quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Desnutrição Energético-Proteica

         
 A Desnutrição Energético-Protéica (DEP) ocorre quando existe deficiência no consumo de proteínas e energia com relação às necessidades do corpo. Esta é uma das mais comuns deficiências nutricionais, vitimando cerca de 150 milhões de crianças menores de 5 anos no mundo. Duas condições intimamente relacionadas com o padrão de vida da população, consumo alimentar inadequado e infecções de repetição. A desnutrição energético- proteica tem diferentes estágios, desde as formas mais leves, capazes de expressar déficits discretos do crescimento ou pequenas perdas de peso, até as manifestações mais graves, como o Kwashiorkor (desnutrição edematosa) e o marasmo. É um dos maiores problemas de saúde coletiva dos países em desenvolvimento. Ademais, o baixo peso ao nascer (<2.500g) pode ser tomado como um bom indicador do risco da desnutrição materno-fetal. Nos países com boas condições de saúde e nutrição, menos de 8% das crianças nascidas vivas têm peso inferior a 2.500g, em contrapartida nas áreas de pobreza, estes índices crescem para 30% dos nascimentos ocorridos

Quanto à origem, a DEP caracteriza-se como primária (dieta deficiente) ou secundária (dieta condicionada). Enquanto na desnutrição primária o consumo inadequado de nutrientes é o fator determinante desta morbidade, a secundária é causada por outros fatores, diferentes da dieta, como, por exemplo, a absorção e utilização dos nutrientes. Portanto, o indivíduo desnutrido é aquele cujas células não recebem os nutrientes de que necessita para desempenhar suas funções de produção energética, formação ou reparação tecidual e regulação do seu próprio funcionamento.

Kwashiorkor

       As principais características do Kwashiorkor são retardo no crescimento, perda de gordura subcutânea e muscular, menos intensa do que no marasmo, edema depressível que se localiza, principalmente, nas pernas, mas que pode atingir todo o corpo, bem como alterações mentais e de humor. Tanto o couro cabeludo, como as alterações nos cabelos (textura, cor, perda de brilho e queda), generalizadas ou localizadas (sinal da bandeira), como o tecido cutâneo, com lesões de despigmentação e descamação, podem estar afetados. Sintomas como anorexia, diarreia, infecções e deficiências (vitamina A, zinco e ferro) são também frequentemente encontradas. Um significante grau de perda de peso e a presença de edema são os aspectos essenciais para o diagnóstico de Kwashiorkor.

Marasmo

            Na criança com marasmo, a deficiência de crescimento é acentuada, bem como a de peso, a atrofia muscular, a ausência de gordura subcutânea e a caquexia. Apresenta face de idoso e pele enrugada. Normalmente são crianças irritadiças. O aminograma apresenta-se equilibrado entre os aminoácidos essenciais e não-essenciais. Proteínas plasmáticas normais ou levemente diminuídas.

Tratamento Nutricional

          O primeiro sinal de que a criança não está recebendo alimentos suficientes para as suas necessidades é o comprometimento do peso. O baixo peso para a estatura, conhecida como desnutrição aguda, vai, ao longo do tempo, comprometer a estatura.

            A prioridade da intervenção na desnutrição é a recuperação dos depósitos de gordura que garantem suporte energético para o processo anabólico do crescimento. Para o cuidado nutricional na desnutrição é recomendado o acréscimo de, em média, 500 a 1.000kcal, usando como base para o cálculo o peso atual. A ingestão deve ser aumentada gradualmente até os valores programados para evitar o desconforto gástrico e prevenir desequilíbrios eletrolíticos e de funcionamento cardíaco.

         Deve-se sempre estimular que o aleitamento materno exclusivo prossiga até o sexto mês, corrigindo-se as eventuais dificuldades técnicas que podem estar associados ao ganho de peso insuficiente. Nas crianças onde houver interrupção completa do aleitamento, sem possibilidades de relactação, prioriza-se a utilização de fórmulas infantis com acréscimo de óleo de soja a 3%, lembrando apenas que a maior parte dessas fórmulas contém 7% de lactose, o que pode predispor ao aparecimento de intolerância a este carboidrato. São manifestações dessa intolerância: distensão abdominal, náuseas, vômitos, diarreia e dermatite perineal ocasionada por eliminação de fezes ácidas, resultado da ação bacteriana sobre os carboidratos, gerando ácidos graxos de cadeia curta. A opção nesta situação seria a utilização de fórmulas com menor quantidade de lactose (3% a 5%).

             Na impossibilidade de utilização de fórmula infantil utiliza-se o leite de vaca integral acrescido de óleo vegetal, preferencialmente de soja na proporção 3% e carboidratos 5% (sacarose para crianças abaixo de quatro meses e amido de milho ou arroz para lactentes acima de quatro meses) lembrando neste caso, que a reposição de vitaminas, minerais torna-se fundamental.

         A gordura é importante no processo de recuperação, funcionando como forma segura de armazenamento de energia e não prejudicando o aproveitamento de outros nutrientes, mesmo quando utilizados na proporção de 48% do valor calórico total.

              Medidas simples como organizar os horários das refeições e acrescentar uma colher de sopa de óleo vegetal em cada uma das principais refeições (principalmente na porção de feijão, ou de molhos, colocada no prato), são suficientes para modificar a proporção do peso para a estatura em apenas dois meses. A quantidade de óleo utilizada (10g), é pequena e não promoverá sobrecargas biliares, ou acelerará o peristaltismo intestinal.

           Com respeito aos minerais verificou-se que o leite de vaca integral comparado às fórmulas infantis determina maior retenção de cálcio, fósforo e magnésio e menor de zinco e cobre. Lembramos que, frente à utilização de uma ou outra opção, a suplementação de minerais e/ou oligoelementos torna-se essencial. Tais limitações na composição das fórmulas infantis na recuperação nutricional fez com que a Organização Mundial de Saúde desenvolvesse fórmulas artesanalmente preparadas com leite de vaca integral e adaptadas às necessidades peculiares da criança desnutrida.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Costa, DP. et al. Desnutrição energético-proteica e cárie dentária na primeira infância. Rev Nutr 2010; v.23, n.1: p. 119-126.

Lopez, FA; Brasil, ALD. Nutrição e Dietética em Clínica Pediátrica. 1. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2004.
Vitolo, MR. Nutrição: da Gestação à Adolescência. 1 ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores, 2003.

Waitzberg, DL. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2009.

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