terça-feira, 27 de novembro de 2012

Dia Nacional de Combate ao Câncer

           As mais antigas evidências a respeito do câncer se referem a osteomas (lesão formadora de tecido ósseo, benigna, constituída por tecido ósseo maduro e bem diferenciado e de crescimento lento. Ocorre quase que exclusivamente no crânio e na mandíbula) e hemangiomas (é uma formação benigna de capilares e vasos sanguíneos e são tumores mais freqüentes da infância, com incidência de 3-5 para cada cem nascimentos) encontrados em fósseis de dinossauros. Relata-se também a ocorrência de cânceres em esqueletos do Homo erectus, o ancestral mais próximo do homem moderno.


Além disso, diversos tipos de cânceres foram encontrados em múmias e esqueletos de antigos egípcios, demonstrando que neoplasias malignas não eram raras nessa população. Papiros escritos durante a época das grandes pirâmides (3000 a 2500 a.C.) descreviam vários procedimentos médicos e até mesmo cirúrgicos para tratamento das mais diversas afecções, incluindo o câncer de mama. Da mesma forma, outros papiros mais recentes (1630 a 1350 a.C.) encontrados prescreviam diversos tratamentos à base de ervas para picadas de insetos, mordidas e cânceres.

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.

Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tumor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um risco de vida.
Quadro 1 - Principais diferenças entre tumores benignos e malignos.


Tumor Benigno
Tumor Maligno
Formado por células bem diferenciadas (semelhantes às do tecido normal); estrutura típica do tecido de origem.
Formado por células anaplásicas (diferentes das do tecido normal); atípico; falta diferenciação.
Crescimento progressivo; pode regredir; mitoses (tipo de divisão celular) normais e raras.
Crescimento rápido; mitoses (tipo de divisão celular) anormais e numerosas.
Massa bem delimitada, expansiva; não invade nem infiltra tecidos adjacentes.
Massa pouco delimitada, localmente invasiva; infiltra tecidos adjacentes.
Não ocorre metástase.
Metástase frequentemente presente.

Fonte: Ministério da Saúde, 2011.

Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Por exemplo, existem diversos tipos de câncer de pele porque a pele é formada de mais de um tipo de célula. Se o câncer tem início em tecidos epiteliais como pele ou mucosas ele é denominado carcinoma. Se começa em tecidos conjuntivos como osso, músculo ou cartilagem é chamado de sarcoma.

           Outras características que diferenciam os diversos tipos de câncer entre si são a velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes (metástases).



De todos os casos, 80% a 90% dos cânceres estão associados a fatores ambientais. Alguns deles são bem conhecidos: o cigarro pode causar câncer de pulmão, a exposição excessiva ao sol pode causar câncer de pele, e alguns vírus podem causar leucemia. Outros estão em estudo, como alguns componentes dos alimentos que ingerimos, e muitos são ainda completamente desconhecidos.

O Brasil e diversos países da América Latina experimentaram, nos últimos 20 anos, uma rápida transição demográfica, epidemiológica e nutricional. O número de casos novos de câncer cresce a cada ano. Para 2011, a estimativa do INCA (Instituto Nacional de Câncer) era a ocorrência de 489.270 casos novos de câncer no Brasil.

O câncer é uma doença que pode acometer diversos órgãos do corpo. O órgão onde é diagnosticado o tumor é reconhecido como a localização primária da doença.

● Os cânceres de pulmão, estômago, próstata, cólon e reto e mama aparecem entre as cinco maiores causas de mortalidade por câncer na população brasileira.

● As três principais causas de óbito por câncer entre os homens, em 2008, foram: 1º lugar o câncer de traquéia, brônquios e pulmões, seguido por câncer de próstata e câncer de estômago.

● As três maiores causas de óbito por câncer entre as mulheres, em 2008, foram: 1º lugar o câncer de mama, seguido por câncer de traquéia, brônquios e pulmões e câncer de cólon e reto.


