segunda-feira, 30 de junho de 2014

Flavonoides

     Os compostos fenólicos são originados do metabolismo secundário das plantas, derivados dos aminoácidos aromáticos fenilalanina e também da tirosina. Quimicamente, os compostos fenólicos podem ser definidos como substâncias que possuem um anel aromático contendo um ou mais grupo hidroxila, incluindo seus derivados. Existe uma grande variedade de compostos fenólicos, incluindo os fenois simples, derivados do ácido benzoico, ligninas e flavonoides entre outros.

         Os flavonoides são uma classe muito extensa de produtos naturais distribuídas no reino vegetal. Estão presentes em todas as partes das plantas, desde as raízes até as flores e frutos, sendo encontrados nos vacúolos das células. Ocorrem de forma livre (aglicona) ou ligados a açúcares (glicosídeos). Muitos são coloridos (amarelos), atuando na atração de insetos para a polinização das plantas. Essa ampla classe de substâncias de origem natural, cuja síntese não ocorre na espécie humana, possui importantes propriedades farmacológicas que atuam sobre o sistema biológico, tais como ação antioxidante, antiinflamatória, antialérgica, antiviral e anticarcinogênica.

       Os flavonoides são classificados em 10 classes de compostos, de acordo com seu processo de formação: antocianinas, leucoantocianidinas, flavonois, flavonas, glicoflavonas, biflavonilas, chalconas, auronas, flavanonas e isoflavonas.

          A subclasse dos flavonois é a mais abundante, em que a quercetina, o caempferol e a miricetina são os mais comumente encontrados em frutas e hortaliças. As flavanonas são encontradas predominantemente em frutas cítricas e as flavonas são encontradas em ervas aromáticas e grãos de cereais. Os flavonois são encontrados em grande quantidade nos chás (verde e preto) e no vinho tinto, mas podem também ser encontrados em frutas. As isoflavonas ocorrem em leguminosas, como soja e sementes oleaginosas. As antocianinas são responsáveis pelas colorações rosa, laranja, vermelha, violeta e azul, variando de acordo com o pH e presença de outros pigmentos, estando presentes em uvas, morangos e frutas vermelhas em geral.

        Dentre os interesses farmacêuticos, os flavonoides têm lugar de destaque devido às propriedades antitumorais, antialérgicos, antiinflamatórios e antivirais, sendo atualmente estudados no combate à AIDS.

       Os flavonoides podem estar relacionados com a prevenção/melhoria de diversas doenças, incluindo a síndrome metabólica e as doenças associadas, como diabetes e hipertensão. Evidências apontam para efeitos benéficos do consumo de flavonoides na diminuição do risco de obesidade, hipertrigliceridemia, hipertensão, hipercolesterolemia, e resistência à insulina.  

       Acredita-se que os flavonoides quando ingeridos de forma regular através da alimentação diária, podem auxiliar na prevenção de doenças do sistema cardiovascular. Esses compostos são muito importantes para o sistema circulatório, uma vez que regulam a permeabilidade capilar, impedindo a saída de proteínas e células sanguíneas, permitindo o fluxo constante de oxigênio, dióxido de carbono e de nutrientes essenciais. 

          Estudos demonstraram que a ingestão de flavonoides está associada com redução do risco de doenças cardiovasculares, por meio da prevenção da oxidação de LDL-colesterol (lipoproteína de baixa densidade) e diminuição da agregação plaquetária.

No entanto, apesar de terem alguns mecanismos moleculares descritos, ainda são necessários mais estudos para compreender seus mecanismos de ação. Estas dificuldades são explicadas pelas relações complexas entre os fatores de risco de doenças, os múltiplos alvos biológicos que controlam esses fatores de risco e o número elevado de flavonoides (incluindo os seus metabólitos) presentes na dieta.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.


Referências Bibliográficas:

Castro, RCB. Papel dos flavonoides na saúde humana. Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em: 05/06/2014.

