A
vitamina A (retinol) é um nutriente essencial, necessário em pequenas
quantidades em humanos para o adequado funcionamento do sistema visual,
crescimento e desenvolvimento, expressão gênica, manutenção da integridade
celular epitelial, função imune, defesa antioxidante e reprodução.
O termo vitamina A refere-se a um
grupo de compostos, que inclui retinol, retinaldeído e ácido retinóico. Do
ponto de vista formal, o termo vitamina A inclui ainda os carotenóides, com
atividade pró-vitamina A, que atuam como precursores alimentares do retinol.
O
corpo não pode fabricar vitamina A, portanto, toda vitamina A que necessitamos
deve provir dos alimentos. Ela é fornecida na dieta sob a forma
de vitamina A pré-formada (ésteres de retinila) de origem animal ou
pró-vitamina A de origem vegetal (carotenóides). O retinol pode ser obtido
diretamente dos alimentos ou ser convertido no organismo humano, a partir do
betacaroteno. A absorção dos ésteres de retinila é complexa, envolvendo
hidrólise e formação de complexos com ácidos biliares na luz intestinal.
Em condições normais, cerca de 70 a 90% do retinol da dieta são
absorvidos, e mesmo em altas doses essa absorção ainda se mantém elevada.
Entretanto, pelo fato de esta ser uma vitamina lipossolúvel, depende da
ingestão concomitante de lipídios para que seja adequadamente absorvida. A
vitamina A é armazenada principalmente no fígado na ordem de 50 a 80%. Quando
as reservas hepáticas da vitamina são adequadas, o retinol recém-ingerido é
armazenado nas células estrelares como ésteres de retinila. Normalmente essa
reserva é suficiente para vários meses. Quando as reservas dessa vitamina estão
baixas, o fígado acumula a RBP (proteína carreadora de retinol - retinol
binding protein). Esse estado
carencial de retinol é a base fundamental das provas de resposta relativa a uma
dose (RDR – é um método indireto possível de estimar as reservas hepáticas de
vitamina A), na qual o retinol pode ser rapidamente liberado para a circulação
ligada à RBP e à transtirretina (TTR), formando um complexo capaz de reduzir a
perda de retinol no filtrado glomerular.
Estima-se que 250 milhões de crianças no mundo
sejam deficientes de vitamina A e que de 250.000 a 500.000 crianças ao ano
tornem-se cegas em decorrência da carência. A suplementação de vitamina A é
capaz de reduzir o risco de morte de crianças de 6 a 59 meses em 22 a 30%.
A informação sobre deficiência de vitamina A (DVA)
no Brasil provém de inquéritos nutricionais em diversas regiões e grupos
populacionais. Os dados dos últimos 20 anos indicam que essa deficiência é um
problema de magnitude de saúde pública em todo o país. Os inquéritos bioquímicos
disponíveis, apesar de não apresentarem abrangência nacional, confirmam que a
DVA é problema de saúde pública nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco,
Paraíba, Ceará, Bahia, Amazonas e Rio de Janeiro.
Funções
As funções da vitamina A envolvem a manutenção da visão adequada,
integridade celular, regulação da síntese de glicoproteínas, crescimento e
diferenciação celular e também sua participação na defesa antioxidante.
● Reduz a gravidade das infecções: a
vitamina A ajuda a diminuir a gravidade de muitas infecções, tais como diarreia
e infecções respiratórias, possibilitando recuperação mais rápida;
● Aumenta as chances de sobrevivência:
crianças que recebem a vitamina A têm maior probabilidade de sobreviver a uma
infecção;
● Crescimento: a vitamina A é necessária
para o processo de crescimento, especialmente, para as crianças, que crescem
rapidamente;
● Visão e olhos: a vitamina A é vital para
o bom funcionamento dos olhos. A parte transparente do olho, a córnea, através
da qual vemos, é protegida pela vitamina A. A falta dessa vitamina pode gerar
dificuldades de se enxergar em lugares com luz fraca, causar alterações
oculares, levando até mesmo à cegueira total.
