segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Viva sem Gota


A gota é uma anormalidade do metabolismo do ácido úrico que resulta na deposição de cristais de urato de sódio nas articulações, tecidos moles e no trato urinário. É uma doença predominantemente incidente em homens, mulheres na menopausa, portadores de doenças renais e indivíduos com histórico de abuso de álcool. Podendo evoluir para artrite gotosa, tendinite ou cálculo renal (deposição de pedras de urato no trato urinário).

O ácido úrico está entre as substâncias naturalmente produzidas pelo organismo. Ele surge como resultado da quebra das moléculas de purina (proteína contida em muitos alimentos) por enzimas. Depois de utilizadas pelo nosso organismo, as purinas são degradadas e transformadas em ácido úrico pelo fígado. Parte deste ácido úrico gerado permanece no sangue e o restante é eliminado pelos rins e intestino. Níveis sanguíneos acima de 7mg/dL em homens e 6mg/dL em mulheres configuram quadro de Hiperuricemia.

O elevado teor de ácido úrico no sangue (hiperuricemia) esta associado a 3 fatores principais: (1) superprodução de ácido úrico pelo organismo, (2) disfunção na eliminação deste composto pela urina, ou (3) uso de medicamentos capazes de interferir na produção ou excreção desta substância. A ocorrência de níveis elevados deste composto no sangue tem sido relacionada com o aumento da incidência de doenças renais, hipertensão, doenças cardiovasculares, inflamações, diabetes, síndrome metabólica e é claro a incidência de Gota. A gota é caracterizada pela formação de pequenos cristais de urato de sódio semelhantes a agulhinhas, que se depositam em vários locais do corpo, de preferência nas articulações, mas também nos rins, sob a pele ou em qualquer outra região do corpo. Em geral a doença desenvolve-se em 4 fases principais:

Hiperuricemia assintomática: NÃO há manifestação dos sintomas, apesar dos níveis elevados de ácido úrico no sangue.

Ataques recorrentes de artrite aguda: Instalação da crise de forma abrupta, a qual atinge o seu máximo em menos de 24 horas. Caracteriza-se por uma dor súbita, inchaço, pele ruborizada e sensibilidade ao toque. Em geral as primeiras crises são monoarticulares, isto é, ocorre em apenas uma das articulações do corpo. As articulações do joelho, tornozelo, calcanhar e dedos do pé são as mais frequentemente envolvidas durante os surtos. Com o avanço da doença, ou na ausência de tratamento os ataques podem ocorrer em mais de uma articulação.

Gota intercrítica: corresponde ao período entre as crises agudas de gota com ausência total de sintomas. A duração destes períodos é variável de acordo com o controlo da doença, tornando-se cada vez menos frequentes com o avanço da doença.

E por fim Gota tofácea crônica: estágio altamente destrutivo em que ocorre acúmulo generalizado de cristais nos tecidos.

Historicamente, a gota é considerada uma doença que acomete os ricos, visto que se desenvolve em geral pela ingestão demasiada de alimentos ricos em purinas (proteínas) e/ou pela ingestão de grandes quantidades de álcool. No entanto nos últimos 40 anos, em consequência da mudança dos hábitos alimentares, do crescimento econômico e do avanço das técnicas agrícolas a doença deixou de ser privilégio dos mais abastados, e tornou-se cada vez mais incidente na população mundial.

As principais vias profiláticas para os portadores são evitar o estresse físico, o uso de diuréticos e de anti-inflamatórios, assim como a ingestão excessiva de alimentos e bebidas ricos em purina como carne vermelha, frutos do mar, peixes como sardinha e salmão, miúdos e bebidas alcoólicas como cerveja e uísque. A ingestão de carne, especialmente carne bovina, suína e de cordeiro aumenta o risco de desenvolvimento da gota em 40-50%, frutos do mar em 35-45% e o álcool em 30-250%. 



Entre as bebidas alcoólicas, o nível de ácido úrico aumenta significativamente com o aumento da ingestão de cerveja. Em um estudo realizado com 730 participantes, todos diagnosticados com sintomas de gota, foi avaliada a incidência da doença em relação ao consumo de cerveja, destilados e vinho. A partir dos resultados os autores da pesquisa concluíram que há uma forte correlação entre o consumo destas bebidas e o risco de desenvolvimento de Gota. Contudo este risco irá variar substancialmente de acordo com a bebida alcoólica ingerida. Dentre as analisadas a cerveja, 2 ou mais latinhas, incrementou em 2,5 vezes o risco de desenvolvimento da doença em relação aos indivíduos que não consumiram a bebida. Já em relação ao vinho constatou-se que o consumo MODERADO, NÃO influencia o risco de desenvolvimento da doença.

Curiosamente alguns estudos têm comprovado que o resveratrol, substância naturalmente presente no vinho, uvas (principalmente casca e sementes), amora e jabuticaba é na realidade capaz de prevenir a gota, já que reduz os índices de ácido úrico através do aprimoramento da função renal.

Outra bebida aliada na redução do ácido úrico é o café. Em pesquisa realizada nos EUA constatou-se que o consumo desta bebida reduziu significativamente os níveis deste composto no sangue tanto em homens quanto em mulheres. No entanto, nenhuma correlação foi encontrada em relação ao chá. Os autores desta pesquisa apontam que os benefícios da bebida não estão relacionados à presença de cafeína e, portanto a ingestão de café seja ele descafeinado ou não produz os mesmos efeitos benéficos.

Uma dieta rica em vitamina C e em leite e seus derivados também são considerados alimentos aliados ao combate da Gota. Pois assim com o café e o vinho tais alimentos são considerados, uricosúricos, isto é, são capazes de aumentar a excreção do ácido úrico pela urina.

Em suma o tratamento e a prevenção da gota dependerão da reeducação alimentar, estilo de vida adequado, cuidado com o peso, e dieta com redução da ingestão de bebidas alcoólicas principalmente a cerveja.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referência Bibliográfica:

Biazotto, FO. Viva sem gota. Grupo de Estudo em Alimentos Funcionais – GEAF, ESALQ/USP. Disponível em: www.grupoalimentosfuncionais.blogspot.com.br Acessado em: 19/08/2018.

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