Corcoran MP, McKay DL, Blumberg JB. Flavonoid basics: chemistry, sources, mechanisms of action, and safety. J Nutr Gerontol Geriatr. 2012;31(3):176-89.

Galleano M, Calabro V, Prince PD, Litterio MC, Piotrkowski B, Vazquez-Prieto MA, et al. Flavonoids and metabolic syndrome. Ann N Y Acad Sci. 2012;1259(1):87-94.


Vila, FC. Identificação dos flavonoides com atividade antioxidante da cana-de-açúcar. [Dissertação de Mestrado]. Universidade de São Paulo – USP, 2006.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Hipovitaminose A

A deficiência de vitamina A é um dos problemas nutricionais mais frequentes no mundo. A Organização Mundial da Saúde estimou que mais de 250 milhões de crianças em todo o mundo têm reservas diminuídas de vitamina A. Prevalência elevada desta carência é encontrada em crianças pré-e scolares e em mulheres grávidas e lactantes. A deficiência clínica da vitamina é definida pela presença de cegueira noturna (quando não se consegue enxergar em ambientes pouco iluminados), manchas de Bitot (é a manifestação mais acentuada da xeroftalmia e aparece na parte exposta da conjuntiva – membrana mucosa que reveste a parte interna da pálpebra), xerose (estágio quando a córnea já foi afetada. Os olhos perdem o brilho e assumem um aspecto granular) e/ou ulcerações corneanas e cicatrizes corneanas relacionadas à xeroftalmia.

Há de se considerar, também, a deficiência subclínica de vitamina A, a qual, em crianças em idade pré-escolar, é definida pela prevalência de níveis de retinol sérico menores que 0,70mmol/L. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o encontro de prevalência de níveis séricos de retinol < 0,70mmol/L em 2% a < 10% da população infantil de 6 a 71 meses de idade indica problema de saúde pública leve, de 10% a < 20%, problema moderado e > 20%, grave.

       A Vitamina A é essencial ao crescimento e desenvolvimento do ser humano. Atua também na manutenção da visão, no funcionamento adequado do sistema imunológico (defesa do organismo contra doenças, em especial as infecciosas), mantêm saudáveis as mucosas (cobertura interna do corpo que recobre alguns órgãos como nariz, garganta, boca, olhos, estômago) que também atuam como barreiras de proteção contra infecções.

Estudos mais recentes vêm mostrando que a Vitamina A age como antioxidante (combate os radicais livres que aceleram o envelhecimento e estão associados a algumas doenças). Porém, recomenda-se cautela no uso de vitamina A, mediante o uso de megadoses, por exemplo, uma vez que, em excesso, ela também é prejudicial ao organismo.

            O diagnóstico da Deficiência de Vitamina A só pode ser confirmado por profissionais de saúde, pois muitos dos sinais são comuns a outras doenças, embora outros sejam mais característicos da Hipovitaminose A:

● Um dos epitélios severamente afetado é o do revestimento ocular, levando à xeroftalmia. A xeroftalmia é o nome genérico dado aos diversos sinais e sintomas oculares da hipovitaminose A. A forma clínica mais precoce da xeroftalmia é a cegueira noturna onde a criança não consegue boa adaptação visual em ambientes pouco iluminados; manifestações mais acentuadas da xeroftalmia são a mancha de Bitot, normalmente localizada na parte exposta da conjuntiva, e a xerose; nos estágios mais avançados a córnea também está afetada constituindo a xerose corneal, caracterizada pela perda do brilho assumindo aspecto granular, e ulceração da córnea; a ulceração progressiva pode levar à necrose e destruição do globo ocular provocando a cegueira irreversível, o que é chamado de ceratomalácia.

● Infecções frequentes podem indicar carência, pois a falta de Vitamina A reduz a capacidade do organismo de se defender das doenças.

