No ano de 2008, aproximadamente 33,4 milhões de
indivíduos viviam com HIV/AIDS e cerca de 2,7 milhões de novos casos foram
detectados. A região geográfica mais afetada é a região do sub-Saara na África,
que compreende aproximadamente 67% do número total de indivíduos com HIV/AIDS
no mundo.
Na América Latina, aproximadamente 2 milhões de
indivíduos vivem com HIV/AIDS e estima-se que 170 mil novas infecções ocorreram
no ano de 2008. Atualmente no Brasil, das 530 mil pessoas que vivem com AIDS,
135 mil desconhecem sua situação e cerca de 30% dos pacientes ainda chegam ao
serviço de saúde tardiamente.
As principais formas de transmissão do HIV são: via
sexual, por relação homo e heterossexual; sanguínea (uso compartilhado de
seringas e agulhas, transfusão de sangue) e perinatal, que é a transmissão de
mão para filho durante a gestação, durante o parto ou pelo aleitamento materno.
Há também a transmissão ocupacional, por acidente de trabalho, em profissionais
da área de saúde que sofrem ferimentos pérfuro-cortantes contaminados com
sangue de indivíduos infectados pelo vírus.
Entende-se por AIDS – síndrome de imunodeficiência
adquirida, doença causada pela infecção pelo vírus HIV, caracterizada por
progressiva destruição do sistema imune. O vírus habita os linfócitos T,
resultando em vulnerabilidade do sistema de defesa, levando a infecções
oportunistas, neoplasias e doenças do sistema nervoso central.
O período de incubação, compreendido entre a infecção
e o aparecimento de sinais e sintomas de fase aguda, é de 5 a 30 dias; e o de
latência clínica, período compreendido entre a infecção e sinais e sintomas que
caracterizam a síndrome, está entre 5 e 10 anos. No Brasil, para notificação de
caso de AIDS, há necessidade de diagnóstico de pelo menos uma doença indicativa
e/ou contagem de linfócitos T CD4+ < 350 células/mm³. Do ponto de vista
clínico, a contagem de linfócitos T CD4+ < 200 células/mm³ é suficiente para
a definição de AIDS.
A infecção pelo HIV leva à destruição e disfunção de
células do sistema imune como, os linfócitos T e B, monócitos, macrófagos,
células natural killer, neutrófilos e
células dendríticas. Com a destruição dos linfócitos T CD4+, pode ocorrer o
desenvolvimento de infecções secundárias e/ou malignidades, as quais levam à
redução do apetite e da ingestão alimentar, à diminuição do peso corporal, à
perda de nutrientes, como também ao hipermetabolismo febril. Este é causado
pela própria infecção pelo HIV e pelas infecções secundárias e malignidades nos
indivíduos com HIV/AIDS.
As doenças
infecciosas podem também levar os indivíduos a apresentarem diarréia e perda de
tecido muscular, dependendo da gravidade da infecção. A desnutrição pode
ocorrer em todos os estágios da doença pela má-absorção dos nutrientes,
particularmente da má-absorção de lipídeos que pode ser acompanhada ou não de
diarréia e de outros sintomas. A atrofia da vilosidade e defeitos na maturação
das células intestinais, aumento da permeabilidade intestinal e presença de
patógenos também estão relacionados à má-absorção intestinal.
Baixas
concentrações de micronutrientes (vitaminas e minerais) são comuns devido à
má-absorção e às alterações metabólicas encontradas nos indivíduos com
HIV/AIDS. Alterações anatômicas associadas ou não a essas alterações
metabólicas caracterizam a lipodistrofia (alterações na distribuição da gordura corporal).
A perda de nutrientes induzida pela AIDS leva ao
desenvolvimento de disfunções no sistema imune corporal reduzindo a formação e
mobilização dos neutrófilos e a circulação de monócitos, bem como a redução da
capacidade fagocitária (englobar) e bacteriológica dessas células. Além disso,
pode interferir na produção de citocinas (são proteínas que modulam a função de
outras células ou da própria célula que as geraram. São produzidas por diversas
células, mas principalmente por linfócitos e macrófagos, sendo importantes para
o controle da resposta imune), como, por exemplo, interferons, interleucinas e
o fator de necrose tumoral, importantes para a comunicação e interação entre os
linfócitos, fagócitos e outras células do organismo.
A avaliação nutricional evidencia deficiências
isoladas ou globais de nutrientes e possibilita a classificação dos indivíduos
em níveis graduados de estado nutricional. Pode ser feita por meio de coleta de
dados antropométricos como peso atual, peso habitual, estatura, índice de massa
corporal (IMC), pregas cutâneas e bioimpedância elétrica (BIA).
Todo paciente deve ser avaliado completamente para
determinar seu estado nutricional considerando o estágio da doença (Quadro 1).
Quadro 1. Aspectos a serem observados de acordo com o estágio
da doença.
Estágio
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CD4
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Características
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Precoce
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Acima de 500 células/mm³
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Aumento no gasto energético e mudanças no estoque
corporal de vitamina
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Intermediário
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Entre 200-500 células/mm³
|
Associação com deficiência nutricionais específicas de
vitamina B12, folato, zinco e selênio. Provavelmente ocorre um ciclo de
ingestão alimentar flutuante, nutrição sub-ótima e maior suscetibilidade à
infecções.
|
Tardio
|
Abaixo de 200 células/mm³
|
Relação aumentada com risco para perda de peso severa e
intratável, resultando e desnutrição e fadiga crônica. A ocorrência de
enteropatias (doenças intestinais) agudas e/ou crônicas e infecções agudas,
bem como Síndrome Comsumptiva (perda involuntária de peso maior que 10%), é
maior.
|
Uma alimentação saudável, adequada às necessidades individuais,
contribui para o aumento dos níveis dos linfócitos T CD4, melhora a absorção
intestinal, diminui o agravos provocados pela diarréia, perda de massa
muscular, Síndrome da Lipodistrofia (caracterizadas por alterações na
distribuição da gordura corporal) e todos os outros sintomas que, de uma
maneira ou de outra, podem ser minimizados ou revertidos por meio de uma
alimentação balanceada.
