A avaliação do estado nutricional dos indivíduos vivendo
com AIDS tem merecido importante destaque, por sua inter-relação com o estado
de saúde e a evolução da doença. Na era inicial da epidemia, anterior à
introdução da terapia antirretroviral de alta atividade, os doentes eram
intensamente acometidos pela desnutrição e pelas deficiências nutricionais.
Dentre as alterações
morfológicas estão a lipoatrofia em regiões periféricas do corpo, expressa por
perda de gordura na face, nos membros e nas nádegas, além da proeminência
muscular e venosa relativa; e a lipo-hipertrofia em regiões centrais do corpo,
tais como aumento de gordura em região abdominal e aumento da mama em mulheres.
A Avaliação Nutricional
(AN) evidencia deficiências isoladas ou globais de nutrientes e possibilita a
classificação dos indivíduos em níveis graduados de estado nutricional,
servindo como um valioso instrumento para a determinação da terapêutica clínica
ou dietética, a fim de tentar corrigir o déficit observado.
Embora ainda não se tenha
padronizado um protocolo específico para a avaliação nutricional nesses
pacientes, o monitoramento da evolução de parâmetros antropométricos, como
peso, IMC, circunferência da cintura e dobras cutâneas; pode trazer informações
valiosas para o diagnóstico precoce de alterações morfológicas secundárias à
terapia antirretroviral.
Estágios
da doença
A
atenção aos problemas de desnutrição é de primordial importância, devido o
tempo de morte ser mais exatamente relativo ao grau de depleção de Massa
Celular Corporal (MCC) do que a alguma infecção basal específica. O tipo de
orientação nutricional, a complexidade da avaliação e o grau de intervenção
devem variar com o estágio da doença do indivíduo.
Referindo-se
aos estágios da AIDS, alguns autores descrevem que:
- Estágio precoce: há diminuição da MCC e aumento da água extracelular (AE), sem perda de peso.
- Estágio intermediário: a MCC diminui mais, a AE aumenta e ocorre perda de peso.
- Estágio tardio: as taxas de perda de MCC e de AE aumentam mais, a gordura corporal diminui e ocorre severa perda de peso, características que se agravam na presença de infecções agudas.
Análises regressivas de perda
de peso corporal, MCC e albumina, independentemente da contagem de células CD4,
são preditoras de morte na AIDS, progressão da doença com maior predisposição a
doenças agudas e hospitalizações freqüentes.
A simples medição do peso
corporal minimiza a perda de Massa Corporal Magra (MCM), devido à relativa
expansão extracelular de água, e o estágio da doença deve ser considerado, pois
é um fator chave na eficácia da terapia nutricional.
Métodos
de avaliação nutricional
A avaliação do estado
nutricional, de acordo com a posição da American Dietetic Association, é
fundamental para o adequado diagnóstico da Desnutrição Energético-Protéica
(DEP) ou para a identificação de fatores de risco e para a instituição efetiva
da Terapia Nutricional (TN), a fim de melhorar o estado nutricional, a
sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes com AIDS, freqüentemente
acometidos por desordens nutricionais e consumptivas, as quais ocorrem em
"cascata" como parte da resposta imune à infecção, resultando em
preferencial e rápido consumo da MCM.
Na
avaliação nutricional é importante distinguir a lipodistrofia (alterações na
distribuição da gordura corporal) da Síndrome Consumptiva (perda involuntária
de peso maior que 10%) e ambas podem estar combinadas. Para o diagnóstico da lipodistrofia
consideram-se,
a) fatores físicos:
lipoatrofia na região da face, dos membros superiores e inferiores e uma
proeminência das veias superficiais associadas ou não ao acúmulo de gorduras na
região do abdome, da região cervical (gibas) e das mamas.
b) Fatores metabólicos:
aumento sérico de lipídios, intolerância à glicose, aumento da resistência
periférica à insulina e diabetes mellitus, associados ou não às alterações
anatômicas.
Alterações do peso corporal
são inespecíficas para determinar qual é o compartimento corporal acometido
pela desnutrição ou, ao contrário, em casos de obesidade, podem mascarar uma
subnutrição protéica e de micronutrientes. A interpretação do peso corporal
pode ser dificultada pelos efeitos de diarreia, desidratação, hipoalbuminemia,
perda de tecido magro e sobrecarga hídrica. Apesar disso, continua sendo uma
informação inestimável em termos de intervenção diagnóstica, terapêutica e
nutricional, a qual, juntamente com outros parâmetros, pode identificar
deficiências significativas, pois perdas ponderais graves estão associadas com
aumento das taxas de morbi-mortalidade dos pacientes.
O exame clínico deve
avaliar o estado geral, a força muscular e as medidas das pregas cutâneas, permitindo
classificar a desnutrição em leve, moderada ou severa.
As dosagens de albumina,
cálcio, fósforo, magnésio, vitamina B12, folato, vitamina D e zinco
completam a relação biológica que deve estar disponível no prontuário do
paciente.
As medidas da Prega Cutânea do Tríceps e da
Circunferência do Braço frequentemente evidenciam déficit severo da reserva
adiposa em relação ao padrão para o sexo e idade nestes pacientes. A área
muscular do braço diminuída indica degradação da proteína muscular, que ocorre
juntamente com a depleção de potássio.
O método prático mais
atual para avaliação da redistribuição de gordura é a medida das
circunferências de cintura e quadril, com cálculo da razão cintura-quadril,
considerando-se que valores acima de 0,85 para mulheres e acima de 0,95 para
homens podem ser indicativos de lipodistrofia e taxas maiores aumentam o risco
para diabetes e doença cardiovascular.
A deterioração do estado
nutricional diagnosticada pela Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ANSG)
mostrou uma estreita correlação com as classes definidas pelo Centers for
Disease Control (CDC) em 1992, forte relação com a perda de peso corporal e
boa correlação com todos os indicadores antropométricos, de BIA e bioquímicos
(albumina e pré-albumina). A ANSG detectou rapidamente a piora do estado
nutricional, sendo benéfica para determinar o uso de TN, enquanto a
classificação da desnutrição de acordo com a porcentagem de perda de peso
corporal pode detectar a desnutrição mais antecipadamente.
Deve-se incluir o mínimo
de testes bioquímicos, como albumina, contagem total de linfócitos, CD4, CD8,
carga viral, dosagem de testosterona, determinar a função da tireóide,
avaliação das funções renal e hepática, concentração sérica de eletrólitos,
zinco, selênio, vitamina A e vitamina B12 estão associados com a progressão da
doença.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Barbosa, RMR; Fornés, NS. Avaliação
nutricional em pacientes infectados pelo Vírus da Imunodeficiência Adquirida.
Rev. Nutr 2003, v.16, n.4, p.461-470.
Coppini, LZC; Jesus, RP. Terapia nutricional
na Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (HIV/AIDS). Projeto Diretrizes -
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina.
Curti, MLR; Almeida, LB; Jaime, PC. Evolução
de parâmetros antropométricos em portadores do vírus da Imunodeficiência Humana
ou com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida: um estudo prospectivo. Rev Nutr.
2010, v.23, n.1, p.57-64.
Nenhum comentário:
Postar um comentário