quinta-feira, 16 de maio de 2013

Obesidade Infantil




A obesidade infantil vem aumentando de forma significativa ao longo dos anos, tornando-se uma espécie de epidemia em vários países. Tal fato é motivo de preocupação, tendo em vista haver um consenso por parte de pesquisadores e profissionais da área de saúde de que a obesidade é um importante determinante para o surgimento de várias complicações e agravos à saúde ainda na infância e também na vida adulta. Ela não afeta apenas as características físicas externas, mas influencia fatores fisiológicos, estando associada também ao desenvolvimento de diversos problemas de saúde, como diabetes tipo 2, doenças coronarianas, aumento da incidência de certas formas de câncer, complicações respiratórias e problemas osteomioarticulares.

            Os fatores que poderiam explicar essa tendência de aumento da obesidade parecem estar mais relacionados às mudanças no estilo de vida e aos hábitos alimentares. Atualmente é possível observar algumas mudanças no perfil nutricional da população, decorrentes de modificações na estrutura da dieta, o que tem sido denominado de “transição nutricional”. Pode-se observar que as mudanças convergem para uma dieta rica em gorduras (principalmente de origem animal), açúcar e alimentos refinados e reduzida em carboidratos complexos e fibras; além de declínio progressivo da atividade física.

       A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde, apresentou um aumento importante no número de crianças acima do peso no país, principalmente na faixa etária entre 5 e 9 anos de idade. O número de meninos acima do peso mais que dobrou entre 1989 e 2009, passando de 15% para 34,8%, respectivamente. Já o número de obesos teve um aumento de mais de 300% nesse mesmo grupo etário, indo de 4,1% em 1989 para 16,6% em 2008-2009. Entre as meninas esta variação foi ainda maior.


         O papel do ambiente familiar aparece de forma bastante marcante no contexto do excesso de peso. Alerta-se que um dos maiores riscos para a obesidade infantil é a obesidade dos pais, considerando-se tanto o estilo de vida quanto a carga genética. Estudos apontam que quando pai e mãe apresentam obesidade a chance da criança ser obesa é de 80%. Em contrapartida, quando nenhum dos pais é obeso a chance é reduzida a 7%.
 



           A alimentação a partir dos primeiros anos de vida assume caráter decisivo quanto ao possível desenvolvimento de doenças que poderão comprometer a saúde do indivíduo quando adulto, principalmente por saber-se que o processo aterosclerótico começa a desenvolver-se na infância, período em que as estrias gordurosas, precursoras das placas ateroscleróticas, começam a aparecer na camada íntima da aorta, por volta dos 3 anos de idade, podendo progredir significativamente na terceira e quarta décadas de vida.

          Alguns autores citam que o risco de uma criança obesa permanecer nesta condição na vida adulta é de 25%, aumentando para 80% quando o excesso de peso se instala durante a adolescência. Desta forma, pode-se inferir que medidas de educação nutricional se tornam cada vez mais decisivas diante dos números alarmantes de sobrepeso e obesidade verificados atualmente, especialmente entre crianças e adolescentes. Cabe ressaltar que o comportamento alimentar tem suas bases fixadas na infância, diretamente influenciado pela família, portanto, a freqüência com que os pais demonstram hábitos alimentares saudáveis influencia o comportamento alimentar dos filhos de maneira positiva e duradoura.

Diagnóstico

O Índice de Massa Corpórea (IMC) é utilizado para classificação da obesidade no adulto, mas o seu uso em crianças e adolescentes é inadequado. A Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde do Brasil adota as curvas desenvolvidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2007, que incluem curvas de IMC desde o lactente até os 19 anos de idade e utilizam pontos de corte para sobrepeso e obesidade. Curvas em escore Z para o IMC também estão disponíveis. Tais curvas são fundamentais tanto para o diagnóstico quanto para a avaliação da evolução do paciente durante o tratamento.

       A avaliação de adiposidade através das medidas de pregas cutâneas é pouco reprodutível e sua utilidade na prática clínica é limitada. Outros exames para avaliação de gordura corporal, como bioimpedância, ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e densitometria também não são utilizados rotineiramente.

