quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Endometriose



Descrita pela primeira vez em 1921, a endometriose é a doença ginecológica, caracterizada pela presença do endométrio – tecido que reveste o interior do útero – fora da cavidade uterina, ou seja, em outros órgãos da pelve: trompas, ovários, intestinos e bexiga.
Todos os meses, o endométrio fica mais espesso para que um óvulo fecundado possa se implantar nele. Quando não há gravidez, esse endométrio que aumentou descama e é expelido na menstruação. Em alguns casos, um pouco desse sangue migra no sentido oposto e cai nos ovários ou na cavidade abdominal, causando a lesão endometriótica.
CAUSAS
Ninguém sabe ao certo porque a doença aparece. Existem algumas teorias que tentam explicar o porquê do surgimento da endometriose. Uma delas analisa que, durante o desenvolvimento embrionário, surjam células endometriais em outros tecidos do corpo e que por algum estímulo, normalmente associado a situações de estresse emocional e ansiedade, a doença comece a ser desenvolvida.

Outra é ligada à “menstruação retrógrada”. Esta se trata de um refluxo do sangue menstrual que volta para a cavidade abdominal. As células endometriais têm enorme poder de aderência, especialmente com as do tecido ovariano, intestinal e uterino. Toda mulher menstruada têm esse refluxo, mas apenas alguma liberam o estímulo para que essas células endometriais continuem vivas, mas esse fator desencadeante ainda é um mistério para a medicina.

Também há estudos que relacionam a doença com o desequilíbrio hormonal — aumento do nível de estrógeno no corpo, geralmente associadas à teoria da “menstruação retrógrada“ e que há um risco maior de 70% de desenvolver endometriose se a mãe da paciente sofrer com a doença.

Um recente estudo encabeçado pela ginecologista Dra. Rosa Maria Neme, e desenvolvido no Hospital das Clínicas, em São Paulo, concluiu que o estresse emocional e a ansiedade são alguns dos maiores fatores de risco da doença.          

Por isso, é necessário que a mulher que esteja apresentando os sintomas citados cuide bem de si, pratique atividade física, se alimente bem, não se cobre tanto no trabalho ou nas relações afetivas. Porque tudo isso diminui a possibilidade de recidiva (reaparecimento da doença), que é altíssima, mesmo após a cirurgia, muitas voltam a ter a lesão, é uma doença bem agressiva.                
                                                 
É importante destacar que a doença acomete mulheres a partir da primeira menstruação e pode se estender até a última. Geralmente, o diagnóstico acontece quando a paciente está na faixa dos 30 anos.                         
Hoje, a doença afeta cerca de duzentos milhões em todo o mundo e seis milhões de brasileiras, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose, entre 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva (13 a 45 anos) podem desenvolvê-la e 20% tem chances de ficarem estéreis.
SINTOMAS

Os principais sintomas da endometriose são dor e infertilidade. Existem mulheres que sofrem dores incapacitantes e outras que não sentem nenhum tipo de desconforto. Entre os sintomas mais comuns estão:

• Dor pré-menstrual;
• Cólicas menstruais intensas e dor durante a menstruação;
• Dor durante as relações sexuais;
• Dor difusa ou crônica na região pélvica;
• Fadiga crônica e exaustão;
• Sangramento menstrual intenso ou irregular;
• Alterações intestinais ou urinárias durante a menstruação;
• Dificuldade para engravidar e infertilidade.

A dor da endometriose pode se manifestar como uma cólica menstrual intensa, ou dor pélvica/abdominal à relação sexual, ou dor “no intestino” na época das menstruações, ou, ainda, uma mistura desses sintomas.
A endometriose é um problema crônico e que dificilmente receberá uma cura definitiva.
Após o diagnóstico médico, são apresentadas opções de tratamento para que a paciente decida a melhor alternativa. Além das diferentes opções é importante que sejam levados em conta fatores com: idade, gravidade do problema e a vontade da paciente de ter filhos futuramente.
Normalmente, são sugeridos procedimentos cirúrgicos (em situações mais graves) ou o tratamento à longo prazo com o uso de medicamentos. Nesses casos é provável que sejam recomendados: analgésicos e anti-inflamatórios (para diminuir as dores frequentes) ou ainda o uso de métodos anticoncepcionais, como pílulas ou DIU.
TRATAMENTO NUTRICIONAL