Deficiência

► Falta de amamentação ou desmame precoce: o leite materno é rico em vitamina A e é o alimento ideal para crianças até seis meses de idade;

► Consumo insuficiente de alimentos ricos em vitamina A;

► Consumo insuficiente de alimentos que contêm gordura: o organismo humano necessita de uma quantidade de gordura proveniente dos alimentos para manter diversas funções essenciais ao seu bom funcionamento. Uma delas é permitir a absorção de algumas vitaminas, chamadas lipossolúveis (Vitaminas A, D, E e K);

► Infecções frequentes: as infecções que acometem as crianças levam a uma diminuição do apetite: a criança passa a ingerir menos alimentos podendo surgir uma deficiência de Vitamina A. Além disso, a infecção faz com que as necessidades orgânicas de Vitamina A sejam mais altas, levando a redução dos estoques no organismo e desencadeando ou agravando o estado nutricional.

Fontes Alimentares


A vitamina A pré-formada (retinol) ("pronta para ser usada pelo organismo") é encontrada em alimentos de origem animal: vísceras (principalmente fígado), gemas de ovos e leite integral e seus derivados (manteiga e queijo).

       Os vegetais são fontes de vitamina A sob a forma de carotenóides (precursores de vitamina) os quais, no organismo, converterão em vitamina A. Em geral, frutas e legumes amarelos e alaranjados e vegetais verde-escuros são ricos em carotenóides: manga, mamão, cajá, caju maduro, goiaba vermelha, abóbora/jerimum, cenoura, acelga espinafre, chicória, couve, salsa etc.... Alguns frutos de palmeira e seus óleos também são muito ricos em vitamina A: dendê, buriti, pequi, pupunha, tucumã.

Recomendações Dietéticas

Estágio da Vida
Idade
Recomendação (retinol)
Bebês
0 a 1 ano
375 µg
Crianças
1 a 3 anos
400 µg

4 a 6 anos
500 µg

7 a 10 anos
700 µg
Meninos
> 11 anos
1.000 µg
Meninas
> 11 anos
1.000 µg
Lactantes
Primeiros 6 meses
1.300 µg

Segundos 6 meses
1.200 µg
Fonte: RDA, 1989/ Ministério da Saúde.

Suplementação

A suplementação periódica da população de risco com doses maciças de vitamina A, a curto prazo, é uma das estratégias mais utilizadas para prevenir e controlar a Deficiência de Vitamina A (DVA). A conduta de administração da megadose de vitamina A é:

● para crianças de 6 meses a 11 meses de idade – 1 megadose de vitamina A na concentração de 100.000 UI;

● para crianças de 12 a 59 meses de idade – 1 megadose de vitamina A na concentração de 200.000 UI a cada 6 meses;

● para puérperas – 1 megadose de vitamina A na concentração de 200.000 UI, no pós-parto imediato, ainda na maternidade, antes da alta hospitalar.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Cadernos de Atenção Básica. Hipovitaminose A. Ministério da Saúde. Disponível em: www.bvsms.saude.gov.br Acessado em: 10/06/2014.

Geraldo, RRC; Paiva, SAR; Pitas, AMCS; Godoy, I; Campana, AO. Distribuição da hipovitaminose A no Brasil nas últimas quatro décadas: ingestão alimentar, sinais clínicos e dados bioquímicos. Rev Nutr 2003; v. 16, n.4: p. 443-460.


Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A. Ministério da Saúde. Disponível em: www.nutricao.saude.gov.br Acessado em: 10/06/2014.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Microbiota intestinal – quais fatores podem interferir na sua colonização?

A composição da microbiota intestinal depende de diversos fatores ainda pouco conhecidos. Sabe-se que alterações significativas na microbiota intestinal humana estão associadas com o aumento da obesidade e desenvolvimento de diabetes na vida adulta, além da relação com diversos sinais e sintomas. Portanto, é fundamental saber quais os gatilhos que influenciam no desenvolvimento da microbiota intestinal.


A Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização de Agricultura e Alimentos (OAA) definem probióticos como: “microrganismos vivos, que quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro” (JOINT FAO/WHO, 2002).

A colonização bacteriana do intestino começa imediatamente após o parto, essas bactérias são provenientes principalmente da flora vaginal e fecal da mãe no parto normal, já os recém-nascidos por cesárea são colonizados pelas bactérias presentes no ambiente (MORAIS; JACOB, 2006).

