuição de eficiência da função. A imunocompetência reduzida é um possível sinal de deficiência precoce de ferro, notada particularmente por defeitos na imunidade mediada por células e na atividade fagocítica dos neutrófilos, que podem levar a uma propensão aumentada para infecção.

Geralmente a deficiência de ferro é caracterizada por 3 estágios, a saber:

(a) depleção de ferro: o armazenamento de ferro é baixo (baixos níveis de ferritina e hemossiderina), pequeno aumento da transferrina livre e valores normais de hemoglobina;

(b) eritropoese deficiente: o nível de saturação da transferrina cai e torna-se insuficiente para a manutenção de uma taxa ótima de eritropoiese; a concentração de protoporfirina dos eritrócitos torna-se elevada, indicando um desequilíbrio entre a produção de protoporfirina e o suprimento intracelular de ferro. Contudo, o suprimento de ferro ainda é suficiente para manter 95% do nível normal de hemoglobina;

(c) anemia ferropriva: o terceiro estágio é caracterizado pelo esgotamento total das reservas de ferro, levando a uma produção insuficiente de hemoglobina, com o desenvolvimento de anemia microcítica e hipocrômica.


A maioria dos sintomas, comuns em anemias, são: cansaço, fadiga, palidez, diminuição da capacidade de trabalho físico, alteração da termorregulação e menor capacidade de concentração. O tempo de restabelecimento das funções cardiorrespiratórias normais em indivíduos anêmicos, após esforço, é prolongado. Sintomas gastrointestinais como falta de apetite, flatulência, incômodo epigástrico, náuseas, vômitos, constipação ou diarreia são comuns. 

Quando a anemia por deficiência de ferro se torna mais severa, os defeitos se desenvolvem na estrutura e função dos tecidos epiteliais, especialmente da língua, unhas, boca e estômago. As mudanças bucais incluem atrofia das papilas linguais, queimadura, vermelhidão e, em casos severos, glossite. A gastrite ocorre frequentemente e pode resultar em acloridria (ausência de ácido clorídrico no suco gástrico). A anemia não tratada pode resultar em alterações cardiovasculares e respiratórias que podem eventualmente provocar uma insuficiência cardíaca.

Interações Dietéticas

Quadro 1.  Interações dietéticas que alteram a biodisponibilidade do ferro.

Proteínas
Aumentam a absorção do ferro não-heme
Aminoácidos
Mistura de aminoácidos favorecem a absorção do ferro, sendo
a cisteína um dos aminoácidos mais ativos.
Ácidos orgânicos
Dietas com alto conteúdo de ácido lático, facilitam a absorção.
Fosfatos de cálcio
Diminuem a absorção.
Zinco
A administração de suplementos de zinco inibem a absorção do ferro. Se o suplemento contiver os 2 elementos, a biodisponibilidade de ferro é menor quanto maior a proporção Zn:Fe.
Vitamina C
Favorece a absorção do ferro não heme ao mantê-lo solúvel no pH intestinal. Facilita a mobilização de ferro ao inibir a degradação de ferritina por enzimas lisossômicas. Sua deficiência causa acumulação de Fe-hemossiderina.
Vitamina A
Sua deficiência inibe a utilização do ferro e acelera o aparecimento de anemia. A deficiência de ferro se associa epidemiologicamente com a deficiência de vitamina A.
Chá, café
Ao se tomar chá, simultaneamente, com fonte de ferro, a absorção cai de 10,4 para 3,3 %, devido à formação de complexos com taninos na luz intestinal. O café também inibe a absorção de ferro.
Polifenóis
Ligam e insolubilizam o ferro.                          Benvenutri
Fonte: Germano e Canniatti-Brazaca, 2002.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:

Cunha DF, Cunha SFC. Microminerais. In: Dutra-de-Oliveira JE, Marchini JS, eds. Ciências Nutricionais. São Paulo: Sarvier; 1998.

Germano, RMA; Canniatti-Brazaca, SG. Importância do ferro em nutrição humana. Rev. Soc. Bras. Alim. Nutr., 2002; v.24, p. 85-104.

Guerra EM, Barretto OCO, Pinto AV, Castellão KG. Prevalência de deficiência de ferro em gestantes de primeira consulta em centros de saúde de área metropolitana, Brasil. Etiologia da anemia. Rev Saúde Pública. 1992; v. 26, n.2. p:88-95.

Lombard M, Chua E, O'Toole P. Regulation of intestinal non-haem iron absorption. Gut. 1997;40(4):435-9.

Martini FCC. Comparação entre a disponibilidade de ferro na presença de vitamina A e beta-caroteno em alimentos e medicamentos. [dissertação]. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz; 2002.


