Os cereais estão entre os grupos de alimentos
mais consumidos na dieta humana, representando uma importante fonte de energia.
A oportunidade de substituir ou complementar grãos de cereais comuns (milho,
arroz e trigo) por cereais de alto valor nutritivo é um benefício inerente aos
interesses públicos (BRADY et al., 2007). Dentre os cereais de alto valor
nutricional, encontra-se a quinoa, também denominada de “pseudocereal”.
A quinoa (Chenopodium quinoa Willd) é
uma planta dicotiledônea indígena da região dos Andes, encontrada a 4 mil
metros de altitude. É considerada um excelente pseudocereal por suas
características nutricionais, cultivado “selvagemente” na América do Sul (MÚJICA,
1994), em países como Peru, Bolívia, Colômbia, Equador, Chile e Argentina. Por
seu valor nutritivo, a quinoa tem recebido considerável atenção como um grão
alternativo na dieta em todo o mundo. Agrônomos estão investigando o cultivo da
quinoa nos EUA e na Europa como um novo recurso alimentar (GALWEY et al., 1990;
NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989), em decorrência do seu alto conteúdo proteico,
em particular a composição de aminoácidos da semente, que é similar à do leite
(KOZIO³, 1992) e se aproxima do balanço proteico ideal recomendado pela FAO (Food and Agriculture
Organization of the United Nations)
(GROSS et al., 1992; MAHONEY, LOPEZ & HENDRICKS, 1975).
A quinoa possui também um teor relativamente
elevado de vitaminas (vitaminas E e riboflavina) e minerais (RISI & GALWEY,
1984). Os lipídios de sua semente possuem um perfil semelhante ao dos óleos
vegetais de boa qualidade (WOOD et al., 1993), e a composição dos ácidos graxos
assemelha-se à do óleo de soja. Devido ao grande potencial alimentar, este grão
está sendo comercializado em diversos países (SCHLICK & BUBENHEIM, 1996).
Sendo uma fonte de proteínas de alto valor
biológico (14%-16%) (KOZIOL, 1992), a quinoa apresenta, em base seca, o maior
conteúdo proteico encontrado em cereais, com teores particularmente elevados em
histidina e lisina, albumina e globulina, além de uma pequena porcentagem de
prolamina (BALLÓN, DE GOMEZ & CUESTA PERALTA, 1982; KOZIOL, 1992), cujas proporções
podem variar entre as diferentes espécies (PRAKASH & PAL, 1998). A
digestibilidade da proteína encontrada foi comparável a outros alimentos de
alta qualidade proteica (DE SIMONE et al., 1990).
No grão da quinoa, o teor de amido é de 52% a
60% do seu peso. As sementes são consumidas fervidas como o arroz, para
engrossar sopas, ou como mingau.
Também são usadas na produção de massas, como
o talharim. Esta aplicação, entretanto, é complicada, em razão do gosto amargo
da semente, característica atribuída à presença de saponinas (DE SIMONE et al.,
1990; DINI et al., 2001). As saponinas estão localizadas na casca da semente da
quinoa, e, para removê-la, é suficiente triturá-la cuidadosamente em um pilão. Existem
algumas variedades nas quais o conteúdo de saponinas é muito baixo ou ausente,
como a quinoa colhida no sul da Bolívia. Porém, foi descoberto que as saponinas
não exercem nenhum efeito negativo na qualidade nutricional da proteína (RUALES
& NAIR, 1992).
Pela ausência das proteínas formadoras do
glúten em sua composição, a quinoa pode ser utilizada para o tratamento da
doença celíaca. Nesta enfermidade de causa genética, o glúten presente no
trigo, aveia, centeio e cevada, e seus derivados agem agressivamente sobre a
mucosa do intestino delgado, danificando suas vilosidades e prejudicando a
absorção de alimentos.
A farinha de quinoa apresenta teores de 13,5%
de proteína, 58,3% de carboidratos (com base de 11% de umidade), além de altas
proporções de D-xilose (120,0 mg 100 g-1), maltose (101,0 mg 100 g-1) e baixos
teores de glicose (19,0 mg 100 g-1) e frutose (19,6 mg 100 g-1).O teor lipídico
da quinoa varia de 5 a 7%, sendo rica em ácidos graxos essenciais como ácido
linoléico e α- linolênico, apresentando alta concentração de antioxidantes como
α-tocoferol e γ-tocoferol.
Esse pseudocereal possui grandes quantidades
de flavonoides e ácidos fenólicos. Os derivados fenólicos são agentes
antimicrobianos naturais e apresentam-se como bons antioxidantes, quelando os
radicais livres e os metais. Por sua vez, os polifenóis são benéficos à saúde,
prevenindo câncer e doenças cardiovasculares (DOGAN, KARWE, 2003).
Comercialmente, este grão pode ser encontrado
também nas formas integral ou polido, como farinhas, flocos ou snacks
expandidos. Pode ser consumido cozido, de modo similar ao arroz; em combinação
com outros ingredientes em diferentes preparações alimentícias; em sopas,
molhos; cereais matinais, dentre outros. A farinha pode ser utilizada na
elaboração de mingaus, pudins, produtos de panificação (pães, bolos, biscoitos)
e massas (macarrão).
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Texto elaborado por: Evelise Boliani
Graduada em Nutrição
pela UNESP Botucatu-SP.
Mestre em Ciência de Alimentos
na USP Piracicaba-SP.
Foi docente no colégio
técnico Enfermap de Piracicaba. Ministrou cursos pela prefeitura de Piracicaba.
Atendimentos clínicos e
gerenciamento de unidade de alimentação e nutrição.
Referencias
bibliográficas
BALLÓN, Emigdio; DE GOMEZ, V. Montes
& CUESTA PERALTA, A. Estudio de proteínas en variedades de quinua. In:
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de Asuntos Campesinos y Agropecuarios, 1982.
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