Além disso, diversos tipos de cânceres
foram encontrados em múmias e esqueletos de antigos egípcios, demonstrando que
neoplasias malignas não eram raras nessa população. Papiros escritos durante a
época das grandes pirâmides (3000 a 2500 a.C.) descreviam vários procedimentos
médicos e até mesmo cirúrgicos para tratamento das mais diversas afecções,
incluindo o câncer de mama. Da mesma forma, outros papiros mais recentes (1630
a 1350 a.C.) encontrados prescreviam diversos tratamentos à base de ervas para
picadas de insetos, mordidas e cânceres.
Câncer é o nome dado a um conjunto de
mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células
que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras
regiões do corpo.
Dividindo-se rapidamente, estas
células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação
de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tumor benigno
significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam
vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um
risco de vida.
Quadro 1 - Principais
diferenças entre tumores benignos e malignos.
Tumor Benigno
|
Tumor Maligno
|
Formado por células bem diferenciadas (semelhantes às do tecido
normal); estrutura típica do tecido de origem.
|
Formado por células anaplásicas (diferentes das do tecido normal);
atípico; falta diferenciação.
|
Crescimento progressivo; pode regredir; mitoses (tipo de divisão
celular) normais e raras.
|
Crescimento rápido; mitoses (tipo de divisão celular) anormais e
numerosas.
|
Massa bem delimitada, expansiva; não invade nem infiltra tecidos adjacentes.
|
Massa pouco delimitada, localmente invasiva; infiltra tecidos
adjacentes.
|
Não ocorre metástase.
|
Metástase frequentemente presente.
|
Fonte:
Ministério da Saúde, 2011.
Os diferentes tipos de câncer
correspondem aos vários tipos de células do corpo. Por exemplo, existem
diversos tipos de câncer de pele porque a pele é formada de mais de um tipo de
célula. Se o câncer tem início em tecidos epiteliais como pele ou mucosas ele é
denominado carcinoma.
Se começa em tecidos conjuntivos como osso, músculo ou cartilagem é chamado de sarcoma.
Outras características que
diferenciam os diversos tipos de câncer entre si são a velocidade de
multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos
ou distantes (metástases).
De todos os casos, 80% a 90% dos
cânceres estão associados a fatores ambientais. Alguns deles são bem
conhecidos: o cigarro pode causar câncer de pulmão, a exposição excessiva ao
sol pode causar câncer de pele, e alguns vírus podem causar leucemia. Outros
estão em estudo, como alguns componentes dos alimentos que ingerimos, e muitos
são ainda completamente desconhecidos.
O
Brasil e diversos países da América Latina experimentaram, nos últimos 20 anos,
uma rápida transição demográfica, epidemiológica e nutricional. O número de
casos novos de câncer cresce a cada ano. Para 2011, a estimativa do INCA
(Instituto Nacional de Câncer) era a ocorrência de 489.270 casos novos de
câncer no Brasil.
O câncer é uma doença que pode acometer diversos
órgãos do corpo. O órgão onde é diagnosticado o tumor é reconhecido como a
localização primária da doença.
● Os cânceres de pulmão, estômago, próstata, cólon e reto e mama
aparecem entre as cinco maiores causas de mortalidade por câncer na população
brasileira.
● As três principais causas de óbito por câncer entre os homens, em
2008, foram: 1º lugar o câncer de traquéia, brônquios e pulmões, seguido por
câncer de próstata e câncer de estômago.
● As três maiores causas de óbito por câncer entre as mulheres, em 2008,
foram: 1º lugar o câncer de mama, seguido por câncer de traquéia, brônquios e
pulmões e câncer de cólon e reto.
Quadro 2. Estimativas,
para os anos 2010/2011, do número de casos novos de câncer, em homens e
mulheres, segundo localização primária
Masculino
|
Feminino
|
Total
|
|
Próstata
|
52.350
|
-
|
52.350
|
Mama feminina
|
-
|
49.240
|
49.240
|
Traquéia, brônquios e pulmões
|
17.800
|
9.830
|
27.630
|
Cólon e reto
|
13.310
|
14.800
|
28.110
|
Estômago
|
13.820
|
7.680
|
21.500
|
Colo do útero
|
-
|
18.430
|
18.430
|
Cavidade oral
|
10.330
|
3.790
|
14.120
|
Esôfago
|
7.890
|
2.740
|
10.630
|
Leucemias
|
5.240
|
4.340
|
9.580
|
Pele Melanoma*
|
2.960
|
2.970
|
5.930
|
Outras localizações
|
59.130
|
78.770
|
137.900
|
Subtotal
|
182.830
|
192.590
|
375.420
|
Pele não melanoma
|
53.410
|
60.440
|
113.850
|
Todas as neoplasias
|
236.240
|
253.030
|
489.270
|
Fonte: Ministério da Saúde, 2011.
* Melanoma é um tipo de câncer que se desenvolve
nos melanócitos, células responsáveis pela pigmentação da pele.