Diversos estudos relatam a importância de uma microbiota intestinal saudável para prevenção e tratamento de doenças e que o desequilíbrio na microbiota está relacionado com o desenvolvimento de doenças (CLEMENTE, 2012). Round & Mazmanian (2009) colocam que o sistema imunológico é influenciado pela colonização bacteriana do intestino e influenciam também no desenvolvimento de doença inflamatória do intestino. Ley (2010) Pflughoeft e Versalovic (2012) relatam que alterações significativas na microbiota intestinal estão associadas com o aumento da obesidade e desenvolvimento de diabetes.

A influência da microbiota intestinal na saúde humana é contínua desde o nascimento até a velhice. A microbiota materna pode influenciar tanto o ambiente intrauterino e pós-natal na saúde do feto. Fatores nutricionais e ambientais têm sido estudados perante a relação com o desenvolvimento de um intestino saudável. A microbiota intestinal é importante para manter os processos fisiológicos normais ao longo da vida.

Fatores ambientais extrínsecos (como o uso de antibióticos, dieta, estresse, doenças e ferimentos) e o genoma do hospedeiro podem influenciar diretamente na composição da microbiota intestinal, com implicações para a saúde humana. O desequilíbrio da microbiota intestinal, mais conhecido como disbiose, pode levar a ao desenvolvimento de diversas doenças (Figura 1), incluindo (A) doença inflamatória do intestino, o câncer do cólon, e síndrome do intestino irritável; (B) úlceras gástricas, doença hepática gordurosa não alcoólica e obesidade e síndromes metabólicas; (C) a asma, atopia, e hipertensão; e (D) o humor e o comportamento por meio de sinalização hormonal, por exemplo, o GLP-1 (NICHOLSON et al, 2012).

Figura 1 – Fatores que podem influenciar na microbiota intestinal humana (NICHOLSON et al, 2012).

Como modular a microbiota?

         A utilização de suplementos com cepas de pré e probióticos já é muito utilizada por nutricionistas funcional e estudos demonstram excelentes resultados na nossa saúde.

           Uma alimentação equilibrada, rica em fibras (FOS), pobre em produtos industrializados e açúcares é fundamental para melhorar a sua saúde intestinal. Diversos alimentos tem ação na modulação da microbiotaintestinal como a batata yacon e biomassa de banana verde.

         Outros fatores devem ser considerados como estresse, poluição, hereditariedade e estilo de vida para a modulação da microbiota intestinal.

Texto elaborado por: Nutricionista Fernanda Piazera

Formada em Nutrição pela Universidade Regional de Blumenau – FURB e Pós-graduanda em Nutrição Clínica Funcional pela VP Consultoria (UNICSUL/SP).
Atualmente atua na área de Nutrição Clínica com ênfase em Nutrição Funcional.


As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências:

CLEMENTE, J. C., URSELL, L. K., PARFREY, L. W., KNIGHT, R. The impact of the gut microbiota on human health: an integrative view. Cell, v. 148, n. 6, p. 1258-1270, 2012.

JOINT FAO/WHO Food and Agricultural Organization/World Health Organization Guidelines for the Evaluation of Probiotics in Food. London, Ontario, Canada. 11 p. April 30 and May 1, 2002.

LEY, R. E. Obesity and the human microbiome. Current opinion in gastroenterology, v. 26, n. 1, p. 5-11, 2010.

MORAIS, M. B.; JACOB, C. M. A.; O papel dos probióticos e prebióticos na prática pediátrica. J. Pediatr. (Rio J.),  Porto Alegre ,  v. 82, n. 5, supl. Nov.  2006.

NICHOLSON, Jeremy K. et al. Microbiota Host-gut interações metabólicas.Ciência , v 336, n. 6086, p. 1262-1267, 2012.

PFLUGHOEFT, K.; VERSALOVIC, J. Human microbiome in health and disease. Annu Rev Pathol 7: 99–122. 2012.