● Outras funções: a
deficiência de vitamina A e de seus retinóides derivados pode influenciar
negativamente vários aspectos relacionados à imunidade, como: integridade do
epitélio de revestimento dos tratos geniturinário, respiratório e
gastrointestinal; resposta da IgA secretora a vários patógenos; expressão da
lactoferrina; síntese e expressão de mucina e queratina; hematopoiese;
apoptose; crescimento, diferenciação e função de neutrófilos, células natural killer,
células de Langerhans, linfócitos T e B; produção de imunoglobulinas; e
expressão de citocinas (TGF-beta, TNF-alfa, IFN-gama, IL1, IL2, IL4, IL6, IL10)
e moléculas de adesão (ICAM–1). Tais efeitos parecem ser especialmente mediados
pelos ácidos derivados (ácido trans retinóico e 9-cis ácido retinóico) capazes
de controlar a expressão gênica.
Deficiência
de Vitamina A
Um dos primeiros sinais da deficiência
de vitamina A pode ser observado quando as crianças começam a ficar doente com
muita frequência e quando doenças como a diarreias se tornam mais graves,
podendo levar a criança à morte.
Outro indicador é a cegueira
noturna, que é percebida quando a criança não enxerga em lugares com pouca luz.
Se essa criança não consumir alimentos com vitamina A, seus olhos que eram
úmidos, lisos e brilhantes, ficam secos, ásperos e sem brilho (xeroftalmia). A
falta de tratamento e se não ingerir alimentos ricos em vitamina A, aparecerão
manchas de cor esbranquiçada (manchas de Bitot) nos olhos. A partir daí, se a
criança não for encaminhada a um médico para o tratamento com remédios,
aparecem nos olhos feridas (úlceras) que escamam e depois formam cicatrizes nos
olhos. Essa doença se chama queratomalácia e causará a cegueira irreversível
nos olhos da criança.
A DVA influencia o metabolismo do ferro com a diminuição
da incorporação desse mineral nas hemácias e redução na mobilização de seus
depósitos hepáticos, além de dificultar a diferenciação das hemácias. Assim, a
associação de DVA com anemia carencial ferropriva é extremamente grave, visto
que a simples administração de ferro medicamentoso poderá não resultar em
melhora efetiva da doença. Outro oligoelemento, de extrema importância, que
exerce influência no metabolismo da vitamina A é o zinco. A deficiência de
zinco pode interferir no transporte da vitamina A, por redução na produção da
proteína transportadora, assim como na conversão de retinol em retinal, que
requer a ação da retinol-desidrogenase, dependente de zinco. Assim, vale
ressaltar que as carências nutricionais podem freqüentemente associar-se, ampliando
e potencializando o espectro de efeitos deletérios determinados por uma
carência de maneira isolada. Propostas de suplementação combinada de dois ou
mais micronutrientes evidenciam maiores benefícios, como, por exemplo, no
crescimento pôndero-estatural.
Fontes
Alimentares
A vitamina A é um micronutriente que pode ser
encontrado no leite materno, em alimentos de origem animal (fígado, leite e
derivados e ovos), frutas e legumes de cor amarelo-alaranjada (manga, mamão,
cenoura abóbora, caqui), verduras verde-escuras (caruru, bertalha, couve,
mostarda, agrião, almeirão, acelga, espinafre, escarola, rúcula), além de óleos
e frutas oleaginosas (buriti, pupunha, dendê, pequi), que possuem substâncias
transformadas em vitamina A no organismo humano.
Recomendações
Nutricionais
As recomendações
atuais, que incluem dois valores de referência (RDA e UL), podem ser vistas no
quadro abaixo.
Quadro 1. Valores de
Referência de Ingestão Dietética – Dietary Reference Intake (DRIs), 2001.
Prevenção
Todas as pessoas necessitam de vitamina A
para proteger sua saúde e visão. Porém, alguns grupos populacionais, pelas
características da fase da vida em que se encontram, necessitam de atenção
especial, porque são mais vulneráveis à deficiência de vitamina A:
● Mulheres que amamentam (puérperas) necessitam de mais vitamina A para
manter a sua saúde e também para garantir que o leite materno tenha conteúdo
adequado do nutriente para atender às necessidades do bebê;
● Crianças que passam a receber outros alimentos, além do leite materno,
a partir do 6° mês, precisam de quantidades adequadas da vitamina, pois ela é
essencial para o crescimento e o desenvolvimento saudáveis.