No
Brasil, as estimativas para o ano de 2012 serão válidas também para o ano de
2013 e apontam a ocorrência de aproximadamente 518.510 casos novos de câncer,
incluindo os casos de pele não melanoma, reforçando a magnitude do problema do
câncer no país. Sem os casos de câncer da pele não melanoma, estima-se um total
de 385 mil casos novos. Os tipos mais incidentes serão os cânceres de pele não
melanoma, próstata, pulmão, cólon e reto e estômago para o sexo masculino; e os
cânceres de pele não melanoma, mama, colo do útero, cólon e reto e glândula
tireóide para o sexo feminino.
São
esperados um total de 257.870 casos novos para o sexo masculino e 260.640 para
o sexo feminino. Confirma-se a estimativa que o câncer da pele do tipo não
melanoma (134 mil casos novos) será o mais incidente na população brasileira,
seguido pelos tumores de próstata (60 mil), mama feminina (53 mil), cólon e
reto (30 mil), pulmão (27 mil), estômago (20 mil) e colo do útero (18 mil).
Os 5
tumores mais incidentes para o sexo masculino serão o câncer de pele não
melanoma (63 mil casos novos), próstata (60 mil), pulmão (17 mil), cólon e reto
(14 mil) e estômago (13 mil). Para o sexo feminino, destacam-se, entre os 5
mais incidentes, os tumores de pele não melanoma (71 mil casos novos), mama (53
mil), colo do útero (18 mil), cólon e reto (16 mil) e pulmão (10 mil).
O desenvolvimento de várias das
formas mais comuns de câncer resulta de uma interação entre fatores endógenos e
ambientais, sendo o mais notável desses fatores à dieta. Acredita-se que cerca
de 35% dos diversos tipos de câncer ocorrem em razão de dietas inadequadas. É
possível identificar, por meio de estudos epidemiológicos, associações
relevantes entre alguns padrões alimentares observados em diferentes regiões do
globo e a prevalência de câncer. Outros fatores ambientais, tais como o
tabagismo, a obesidade, a atividade física e a exposição a tipos específicos de
vírus, bactérias e parasitas, além do contato freqüente com algumas substâncias
carcinogênicas como produtos de carvão e amianto, também merecem ser
salientados.
A
ingestão energética excessiva está associada positivamente ao aumento do risco
de câncer de cólon, pulmão e esôfago, e o aumento do consumo de alimentos ricos
em gordura ao aumento do risco de câncer de cólon. A redução no consumo de
frutas, hortaliças (fontes de fibras), concomitante ou não ao aumento do
consumo de alimentos ricos em gorduras, está correlacionada ao maior risco de
câncer de estômago, cólon e reto.
Alterações nutricionais no câncer
A desnutrição em câncer
apresenta uma incidência entre 30 e 50% dos casos, sendo conhecida como
caquexia e tendo como manifestações clínicas anorexia, perda tecidual, atrofia
da musculatura esquelética, miopatia, perda rápida de tecido gorduroso, atrofia
de órgãos viscerais e anergia.
A origem da desnutrição
no câncer é multifatorial, advinda da anorexia decorrente de fatores anoréticos
produzidos pelo tumor ou hospedeiro, dor e/ou obstrução do trato gastrintestinal.
A própria agressão da terapêutica anti-cancerosa (cirurgia, quimioterapia e
radioterapia) conduz à anorexia.
Em geral, a perda de
peso é associada ao diagnóstico de câncer gastrintestinal como tumores em
pâncreas ou estômago. Perda de peso moderada é observada em pacientes com
câncer de pulmão, cólon e tumores de próstata e menos comum em pacientes com
câncer de mama e hematológicos.
Quadro 3. Fatores
associados à diminuição da ingestão alimentar.
Sintomas
|
Fatores envolvidos na
diminuição da ingestão alimentar
|
Anorexia
|
Pode estar presente no início do curso da doença, sintoma da atividade
do tumor ou decorrente da terapia antineoplásica.
Resposta sistêmica ao processo patológico.
Medo, ansiedade, ou depressão.
|
Saciedade precoce
|
Presentes em pacientes desnutridos.
|
Odinofagia (dor na passagem do alimento pelo esôfago), mucosite
(inflamação da mucosa da boca), estomatite (dor, ardência na mucosa da boca,
são aftas).
|
Pode limitar a tolerância à adequada ingestão calórica.
|
Xerostomia (boca seca), disfagia (dificuldade de mastigação e
deglutição), perda de dentes.
|
Contribui para a inadequação alimentar, dificuldade para a alimentação
adequada.
|
Aversão alimentar
|
Desenvolvida por experiências alimentares negativas durante ou após a
terapia antineoplásica.
|
Disfagia: dificuldade de mastigação e deglutição.
|
Pode necessitar de mudanças na consistência, textura, temperatura dos
alimentos.
|
Dor
|
Processo da doença ou tratamento.
|
Fonte: Cuppari, 2002.
Prevenção
do câncer
O Comitê de peritos da World Cancer
Research Fund (WCRF), em associação com o do American Institute for Cancer Research (AICR), desenvolveram um
painel contendo as principais recomendações, visando a prevenção do câncer
(Quadro 4).