Ainda que a dieta não seja a causa direta nem a cura para a Endometriose, ela tem sem dúvida um papel importantíssimo no tratamento  a esse mal. Estudos sobre o  assunto têm demonstrado que uma dieta balanceada, rica em vitaminas e minerais,  pode modular fatores inflamatórios ,analgésicos e hormonais e pode prevenir a endometriose bem como apoiar o seu tratamento.         
Vitaminas do complexo B, por exemplo, são imprescindíveis à manutenção de adequados níveis de saturação das enzimas e do bom funcionamento das glândulas endócrinas, produtoras de hormônios. Assim, as vitaminas do complexo B, junto com colina e inositol, desempenham papel vital na degradação do excesso de estrogênio.
Piridoxina (Vitamina B6): esta vitamina do complexo B, em particular tem uma ação mais específica no controle ao estresse e ansiedade. Está presente com sementes oleaginosas, banana, fígado de boi, leguminosas.
Vitamina C, se combinada com bioflavonoides, como as flavonas presentes nos vegetais folhosos, grãos e  as antocianinas, presentes nos alimentos arroxeados, como berinjela , frutas vermelhas e um preparado de enzimas proteolíticas (bromelina, papaína e ficina), exerce potentes ações anti-inflamatórias e analgésicas, importantes para o alívio dos severos sintomas da endometriose e o melhor: não apresentam efeitos colaterais. 

Ômega 3 – promove a produção de prostaglandina PGE, que reduz o nível de inflamação abdominal provocada pela endometriose. Peixes de água fria, como sardinha, arenque, salmão (não de cativeiro), são as melhores opções.

Semente de Linhaça: contêm lignanas, capaz de modular os níveis estrogênicos, além disso, contêm ômega 3, que também combatem a inflamação. 

Ácidos graxos poli-insaturados, tais como óleo de linhaça, de prímula ou de fígado de bacalhau, ricos em ômega 6, são fundamentais para organizar a família das prostaglandinas (substâncias que causam dor e inflamação). O uso de ácidos graxos poli-insaturados é importante, sobretudo nas mulheres que se alimentam inadequadamente privando-se de fontes naturais, como os peixes de água gelada ou cereais integrais.
Vitamina E: um potente antioxidante que auxilia no combate à peroxidação lipídica (agressão à camada de gordura), que, por sua vez, contribui para o surgimento e desenvolvimento de doenças inflamatórias, entre elas a endometriose. Os alimentos fontes de vitamina E são as sementes oleaginosas, em especial o amendoim, o abacate, e o azeite de oliva.

Índole-3-carbinol: estão presentes nas crucíferas, como brócolis, couve flor, couve, repolho, este nutriente  consegue remover os estrogênios  a mais do fígado. Ideal é consumir 3 a 4 porções semanais.

Vitamina D e cálcio – possuem efeitos protetores dos mecanismos que promovem a doença, sem contar que a deficiência de vitamina D aumenta o risco de doenças inflamatórias. 

Fibras solúveis (presentes em maçã, leguminosas, ameixas e cereais integrais) – auxiliam o trânsito intestinal e garantem um bom funcionamento intestino. A ingestão de água também ajuda neste sentido. Garantindo uma microbiota intestinal mais saudável.

Cúrcuma (açafrão da terra): tem um excelente poder anti-inflamatório, muito indicado para ser consumido em carnes, frangos, arroz. Uso diário de 1 colher de  chá ao dia.

Ácido Fólico: importante para o bom funcionamento cerebral e síntese de serotonina.

Magnésio: mineral importante para mais de 400 ações no organismo, entre elas vale destacar nesta situação da endometriose a sua ação no relaxamento, aliviando a dor e diminuição de ansiedade e estresse.

ALERTA 

O glúten é uma proteína encontrada nos grãos (incluindo trigo, centeio, espelta, cevada, e há quem inclua a aveia) com que muitas das portadoras de Endometriose têm dificuldades de metabolizar. Um estudo recente mostra que 75% das pacientes reduziram os níveis de dor seguindo uma dieta sem glúten. Trata-se de uma proteína difícil de digerir, levando a vários sintomas ao nível digestivo, inchaço abdominal e aumentos dos níveis de dor.      Há pessoas que concluem que apenas não toleram o trigo, mas ingerem outros cereais com glúten sem problemas. A chave para uma dieta sem glúten é optar por alimentos sem este elemento, tais como arroz integral ou selvagem, quinoa, milho-paínço, legumes e batata doce não têm glúten, e evitar os alimentos tais como pão, massas, bolos, cereais de lanches, bolachas e outros, que apesar de indicarem que não têm glúten acabam por serem alimentos muito processados, caindo na categoria de altamente inflamatórios.