Quadro 2. Estimativas, para os anos 2010/2011, do número de casos novos de câncer, em homens e mulheres, segundo localização primária



Masculino
Feminino
Total
Próstata
52.350
-
52.350
Mama feminina
-
49.240
49.240
Traquéia, brônquios e pulmões
17.800
9.830
27.630
Cólon e reto
13.310
14.800
28.110
Estômago
13.820
7.680
21.500
Colo do útero
-
18.430
18.430
Cavidade oral
10.330
3.790
14.120
Esôfago
7.890
2.740
10.630
Leucemias
5.240
4.340
9.580
Pele Melanoma*
2.960
2.970
5.930
Outras localizações
59.130
78.770
137.900
Subtotal
182.830
192.590
375.420
Pele não melanoma
53.410
60.440
113.850
Todas as neoplasias
236.240
253.030
489.270
 Fonte: Ministério da Saúde, 2011.
* Melanoma é um tipo de câncer que se desenvolve nos melanócitos, células responsáveis pela pigmentação da pele.
No Brasil, as estimativas para o ano de 2012 serão válidas também para o ano de 2013 e apontam a ocorrência de aproximadamente 518.510 casos novos de câncer, incluindo os casos de pele não melanoma, reforçando a magnitude do problema do câncer no país. Sem os casos de câncer da pele não melanoma, estima-se um total de 385 mil casos novos. Os tipos mais incidentes serão os cânceres de pele não melanoma, próstata, pulmão, cólon e reto e estômago para o sexo masculino; e os cânceres de pele não melanoma, mama, colo do útero, cólon e reto e glândula tireóide para o sexo feminino.

São esperados um total de 257.870 casos novos para o sexo masculino e 260.640 para o sexo feminino. Confirma-se a estimativa que o câncer da pele do tipo não melanoma (134 mil casos novos) será o mais incidente na população brasileira, seguido pelos tumores de próstata (60 mil), mama feminina (53 mil), cólon e reto (30 mil), pulmão (27 mil), estômago (20 mil) e colo do útero (18 mil).

Os 5 tumores mais incidentes para o sexo masculino serão o câncer de pele não melanoma (63 mil casos novos), próstata (60 mil), pulmão (17 mil), cólon e reto (14 mil) e estômago (13 mil). Para o sexo feminino, destacam-se, entre os 5 mais incidentes, os tumores de pele não melanoma (71 mil casos novos), mama (53 mil), colo do útero (18 mil), cólon e reto (16 mil) e pulmão (10 mil).

O desenvolvimento de várias das formas mais comuns de câncer resulta de uma interação entre fatores endógenos e ambientais, sendo o mais notável desses fatores à dieta. Acredita-se que cerca de 35% dos diversos tipos de câncer ocorrem em razão de dietas inadequadas. É possível identificar, por meio de estudos epidemiológicos, associações relevantes entre alguns padrões alimentares observados em diferentes regiões do globo e a prevalência de câncer. Outros fatores ambientais, tais como o tabagismo, a obesidade, a atividade física e a exposição a tipos específicos de vírus, bactérias e parasitas, além do contato freqüente com algumas substâncias carcinogênicas como produtos de carvão e amianto, também merecem ser salientados.


          A ingestão energética excessiva está associada positivamente ao aumento do risco de câncer de cólon, pulmão e esôfago, e o aumento do consumo de alimentos ricos em gordura ao aumento do risco de câncer de cólon. A redução no consumo de frutas, hortaliças (fontes de fibras), concomitante ou não ao aumento do consumo de alimentos ricos em gorduras, está correlacionada ao maior risco de câncer de estômago, cólon e reto.


Alterações nutricionais no câncer


          A desnutrição em câncer apresenta uma incidência entre 30 e 50% dos casos, sendo conhecida como caquexia e tendo como manifestações clínicas anorexia, perda tecidual, atrofia da musculatura esquelética, miopatia, perda rápida de tecido gorduroso, atrofia de órgãos viscerais e anergia.

           A origem da desnutrição no câncer é multifatorial, advinda da anorexia decorrente de fatores anoréticos produzidos pelo tumor ou hospedeiro, dor e/ou obstrução do trato gastrintestinal. A própria agressão da terapêutica anti-cancerosa (cirurgia, quimioterapia e radioterapia) conduz à anorexia.

