segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Câncer de Cabeça e Pescoço

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.

Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tumor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um risco de vida.

Os principais fatores de risco para o câncer de cavidade oral, faringe e laringe são o tabagismo e o consumo de álcool que têm um efeito sinérgico, enquanto que o consumo de frutas e vegetais frescos é considerado um dos mais importantes fatores de proteção.

Os doentes com câncer de cabeça e pescoço em radioterapia podem desenvolver mucosite (inflamação da mucosa da boca), odinofagia (dor na passagem do alimento pelo esôfago), xerostomia (boa seca), alteração do paladar. Em geral, esses sintomas conduzem a uma diminuição da ingestão oral. Tais efeitos colaterais costumam aparecer na primeira semana de radioterapia. As superfícies mucosas da cabeça e do pescoço são áreas respondem rapidamente aos efeitos da radiação. A odinofagia leva a uma insuficiente ingestão energética e conseqüente perda de peso corpóreo. A irradiação das glândulas salivares resulta em salivação diminuída com queda no volume da saliva, assim como uma mudança para uma mistura viscosa e ácida. A alteração do paladar conduz a uma perda da sensação do paladar, ocorrendo daí uma diminuição da percepção ao sabor dos alimentos doces e uma sensibilidade aumentada ao amargo, graças aos danos nos microvilos das células gustativas ou de suas superfícies. Anorexia, ou perda do apetite, é um dos problemas mais freqüentes nesses doentes. Mudanças na função do hipotálamo, alterações na percepção do paladar, aversão à comida, saciedade precoce, estresse psicológico do diagnóstico do câncer têm sido sugeridos como causas da anorexia.

Avaliação Nutricional

A avaliação do estado nutricional do paciente com câncer deve ser individualizada e basear-se em 3 indicadores: dietéticos, antropométricos e laboratoriais.

A perda de peso em doentes oncológicos é um sinal preocupante, provocando aumento das complicações e diminuição do tempo de sobrevida. Destaca-se que uma perda de peso maior que 10% está presente em pelo menos 45% dos doentes adultos oncológicos hospitalizados.

A síntese de albumina encontra-se diminuída por cirurgia, trauma, infecção, radiação, desnutrição e etc.

A contagem de linfócitos apresenta algumas limitações sendo que seus níveis aumentam na presença de infecções e leucemia e diminuem na presença de câncer, estresse metabólico, durante terapia com esteroides e no pós-operatório. A radioterapia pode levar a um decréscimo de até 30% no número de linfócitos persistente até 5 anos após o término do tratamento.

Tratamento Nutricional

Quadro 1. Recomendações nutricionais para doentes com câncer.


Manutenção de Peso
Ganho de Peso
Hipermetabólicos
Estresse ou Má Absorção.
Energia
25 a 30 kcal/kg/dia
30 a 35 kcal/kg/dia
> 35 kcal/kg/dia
Proteínas
0,8 a 1,0 g/kg/dia
1,0 a 1,2 g/kg/dia
1,5 a 2,5 g/kg/dia
Fonte: Cuppari, 2002.

     Durante a quimioterapia e/ou radioterapia, a dieta de cada paciente deve ser individualizada e adaptada de acordo com a aceitação alimentar. Alterações de consistência podem ser necessárias na dieta, como por exemplo, consistências branda, pastosa ou liquidificada para facilitar a mastigação e deglutição. Aumentar a oferta de líquidos em pacientes com secura na mucosa oral e/ou vômitos é indicado. Excluir alimentos ácidos e temperos picantes ajuda a aumentar a aceitação da dieta em pacientes com estomatite oral.

A prevenção e o tratamento nutricional da mucosite oral ainda não estão totalmente estabelecidos. Algumas diretrizes incluem alguns nutrientes importantes que podem contribuir para a prevenção e tratamento, como os suplementos vitamínicos (vitamina C, B, E e betacaroteno) e a glutamina. A glutamina oral demonstra ser uma opção eficaz para o tratamento profilático da mucosite de início recente. Alguns estudos demonstraram efeitos benéficos do uso de probióticos, pois contribuem para a modulação da microbiota oral e inibição de citocinas pró-inflamatórias. Outra abordagem é o uso de camomila (Chamomilla recutita), por apresentar propriedades anti-inflamatórias, bacteriostáticas e antissépticas. Apesar do seu efeito não comprovado, a utilização de bochechos com o chá de camomila parece conferir importante redução no grau e no alívio dos sintomas da mucosite.

Dieta enteral

        Esta dieta pode ser utilizada em posição pré ou pós-pilórica quando o doente apresentar trato gastrintestinal funcionante e um ou mais dos seguintes critério:

- IMC < 18,5kg/m²;
- Perda de peso ≥ 10% nos últimos seis meses;
- Aceitação alimentar da dieta via oral não atingiu 2/3 das recomendações nutricionais;
- Obstrução pelo tumor da cavidade oral;
- Disfagia (dificuldade da deglutição);
- Anorexia.

        A posição da sonda nasoenteral, em nível gástrico, é uma das vias de acesso mais utilizadas devido ao baixo custo e à facilidade de colocação, sendo uma das vias preferenciais em doentes submetidos à radioterapia.

        Em doentes com câncer de cabeça e pescoço, a sonda nasoenteral em posição gástrica é uma excelente escolha se a nutrição enteral for administrada em um período menor que 4 semanas. Para um período maior, deve-se optar preferencialmente por gastrostomia endoscópica.

          A dieta indicada pode ser de formulação-padrão, visando atingir as necessidades nutricionais dos doentes de forma a manter e/ou recuperar seu estado nutricional.

Nutrição parenteral

         Deve ser bem avaliada sua indicação e somente utilizada quando o trato gastrintestinal não estiver funcionando ou se a terapia nutricional enteral adequada não puder ser oferecida (náuseas, vômitos, obstrução ou má absorção), com impossibilidade de manutenção do estado nutricional. Observe-se que sua eficiência como adjuvante da terapia antineoplásica permanece controversa e portanto precisa ser limitada a situações específicas nas quais o acesso enteral não é possível. Está indicada em casos de trombocitopenia severa (contagem de plaquetas < 50.000 a 70.000) que não pode ser corrigida.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Castro, RCB. Mucosite oral. Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em: 17/08/2014.
Cuppari, L. Nutrição clínica no adulto. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar. 1 ed. São Paulo: Manole, 2002; p.223-234.
DZK C. Toxicidade da Quimioterapia. In: Forornes NM, Filho RJC, Tadokoro H, Freire CAR. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar: Oncologia. Barueri: Editora Manole; 2005. p 423-433.
INCA-Instituto Nacional de Câncer. Disponível em : www.inca.gov.br. Acessado em 17/08/2014.

Pinho, NB. Efeito da orientação nutricional e da terapia nutricional oral e enteral no período pré-operatório em indivíduos com tumor de cabeça e pescoço submetidos ao tratamento cirúrgico. [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, 2007.

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