ROUND, J. L.; MAZMANIAN, S. K. The gut microbiota shapes intestinal immune responses during health and disease. Nature Reviews Immunology, v. 9, n. 5, p. 313-323, 2009.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Gota

    A gota é uma doença reumatológica caracterizada pelo aumento sanguíneo nos níveis de ácido úrico (hiperuricemia). Em geral, quando o organismo decompõe os produtos de excreção das purinas, produz normalmente o ácido úrico, que passa pelo sangue e posteriormente pelo rim para ser eliminado na urina. Em pacientes com gota, não ocorre a excreção do ácido úrico adequadamente, ocorrendo um acúmulo de sua concentração no sangue.

        O ácido úrico é um ácido fraco que existe largamente como urato, a forma ionizada, em pH fisiológico. A quantidade de urato no organismo é o resultado do balanço entre a ingesta dietética, a síntese endógena e a taxa de excreção. A hiperuricemia pode ser o resultado da redução da excreção de ácido úrico (85% a 90%) ou do aumento da produção (10% a 15%). Mesmo em indivíduos cuja excreção diária de ácido úrico esteja acima do normal (hiperprodutores), pode ocorrer redução relativa na eliminação renal do ácido úrico, ou seja, tanto a hiperprodução quanto a hipoexcreção contribuiriam para a hiperuricemia.



                              Fonte: Pinheiro, 2008.

A hiperuricemia é geralmente definida como um nível de ácido úrico no sangue superior a 7,0 mg/dL para homens e superior a 6,0 mg/dL em mulheres. Com o aumento da concentração de ácido úrico no sangue, ocorre a deposição de cristais de ácido úrico nos tecidos, principalmente nas articulações e tecidos circundantes (borda externa da orelha, cotovelo, dedão do pé, dedos das mãos) produzindo o quadro de gota, causando inflamação e consequentemente dor e inchaço.

Esse acúmulo pode causar inflamação nos tecidos articulares e levar a sintomas crônicos da artrite, havendo também a possibilidade de se desenvolverem cálculos renais de ácido úrico e, mais tardiamente, doença renal, devido à sobrecarga da função renal. Porém, a hiperuricemia pode desenvolver-se independentemente à gota.

O nível elevado de ácido úrico tem sido considerado um importante marcador para fatores de risco de doenças cardiovasculares e síndrome metabólica. A hiperuricemia está frequentemente presente nas mesmas condições clínicas que se associam a resistência à insulina. As causas mais comuns de hiperuricemia são os excessos alimentares, ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, sedentarismo, sendo a obesidade um fator fortemente associado.

As estratégias nutricionais para a redução dos níveis de ácido úrico baseiam-se na perda de peso (caso o indivíduo se encontre em sobrepeso/obesidade), redução do consumo de alimentos ricos em purinas, aumento da ingestão hídrica e aumento da ingestão de alguns alimentos que estão associados com a redução dos níveis de ácido úrico.

Orientações:


- A hiperuricemia e a gota, geralmente, estão associadas com obesidade, hipertensão, dislipidemia, aterosclerose e intolerância à glicose (síndrome metabólica). Assim sendo, a orientação deve contemplar mudanças de hábitos de vida e informações precisas sobre dieta e consumo de bebidas alcoólicas;

- Os alimentos ricos em purinas, que devem ser evitados, são carne vermelha, vísceras (fígado, coração, língua e rins), alguns peixes e frutos do mar. Estudos demonstram que a ingestão de vegetais ricos em purinas (ervilhas, feijões, lentilhas, espinafre e couve-flor) não está associada com a hiperuricemia. Além disso, legumes como cenoura e a ingestão de cogumelos estão associados com a diminuição dos níveis de ácido úrico. Zhang e colaboradores observaram que o consumo elevado de alimentos de origem animal, frituras e refrigerantes estão fortemente associados com a hiperuricemia. Outros pesquisadores sugerem que a ingestão de produtos lácteos com baixo teor de gordura, vegetais ricos em purinas, grãos integrais, nozes, legumes, frutas, café e suplementos de vitamina C contribuem para a redução dos níveis de ácido úrico;