Também é importante saber que muitos condimentos contêm glúten, por isso é importante ler os rótulos ou ainda melhor, fazer em casa os próprios molhos e marinadas, evitando assim o glúten e outros ingredientes inflamatórios. 
                                                 
Os laticínios podem ser extremamente inflamatórios, podem conter quantidades significativas de hormônios e podem ser muito difíceis de digerir, levando a uma exacerbação dos sintomas de inflamação. A lactose é um açúcar encontrado no leite, que muitos adolescentes e adultos têm dificuldade em assimilar, o que leva à dor, inchaço e outros sintomas, que ocorrem quando as bactérias presentes nos intestinos começam a digerir este açúcar e a fermentá-lo.

A caseína é uma proteína encontrada no leite que pode desencadear graves reações alérgicas semelhantes à intolerância da lactose. Um sistema gastrointestinal inflamado pode “irritar” as lesões de Endometriose presentes no intestino ou na cavidade pélvica em geral, levando a episódios de dor.       
                                                                        
As vacas são alimentadas com antibióticos, o que além da crescente resistência aos antibióticos pode levar a sintomas de síndrome de cólon irritável. Além disto, muito do gado para produção é alimentado e/ou injetado com hormônios de crescimento naturais e/ou geneticamente modificadas. Alguns destes hormônios elevam os níveis IGF-1, causando o crescimento e aumento da atividade de células (incluindo potencialmente células de Endometriose). Além disto, os hormônios naturais das vacas aumentam os níveis gerais de estrógeno, o que aumenta os sintomas de inflamação e dor. O consumo de laticínios magros e com baixo teor de gordura foi associado à infertilidade ovulatória.

A escolha de alternativas aos laticínios tais como leite de amêndoa, leite de coco ou de arroz, queijos de frutos secos são boas opções. Algumas pessoas toleram bem o queijo de cabra e ovelha. 

A carne vermelha é um problema pelas mesmas razões que os laticínios. Pode ser bastante inflamatória, difícil de digerir e levar a sintomas de má digestão e intestino irritável. O gado é alimentado com ração de grão, às vezes geneticamente modificado, com hormônios de crescimento. Se tolerar a carne vermelha, escolha carne de origem certificada, alimentada em pasto ou com o selo biológico.            
                                                  
O álcool é extremamente inflamatório, difícil de absorver para o fígado e um gatilho para desencadear a  dor. Considere eliminar por completo o álcool da sua dieta e permitir-se apenas um copo em ocasião de festa. 

A cafeína também aumenta a dor assim como os sintomas de TPM, embora algumas mulheres consigam tolerar pequenas quantidades de cafeína, como no chá verde ou branco, ou pequenas chávenas de café.

Considere eliminar o café, refrigerantes, bebidas energéticas, chá preto, chocolate e outras fontes de cafeína durante um mês e veja como se sente.

Os alimentos processados,ultraprocessados, refinados e sintéticos são a primeira categoria de alimentos a evitar. Refeições e snacks pré-preparados, refrigerantes, carnes fritas, defumadas e/ou processadas, cereais de pequeno almoço, pastelaria, grãos refinados ou feitos com farinha branca, açúcar, soja, adoçantes artificiais, gorduras saturadas, e uma série de aditivos, colorantes e químicos, etc. Todos eles contribuem para a sobrecarga tóxica do nosso corpo. Evitar estes alimentos, preferindo alimentos frescos e não processados (biológicos, sempre que possível), com uma forte ênfase nos alimentos frescos são a parte fundamental da dieta anti-inflamatória.

Como visto as mudanças de hábitos alimentares, sempre orientado e planejado de forma individual por um nutricionista é um grande aliado no tratamento da Endometriose e em promover o bem estar geral do organismo.

Texto elaborado por: Dra. Roseli Lomele Rossi - CRN 2084 

Nutricionista formada pelas Faculdades Integradas São Camilo (CRN 2084 /1983), com título de Especialista em Nutrição Clínica concedido pela ASBRAN - Associação Brasileira de Nutrição. 

Pós Graduada nos cursos de especialização de Planejamento, Organização e Administração de Serviços de Alimentação; Fitoterapia Aplicada à Nutrição Funcional e Nutrição Ortomolecular com Extensão em Nutrigenômica. 