Prevenção e Educação Nutricional


          Uma das maneiras de prevenir doenças crônicas, apontadas como a principal causa de morte na idade adulta, são os programas de educação nutricional. A modificação de determinados comportamentos na infância promove a redução dos riscos de doenças que se manifestam na maturidade.

O ambiente familiar influencia o desenvolvimento da obesidade na criança. Hábitos de ingerir “fast-food”, modificações da composição dos alimentos com ingestão de alimentos densos, ricos em gorduras, refrigerantes, porções de alimentos ricos em açúcar com altos índices glicêmicos e aumento da porção das refeições são hábitos da família que podem levar à obesidade infantil. A atividade física dos pais influencia a freqüência de exercícios dos seus filhos.

         A tentativa de mudanças nos hábitos de vida das crianças obesas torna-se essencial, promovendo o estímulo para a prática de exercício físico, assim como estimulando a criança a realizar refeições mais saudáveis e bem equilibradas.

O tratamento da criança obesa não pode ser isolado da família. Programas de tratamento de crianças obesas que incluem múltiplos membros da família têm mais sucesso a longo prazo que programas que incluem somente a restrição alimentar da criança obesa.

        Quanto à orientação dietética, é fundamental que ela determine perda de peso controlada ou a manutenção do mesmo, crescimento e desenvolvimento normais, ingestão de macro e micronutrientes em quantidades adequadas para idade e sexo, redução do apetite ou da voracidade, manutenção da massa muscular, ausência de consequências psicológicas negativas e manutenção dos hábitos alimentares corretos e modificação dos inadequados. Crianças menores devem manter o peso ou ganhar pouco peso, mais do que perder, para que não comprometam seu desenvolvimento.

    Devemos utilizar fundamentos concretos, introduzindo cardápios e sugestões criativas e nutritivas. As mudanças devem ser estimuladas, sem imposições. Proibir a ingestão e lanches, geralmente substitutos do jantar, pode ser uma atitude infrutífera. As propostas de educação nutricional, quando incluem atividades práticas, permite que as crianças e adolescentes estabeleçam contato com o alimento e se tornem responsáveis pelos seus hábitos. Inicialmente, o aconselhamento nutricional pode visar minimizar erros alimentares, apresentando opções mais saudáveis para cardápios e lanches.

        Deve-se incluir na pratica diária das crianças e adolescentes obesos movimentos espontâneos como brincar, correr, saltar, ir andando para a escola, etc. Iniciar uma alimentação mais saudável e equilibrada e, se possível, adotar prática regular de atividades físicas programadas.

De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde, a prática regular de atividade física é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um fator tão importante quanto a alimentação saudável na proteção à saúde. Estima-se que 70% da população brasileira faça pouca ou quase nenhuma atividade física. Em relação as crianças, o guia relata que as crianças fisicamente ativas apresentam um melhor desempenho escolar, melhor relacionamento com os pais e colegas e terão, provavelmente, menor tendência a fumar ou utilizar drogas.
           


As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.


Referências Bibliográficas:

Costa, MAP; Souza, MA; Oliveira, VM. Obesidade infantil e bullying: a ótica dos professoras. Rev Educação e Pesquisa 2012; p. 1-13.
Guia Alimentar para a População Brasileira, 2006. Disponível em: http://nutricao.saude.gov.br/guia_conheca.phpAcessado em: 28/04/2013.
Melo, MA. Diagnóstico da obesidade infantil. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica –ABESO. Disponível em: www.abeso.org.br Acessado em: 30/04/2013.
Mello, ED; Luft, VC; Meyer, F. Obesidade infantil: como podemos ser eficazes. J Pediatr 2004; v.80, n.3: p.173-182.
Pegolo, GE; Fisberg, M; Viuniski, N. Obesidade Infantil: Sinal de Alerta. Rev Nutrição em Pauta 2005, n.74, p. 4-10.
Villares, SMF; Ribeiro, MM; Silva, AG. Obesidade infantil e exercício. Rev Abeso 2003.

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