terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Vitamina K



A função mais conhecida da vitamina K é no processo de coagulação sanguínea, sendo necessária para a síntese no fígado de várias proteínas envolvidas nesta atividade. As formas naturais de vitamina K são a filoquinona e as menaquinonas. A vitamina K1, hoje chamada de filoquinona, é o único análogo da vitamina presente em plantas. É encontrada em hortaliças e óleos vegetais, os quais representam a fonte predominante da vitamina. As menaquinonas (vitamina K2) são endogenamente sintetizadas e foram subsequentemente caracterizadas. As famílias das menaquinonas constitui-se numa série de vitaminas designadas MK-n, em que o n representa o número de resíduos isoprenoides na cadeia lateral. As principais menaquinonas, menaquinona-4 (MK-4) à menaquinona-10 (MK-10), contêm 4-10 unidades isoprenoides na cadeia lateral respectivamente. Menadiona (vitamina K3), representada pelo anel 2-metil-1, 4-naftoquinona, comum a todas as formas de vitamina K, pode funcionar como um cofator enzimático na prevenção de deficiência subclínica da vitamina e tem sido identificado como um metabólito da vitamina K formado durante a absorção. A MK-4 é produto da conversão tecidual obtida diretamente da filoquinona da dieta. As menaquinonas de 4-9 encontram-se em baixas concentrações em alimentos tais como carne de frango e certos tipos de queijos. A menaquinona-7 é encontrada em grandes quantidades em leguminosas, especificamente na soja fermentada (conhecida como natto), que é um alimento tradicional no Japão.

Absorção, Transporte e Metabolismo

A filoquinona, principal forma de vitamina K na dieta, é absorvida no jejuno e íleo em um processo que depende do fluxo normal de bile e suco pancreático e é potencializada pela gordura da dieta. Na célula da mucosa intestinal, a vitamina é incorporada aos quilomícrons, entrando a seguir na circulação pelo sistema linfático. Chega ao fígado como um componente dos quilomícrons. Em indivíduos adultos saudáveis, cerca de 80% da filoquinona livre são absorvidos. As menaquinonas não competem com a filoquinona para absorção; também são absorvidas pelo sistema linfático. A menadiona é principalmente absorvida pelo sistema porta, embora também possa ser absorvida pelo sistema linfático, e no fígado é alquilada para menaquinona-4 (MK-4). Essa forma de menaquinona também pode ser formada a partir de filoquinona em tecidos animais. A vitamina K será distribuída para os demais tecidos por meio de VLDL e quilomícrons, uma vez que não existe proteína ligadora de vitamina K específica no plasma. A filoquinona é a maior fração da vitamina no plasma. No fígado, a proporção de menaquinona para filoquinona é de 90 e 10%, respectivamente. As reservas da vitamina são depletadas rapidamente – cerca de 3 dias são suficientes para uma redução de 75%; entretanto, parece que outros tecidos também podem conservar a vitamina, como o adiposo e o ósseo. O músculo esquelético contém pouca filoquinona, mas o coração e outros tecidos possuem a vitamina em maior quantidade. O total de vitamina K no organismo é de cerca de 100-200nmol (50-100µg). A vitamina é rapidamente catabolizada e excretada pelo fígado, principalmente pela bile. Uma pequena quantidade aparece na urina. Os metabólitos principais de filoquinona e menaquinonas são conjugados de ácidos glucurônicos que resultam da oxidação da cadeia lateral.

Biodisponibilidade, Fontes Alimentares e Deficiência

Muito pouco é conhecido sobre a biodisponibilidade de vitamina K de diferentes alimentos. A biodisponibilidade de vitamina K da dieta está mais relacionada à filoquinona das plantas e às menaquinonas dos alimentos de origem animal, pois a fonte de vitamina K originada pela flora bacteriana no organismo é muito mais difícil de ser avaliada. Evidências sugerem, entretanto, que as filoquinonas são mais biodisponíveis que as menaquinonas, e ainda que a filoquinona presente nos alimentos é menos disponível que aquela na forma pura.