            Em geral, a perda de peso é associada ao diagnóstico de câncer gastrintestinal como tumores em pâncreas ou estômago. Perda de peso moderada é observada em pacientes com câncer de pulmão, cólon e tumores de próstata e menos comum em pacientes com câncer de mama e hematológicos.


Quadro 3. Fatores associados à diminuição da ingestão alimentar.


Sintomas
Fatores envolvidos na diminuição da ingestão alimentar
Anorexia
Pode estar presente no início do curso da doença, sintoma da atividade do tumor ou decorrente da terapia antineoplásica.
Resposta sistêmica ao processo patológico.
Medo, ansiedade, ou depressão.
Saciedade precoce
Presentes em pacientes desnutridos.
Odinofagia (dor na passagem do alimento pelo esôfago), mucosite (inflamação da mucosa da boca), estomatite (dor, ardência na mucosa da boca, são aftas).
Pode limitar a tolerância à adequada ingestão calórica.
Xerostomia (boca seca), disfagia (dificuldade de mastigação e deglutição), perda de dentes.
Contribui para a inadequação alimentar, dificuldade para a alimentação adequada.
Aversão alimentar
Desenvolvida por experiências alimentares negativas durante ou após a terapia antineoplásica.
Disfagia: dificuldade de mastigação e deglutição.
Pode necessitar de mudanças na consistência, textura, temperatura dos alimentos.
Dor
Processo da doença ou tratamento.

Fonte: Cuppari, 2002.
 

Prevenção do câncer


         O Comitê de peritos da World Cancer Research Fund (WCRF), em associação com o do American Institute for Cancer Research (AICR), desenvolveram um painel contendo as principais recomendações, visando a prevenção do câncer (Quadro 4).

Quadro 4. Recomendações propostas pelo WCRF em associação com o AICR.



Recomendações
Orientações gerais
1. Variedade e equilíbrio
Escolher uma alimentação variada e baseada predominantemente em verduras, legumes e frutas, com a utilização mínima de alimentos processados e açúcares simples.
2. Peso saudável
Evitar o excesso de peso e o peso muito inferior ao recomendado para a idade.
3. Atividade física
Dedicar uma hora diária para caminhada ou exercícios similares e uma hora, pelo menos uma vez por semana, para exercícios mais intensos.
4. Hortaliças e frutas
Ingerir 400 a 800g, ou 5 ou mais porções de frutas e verduras por dia.
5. Cereais, leguminosas, raízes e tubérculos
Ingerir 600 a 800g ou mais de sete porções diárias de cereais variados, leguminosas, raízes, tubérculos e verduras. Evitar alimentos processados e limitar o consumo de açúcar refinado.
6. Consumo de álcool
O consumo de álcool não é recomendado. Contudo, o limite para o sexo masculino é de dois copos de vinho por dia e um para o sexo feminino.
7. Carne bovina
Limitar o consumo de carne vermelha para menos de 80 gramas diariamente podendo substituir a carne bovina por peixe, frango ou carne de animais não-domesticados. Utilizar métodos de preparo com temperaturas mais baixas, como grelhado, assado ou cozido. Nunca expor o alimento diretamente ao fogo.
8. Gorduras
Limitar o consumo de alimentos gordurosos, principalmente se for de origem animal. Recomenda-se até 30% do Valor Calórico Total (VCT), com redução do consumo de gorduras saturadas (< 3g/100g do alimento) e colesterol. Tentar incluir óleo de oliva, peixe e castanhas na dieta.
9. Ervas e temperos naturais
Limitar o consumo de alimentos com excesso de sal e o uso de temperos prontos. Preferir ervas e temperos naturais.
10. Estocagem
Não consumir alimentos estocados por muito tempo, principalmente amendoim e derivados, em razão do risco de contaminação com micotoxinas (são compostos químicos venenosos produzidos por certos fungos).
11. Refrigeração
Utilizar a refrigeração ou outros métodos adequados para preservar alimentos perecíveis, evitando a salga e o vinagre.
12. Aditivos e resíduos
Consumir alimentos que possuam somente os aditivos e contaminantes previstos pela legislação vigente.
13. Método de preparo
Evitar alimentos em conserva ou salmoura, bem como os curados ou defumados, a carne de churrasco e alimentos tostados. Preferir carne ou peixe grelhados, assados ou cozidos.
14. Suplementos
Não são necessários suplementos para indivíduos que seguem estas recomendações.
15. Cigarro e tabaco
Não fumar ou mascar fumo.