Para obter uma alimentação saudável, a pessoa deve buscar ingerir todos
os grupos de alimentos diariamente, vide quadro 2. A alimentação saudável deve fornecer carboidratos,
proteínas, lipídios, vitaminas e minerais, que são nutrientes necessários ao bom
funcionamento do organismo.
Quadro 2 - Tipos de nutrientes, características/funções e alimentos que os
contém.
Nutrientes
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Características/Funções
|
Alimentos
que os contém
|
Proteínas
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Molécula complexa compostas por aminoácidos,
unidos por ligações peptídicas. Envolvidas na formação e manutenção das
células e dos tecidos do corpo e órgãos.
|
Leite, queijos, iogurtes, carnes (aves, peixes,
suína, bovina), miúdos, frutos do mar, ovos, leguminosas (feijões, soja,
grão-de-bico, ervilha, lentilha). Castanhas (castanha-do-pará, avelã,
castanha de caju, nozes).
|
Gorduras
|
Grupo de compostos químicos orgânicos que
compreendem os triglicerídios, fosfolipídios e esteróides. São fontes
alternativas de energia; Influem na manutenção da temperatura corporal.
Transportam vitaminas lipossolúveis. Dão sabor às
preparações e sensação de saciedade.
|
Azeite, óleos, margarina
|
Carboidratos
|
Grupo de compostos formados por carbono,
hidrogênio e oxigênio. Uma das fontes de energia mais econômicas.
Asseguram a utilização eficiente de proteínas e
lipídios.
|
Cereais (arroz, milho, trigo, aveia), farinhas,
massas, pães, tubérculos
(batata, batata-doce, cará, mandioca, inhame).
Açúcares simples.
|
Vitaminas
|
Substâncias orgânicas necessárias em pequenas
quantidades para crescimento
e manutenção da vida. Segundo sua solubilidade,
classificam-se em hidrossolúveis: vitaminas do complexo B (B1, B2, B6, B12),
ácido fólico e vitamina C; lipossolúveis: vitaminas A, D, E, e K. Essenciais
na transformação de energia,
ainda que não sejam fontes. Intervêm na regulação
do metabolismo. Favorecem respostas imunológicas, dando proteção ao
organismo.
|
Verduras, legumes e frutas como espinafre,
vinagreira (vegetal típico do Maranhão, presente no arroz de cuxá), acelga,
rúcula, alface, capeba, almeirão, gueroba (palmeira arbórea nativa do cerrado
que produz frutos com polpa mucilaginosa comestível e palmito amargo
utilizado no cardápio regional), tomate, beterraba, cenoura, jerimum ou
abóbora, jatobá, caju, cajá, maçã, mamão, laranja.
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Minerais
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Compostos químicos inorgânicos necessários em
pequenas quantidades para crescimento, conservação e
reprodução do ser humano, sendo os mais
conhecidos: cálcio, ferro, magnésio, zinco, iodo. Contribuem na formação dos
tecidos; Intervêm na regulação dos processos corporais. Favorecem a
transmissão dos impulsos nervosos e a contração muscular. Participam da
manutenção do equilíbrio ácido-básico.
|
Frutas, verduras, legumes
|
Outros nutrientes importantes para uma
alimentação saudável são:
Água - é a fonte de manutenção
da vida, necessária para a regulação das funções vitais do organismo, tais como
na digestão, na eliminação de metabólitos, no funcionamento dos rins e intestinos,
controla a temperatura corporal, entre outras funções. A ingestão de água deve
estar entre 2 a 3 litros por dia.
Fibras alimentares - são geralmente compostas
de carboidratos não digeríveis pelo organismo humano, tendo, no entanto, uma
função reguladora por aumentar o volume das fezes, reduzir o tempo de trânsito
intestinal e atuar favoravelmente sobre a microflora intestinal. São
distinguidas pela sua capacidade de solubilização em água, sendo classificadas
em insolúveis e solúveis. O consumo adequado de fibras na alimentação diária
tem sido associado à prevenção e/ou tratamento de doenças como câncer de cólon,
diverticulite, obesidade, diabetes e dislipidemias.
Já a atividade física, particularmente o exercício físico, além de suas
características preventivas tem sido prescrito como coadjuvante no tratamento
de inúmeras doenças, inclusive como parte do tratamento de portadores de HIV e
doentes de AIDS.
A prática regular de exercícios físicos com freqüência semanal de 3 a 5
vezes por semana pode proporcionar ao portador do vírus HIV que utiliza terapia
anti-retroviral combinada: redução da gordura do tronco, com redistribuição da
gordura, atenuando assim a lipodistrofia; diminuição do índice de massa
corporal (IMC), da massa corporal e aumento da massa corporal magra.
A AIDS não
tem cura, mas a união entre o tratamento medicamentoso, alimentação saudável e
exercício físico pode proporcionar uma melhor qualidade de vida.
As informações contidas neste blog, não
devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de
saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e
sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
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