sábado, 1 de dezembro de 2012

Dia Mundial de Luta Contra AIDS


No ano de 2008, aproximadamente 33,4 milhões de indivíduos viviam com HIV/AIDS e cerca de 2,7 milhões de novos casos foram detectados. A região geográfica mais afetada é a região do sub-Saara na África, que compreende aproximadamente 67% do número total de indivíduos com HIV/AIDS no mundo.


Na América Latina, aproximadamente 2 milhões de indivíduos vivem com HIV/AIDS e estima-se que 170 mil novas infecções ocorreram no ano de 2008. Atualmente no Brasil, das 530 mil pessoas que vivem com AIDS, 135 mil desconhecem sua situação e cerca de 30% dos pacientes ainda chegam ao serviço de saúde tardiamente.


As principais formas de transmissão do HIV são: via sexual, por relação homo e heterossexual; sanguínea (uso compartilhado de seringas e agulhas, transfusão de sangue) e perinatal, que é a transmissão de mão para filho durante a gestação, durante o parto ou pelo aleitamento materno. Há também a transmissão ocupacional, por acidente de trabalho, em profissionais da área de saúde que sofrem ferimentos pérfuro-cortantes contaminados com sangue de indivíduos infectados pelo vírus.


Entende-se por AIDS – síndrome de imunodeficiência adquirida, doença causada pela infecção pelo vírus HIV, caracterizada por progressiva destruição do sistema imune. O vírus habita os linfócitos T, resultando em vulnerabilidade do sistema de defesa, levando a infecções oportunistas, neoplasias e doenças do sistema nervoso central.


O período de incubação, compreendido entre a infecção e o aparecimento de sinais e sintomas de fase aguda, é de 5 a 30 dias; e o de latência clínica, período compreendido entre a infecção e sinais e sintomas que caracterizam a síndrome, está entre 5 e 10 anos. No Brasil, para notificação de caso de AIDS, há necessidade de diagnóstico de pelo menos uma doença indicativa e/ou contagem de linfócitos T CD4+ < 350 células/mm³. Do ponto de vista clínico, a contagem de linfócitos T CD4+ < 200 células/mm³ é suficiente para a definição de AIDS.

A infecção pelo HIV leva à destruição e disfunção de células do sistema imune como, os linfócitos T e B, monócitos, macrófagos, células natural killer, neutrófilos e células dendríticas. Com a destruição dos linfócitos T CD4+, pode ocorrer o desenvolvimento de infecções secundárias e/ou malignidades, as quais levam à redução do apetite e da ingestão alimentar, à diminuição do peso corporal, à perda de nutrientes, como também ao hipermetabolismo febril. Este é causado pela própria infecção pelo HIV e pelas infecções secundárias e malignidades nos indivíduos com HIV/AIDS.

 As doenças infecciosas podem também levar os indivíduos a apresentarem diarréia e perda de tecido muscular, dependendo da gravidade da infecção. A desnutrição pode ocorrer em todos os estágios da doença pela má-absorção dos nutrientes, particularmente da má-absorção de lipídeos que pode ser acompanhada ou não de diarréia e de outros sintomas. A atrofia da vilosidade e defeitos na maturação das células intestinais, aumento da permeabilidade intestinal e presença de patógenos também estão relacionados à má-absorção intestinal.


 Baixas concentrações de micronutrientes (vitaminas e minerais) são comuns devido à má-absorção e às alterações metabólicas encontradas nos indivíduos com HIV/AIDS. Alterações anatômicas associadas ou não a essas alterações metabólicas caracterizam a lipodistrofia (alterações na distribuição da gordura corporal).


A perda de nutrientes induzida pela AIDS leva ao desenvolvimento de disfunções no sistema imune corporal reduzindo a formação e mobilização dos neutrófilos e a circulação de monócitos, bem como a redução da capacidade fagocitária (englobar) e bacteriológica dessas células. Além disso, pode interferir na produção de citocinas (são proteínas que modulam a função de outras células ou da própria célula que as geraram. São produzidas por diversas células, mas principalmente por linfócitos e macrófagos, sendo importantes para o controle da resposta imune), como, por exemplo, interferons, interleucinas e o fator de necrose tumoral, importantes para a comunicação e interação entre os linfócitos, fagócitos e outras células do organismo.


A avaliação nutricional evidencia deficiências isoladas ou globais de nutrientes e possibilita a classificação dos indivíduos em níveis graduados de estado nutricional. Pode ser feita por meio de coleta de dados antropométricos como peso atual, peso habitual, estatura, índice de massa corporal (IMC), pregas cutâneas e bioimpedância elétrica (BIA).


Todo paciente deve ser avaliado completamente para determinar seu estado nutricional considerando o estágio da doença (Quadro 1).


Quadro 1. Aspectos a serem observados de acordo com o estágio da doença.

Estágio
CD4
Características
Precoce
Acima de 500 células/mm³
Aumento no gasto energético e mudanças no estoque corporal de vitamina B12 e folato.
Intermediário
Entre 200-500 células/mm³
Associação com deficiência nutricionais específicas de vitamina B12, folato, zinco e selênio. Provavelmente ocorre um ciclo de ingestão alimentar flutuante, nutrição sub-ótima e maior suscetibilidade à infecções.
Tardio
Abaixo de 200 células/mm³
Relação aumentada com risco para perda de peso severa e intratável, resultando e desnutrição e fadiga crônica. A ocorrência de enteropatias (doenças intestinais) agudas e/ou crônicas e infecções agudas, bem como Síndrome Comsumptiva (perda involuntária de peso maior que 10%), é maior.
  Fonte: Barbosa e Fornés, 2003.