A vitamina A e E podem atuar como antagonistas da vitamina K em casos de hiperdosagem ou no uso de suplementos. Além disso, o uso prolongado de antibióticos pode reduzir a produção de menaquinonas no intestino. A deficiência de vitamina K também pode ocorrer em casos de má absorção intestinal em diversas situações clínicas.

Com relação à estabilidade, a vitamina K é decomposta por radiação UV, isto é, a exposição à luz é considerada a principal causa de perdas dessa vitamina em alimentos. Também é instável em ácidos e bases fortes, porém estável sob condições de oxidação e de aquecimento, resistindo bem ao processamento e armazenamento de alimentos industrializados.

A vitamina K está bem distribuída na natureza, principalmente em verduras como couve, espinafre, brócolis, repolho e folhas de nabo em quantidade acima de 300µg/100g. Está presente na maioria dos óleos de origem vegetal, principalmente soja e canola, em quantidade acima de 100µg/100g.

Quadro 1. Conteúdo de vitamina K em alimentos considerados fonte.

Alimento
Quantidade em 100g (µg)
Medida usual
Quantidade (µg)
Espinafre
380
3 colheres de sopa (60g)
228
Couve
440
1 colher de servir (42g)
185
Repolho
145
5 colheres de sopa (75g)
109
Brócolis
180
4 colheres de sopa (60g)
108
Alface
122
4 folhas (40g)
49
Óleo de soja
193
1 colher de sopa (8g)
15
Óleo de canola
127
1 colher de sopa (8g)
10
Fonte: Philippi, 2008.

Nenhum efeito foi atribuído a altas doses de vitamina K, e sua deficiência pode causar aumento no tempo de formação de protrombina e, em casos mais graves, causar doenças hemorrágicas. Como compostos da série K2 são produzidos no intestino por bactérias, raramente há deficiência dessa vitamina em pessoas saudáveis.

A avaliação laboratorial de vitamina K pode ser realizada por vários métodos, sendo o tempo de protrombina e o tempo parcial de tromboplastina, além do teste de coagulação, os mais frequentemente utilizados para sugerir deficiência.




Recomendações Nutricionais

Quadro 2. Ingestão recomendada de vitamina K.

Idade
Mulheres (µg vit. K/dia)
Homens (µg vit. K/dia)
0-6 meses
2,0

7-12 meses
2,5

1-3 anos
30

4-8 anos
55

9-13 anos
60
60
14-18 anos
75
75
19-30 anos
90
120
31-50 anos
90
120
50-70 anos
90
120
˃ 70 anos
90
120
Gestação


19-30 anos
90

31-50 anos
90

Lactação: ≤ 18 anos
75

19-30 anos
90

Fonte: ILSI, 2010.

Interações de vitamina K com outros nutrientes

Doses elevadas de vitamina E (suplementos) poderiam antagonizar a ação da vitamina K. A carboxilase microssomal dependente de vitamina K poderia ser inibida pelo α-tocoferol, entretanto quantidades maiores de vitamina E não têm demonstrado efeito antagônico no estado nutricional relativo à vitamina K em indivíduos saudáveis. Trabalho mais recente utilizando rato como modelo experimental verificou efeito adverso do α-tocoferol na abosrção de filoquinona.

Interações de vitamina K com medicamentos

Indivíduos submetidos a tratamentos com anticoagulantes (como derivados do 4-hidroxicoumarim) visando à prevenção de trombose devem ser monitorados quanto à ingestão de vitamina K. Alterações na ingestão podem influenciar a eficácia do medicamento.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Dôres, SMC. Vitamina K. São Paulo: ILSI Brasil-Internacional Life Sciences Institute do Brasil, 2010.

Michelazzo, FB; Cozzolino, SMF. Vitamina K. Biodisponibilidade de nutrientes. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2005.

Santos, KMO; Aquino, RC. Grupo dos óleos e gorduras. In: Philippi, ST. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2008.

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