Quadro 2. Megadose
administrada profilaticamente a grupo de risco.
A forma de apresentação oral das megadoses de
vitamina A é líquida, diluída em óleo de soja e acrescida de vitamina E, na
dosagem de 100.000 UI ou 200.000 UI. A megadose é acondicionada em frascos,
contendo cada um 100 cápsulas gelatinosas moles. As cápsulas apresentam cores
diferentes, de acordo com a concentração de vitamina A.
A DVA pode elevar a morbimortalidade por doenças
infecciosas como o sarampo. Entretanto, o papel benéfico da suplementação de
vitamina A em outras doenças infecciosas (pneumonia, vírus sincicial
respiratório e diarreia infecciosa) ainda não é claro.
A OMS preconiza também a administração de megadose
de vitamina A para crianças gravemente desnutridas no primeiro dia de
internação, mesmo na ausência de sinais clínicos de DVA, a menos que haja
evidência segura de que uma dose de vitamina A foi dada no mês anterior. A dose
é como segue: 50.000 UI oral para crianças menores de 6 meses, 100.000 UI para
crianças de 6 a 12 meses e 200.000 UI para crianças acima de 12 meses. Se há
sinais clínicos de DVA, além da dose inicial a administração deve ser repetida
2 vezes, na mesma quantidade anteriormente citada, no segundo dia e 2 semanas após.
Toxicidade
O retinol é tóxico na forma aguda e crônica. Na
forma aguda (ocorre em curto espaço de tempo; uso de uma ou mais doses 100
vezes maior que a recomendada (para adulto) ou 20 vezes maior (para crianças)),
altas doses de retinol (mais de 300mg em uma única dose para adultos) causam
náuseas, vômitos, vertigem, visão turva, falta de coordenação motora,
sonolência, mal estar geral, coma, convulsão e dor de cabeça, com aumento da
pressão no fluido cerebrospinal; sinais que desaparecem dentro de poucos dias.
Doses extremamente altas podem ser fatais. Doses únicas de 60mg de retinol são
oferecidas às crianças de países em desenvolvimento como medida profilática
contra deficiência em vitamina A, quantidade adequada para atender às
necessidades das crianças por 4 a 6 meses.
A toxicidade crônica de vitamina A (mais freqüente
que a aguda; ingestão repetida de doses excessiva 10 vezes acima da dose
recomendada) é a causa mais geral de preocupação; ingestões habituais e
prolongadas superiores a 7,5 a 9mg/dia para adultos causam sinais de toxicidade
afetando o sistema nervoso central (dor de cabeça, náuseas, anorexia, todas
associadas com o aumento da pressão do fluido cerebrospinal), o fígado
(hepatomegalia, hiperlipidemia e mudanças histológicas, incluindo aumento da
formação de colágeno), os ossos (dores nas articulações, espessamento dos ossos
longos, hipercalcemia e calcificação dos tecidos moles) e a pele (secura
excessiva, escamação e rachaduras da pele, descamação e alopecia (redução total
ou parcial de cabelo e/ou pêlos em determinada região do corpo)).
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Conde, WL. Vitamina A e Retinóides. Disponíveis em:
www.fsp.usp.br Acessado em: 26/06/2013.
Cozzolino, SMF; Alencar, FH; Marinho, HA; Yuyama,
LKO. Vitamina A (Retinol) e Carotenóides. Biodisponibilidade de Nutrientes. 1
ed. São Paulo: Manole, 2005, p. 217-257.
Deficiência de vitamina A. Sociedade Brasileira de
Pediatria. Disponível em: www.sbp.com.br
Acessado em: 26/06/2013.
Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A.
Ministério da Saúde. Disponível em: www.saude.gov.br
Acessado em: 26/06/2013.
Vitamina A Mais: Programa Nacional de Suplementação
de Vitamina A – Condutas Gerais. Ministério da Saúde, 2004. Disponível em: www.saude.gov.br Acessado em: 26/06/2013.
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