É Diretora da Clínica Equilíbrio Nutricional e autora dos Livros: "Saúde & Sabor com Equilíbrio" - Receitas Infantis, “Saúde & Sabor com Equilíbrio” – Receitas Diet e Light Volumes I e II, Colaboradora do livro Nutrição Esportiva – Aspectos relacionados à suplementação nutricional e autora do Livro “As Melhores Receitas Light da Clínica Personal Diet”.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Brássicas: Brócolis



As brássicas são vegetais que além de apresentarem alto valor nutricional também são ricos em compostos bioativos, ou seja, compostos que auxiliam na prevenção de diversas doenças, justificando a importância da sua inclusão na nossa dieta habitual. Como exemplos desses alimentos, temos: repolho, couve-flor, brócolis, couve, couve de Bruxelas, agrião, rabanete e nabos, assim como muitas outras plantas que são largamente consumidas em várias partes do mundo, tais como repolho oriental, arugula, watercress, radish, daikon, wasabi (condimento japonês picante, conhecido no Brasil como raíz forte) e várias mostardas.

Até pouco tempo as brássicas eram conhecidas apenas por possuírem altas quantidades de vitaminas (B, C e K), minerais (cálcio e fósforo), fibras e poucas calorias. No entanto, pesquisas recentes vêm demonstrando que esses vegetais estão intimamente ligados à prevenção de doenças crônicas, destacando-se o câncer.

Possuindo dimensões cada vez maiores, o câncer tem sido considerado, atualmente um problema mundial de saúde pública.  Segundo estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano de 2030 são estimadas cerca de 27 milhões de casos incidentes de câncer.

Dos vegetais citados inicialmente, podemos destacar o brócolis como um forte aliado a prevenção do câncer. Esta hortaliça além de possuir um importante valor econômico, também é rico em vitamina C, com atividade regulatória do sistema imunológico e absorção do ferro; vitamina A, fundamental para a visão e reprodução; fibras, que atuam no bom funcionamento do intestino;  cálcio, que participa da mineralização de ossos e dentes; ácido fólico, importante para a replicação celular e bom funcionamento do sistema nervoso e imunológico e os carotenoides betacaroteno, luteína e zeaxantina, poderosos compostos antioxidantes com capacidade de neutralizar os radicais livre.

Com relação à prevenção do câncer o composto bioativo presente neste vegetal que possui tal função são os glicosinolatos e seus derivados. Entre estes, podemos destacar os isotiacionatos, compostos formados a partir da ação da enzima mirosinase sobre os glicosinolatos, os quais têm como função agir tanto evitando, quanto retardando a progressão carcinogênica.

Um fato importante de se salientar é que o modo de preparo dos alimentos tem grande influência sobre os compostos promotores de saúde, podendo afetar seu teor e comprometer a eficácia dos mesmos. Com o brócolis não é diferente, então, qual a melhor forma de prepará-lo sem correr o risco de prejudicar a eficácia dos compostos bioativos presentes no mesmo?

A primeira observação é não comprar o brócolis que já esteja com as flores abertas, característico de brócolis velhos. A segunda dica é ou fazer apenas um escaldamento, que consiste em mergulhar o vegetal em água fervente e rapidamente retirá-lo, ou outra alternativa seria cozinha-lo à vapor por 4 a 6 minutos.  O modo usual de preparo deste alimento, cozimento em fervura não é aconselhável, pois este procedimento de preparo pode provocar a perda de 58% à 90% do conteúdo de glicosinolatos presentes.

Quanto a quantidade ideal de consumo, por enquanto ainda não  temos dados científicos estabelecidos. No entanto, é interessante e de grande eficácia incluir no cardápio a ingestão de uma xícara de chá de brócolis, duas vezes ao dia, quantidade suficiente para bloquear as substâncias cancerígenas.

Vale ressaltar também que o consumo exagerado não só do brócolis mas das demais brássicas, não é indicado, uma vez que esses vegetais possuem quantidades consideráveis de amido, substância que pode ser fermentada pelas bactérias do intestino causando efeitos indesejáveis, como por exemplo flatulência.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referência Bibliográfica:

Bachiega, P. Brócolis, uma brássica importante na prevenção do câncer. Grupo de Estudo em Alimentos Funcionais – GEAF, ESALQ/USP. Disponível em: www.grupoalimentosfuncionais.blogspot.com.br Acessado em: 01/02/2018.