- É importante "negociar" com o paciente que faz uso de bebida alcoólica quanto ao momento de consumi-la, a quantidade e o tipo de bebida. Fazer uso de bebidas alcoólicas durante ou logo após um episódio agudo pode prolongá-lo ou reduzir o intervalo de recidiva. Após o controle adequado de uma crise aguda, a ingestão de uma quantidade moderada (por exemplo, uma taça de vinho ao dia) pode ser permitida. O uso de cerveja, principalmente em grandes quantidades, deve ser formalmente evitado;

- Líquidos como água e sucos devem ser ingeridos à vontade (mais de três litros por dia). Isso facilita a excreção de ácido úrico e minimiza a possível formação de cálculos;

- Quanto à hiperuricemia propriamente dita, é suficiente enfatizar a necessidade de se restringir alimentos ricos em purinas de origem animal. Alimentos ricos em purinas de origem vegetal não precisam nem devem ser evitados e o consumo de laticínios com baixo teor de gordura deve ser estimulado;

- A dieta não pode ser de muito baixa caloria e não deve haver jejum prolongado, pois ambos podem aumentar os níveis de ácido úrico no sangue devido à acidose metabólica e pelo estado de hidratação do compartimento do líquido extracelular, influenciando a reabsorção tubular de íons filtrados e de ácido úrico;

- Medicamentos, quando receitados, devem ser seguidos por todo o tempo recomendado, pois podem ter efeito incompleto se interrompidos;

- Quando presentes, tanto o tabagismo quanto o sedentarismo devem ser evitados. A orientação dietética deve ter como prioridades o controle do peso corporal, da pressão arterial sistêmica e das eventuais alterações metabólicas presentes, como a intolerância à glicose e a dislipidemia.

Alimentos com alto teor de purinas
Alimentos com médio teor de purinas
Alimentos com baixo teor de purinas
Carnes: vitela, bacon, cabrito, carneiro ou ovelha, embutidos.
Carnes: vaca, frango, porco, coelho e presunto.
Leite, chá, café, chocolate, queijos magros, ovos cozidos, manteiga e margarina.
Miúdos: fígado, coração, língua, rim e miolos.
Peixes e frutos do mar: camarão, ostra, lagosta, caranguejo.
Cereais e farináceos: pão, macarrão, sagu, fubá, mandioca, araruta, arroz branco e milho.
Peixes e frutos do mar: sardinha, salmão, truta, bacalhau, arenque, anchova, ovas de peixe, mexilhão, marisco.
Leguminosas: feijão, soja, grão-de-bico, ervilha, lentilha, aspargos, cogumelos, couve-flor e espinafre.
Vegetais: couve, repolho, alface, acelga, agrião, radiche.
Aves: galeto, peru, pombo e ganso.
Cereais integrais: arroz integral, trigo em grão, centeio e aveia.
Doces e frutas de todos os tipos, incluindo todos os sucos.
Bebidas alcoólicas de todos os tipos.
Oleaginosas: nozes, amendoim, castanha, pistache, avelã.

Tomates e extrato de tomate.


Caldos de carnes e molhos prontos.


Fermento de pães.

                      Benvenutri
Fonte: Salgado, JM. 2004.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:

Brocanelli, AM. O que é gota? Disponível em: www.nutrociência.com.br Acessado em: 09/06/2014.

Castro, RCB. Quais são as estratégias nutricionais na hiperuricemia (níveis altos de ácido úrico no sangue)? Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em: 09/06/2014.

Cruz, Boris Afonso. Gota. Rev. Bras. Reumatol., Dez 2006, vol.46, no.6, p.419-422.

Gota. Sociedade Brasileira de Reumatologia. Disponível em: www.reumatologia.com.br Acessado em: 09/06/2014.

Marques, CG. O que é e quais os cuidados nutricionais que devem receber os pacientes com gota? Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em: 09/06/2014.