Fonte: Garófolo et. al, 2004. Adaptada do World Cancer Research Fund (WCRF) e American Institute for Cancer Research (AICR).
   
Escolhas saudáveis na alimentação e nas atividades do dia-a-dia são formas importantes de se proteger contra câncer.


As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
 


Referências Bibliográficas:

Cozzolino, SMF. Biodisponibilidade de nutrientes. 1 ed. São Paulo: Manole, 2005; p.736-787.

Cuppari, L. Nutrição clínica no adulto. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar. 1 ed. São Paulo: Manole, 2002; p.223-234.

Fenech, M. Chromosomal biomakers of genomic instability relevant to cancer. DDT 2002; v.7, n.22, p.1128-1137.

Food and Agriculture Organization (FAO). Disponível em: www.fao.org. Acessado em 19/11/2012.

Garófolo, A; Avesani, CM; Camargo, KG; Barros, ME; Silva, SRJ; Taddei, JAAC; Sigulem, DM. Dieta e câncer: um enfoque epidemiológico. Rev. Nutr 2004; v.17, n.4, p.491-505.

Hemangioma. Disponível em: http://www.hemangioma.com.br/hemangioma Acessado em: 17/11/2012.

INCA-Instituto Nacional de Câncer. Disponível em : www.inca.gov.br. Acessado em 17/11/2012.

Machado, MM; Rosa, ACF; Lemes, MS. et al. Hemangiomas hepáticos: aspectos ultra-sonográficos e clínicos. Radiol. Bras 2006; v.39, n.6, p.441-446.

Mahan, LK; Stump, SE. Alimentos, nutrição e dietoterapia. 10 ed. São Paulo: Rocca, 2003. p. 838-858.

Ministério da Saúde. ABC do Câncer: Abordagens Básicas Para o Controle do Câncer. Rio de Janeiro, 2011.

Ministério da Saúde. Reciclando as ideias sobre alimentação e câncer. Disponível em: www.saude.gov.br Acessado em 19/11/2012.

Muscaritoli M; Anker SD; Argiles J; et.al. Consensus definition of sarcopenia, cachexia and pre-cachexia: Joint document elaborated by Special Interest Groups (SIG)“cachexia-anorexia in chronic wasting diseases’’ and ‘‘nutrition in geriatrics”. Clin Nutr 2010; v.29, n. 2, p.154-159.

Muscaritoli M, Costelli P, Aversa Z, Bonetto A, Baccino FM, Fanelli FR. New strategies to overcome cancer cachexia: from molecular mechanisms to the ‘Parallel Pathway’. Asia Pac J Clin Nutr 2008;v.17(S1),p.387-390.

Neville, BD; Damm, DD; Allen, CM; Bouquot, JE. Patologia oral e maxilofacial. 1 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. p. 230-251.

Sichieri R, Everhart JE, Mendonça GAS. Diet and mortality from common cancers in Brazil: an ecological study. Cad Saúde Pública 1996; v.12, n.1, p.53-9.

Tumores produtores de tecido ósseo. Disponível em: http://www.unifesp.br/dorto-onco/livro/tumor3p1.htm Acessado em 17/11/2012.

World Cancer Research Fund. Food, nutrition and prevention of cancer: A global perspective. Washington: American Institute for Cancer Research; 1997. p.35-71, 508-40.

World Cancer Research Fund 2001. Disponível em: www.wcrf.org. Acessado em 19/11/2012.

World Cancer Research Fund. Diet and health recommendations for the prevention of cancer. Information Series One. London; 1998. p.1-33.