O
irresistível atrativo das preparações alcoólicas que é sua capacidade de
alegrar, excitar, e fazer esquecer as angústias do dia-a-dia é também seu
calcanhar de Aquiles. Trata-se do poderoso etanol.
O etanol é tóxico para o fígado,
pâncreas, coração, pulmões e sistema nervoso central e periférico. Irrita e
inflama as mucosas, podendo gerar esofagite, gastrite, atrofia gástrica e
síndrome de má-absorção. Consumidores assíduos são mais suscetíveis à
hipertensão arterial e ao acidente vascular cerebral. Gera radicais livres,
desencadeando estresse oxidativo e constitui-se em agente carcinogênico para o
fígado, pâncreas e, sobretudo, em associação com o fumo, para toda a porção
alta dos aparelhos digestivo e respiratório, tais como boca, palato, faringe,
laringe e esôfago. Pode interferir no metabolismo de vitaminas e minerais, bem
como no balanço calórico-protéico, e desnutrição crônica ao lado de síndromes
potencialmente fatais, como a encefalopatia de Wernicke (déficit de tiamina)
estão associadas a essa dependência.
Após a ingestão do etanol, cerca de
20% do total é absorvido no estômago, e o restante, nas primeiras porções do
intestino delgado. Somente 2 a 10% do total absorvido é eliminado via rins e
pulmões; o restante é oxidado, principalmente no fígado.
Quanto maior a concentração de
etanol na bebida mais rapidamente ela será absorvida, ou seja, bebidas
fermentadas como os vinhos que possuem entre 10 a 20% de etanol são absorvidas
mais rapidamente do que as cervejas que possuem etanol na concentração de 5%.
Porém, bebidas destiladas com etanol na concentração de 40 a 50%, como por
exemplo, uísque, licores e cachaça, não são rapidamente absorvidas e o consumo
apenas de uma dose causa irritação na mucosa do trato gastrointestinal com pequenos
sangramentos e inflamação.
A presença de alimentos sólidos ou
líquidos no estômago, especialmente aqueles com alto conteúdo lipídico,
retardam o esvaziamento gástrico e conseqüentemente sua absorção, já que esta
ocorre em maior parte no intestino delgado, diminuindo os níveis sanguíneos e
cerebrais desta substância.
O álcool esvazia o corpo de
vitaminas do complexo B e também de ácido ascórbico (vitamina C), afetando
dessa forma negativamente o estado nutricional das pessoas. Os indivíduos dependentes
de álcool, cuja alimentação é geralmente deficiente, podem sofrer de beribéri e
escorbuto, provocados respectivamente pela deficiência de tiamina (vitamina B1) e ácido ascórbico (vitamina C),
dentre outras doenças carenciais.
Composição
Bebidas alcoólicas são produtos
complexos que contêm álcool etílico e outros componentes que lhes conferem
características sensoriais específicas. Possuem calorias vazias, isto é, não
apresentam nenhum valor nutritivo.
As bebidas alcoólicas podem ser
classificadas em:
●
Bebidas
fermentadas: resultam da fermentação alcoólica; ex: vinho, champanhe,
sidra, cerveja, saquê;
●
Bebidas
fermento-destiladas: aquelas obtidas por fermentação de frutos ou
plantas e posterior destilação do álcool; ex: aguardente, cachaça, conhaque,
uísque, rum, gim, bagaceira, pisco, tequila, vodca;
●
Bebidas
alcoólicas de mistura: aquelas que resultam de líquidos alcoólicos
adicionados de água, substâncias aromáticas, açúcares; ex: licores, coquetéis e
batidas.
Quadro 1. Concentração de álcool nas bebidas.
Bebidas
|
Concentração de
álcool/ gramas de álcool
|
1
lata de cerveja – 350ml
|
5%
= 17g de álcool
|
1
dose de aguardente – 50ml
|
50%
= 25g de álcool
|
1
copo de chope – 200ml
|
5%
= 10g de álcool
|
1
copo de vinho – 90ml
|
12%
= 10g de álcool
|
1
garrafa de vinho – 750ml
|
12%
= 80g de álcool
|
1
dose de destilados (uísque, pinga, vodca etc.) – 50ml
|
40-50%
= 20-25g de álcool
|
1
garrafa de destilados – 750ml
|
40-50%
= 300-370g de álcool.
|
Fonte: Vannuchi & Marchini, 2007.
A quantidade de carboidratos varia
enormemente: uísque, conhaque e vodca não contêm carboidratos; vinho branco
seco e vinho tinto contêm de 2 a 10g/L; cerveja e xerez seco (tipo de vinho
fortificado) 30g/L; vinho branco doce e vinho do porto contêm até 120g/L.
O teor protéico e vitamínico dessas
bebidas é extremamente baixo, com exceção da cerveja. O teor de ferro pode ser
apreciável, especialmente no vinho. Cada grama de etanol contém 7kcal/g.
Álcool x Cirrose e
Pancreatite
Dentre os primeiros sintomas da
cirrose, podem ser citadas a icterícia e a hepatomegalia (fígado aumentado). Os
sintomas secundários incluem hipertensão portal (aumento da pressão na veia
porta do fígado) e esplenomegalia (aumento do volume do baço), edema e ascite,
encefalopatia, hemorragia gastrointestinal de esôfago ou varizes de esôfago e
tendências a sangramentos devido a anormalidades nos fatores de coagulação.