Pinheiro, GRC. Revendo a orientação dietética na gota. Rev Bras Reumatol 2008; v. 48, n.3: p. 157-161.

Salgado, JM. Pharmacia de Alimentos. 1. ed. São Paulo: Madras, 2004.


Zhang M, Chang H, Gao Y, Wang X, Xu W, Liu D, et al. Major dietary patterns and risk of asymptomatic hyperuricemia in Chinese adults. J Nutr Sci Vitaminol (Tokyo). 2012; v.58, n.5: p. 339-45.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Chá Verde

O chá é uma bebida amplamente utilizada, apresentando um consumo mundial per capita de, aproximadamente, 120mL/dia, perdendo apenas para a água como a bebida mais consumida no mundo. Dependendo do nível de fermentação ou oxidação, o chá proveniente das folhas da Camellia sinensis pode ser categorizado em três tipos: chá verde, o qual não sofre fermentação durante o processamento e deste modo retém a cor original de suas folhas, sendo amplamente consumido em países da Ásia; o chá oolong o qual é parcialmente fermentado, resultando em um chá verde-preto, tendo sua produção e o consumo acentuados na China; e o chá preto, cujo processo de fermentação é maior do que o do chá oolong, contribuindo assim para uma coloração escurecida, além de lhe conferir sabor característico.

            O chá verde contém componentes polifenólicos, que incluem flavonóis, flavonoides e ácidos fenólicos, que totalizam cerca de 30% do peso seco das folhas. A maioria dos polifenóis do chá verde se apresentam como flavonóis, e dentre estes, predominam as catequinas. As principais catequinas do chá verde são: epicatequina (EC), 3-galato de epicatequina (GEC), epigalocatequina (EGC) e 3-galato de epigalocatequina (GEGC).


                                Fonte: Lamarão & Fialho, 2009.

Uma típica bebida de chá verde, preparada em uma proporção de 1 grama de folhas para 100mL de água por 3 minutos de fervura, geralmente, contém cerca de 35-45 mg/100mL de catequinas e 6 mg/100mL de cafeína, dentre outros constituintes. Estimou-se que uma xícara de 240mL de chá verde contém cerca de 200mg de GEGC, o maior constituinte polifenólico do chá verde.

As catequinas são flavonóides que auxiliam contra diversos tipos de câncer, pois agem varrendo os radicais livres que oxidam as células no nosso organismo. Estas substâncias favorecem ainda a remineralização óssea, sendo ótima para evitar osteoporose; outros benefícios são atividade antibacteriana (atua contra diversas bactérias), antivirótica (age contra diversos tipos de vírus), antifibrótica (age contra o endurecimento das artérias e de outras fibras ligadas a diversos órgãos, auxiliando também como anti-inflamatório) e neuroprotetora (protege os neurônios contra o envelhecimento precoce e contra sua perda), além de ser excelente fonte de antioxidantes no combate ao envelhecimento precoce de maneira geral.

Câncer

      O consumo de chá tem-se mostrado prática protetora contra agentes químicos indutoras de carcinoma (câncer) no estômago, pulmão, esôfago, duodeno, pâncreas, fígado, mama, cólon. Vários derivados de epicatequina presentes nos chás verdes têm mostrado atividade em reduzir e impedir a formação de tumores cancerígenos. O mais ativo deles é a epicatequina-3-galato (EGCG). Embora os mecanismos dos efeitos quimiopreventivos do chá não estejam completamente esclarecidos, várias teorias têm sido propostas. Essas propriedades dos polifenois dos chás exibem efeito quimiopreventivo contra agentes de iniciação, promoção e progressão no desenvolvimento dos cânceres.

        Parece que as substâncias presentes no chá verde, principalmente a EGCG, evitam o sangramento de tumores de pele, impedem o aparecimento de lesões cancerosas no estômago, ajudam no tratamento do câncer de intestino e desestimulam a proliferação das células cancerígenas do pulmão.

