Quanto à origem, a DEP caracteriza-se
como primária (dieta deficiente) ou secundária (dieta condicionada). Enquanto
na desnutrição primária o consumo inadequado de nutrientes é o fator
determinante desta morbidade, a secundária é causada por outros fatores,
diferentes da dieta, como, por exemplo, a absorção e utilização dos nutrientes.
Portanto, o indivíduo desnutrido é aquele cujas células não recebem os
nutrientes de que necessita para desempenhar suas funções de produção
energética, formação ou reparação tecidual e regulação do seu próprio
funcionamento.
Kwashiorkor
As principais características do
Kwashiorkor são retardo no crescimento, perda de gordura subcutânea e muscular,
menos intensa do que no marasmo, edema depressível que se localiza, principalmente,
nas pernas, mas que pode atingir todo o corpo, bem como alterações mentais e de
humor. Tanto o couro cabeludo, como as alterações nos cabelos (textura, cor,
perda de brilho e queda), generalizadas ou localizadas (sinal da bandeira),
como o tecido cutâneo, com lesões de despigmentação e descamação, podem estar
afetados. Sintomas como anorexia, diarreia, infecções e deficiências (vitamina
A, zinco e ferro) são também frequentemente encontradas. Um significante grau
de perda de peso e a presença de edema são os aspectos essenciais para o
diagnóstico de Kwashiorkor.
Marasmo
Na criança com marasmo, a
deficiência de crescimento é acentuada, bem como a de peso, a atrofia muscular,
a ausência de gordura subcutânea e a caquexia. Apresenta face de idoso e pele
enrugada. Normalmente são crianças irritadiças. O aminograma apresenta-se
equilibrado entre os aminoácidos essenciais e não-essenciais. Proteínas
plasmáticas normais ou levemente diminuídas.
Tratamento
Nutricional
O primeiro sinal de que a criança não
está recebendo alimentos suficientes para as suas necessidades é o
comprometimento do peso. O baixo peso para a estatura, conhecida como
desnutrição aguda, vai, ao longo do tempo, comprometer a estatura.
A prioridade da intervenção na
desnutrição é a recuperação dos depósitos de gordura que garantem suporte
energético para o processo anabólico do crescimento. Para o cuidado nutricional
na desnutrição é recomendado o acréscimo de, em média, 500 a 1.000kcal, usando
como base para o cálculo o peso atual. A ingestão deve ser aumentada
gradualmente até os valores programados para evitar o desconforto gástrico e
prevenir desequilíbrios eletrolíticos e de funcionamento cardíaco.
Deve-se sempre estimular que o
aleitamento materno exclusivo prossiga até o sexto mês, corrigindo-se as
eventuais dificuldades técnicas que podem estar associados ao ganho de peso
insuficiente. Nas crianças onde houver interrupção completa do aleitamento, sem
possibilidades de relactação, prioriza-se a utilização de fórmulas infantis com
acréscimo de óleo de soja a 3%, lembrando apenas que a maior parte dessas
fórmulas contém 7% de lactose, o que pode predispor ao aparecimento de
intolerância a este carboidrato. São manifestações dessa intolerância:
distensão abdominal, náuseas, vômitos, diarreia e dermatite perineal ocasionada
por eliminação de fezes ácidas, resultado da ação bacteriana sobre os
carboidratos, gerando ácidos graxos de cadeia curta. A opção nesta situação
seria a utilização de fórmulas com menor quantidade de lactose (3% a 5%).
Na impossibilidade de utilização de
fórmula infantil utiliza-se o leite de vaca integral acrescido de óleo vegetal,
preferencialmente de soja na proporção 3% e carboidratos 5% (sacarose para
crianças abaixo de quatro meses e amido de milho ou arroz para lactentes acima
de quatro meses) lembrando neste caso, que a reposição de vitaminas, minerais
torna-se fundamental.
A gordura é importante no processo
de recuperação, funcionando como forma segura de armazenamento de energia e não
prejudicando o aproveitamento de outros nutrientes, mesmo quando utilizados na
proporção de 48% do valor calórico total.
Medidas simples como organizar os
horários das refeições e acrescentar uma colher de sopa de óleo vegetal em cada
uma das principais refeições (principalmente na porção de feijão, ou de molhos,
colocada no prato), são suficientes para modificar a proporção do peso para a
estatura em apenas dois meses. A quantidade de óleo utilizada (10g), é pequena
e não promoverá sobrecargas biliares, ou acelerará o peristaltismo intestinal.
Com respeito aos minerais
verificou-se que o leite de vaca integral comparado às fórmulas infantis
determina maior retenção de cálcio, fósforo e magnésio e menor de zinco e
cobre. Lembramos que, frente à utilização de uma ou outra opção, a
suplementação de minerais e/ou oligoelementos torna-se essencial. Tais
limitações na composição das fórmulas infantis na recuperação nutricional fez
com que a Organização Mundial de Saúde desenvolvesse fórmulas artesanalmente
preparadas com leite de vaca integral e adaptadas às necessidades peculiares da
criança desnutrida.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores
físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Costa, DP. et al. Desnutrição
energético-proteica e cárie dentária na primeira infância. Rev Nutr 2010; v.23,
n.1: p. 119-126.
Lopez, FA; Brasil, ALD. Nutrição e Dietética
em Clínica Pediátrica. 1. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2004.
Vitolo,
MR. Nutrição: da Gestação à Adolescência. 1 ed. Rio de Janeiro: Reichmann &
Affonso Editores, 2003.
Waitzberg, DL. Nutrição oral, enteral e
parenteral na prática clínica. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2009.
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