Cerca de 80% dos pacientes com
cirrose alcoólica e 30% dos pacientes com câncer hepático são indivíduos que
bebem álcool excessivamente.
O consumo crônico e excessivo de
bebidas alcoólicas é a principal causa de pancreatite crônica. As principais
complicações observadas na pancreatite crônica são: compressão
gastrointestinal, icterícia, cistos, expansão da cavidade do pâncreas, necrose
pancreática, abscessos, hemorragia digestiva de origem pancreática e fístulas.
Como a inflamação e danos celulares
podem causar injúria no DNA, a gravidade da pancreatite crônica provavelmente
está associada com aumento na incidência de câncer pancreático. O mecanismo
pelo qual o álcool causa pancreatite crônica não é bem conhecido. Em condições
normais, o álcool é metabolizado no pâncreas como no fígado via álcool
desidrogenase a acetaldeído, e o excesso na ingestão de álcool pode, todavia,
ter efeitos patológicos diretos nas células pancreáticas, como ocorre no
fígado.
Embora a ingestão crônica e
excessiva de etanol seja mais freqüente na pancreatite crônica, os fatores
ambientais e genéticos também podem estar envolvidos na patogênese tanto como a
própria quantidade de álcool consumida.
Álcool x Pressão
Arterial
Em indivíduos hipertensos, a
ingestão de álcool, aguda e dependentemente da dose, reduz a pressão arterial,
porém ocorre elevação algumas horas após o seu consumo. Em vista da
controvérsia em relação à segurança e ao benefício cardiovascular de baixas
doses, assim como a ação nefasta do álcool na sociedade, devemos orientar
àqueles que têm o hábito de ingerir bebidas alcoólicas, que não ultrapassem 30g
de etanol ao dia, para homens, de preferência não habitualmente, sendo metade
dessa quantidade (15g) a tolerada para mulheres.
Álcool x Obesidade
Considerando-se que o álcool possui
valor energético (7kcal/g), ele tem a habilidade de suprimir as necessidades
calóricas diárias de um indivíduo e/ou levá-lo ao sobrepeso, dependendo da
quantidade, freqüência e modo de consumo. Mesmo com o aumento do gasto
energético basal nos indivíduos alcoolistas, muitas vezes isso não é suficiente
para compensar a grande quantidade de calorias ingeridas. Assim, muitos
pacientes dependentes de álcool apresentam sobrepeso, obesidade e até
circunferência da cintura acima dos padrões esperados.
Álcool x Doenças
Cardiovasculares
Vários estudos populacionais sugerem
que o consumo moderado de bebidas alcoólicas protege contra doença coronariana
e cardiovascular. Em relação a acidentes vasculares encefálicos, existe um
provável efeito protetor sobre eventos isquêmicos, sendo inconsistente seu
efeito sobre os acidentes encefálicos hemorrágicos.
As evidências existentes sugerem que
o consumo de 1-2 doses diárias de álcool propicia uma redução de 20-40% de
eventos cardiovasculares em relação aos indivíduos abstêmios, observando-se um
aumento progressivo das doenças atribuídas ao consumo de álcool com doses
maiores.
Álcool x Gestação
Não é aconselhado o uso de bebidas
alcoólicas durante a gestação, pois já foi demonstrada a associação dessa prática
e consequências deletérias para o bebê, que afetam os olhos, nariz, coração,
sistema nervoso central, acompanhadas de atraso no crescimento e retardamento
mental. Esse quadro é reconhecido como síndrome fetal alcoólica. Entretanto, o
consumo ocasional de uma taça de vinho, acompanhada de alimentos, não exerce
efeitos prejudiciais ao feto. O consumo moderado e freqüente pode repercutir no
desenvolvimento normal do feto, o que é observado pela hipotonicidade do
recém-nascido.
Resumindo:
O consumo de bebidas alcoólicas não
deve ultrapassar 30ml de etanol/dia (exemplo: 60ml de bebida destilada como
uísque; vodca; aguardente), 240ml de vinho ou 720ml de cerveja para o sexo
masculino. Para o sexo feminino, o consumo não deve ultrapassar a metade deste.
Consumir vinho tinto, em doses
moderadas (uma ou duas doses/dia, sendo uma dose correspondente a 15ml de
etanol para as mulheres e 30ml para homens), tem sido relacionado com a menor
mortalidade por doença aterosclerótica.
A recomendação é diferente para
homens e mulheres em razão da estrutura física. As mulheres normalmente são
menores e mais leves que os homens, o que torna o organismo feminino mais
vulnerável ao álcool.
Se
beber, não dirija!
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
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são aproveitadas pelo organismo? Rev. Nutrição em Pauta, 2007: p. 45-49.
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Guia
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Kachani, AT; Brasiliano, S; Hochgraf, PB. O
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Philippi,
ST. Nutrição e Técnica Dietética. 1 ed. São Paulo: Manole, 2003. p. 217-218.
Vannuchi, H. Alcoolismo e Nutrição. Nutrição
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Vitolo,
MR. Nutrição: Da Gestação à Adolescência. 1 ed. Reichmann & Affonso Editores:
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