The Role of Iron. British Nutrition Foundation; 1998. Disponível em: http://www.nutrition.org.uk/information/dietandhealth/iron.html. Acessado em: 18/05/2014.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Dispepsia

     O termo dispepsia tem origem no grego (dys, prefixo indicativo de dificuldade, imperfeição, desordem e peptein, cozinhar, digerir) e corresponde a indigestão.
 
A dispepsia caracteriza-se por um conjunto de sintomas relacionados ao trato gastrin­testinal superior, como dor, queimação ou desconforto na região superior do abdômen, que podem estar associados à saciedade preco­ce, empachamento pós-prandial, náuseas, vômitos, sensação de distensão abdominal, cujo aparecimento ou piora dos sintomas pode ou não estar relacionado à alimentação ou ao estresse.

Quadro 1. Sintomas e características de dispepsia ou síndrome dispéptica.

Sintomas de dispepsia
Dor epigástrica (se em queimação: azia ou pirose epigástrica).
Desconforto epigástrico.
Náusea.
Vômitos
Saciedade precoce
Sensação de distensão sem alteração objetiva.
Plenitude, peso ou empachamento.
Características de dispepsia
Não exclusivamente relacionada ao sistema digestório ou à alimentação.
Influência de fatores como estresse e alimentação.
Não necessariamente aliviada por antiácido ou alimento.
Independe do tempo, podendo ser aguda, intermitente ou persistente.
Fonte: Miszputen, SJ. 2007.

A dispepsia divide-se em dois grandes grupos: um secundário, a doença orgânica, e outro denominado dispepsia funcional (DF). Dispepsia orgânica envolve alterações bioquímicas e/ou morfológicas. Além das doenças digestivas, é secundária à ingestão de drogas ou a condições extradigestivas ou não-primárias do sistema digestório, como distúrbios eletrolíticos, metabólicos, endócrinos, infecciosos, músculo-esqueléticos ou cardiovasculares.

No que se refere ao diagnóstico da DF, também conhecida como dispepsia não ulcerosa ou síndrome dispéptica é uma desordem heterogênea em que não se consegue identificar a causa para os seus sintomas. O mecanismo fisiopatológico ainda é desconhecido e o tratamento ainda não está totalmente estabelecido. Concorrem para seu desenvolvimento fatores biopsicossociais: perfil genético, social e psicológico (reprodução de comportamento, de resposta a perdas), além de condições ambientais (trauma, infecção etc.). Traumas emocionais (abusos, perda ou morte, problema familiar, profissional ou afetivo), ansiedade, depressão neurose também estão associados à DF, mas não de maneira causal.

O Consenso de Roma II recomenda que a DF seja diagnosticada quando, em pelo menos 12 semanas consecutivas ou não, nos últimos 12 meses, o paciente apresentar:

1) dor ou desconforto no abdome superior, de caráter persistente ou recorrente, com peso epigástrico pós-prandial e/ou saciedade precoce e/ou náuseas e/ou vômitos e/ou distensão abdominal;
2) ausência de doença orgânica que possa explicar os sintomas;
3) ausência de evidências de que a dispepsia é aliviada pela evacuação ou associada à alteração na frequência ou na forma das fezes.

        O referido Consenso estabeleceu igualmente que pacientes com história clínica de úlcera péptica crônica não devem ser diagnosticados como dispépticos funcionais. Porém, aqueles que tiveram úlcera curada por erradicação do H. pylori e continuam com sintomas devem receber esse diagnóstico. Ainda, segundo o mesmo, as anormalidades fisiológicas mais investigadas em relação à possibilidade de estarem associadas à dispepsia funcional são hipersecreção de ácido gástrico, infecção por H. pylori, dismotilidade gastrointestinal, hipersensibilidade visceral e fatores psicológicos.

Tratamento

       O comum erro alimentar, detectado por meio de pesquisa do dia gástrico, possibilita a detecção de fatores como mastigação deficiente (pressa ao comer ou mesmo falta de dentes); alimentação sob tensão emocional ou sem regularidade; alterações quantitativas (quantidade excessiva) ou qualitativa (excesso de alimentos gordurosos, condimentos, doces, bebidas gasosas, café ou álcool). Nessa situação, a reeducação alimentar é fundamental e as medidas medicamentosas, adjuvantes. Além da correção da forma de se alimentar, a eliminação dos excessos e a restrição de determinados alimentos podem resolver o problema. Flatulência, empachamento e distensão abdominal, por exemplo, podem ser eliminadas mediante restrição de grãos (feijão, ervilha, grão de bico), batata-doce, repolho, couve-flor, doces, farináceos e alimentos dietéticos.