       As catequinas e outros bioflavoides exibem atividade antioxidante semelhante à das vitaminas C e E, que também demonstram reduzir o risco de certos tipos de câncer, quando administradas como suplementos ou constituem naturalmente parte importante da alimentação.

Obesidade


Entre uma variedade de efeitos benéficos do chá verde, grande atenção tem sido dada à redução da gordura corporal. Evidências sugerem que o extrato do chá verde contendo 25% de epigalocatequina (GEGC) possa reduzir o apetite e aumentar o catabolismo de gorduras. As doses de chá verde que surtem tais efeitos variam largamente, mas tipicamente ficam em torno de 3 copos por dia, equivalente a, aproximadamente, 240 a 320mg de polifenois.

Alguns autores estudaram o efeito do chá verde no conteúdo de gordura e de proteína corporal, na ingestão alimentar, na digestibilidade e na energia despendida em ratos que foram alimentados com uma dieta hiperlipídica (30% de gordura). Os autores também avaliaram se os efeitos do chá estavam associados à ativação do β-adrenoreceptor e da termogênese no tecido adiposo marrom. Um dos grupos experimentais que recebeu alta concentração de gordura na sua dieta associada ao extrato aquoso de chá verde (ECV) na concentração de 20g/kg de dieta preveniu o incremento no ganho da gordura corporal sem afetar a ingestão energética e o peso corporal, quando comparado com o grupo controle, que recebeu dieta normolipídica. A administração simultânea de propranolol, um antagonista de β-adrenoreceptor, na concentração de 500mg/kg de dieta, inibiu o efeito supressor do chá verde em relação à gordura corporal e ao conteúdo protéico no tecido adiposo marrom. O autor concluiu que o efeito inibidor promovido pelo chá verde no ganho de gordura corporal em ratos com dieta contendo alto teor de gordura foi resultante, em parte, da redução na digestibilidade e do incremento da termogênese e do conteúdo proteico no tecido adiposo marrom pela ativação do β-adrenoreceptor.

Em estudo semelhante, investigou o efeito das catequinas do chá verde no metabolismo lipídico, no status antioxidante e no excesso de massa corporal em ratos durante a administração de uma dieta hiperenergética por 7 semanas. Um dos grupos experimentais recebeu as catequinas na quarta semana de experimento e ao final do tratamento esse grupo apresentou diminuição na concentração de colesterol total, triglicerídeos, LDL (lipoproteína de baixa densidade) e de gordura visceral.

Estilo de vida saudável, associado a uma dieta adequada, prática de exercícios físicos, abstinência de bebidas alcoólicas e do tabaco, podem combater a doença além de contribuírem para a melhora da qualidade de vida. Além disso, o consumo de certos alimentos funcionais, que produzem efeitos metabólicos, fisiológicos e benéficos à saúde parece ser muito útil no controle do peso. Enquanto alguns desses alimentos são capazes de promover saciedade, caso das fibras, outros possuem ação termogênica e aumentam a oxidação de gorduras, como é o caso do chá verde.

Doenças Cardiovasculares

            A presença dos antioxidantes naturais parece conferir o segundo principal benefício do chá verde, que é a probabilidade de redução do desenvolvimento da doença arterial coronária. A oxidação das lipoproteínas de baixa densidade (LDL) é uma das causas importantes no desenvolvimento da doença coronária.

            Alguns estudos realizados em animais, sobre a oxidação lipídica, revelaram que certas catequinas são cerca de 10 vezes mais eficazes, como antioxidantes, do que a vitamina E. Os flavoides existentes no chá verde também demonstraram, em experiências laboratoriais, limitar a peroxidação potencialmente prejudicial das LDL. Também existem provas de que as catequinas existentes no chá verde poderão reduzir o aumento da taxa de colesterol e, em particular, do colesterol LDL, quando é administrada aos animais experimentais dieta rica em gorduras.

Dica:

► Calcule uma colher rasa do chá verde para cada xícara de água fervendo. Deixe-o em infusão por 4 a 8 minutos, tempo necessário para os princípios ativos passarem para a água.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.


Referências Bibliográficas:

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