Uma alimentação saudável, adequada às necessidades individuais, contribui para o aumento dos níveis dos linfócitos T CD4, melhora a absorção intestinal, diminui o agravos provocados pela diarréia, perda de massa muscular, Síndrome da Lipodistrofia (caracterizadas por alterações na distribuição da gordura corporal) e todos os outros sintomas que, de uma maneira ou de outra, podem ser minimizados ou revertidos por meio de uma alimentação balanceada.


Para obter uma alimentação saudável, a pessoa deve buscar ingerir todos os grupos de alimentos diariamente, vide quadro 2. A alimentação saudável deve fornecer carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas e minerais, que são nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo.


Quadro 2 - Tipos de nutrientes, características/funções e alimentos que os contém.

Nutrientes
Características/Funções
Alimentos que os contém
Proteínas
Molécula complexa compostas por aminoácidos, unidos por ligações peptídicas. Envolvidas na formação e manutenção das células e dos tecidos do corpo e órgãos.
Leite, queijos, iogurtes, carnes (aves, peixes, suína, bovina), miúdos, frutos do mar, ovos, leguminosas (feijões, soja, grão-de-bico, ervilha, lentilha). Castanhas (castanha-do-pará, avelã, castanha de caju, nozes).
Gorduras
Grupo de compostos químicos orgânicos que compreendem os triglicerídios, fosfolipídios e esteróides. São fontes alternativas de energia; Influem na manutenção da temperatura corporal.
Transportam vitaminas lipossolúveis. Dão sabor às preparações e sensação de saciedade.
Azeite, óleos, margarina (insaturadas). Manteiga, banha de porco, creme de leite, maionese, toucinho (saturadas). Sorvetes industrializados, gordura vegetal hidrogenada.
Carboidratos
Grupo de compostos formados por carbono, hidrogênio e oxigênio. Uma das fontes de energia mais econômicas.
Asseguram a utilização eficiente de proteínas e lipídios.
Cereais (arroz, milho, trigo, aveia), farinhas, massas, pães, tubérculos
(batata, batata-doce, cará, mandioca, inhame). Açúcares simples.
Vitaminas
Substâncias orgânicas necessárias em pequenas quantidades para crescimento
e manutenção da vida. Segundo sua solubilidade, classificam-se em hidrossolúveis: vitaminas do complexo B (B1, B2, B6, B12), ácido fólico e vitamina C; lipossolúveis: vitaminas A, D, E, e K. Essenciais na transformação de energia,
ainda que não sejam fontes. Intervêm na regulação do metabolismo. Favorecem respostas imunológicas, dando proteção ao organismo.
Verduras, legumes e frutas como espinafre, vinagreira (vegetal típico do Maranhão, presente no arroz de cuxá), acelga, rúcula, alface, capeba, almeirão, gueroba (palmeira arbórea nativa do cerrado que produz frutos com polpa mucilaginosa comestível e palmito amargo utilizado no cardápio regional), tomate, beterraba, cenoura, jerimum ou abóbora, jatobá, caju, cajá, maçã, mamão, laranja.
Minerais
Compostos químicos inorgânicos necessários em pequenas quantidades para crescimento, conservação e
reprodução do ser humano, sendo os mais conhecidos: cálcio, ferro, magnésio, zinco, iodo. Contribuem na formação dos tecidos; Intervêm na regulação dos processos corporais. Favorecem a transmissão dos impulsos nervosos e a contração muscular. Participam da manutenção do equilíbrio ácido-básico.
Frutas, verduras, legumes e alguns alimentos de origem animal (leite, carnes, frutos do mar como fontes, principalmente de cálcio), fósforo, ferro e zinco) castanhas.
Fonte: Adaptação de: Nutrição Clínica no Adulto, Lilian Cuppari, 2002.

Outros nutrientes importantes para uma alimentação saudável são:


Água - é a fonte de manutenção da vida, necessária para a regulação das funções vitais do organismo, tais como na digestão, na eliminação de metabólitos, no funcionamento dos rins e intestinos, controla a temperatura corporal, entre outras funções. A ingestão de água deve estar entre 2 a 3 litros por dia.

Fibras alimentares - são geralmente compostas de carboidratos não digeríveis pelo organismo humano, tendo, no entanto, uma função reguladora por aumentar o volume das fezes, reduzir o tempo de trânsito intestinal e atuar favoravelmente sobre a microflora intestinal. São distinguidas pela sua capacidade de solubilização em água, sendo classificadas em insolúveis e solúveis. O consumo adequado de fibras na alimentação diária tem sido associado à prevenção e/ou tratamento de doenças como câncer de cólon, diverticulite, obesidade, diabetes e dislipidemias.


Já a atividade física, particularmente o exercício físico, além de suas características preventivas tem sido prescrito como coadjuvante no tratamento de inúmeras doenças, inclusive como parte do tratamento de portadores de HIV e doentes de AIDS.


A prática regular de exercícios físicos com freqüência semanal de 3 a 5 vezes por semana pode proporcionar ao portador do vírus HIV que utiliza terapia anti-retroviral combinada: redução da gordura do tronco, com redistribuição da gordura, atenuando assim a lipodistrofia; diminuição do índice de massa corporal (IMC), da massa corporal e aumento da massa corporal magra.


A AIDS não tem cura, mas a união entre o tratamento medicamentoso, alimentação saudável e exercício físico pode proporcionar uma melhor qualidade de vida.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.


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