Quadro 2. Associação entre os sintomas dispépticos específicos e a influência da ingestão de alguns alimentos.

Sintoma
Alimento
Plenitude
Carne vermelha, banana, pão, bolos, massas, trigo, cebolas, salsichas, alimentos fritos, feijão, maionese, leite, chocolate, ovos, doces e laranjas (frutas cítricas).
Sensação de distensão abdominal
Refrigerante, cebola, feijão, banana e leite.
Queimação epigástrica e/ou azia
Café, queijo, leite, cebola, pimenta, abacaxi e chocolate.
Fonte: Adaptado de Feinle-Bisset & Azpiroz, 2013.

          O hábito intestinal deve ser avaliado. Não raramente, pacientes dispépticos apresentam obstipação. A correção do hábito intestinal é frequentemente acompanhada de melhora da dispepsia. Outras vezes, há intolerância à lactose ou síndrome de intestino irritável associada à dispepsia, que melhora com o tratamento daquelas condições.

        A correção do excesso de peso e a eliminação do abuso tabaco ou álcool podem ser suficientes para a melhora do paciente. A simples suspensão ou redução de dose de determinadas medicações pode fazer com que haja resolução, prescindindo da investigação diagnóstica.



As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Chehter, L; Vilela, MP. Dispepsia. In: Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar-Unifesp-Escola Paulista de Medicina. Gastroenterologia. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2007; p. 3-19.

Feinle-Bisset C, Azpiroz F. Dietary and lifestyle factors in functional dyspepsia. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2013; v. 10, n. 3: p.150-157.

O que é dispepsia funcional e qual a sua relação com os hábitos alimentares? Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em: 13/05/2014.

Silva, RA. et al. Dispepsia funcional e depressão como fator associado. Arq Gastroenterol. 2006; v.43, n.4: p.293-298.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

HDL (colesterol bom)

 Os lipídios estão envolvidos no abastecimento e no armazenamento de energia, são precursores da síntese de hormônios, componentes da bile e da membrana celular e participam de complexos sistemas de sinalização intracelular. Derivados de ácidos graxos, atuam na síntese de prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanas.

   As lipoproteínas são responsáveis pelo transporte dos lipídios na circulação linfática, sanguínea e no interstício. As lipoproteínas classificam-se em quilomícrons, lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL), de densidade intermediária (IDL), de baixa densidade (LDL) e de alta densidade (HDL).

  A função principal da HDL é a remoção do excesso de colesterol livre da periferia, a condução ao fígado e a promoção da metabolização e secreção na bile, o que é conhecido como transporte reverso de colesterol.

Terapia dos baixos níveis de HDL

Modificação no estilo de vida - Embora as respostas individuais sejam bastante variáveis, a modificação do estilo de vida tem papel fundamental na prevenção primária e secundária de eventos cardiovasculares maiores. O último consenso do NCEP-ATP III refere que a redução de peso aumenta o HDL-C em 5%-20%; o abandono do tabagismo aumenta cerca de 5%; e a atividade física regular pode produzir elevação no HDL-C de até 30%.

Uso de álcool - O consumo moderado de álcool (30-60 g/dia) produz aumento de 5%-10% nos níveis de HDL-C e Apo A-I, e esse efeito poderia responder por até metade do provável benefício atribuído ao álcool na diminuição de doença arterial coronariana (DAC). No entanto, pelo grande potencial de vício e de outras doenças secundárias ao seu consumo, o álcool não pode ser recomendado como método terapêutico em nível populacional.

Ácidos graxos ômega-3 - Os ácidos graxos Ômega-3 são gorduras poliinsaturadas derivadas principalmente de óleo de peixe com propriedades antitrombóticas e de melhora no perfil lipídico, podendo reduzir os níveis de triglicerídeos em até 30%. No entanto, os efeitos nos níveis de HDL-C são modestos com aumento de menos de 3% nos níveis séricos.

Estrogênio - Estudos epidemiológicos e experimentais têm demonstrado os benefícios do estrogênio sobre os níveis de lipídeos plasmáticos. A reposição de estrogênio, além de reduzir os níveis de LDL-C, aumenta o HDL-C em 10%-20%, principalmente pela ativação da produção de Apo A-I, e também reduz os níveis de LDL-C. Os estudos clínicos, no entanto, não comprovaram o benefício clínico da terapia de reposição hormonal e, por isso, ela não é recomendada para tratamento dos níveis baixos de HDL-C ou para prevenção de DAC.

Niacina (Ácido nicotínico) - O ácido nicotínico é o agente em uso clínico com a maior capacidade de aumentar o HDL-C (15%-40%), produzindo também redução nos níveis de LDL-C (5%-25%) e triglicerídeos (20%-50%). Igualmente, promove aumento no diâmetro das partículas de LDL, reduzindo a concentração das LDL pequenas e densas, tornando o perfil de subclasses de LDL menos aterogênico.