Quadro 4. Recomendações propostas pelo WCRF em associação
com o AICR.
Recomendações
|
Orientações gerais
|
1. Variedade e equilíbrio
|
Escolher uma alimentação variada e baseada
predominantemente em verduras, legumes e frutas, com a utilização mínima de
alimentos processados e açúcares simples.
|
2. Peso saudável
|
Evitar o excesso de peso e o peso muito inferior
ao recomendado para a idade.
|
3. Atividade física
|
Dedicar uma hora diária para caminhada ou
exercícios similares e uma hora, pelo menos uma vez por semana, para
exercícios mais intensos.
|
4. Hortaliças e frutas
|
Ingerir 400 a 800g, ou 5 ou mais porções de
frutas e verduras por dia.
|
5. Cereais, leguminosas, raízes e tubérculos
|
Ingerir 600 a 800g ou mais de sete porções
diárias de cereais variados, leguminosas, raízes, tubérculos e verduras.
Evitar alimentos processados e limitar o consumo de açúcar refinado.
|
6. Consumo de álcool
|
O consumo de álcool não é recomendado. Contudo, o
limite para o sexo masculino é de dois copos de vinho por dia e um para o
sexo feminino.
|
7. Carne bovina
|
Limitar o consumo de carne vermelha
para menos de 80 gramas diariamente podendo substituir a carne bovina por peixe,
frango ou carne de animais não-domesticados. Utilizar métodos de preparo com
temperaturas mais baixas, como grelhado, assado ou cozido. Nunca expor o
alimento diretamente ao fogo.
|
8. Gorduras
|
Limitar o consumo de alimentos
gordurosos, principalmente se for de origem animal. Recomenda-se até 30% do
Valor Calórico Total (VCT), com redução do consumo de gorduras saturadas
(< 3g/100g do alimento) e colesterol. Tentar incluir óleo de oliva, peixe
e castanhas na dieta.
|
9. Ervas e temperos naturais
|
Limitar o consumo de alimentos com
excesso de sal e o uso de temperos prontos. Preferir ervas e temperos
naturais.
|
10. Estocagem
|
Não consumir alimentos estocados
por muito tempo, principalmente amendoim e derivados, em razão do risco de
contaminação com micotoxinas (são compostos químicos venenosos produzidos
por certos fungos).
|
11. Refrigeração
|
Utilizar a refrigeração ou outros
métodos adequados para preservar alimentos perecíveis, evitando a salga e o
vinagre.
|
12. Aditivos e resíduos
|
Consumir alimentos que possuam
somente os aditivos e contaminantes previstos pela legislação vigente.
|
13. Método de preparo
|
Evitar alimentos em conserva ou
salmoura, bem como os curados ou defumados, a carne de churrasco e alimentos
tostados. Preferir carne ou peixe grelhados, assados ou cozidos.
|
14. Suplementos
|
Não são necessários suplementos
para indivíduos que seguem estas recomendações.
|
15. Cigarro e tabaco
|
Não fumar ou mascar fumo.
|
Fonte: Garófolo et. al, 2004. Adaptada do World Cancer Research Fund (WCRF) e
American Institute for Cancer Research (AICR).
Escolhas saudáveis na alimentação e nas atividades
do dia-a-dia são formas importantes de se proteger contra câncer.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
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nutrientes. 1 ed. São Paulo: Manole, 2005; p.736-787.
Cuppari, L. Nutrição clínica no adulto. Guias
de medicina ambulatorial e hospitalar. 1
ed. São Paulo: Manole, 2002; p.223-234.
Fenech,
M. Chromosomal biomakers of genomic instability relevant to cancer. DDT 2002; v.7, n.22,
p.1128-1137.
Food
and Agriculture Organization (FAO). Disponível em: www.fao.org. Acessado em
19/11/2012.
Garófolo, A; Avesani, CM; Camargo, KG;
Barros, ME; Silva, SRJ; Taddei, JAAC; Sigulem, DM. Dieta e câncer: um enfoque
epidemiológico. Rev. Nutr 2004; v.17, n.4, p.491-505.
Hemangioma. Disponível em: http://www.hemangioma.com.br/hemangioma
Acessado em: 17/11/2012.
INCA-Instituto Nacional de Câncer. Disponível
em : www.inca.gov.br. Acessado em
17/11/2012.
Machado, MM; Rosa, ACF; Lemes, MS. et al.
Hemangiomas hepáticos: aspectos ultra-sonográficos e clínicos. Radiol. Bras
2006; v.39, n.6, p.441-446.
Mahan, LK; Stump, SE. Alimentos, nutrição e
dietoterapia. 10 ed. São Paulo: Rocca, 2003. p. 838-858.
Ministério da Saúde. ABC do Câncer:
Abordagens Básicas Para o Controle do Câncer. Rio
de Janeiro, 2011.
Ministério da Saúde. Reciclando as ideias
sobre alimentação e câncer. Disponível em: www.saude.gov.br
Acessado em 19/11/2012.
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Muscaritoli M, Costelli P, Aversa Z, Bonetto A, Baccino FM, Fanelli FR. New
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