Estatinas - A ação desses agentes ocorre por inibição da principal enzima envolvida na síntese de colesterol, a HMG-CoA redutase, levando a reduções de 18%-60% nos níveis séricos de LDL-C, e 7%-30% nos triglicerídios. Sua ação no metabolismo da HDL não está bem definida, mas sabe-se que aumenta os níveis séricos de HDL-C entre 5%-15%.

           Tanto o colesterol bom quanto o ruim fazem parte do nosso organismo. Os 70% do colesterol que circulam pelo sangue são produzidos pelo organismo e os outros 30% vêm da alimentação.

         E para colaborar com a eliminação do excesso de colesterol pode-se consumir alimentos considerados amigos do HDL. Há alimentos que além de combaterem o colesterol ruim, colaboram para aumentar os níveis do bom.

Fibras: As solúveis, como o farelo de aveia, ajudam a reduzir os níveis de LDL no sangue. Também são encontradas fibras solúveis na aveia, nos feijões, nas ervilhas, nas frutas cítricas e nas maçãs.

Morango e cereja: Ajudam a combater os radicais livres, o que melhora o funcionamento do sistema cardiovascular.

Uva vermelha: Possui grande quantidade de quercetina – antioxidante que auxilia no aumento do bom colesterol.

Jabuticaba e amora: As antocianinas – pigmentos presentes em frutas de coloração roxa e vermelha – têm ação antioxidante que traz importante contribuição para o sistema circulatório. Na jabuticaba, o antioxidante é encontrado apenas na casca.

Berinjela: Com alto teor de fibras, colabora com a diminuição da gordura que circula pelo sangue. É também rica em flavonoides, antioxidantes que dificultam a formação das placas de gordura nas artérias.

Azeite: O tipo extravirgem reduz os níveis de colesterol ruim e aumenta o colesterol bom. Dessa forma, previne doenças cardíacas e aterosclerose. É fonte abundante de gordura monoinsaturada, considerada a mais benéfica para o coração.

Abacate: Assim como o azeite é rico em gordura monoinsaturada que age como antioxidante, bloqueando o colesterol ruim.

Salmão, sardinha e atum: Ricos em ômega-3, ácido graxo que auxilia na prevenção de doenças cardiovasculares porque inibe a coagulação sanguínea e a formação de plaquetas, além de controlarem o colesterol e os triglicérides.

Soja: Possui isoflavonas, consideradas o fito-hormônio com as mesmas propriedades do estrógeno. A ação das isoflavonas e das proteínas reduz o colesterol ruim, aumenta o bom e inibe a aterosclerose.

Cardápio

Os especialistas recomendam bom senso na hora das refeições: evitar o consumo de gorduras saturadas e trans, preferir óleos vegetais para cozinhar, consumir menos carnes vermelhas, principalmente as gordas.

Exemplo de cardápio saudável para uma dieta com 2.000 calorias, recomendada para um adulto saudável:

Desjejum

■ ½ mamão com aveia
■ 1 copo de suco de uva
■ 1 xícara de leite desnatado ou semidesnatado com café
■ 2 fatias de pão integral com ricota

Lanche da manhã

■ 1 maçã
■ 2 castanhas do Brasil

Almoço

■ Salada de folhas verdes regada com 1 colher (sopa) de azeite
■ 3 colheres de sopa de arroz integral
■ 1 concha de feijão
■ 3 colheres (sopa) de verdura refogada
■ 1 filé de salmão grelhado
■ 1 potinho de salada de frutas

Lanche da tarde

■ 1 copo de suco de soja

Jantar

■ Salada de folhas e legumes regados com 1 colher (sopa) de azeite
■ 3 colheres (sopa) de arroz integral
■ 3 colheres (sopa) de berinjela refogada
■ 1 filé de frango grelhado
■ 1 pote com morangos

Ceia

■ 1 copo de leite desnatado
■ 3 biscoitos integrais
                                                                                                                              Benvenutri
Fonte: Einstein.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Alimentos amigos do colesterol. Disponível em: www.einstein.br Acessado em: 09/05/2014.
Ineu, ML; Manenti, E; Costa, JLV; Moriguchi, E. Manejo da HDL: avanços recentes e perspectivas além da redução de LDL. Arq Bras Cardiol. 2006; v.87, n.6: p. 788-794.
Lottenberg, AMP. Importância da gordura alimentar na prevenção e controle de distúrbios metabólicos e da doença cardiovascular. Arq Bras Endocrinol Metab. 2009; v.53, n.5: p. 595-607.